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EDIÇÃO AGOSTO 2009

Uma Informata no País do Genes

Os desafios da Bioinformática para um estudante de Computação

Optar por uma carreira multidisciplinar como a Bioinformática tem suas vantagens e desvantagens. Será que vale a pena?

Há uns anos atrás, quando estava no 8º período do curso de Bacharelado em Ciência da Computação da UFRJ, tive meu primeiro contato com Bioinformática, numa disciplina eletiva oferecida. A primeira coisa que pensei foi que era uma oportunidade ímpar, já que na época do colégio eu gostava muito de Biologia. As aulas eram ministradas em conjunto por professores da FIOCRUZ e uma professora do Departamento de Ciência da Computação, o que era o primeiro sinal de que as coisas seriam um pouco diferentes do convencional.

Grande parte do curso foi voltada para Biologia. Aprendemos desde como se parecia uma molécula de DNA até como fazer clonagem de material genético. Tivemos aulas práticas em laboratório, colocamos a mão na massa mesmo, usando as centrífugas, vendo um seqüenciador funcionar, aprendendo como é frustrante quando você leva horas fazendo um experimento pra descobrir no dia seguinte que deu tudo errado e como é gratificante quando tudo sai como o esperado.

Depois da disciplina eu percebi que havia descoberto meu caminho, fiz Iniciação Científica, Projeto Final de Curso e Mestrado, sempre com foco em Bioinformática, e em breve farei Doutorado também. Escrevo esse artigo para compartilhar um pouco das minhas experiências (boas e ruins) nesse mundo interdisciplinar.

Bioinformática e suas Dificuldades

Em geral, os bioinformatas iniciam sua formação fazendo algum projeto de iniciação científica ou pesquisa de mestrado, provavelmente devido à pouca (ou nenhuma) oferta de cursos de graduação em Bioinformática. No nível de pós-graduação, o número de cursos aumenta razoavelmente, mas uma questão surge: como fazer um mestrado ou doutorado em Bioinformática se a última vez que eu tive contato com Biologia foi há pelo menos uns 5 anos, no terceiro ano do Ensino Médio?

Não vou mentir, é complicado sim. Estar acostumado com cálculos e programas e de repente se ver em meio a processos químicos, produção de proteínas, expressão gênica! Em princípio parece um pouco assustador, é um mundo novo a sua frente. Aparece então a primeira dificuldade da carreira de Bioinformática: assimilar e entender todas as novas informações necessárias para se realizar um bom trabalho na área. Nessa etapa é importante poder contar com alguém que possa esclarecer suas dúvidas e não ter vergonha de perguntar tudo, por mais boba você ache que é a pergunta.

Uma outra dificuldade está na comunicação entre os informatas e os biólogos. No início de um projeto, quando se está definindo o escopo do problema e quais as possíveis soluções computacionais a serem utilizadas, é necessário que todos da equipe sentem e conversem. Porém não é simples para nenhuma das partes entender o trabalho do outro, especialmente porque é muito comum esquecermos de explicar alguns detalhes que nos parecem óbvios, mas que dificultam a compreensão de um leigo. Assim como também é complicado saber quais perguntas corretas fazer para sanar as próprias dúvidas. Mas fiquem tranqüilos, com o tempo começamos a ter mais familiaridade com a área e compreendemos melhor os processos biológicos.

Bioinformática e suas Vantagens

Apesar das dificuldades, estar numa área completamente nova também tem suas vantagens. A oportunidade de trabalhar com pessoas que têm um conhecimento diferente faz com que deixemos a “zona de conforto” e tenhamos que estudar bastante. Esse esforço provoca um crescimento tanto de conhecimento quanto pessoal, pois aprendemos a lidar melhor com as adversidades encontradas e com diferentes tipos de pessoas e métodos de trabalho.

Um outro atrativo da carreira de Bioinformática é a possibilidade de estudar temas e participar de projetos que têm influência direta na vida das pessoas em geral. Um exemplo são as pesquisas sobre eficiência do tratamento de quimioterapia no combate ao câncer, que têm um grande impacto na vida da sociedade como um todo. Prever se o tratamento quimioterápico funcionará ou não para um grupo de pacientes poupa que as pessoas passem por um sofrimento que não trará benefício algum, enquanto alguma outra abordagem terapêutica poderia ser utilizada para combater a doença.

Concluindo

Para os interessados na área de bioinformática que não têm à sua disposição uma matéria na faculdade sobre este tema ou que não conheçam ninguém que possa ajudar, indico dois materiais:

  • O livro Introdução à Bioinformática de Arthur M. Lesk, da Editora Artmed, onde é possível encontrar noções básicas do assunto, como pesquisa em bancos de dados de proteínas e genomas e não exige conhecimento prévio.
  • A lista de leitura básica utilizada pelo professor Marcílio Souto da UFRN em seu curso de bioinformática, disponível na página http://www.dimap.ufrn.br/~marcilio/BIOINFORMATICA/ BIO2004.1/Bib-Bioinformatica.htm.
  • O perfil de um bioinformata é o de uma pessoa que gosta de desafios e de aprender coisas novas, além de ser curioso. É muito importante, também, ter uma postura dinâmica e rapidez de raciocínio, para assimilar todas as novas informações que vão ser recebidas. Se você possui essas características e gosta de Biologia, tem grandes chances de sucesso na área, que vem crescendo a cada dia. Eu, pessoalmente, sei que encontrei o meu caminho.

Sobre a Autora

Maria Fernanda Barbosa Wanderley possui graduação em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2006) e Mestrado em Informática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2009). Atualmente é Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais.


»Esta é uma publicação eletrônica da Sociedade Brasileira de Computação – SBC. Qualquer opinião pessoal não pode ser atribuída como da SBC. A responsabilidade sobre o seu conteúdo e a sua autoria é inteiramente dos autores de cada artigo.

v02n02/10.txt · Última modificação: 2020/09/22 02:31 (edição externa)

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