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EM DESTAQUE

EDIÇÃO AGOSTO 2009

Grande Prêmio Capes de Teses

Com Eduardo Nakamura, Ciência da Computação vence prêmio pela primeira vez!

A coluna Em Destaque desta edição entrevista o professor amazonense Eduardo Nakamura, vencedor do Grande Prêmio Capes de Tese. A tese de Eduardo, intitulada Fusão de Dados em Redes de Sensores sem Fio, foi escolhida a melhor da grande área Ciências Exatas e da Terra e Engenharias, sendo esta a PRIMEIRA vez que uma tese de Ciência da Computação vence o Grande Prêmio! O trabalho foi realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a orientação do professor Antônio Alfredo Ferreira Loureiro. Parabéns ao Eduardo e ao Prof. Loureiro, pelo excelente trabalho realizado! É, sem dúvida, um grande feito para a comunidade de computação!

Eduardo Nakamura é professor e pesquisador da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (FUCAPI) e do Programa de Pós-Graduação em Informática (PPGI) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Graduado em Engenharia Elétrica pela UFAM (1998), com mestrado (2001) e doutorado (2007) em Ciência da Computação pela UFMG, Eduardo possui mais de 50 publicações na área de redes de sensores sem fio (RSSFs) entre periódicos, conferências e capítulo de livros. Destaque especial para o survey de fusão de dados, publicado no ACM Computing Surveys (periódico de maior impacto na computação: JCR 2008 de 9,920) e que está sendo estendido para um livro a ser publicado pela Springer em 2011.

Nos últimos dois anos o professor Eduardo foi autor de quatro tutoriais em eventos internacionais (ACM SIGMOD, IEEE CIT, ACM DEBS, ACM MSWiM) sobre fusão de dados em RSSFs. Tem atuado em mais de dez comitês técnicos de conferências, tais como IEEE AINA, IEEE Globecom, IEEE WCNC, IEEE PIMRC, IEEE ICCCN, IFIP Wireless Days. Além disso, é editor associado dos seguintes periódicos: IEEE Sensors Journal, International Journal on Distributed Sensor Networks e International Journal of Network Protocols and Algorithms. Desde 2003, tem participado de diversos projetos ligados a redes de sensores e computação móvel, com financiamentos do CNPq, FAPEAM, FAPEAL e institutos privados.

Além do Grande Prêmio Capes (e do Prêmio Capes em Ciência da Computação), Eduardo também foi premiado no XXI Concurso da SBC de Teses e Dissertações. O pesquisador também recebeu Menção Honrosa para tese na grande área de “Engenharias e Ciências Exatas e da Terra” do Grande Prêmio UFMG de Teses.

Em entrevista a nossa coluna, Eduardo fala sobre o trabalho, a premiação e suas perspectivas de atuação.

Em que consistiu o seu trabalho de doutorado?

O trabalho é resultado de pouco mais de quatro anos e meio de pesquisa sobre o tema de redes de sensores e técnicas de fusão de dados. Conceitualmente, as redes de sensores assemelham-se com as redes tradicionais de computadores, como a Internet. Entretanto, estas novas redes apresentam uma série de desafios e restrições particulares. Os elementos interconectados são dispositivos pequenos com uma limitada capacidade de processamento e de comunicação (sem fio) e são equipados com diversas unidades de sensoriamento (temperatura, luz, umidade, movimento, som, etc.). A idéia é que, operando em conjunto, de forma coordenada, esses pequenos dispositivos, chamados “nós sensores”, sejam capazes de perceber o ambiente a sua volta e monitorá-lo, auxiliando em tarefas de detecção de eventos.

Estes dispositivos operando de forma contínua são capazes de coletar uma quantidade muito grande de dados. É aí que entram as técnicas de fusão de dados. Essas técnicas são utilizadas para processar os dados gerados e prover uma interpretação dos mesmos que seja facilmente compreensível ao ser humano. Por exemplo, os sensores podem oferecer diversos dados como temperatura, luminosidade e umidade. Estas informações por si só podem não ser facilmente interpretadas. As técnicas de fusão de dados compreendem algoritmos capazes de processar estas informações e identificar, por exemplo, os valores atuais de temperatura, luminosidade e umidade significam que provavelmente está ocorrendo um incêndio. Particularmente, na tese defendida trabalhei com diferentes aspectos relacionando fusão de dados com algoritmos para a coleta eficiente de dados em uma rede de sensores. Esta eficiência foi tratada tanto pelo aspecto de rede, garantindo que os dados coletados cheguem ao seu destino, quanto do aspecto do uso racional dos recursos, em especial, da energia.

Quais as aplicações do trabalho?

As aplicações de redes de sensores sem fio e fusão de dados são muitas. Em particular, para o Brasil (e a Amazônia), aplicações ambientais possuem um apelo muito forte. A princípio, podemos utilizar essas redes para monitorar a ocorrência de incêndios, animais silvestres em risco de extinção, a qualidade de nosso ar, das águas de nossos rios. Enfim, as aplicações são determinadas somente pelas necessidades que tenhamos de monitorar qualquer ambiente. Um aspecto importante deste monitoramento é que ele é feito de forma remota, uma vez que os dispositivos comunicam-se uns com os outros. Portanto, esta tecnologia dispensa a custosa e, muitas vezes invasiva, presença física do pesquisador. Além disso, os dados coletados são mais confiáveis, mais precisos e possuem uma cobertura maior se comparados com a coleta feita por um pesquisador. De fato, podemos aplicar essa tecnologia em qualquer situação em que se necessite de um monitoramento contínuo e autônomo.

Note também que embora a defesa seja um marco importante, os desdobramentos da pesquisa do doutorado podem e devem ser estendidos. Como desdobramento da tese, hoje temos projetos financiados pelo CNPq e pela FAPEAM envolvendo, por exemplo, aplicações de rastreamento de animais ameaçados de extinção na Amazônia, o estudo de técnicas eficientes de coleta de dados em ambiente de floresta tropical, e o monitoramento de anfíbios. Estes projetos nasceram em nosso grupo de pesquisa da FUCAPI, em Manaus, e contam com a participação dos colegas de universidades como a UFAM, UFMG, UFAL e UFOP.

Com relação à "experiência de doutorado", como você a descreveria?

Acredito que o mais importante é o processo pelo qual passamos durante o doutorado. Este deve ser, acima de tudo, o processo pelo qual deixamos de ser alunos e nos tornamos pesquisadores e cientistas. No meu caso particular, tive a feliz oportunidade de vivenciar um processo completo que incluiu: (a) a identificação e seleção de problemas de doutorado; (b) a proposição e avaliação de novas soluções para problemas em aberto; © a escrita de textos científicos de qualidade; (d) a participação em congressos nacionais e internacionais; (e) a cooperação com outros pesquisadores; e (f) a co-orientação de alunos de graduação, mestrado e doutorado, inclusive. Estas experiências são fundamentais para a formação de um pesquisador, pois permitem que o mesmo seja capaz de, após concluir seu doutorado, “caminhar com as próprias pernas”. Neste ponto, acredito que o papel do orientador seja fundamental. Para um bom trabalho é necessário competência e dedicação de ambos, orientado e orientador. Aproveito, ainda, para destacar a contribuição da FUCAPI neste processo, pois ela investiu em minha formação apoiando tanto o mestrado quanto o doutorado. Este é o resultado de um programa consistente de formação de recursos humanos da instituição, que é uma das poucas (talvez a única instituição privada) do Amazonas com esta visão de capacitação em busca de uma Amazônia mais justa e sustentável.

Como você recebeu a notícia da premiação?

O resultado do Prêmio Capes de Tese foi uma surpresa, pois não esperava tamanho reconhecimento. Ao submeter meu trabalho imaginei que seria lega uma menção honrosa. Já o segundo e mais importante prêmio, o Grande Prêmio Capes de Tese, foi realmente o maior reconhecimento que meu trabalho poderia ter tido. Fiquei extremamente feliz, pois representa o reconhecimento do trabalho por meus pares da comunidade acadêmico-científica. Foi, sem dúvida, um grande feito, cheio de significado para mim, para meu orientador, para UFMG e também para a Ciência da Computação. A repercussão foi imediata: no mesmo dia recebi mensagens de diversos professores e colegas, hoje espalhados pelo Brasil e exterior.

E quanto às perspectivas para um pós-doutorado no exterior?

Recebi propostas interessantes de pós-doc no Canadá e na Austrália. Acredito que a oportunidade é ímpar, tanto pela experiência de vida quanto pela interação com outros pesquisadores. Esta possibilidade de estender a rede de cooperação, transpondo as fronteiras do seu país é, sem dúvida, um importante fator para uma carreira de sucesso como pesquisador. O sucesso de um pesquisador depende tanto de sua capacidade técnica quanto de sua habilidade em formar redes de cooperação. Esta interação com outros pesquisadores é saudável e traz perspectivas e opiniões diferentes que enriquecem o trabalho do cientista.

Quais são os próximos passos?

De volta à terra natal, o próximo desafio, a médio e longo prazo, é trabalhar para reduzir as diferenças regionais que existem hoje em relação à distribuição do conhecimento. É notório que o brasileiro é talentoso, independentemente da região onde nasceu. Entretanto, veja que nesta edição do Prêmio Capes de Tese, das 487 teses apresentadas, apenas uma tese de doutorado da Região Norte participou do concurso (a minha foi uma das 388 vindas do Sudeste); este é um dado alarmante. Portanto, precisamos nos engajar na luta para democratizar o conhecimento. Quem sabe, talvez daqui a dez anos, pesquisadores formados por programas da Região Norte tenham presença mais significativa e recebam este tipo de reconhecimento também. De fato, este é um tema que começa a receber atenção tanto dos governos estadual e federal, através das FAPs, CNPq e Capes, quanto das sociedades científicas como a SBPC. Entretanto, ainda há um caminho longo a ser percorrido. Acredito que a SBC também possa desempenhar um papel consistente e significativo nesta questão.

Pouco antes do fechamento desta matéria, Eduardo recebeu mais um prêmio - o Latin America Region Young Professional Award (versão 2009), concedido pelo IEEE LA ComSoC em reconhecimento a jovens profissionais com trabalhos de destaque e relevância na área de comunicações. A premiação será entregue em cerimônia a realizar-se em setembro, na abertura da Conferência IEEE América Latina sobre Comunicações, em Medellín/Colômbia.

Sobre o Grande Prêmio Capes de Tese

O Grande Prêmio Capes de Tese e o Prêmio Capes de Tese foram instituídos em 2005, com o objetivo de outorgar distinção às melhores teses de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos reconhecidos pelo MEC, considerando os quesitos originalidade e qualidade.

Na edição de 2009, 487 teses foram inscritas no Prêmio Capes. Das 44 áreas do conhecimento, 38 foram selecionadas pela comissão de premiação. A região Sudeste teve 388 inscritas; Sul, 65; Centro-Oeste, 17; Nordeste, 16. A região Norte teve apenas uma tese inscrita. O Grande Prêmio Capes de Teses selecionou os três melhores trabalhos entre os 38 escolhidos pelo Prêmio Capes, escolhidos nos grupos de grandes áreas: (1) Ciências Biológicas, Ciências da Saúde e Ciências Agrárias; (2) Engenharias e Ciências Exatas e da Terra; e (3) Ciências Humanas, Lingüística, Letras e Artes e Ciências Sociais Aplicadas, bem como na área de Ensino de Ciências.

A cerimônia de premiação ocorreu em Brasília, no dia 22 de julho, durante as comemorações 58º aniversário da Capes. Na cerimônia, além das três melhores teses selecionadas nas grandes áreas, também receberam prêmios as 38 teses de destaque em cada área de conhecimento. Os ganhadores do Prêmio Capes receberam medalha, certificado e bolsas de pós-doutorado. Os vencedores do Grande Prêmio receberam ainda US$ 15 mil oferecidos pela Fundação Conrado Wessel.

Referência

Sobre a Entrevistadora

Ellen Francine Barbosa Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) em 1995. Mestre em Ciência da Computação e Matemática Computacional pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC/USP) em 1998. Doutora em Ciência da Computação e Matemática Computacional pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC/USP) em 2004. Realizou estágios na Georgia Institute of Technology (GATECH/USA), e na University of Florida (UFL/USA). É Professora Doutora do Departamento de Sistemas de Computação do ICMC/USP desde 2005 e coordenadora do Laboratório de Engenharia de Software (LABES-ICMC/USP). Entre seus interesses de pesquisa destacam-se temas relacionados a Teste de Software, Qualidade de Software, Ensino e Aprendizado, Objetos de Aprendizado e Ontologias. É Editora-Associada da SBC Horizontes.


»Esta é uma publicação eletrônica da Sociedade Brasileira de Computação – SBC. Qualquer opinião pessoal não pode ser atribuída como da SBC. A responsabilidade sobre o seu conteúdo e a sua autoria é inteiramente dos autores de cada artigo.

v02n02/20.txt · Última modificação: 2020/09/22 02:31 (edição externa)

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