Ferramentas do usuário

Ferramentas do site


v02n02:12

BITS, BYTES & BATOM

EDIÇÃO AGOSTO 2009

Mulheres em Computação: Claudia Bauzer Medeiros

Conheça uma das pioneiras da Computação no Brasil

Com certeza a Claudia é uma figura de destaque na comunidade feminina de computação no Brasil. Junto com outros cinco membros da SBC ela é a única mulher admitida à Ordem Nacional do Mérito Científico, na categoria tecnológica, em 2008. Sua atuação e sua contribuição em diversas frentes são um exemplo para todos. Assim, sendo esta coluna dedicada à participação da mulher na área de computação, esta matéria mostra um pouco da Claudia e de sua contribuição em alguns momentos de sua carreira. Entrevista por Sandra Fabbri.

De formação você é engenheira eletricista. O que a fez escolher a área de computação como sua área de atuação profissional?

Foi uma transição natural. Durante o último ano da graduação, fui fazer um estágio em Furnas Centrais Elétricas, na sede no Rio de Janeiro, como analista de sistemas. Gostei muito do tipo de atividade que exercia - eu trabalhava em manutenção e programação do sistema operacional de grandes máquinas IBM. Assim, após a formatura, fui contratada e daí em diante continuei na mesma direção. Enquanto trabalhava como analista, fiz o mestrado em Informática, em tempo parcial, na PUC do Rio. E, finalmente, saí de Furnas para fazer doutorado em Computação no Canadá. Lá, minha formação e treinamento profissional foram muito úteis. Não só eu tinha mais maturidade que quase todos os alunos (afinal, eu havia trabalhado por 5 anos antes de sair para fazer doutorado), mas meus conhecimentos de sistemas operacionais e assembler me permitiram ser monitora de várias disciplinas nas quais havia carência de monitores qualificados. Minha experiência de trabalhar e estudar ao mesmo tempo foi muito útil para toda a minha carreira. Adquiri, com isto, uma boa disciplina de trabalho, de organização de tarefas e de gestão do tempo.

Como você acha que a mulher pode contribuir para a computação de uma forma diferente dos homens?

Cada um pode contribuir de uma forma especial, independente do gênero. Mas os estudos sociológicos sobre o assunto indicam que mulheres, em geral, exercem mais o lado “emocional” ou “social” das atividades de computação. Com isto, favorecem a busca pela satisfação do usuário, o que aprimora os produtos. Obviamente, não podemos generalizar, pois o perfil de cada um depende do meio em que cresceu e de fatores hereditários.

Você considera que existem áreas da computação (linhas de pesquisa, atividades específicas, etc.) que sejam melhor desempenhadas pelas mulheres do que pelos homens?

Depende… às vezes acredito e às vezes, não. Depende muito dos exemplos com que me deparo. Já houve situações, por exemplo, em que claramente vi mulheres agindo de forma totalmente diferente do que homens (em geral, na organização de tarefas, delegação de atividades e tipo de iniciativa a tomar face a uma crise). Nestas situações, sempre achei que as mulheres estavam se saindo melhor do que os homens. Um exemplo comum são os trabalhos em grupo de alguma disciplina.

Já outras vezes, em contextos semelhantes, vi mulheres agindo de forma bastante equivocada (criando conflitos dentro de um grupo, ou tendo atitudes submissas sem expressar sua opinião).

Portanto, não vejo pessoalmente que há linhas preferenciais de atuação para mulheres na pesquisa ou no trabalho. No entanto, mais uma vez me referindo a estudos sociológicos, tudo indica que mulheres são melhores para interação com usuários e análise de requisitos. Além disso, parece que somos mais cuidadosas na implementação de especificações e, também, muito mais pacientes na depuração de código. Será? Não sei…

Considerando a sua participação na FAPESP, CNPq e CAPES, houve algum momento de contribuição feminina por intermédio da sua pessoa?

Não houve contribuição feminina e sim contribuição de pesquisa e de conhecimento da comunidade nacional e internacional. Nessas comissões, não há “lado” masculino ou feminino, busca-se analisar processos e situações de forma isenta e segundo padrões internacionais de excelência.

Quais as principais ações tomadas por você, representante da categoria feminina, na presidência da SBC?

Vou enumerar apenas ações tomadas no sentido de incentivar a presença de mulheres na Computação. Primeiro, busquei uma composição balanceada entre homens e mulheres para a diretoria da Sociedade nas minhas duas gestões. Além disso, convidei diretores de todas as regiões do Brasil, o que aumentou a presença da SBC em vários lugares (e, como conseqüência, nossas ações incentivando mulheres).

Em segundo lugar, junto com a Profa Karin Breitmann da PUC-Rio, criamos o WIT (Women in Information Technology) - um evento dentro do congresso anual da SBC visando discutir questões de gênero e computação.

Em terceiro lugar - e talvez o mais importante - sempre busquei fazer o que se chama “advocacy” (falar por, lutar por) em favor do trabalho de mulheres na computação. Durante toda a minha gestão (e isto continua), sempre que possível eu falei sobre o problema, para chamar a atenção de todos. Além disso, busco mostrar às jovens a quantidade de opções interessantíssimas que existem na nossa carreira. Aliás, faço isso independente do assunto. Por exemplo, há duas semanas um jornal de Campinas me telefonou para fazer uma entrevista sobre o futuro da Internet. Ao final da entrevista, eu sugeri para a jornalista que, se quisesse, havia um tópico muito interessante, que nada tinha a ver com a Internet, mas com questões de gênero. Ela falou com a editora e já marcaram uma entrevista a respeito.

Veja que todos nós podemos agir da mesma forma. Quanto mais falarmos a favor desta participação e levantarmos os problemas associados, mais ajudaremos a melhorar o mercado de trabalho, no Brasil, para mulheres. E atrairemos mais gente qualificada para a Tecnologia da Informação.

Que novidades você tem para contar enquanto embaixadora da ACM para assuntos relativos a mulheres na computação?

Hmmm, Nada de excepcional, mas todos deveriam buscar o site da ACM-W para ver as inúmeras iniciativas, nos EUA, neste sentido. Elas podem dar várias idéias interessantes para nós. Inclusive, há iniciativas de alunos para atrair mais gente para a Computação;

Que mensagem você deixa para as leitoras deste artigo?

Existe um imenso mercado de trabalho aberto para quem trabalha em Computação. Este mercado, mundial, oferece oportunidades únicas porque há lugar para inovação em qualquer área - afinal, hoje em dia todos dependemos da Tecnologia da Informação (bancos, elevadores, carros, hospitais, museus, o governo, o tráfego…). O Brasil tem uma enorme carência de gente qualificada - e cabe a nós suprir esta carência. Vamos esquecer os estereótipos de trabalho: o mercado não quer apenas programadores “nerds” eremitas e introspectivos, como dizem as lendas. Há necessidade de muita gente, de perfis variados, em todo o tipo de trabalho. E é preciso uma grande campanha de conscientização de todos quanto ao importantíssimo papel exercido pelos profissionais da Computação. Precisamos, principalmente, mostrar às jovens que desconhecem estas necessidades, que o mundo está aberto para elas. Quem está lendo este artigo provavelmente já está envolvida (o) na profissão. Assim, apelo para a(o)s leitora(e)s: sejam também advogados do esclarecimento, para atrair mais gente qualificada e, assim, ajudar a sociedade como um todo.

Há muito preconceito quanto ao perfil do profissional. Há muito desconhecimento das famílias (que encorajam as crianças a seguirem as carreiras mais tradicionais). Vamos todos trabalhar para acabar com esses preconceitos e desconhecimento.

Finalizando....

Quero agradecer a disponibilidade da Claudia em nos contar um pouco de sua experiência. É certo que para mostrar toda a sua contribuição, essas linhas são poucas. Ressalto o seu empenho em trazer mais jovens - especialmente mulheres - para a área de computação, tarefa esta que deve ser de importância para todos nós. Nos próximos números pretendo fazer um pequeno mapeamento da quantidade de mulheres ingressantes em cursos de computação, a partir da década de 80, dando uma breve caracterização disso em todas as regiões do Brasil. Se você puder me ajudar levantando essa informação em sua instituição, ajudaria muito para fazermos uma caracterização desse cenário. Nesse caso, por favor, entre contato pelo endereço horizontes@sbc.org.br , utilizando como assunto “levantamento BBB”.

Recursos

Página da profa Cláudia Bauzer Medeiros

Newsletter da ACM, com artigo da profa. Claudia

Artigo publicado sobre a história do papel das mulheres profissionais no Brasil, desde Cabral

Sobre a Entrevistadora

Sandra Fabbri Possui graduação em Bacharelado em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (1978), mestrado em Ciências da Computação e Matemática Computacional pela Universidade de São Paulo (1986) e doutorado em Física Computacional pela Universidade de São Paulo (1996). Atualmente é professora associada da Universidade Federal de São Carlos. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Engenharia de Software, atuando principalmente nos seguintes temas: teste, validação e inspeção de software, qualidade de software, engenharia de requisitos, planejamento de software e engenharia de software experimental. Na SBC, foi membro da Comissão de Educação, coordenadora da JAI, coordenadora e vice-coordenadora do WEI e coordenadora do Curso de Qualidade. É Editora-Associada da SBC Horizontes.


»Esta é uma publicação eletrônica da Sociedade Brasileira de Computação – SBC. Qualquer opinião pessoal não pode ser atribuída como da SBC. A responsabilidade sobre o seu conteúdo e a sua autoria é inteiramente dos autores de cada artigo.

v02n02/12.txt · Última modificação: 2020/09/22 02:31 (edição externa)

Ferramentas da página