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EDIÇÃO DEZEMBRO 2009

Boas Práticas e Lições Aprendidas

Dicas, sugestões e informações de quem acabou de viver a experiência de um mestrado

Este artigo apresenta as principais dicas e lições aprendidas com experiências vivenciadas durante o meu curso de mestrado. Você encontrará dicas para a escolha do orientador e do tema da dissertação, como fazer a pesquisa e leitura de artigos, como fazer a estrutura de sua dissertação, como lidar com seu orientador, quanto tempo dedicar para as atividades da dissertação, dentre outras.

Eu tenho por hábito andar sempre com um caderno no qual vou anotando as atividades que tenho para fazer, pesquisar, ler, etc. Ao término do meu curso de mestrado, percebi que o meu caderno continha uma lista de dicas, sugestões e lições aprendidas, que poderiam ajudar tanto os novos alunos quanto aqueles que pretendem cursar o mestrado. Procurei então organizar as dicas e as lições aprendidas e reescrevê-las aqui neste artigo de maneira mais simples e didática. Por eu ter cursado um mestrado profissional, neste artigo não serão contempladas dicas de escolhas de disciplinas eletivas, uma vez que no mestrado profissional ao qual cursei, todas as disciplinas eram obrigatórias. Ao todo reuni 32 boas práticas e lições aprendidas, esclarecendo, desde logo, que não guardam elas nenhuma ordem especial.

1. Atenção na escolha de seu orientador. Está dica é muito valiosa! Procure os ex-alunos que já foram orientados pelo professor escolhido para saber melhor como o professor é orientando. Verifique o tempo que ele terá disponível para lhe orientar. Se ele tiver muito ocupado, com a agenda cheia, melhor pensar duas vezes. Leia os artigos que ele já publicou e verifique em quais congressos os trabalhos foram aceitos. Quanto mais trabalhos publicados ele tiver, melhor você será preparado para publicar seus artigos também. O mesmo raciocínio se aplica para os congressos. Se ele publicou em congressos de alto nível, provavelmente cobrará que você busque publicar artigos em eventos de mesmo nível.

2. Escolha bem o tema de sua dissertação. Escolha um tema que você diga “Nossa, isso é legal demais!” Se você escolher um tema que não goste muito, ou que seja uma escolha apenas de seu orientador e que você esteja aceitando apenas para poder fazer o mestrado, é provável que você desista no meio do curso ou que faça uma pesquisa de baixa qualidade. Evite problemas ligados à tecnologia. Pense em problemas de forma mais genérica. Dessa forma, a solução que você dará ao problema poderá ser utilizada independente da tecnologia. E por fim, pense em problemas grandes e tente resolver uma pequena parte dele com seu mestrado.

3. Pesquise sobre o tema da dissertação no Google Acadêmico. O endereço do site é: http://scholar.google.com.br. Provavelmente você encontrará algum artigo já escrito sobre o tema no qual você pretende trabalhar. Como pesquisador, é muito importante saber o que já foi escrito, analisado e pesquisado sobre o tema escolhido para a dissertação.

4. Leia todos os artigos que chamarem a sua atenção que sejam referentes aos assuntos da sua dissertação. Uma das principais funções do pesquisador é ler. Portanto, leia, leia, leia e leia. Tudo o que for referente ao seu trabalho deve ser lido.

5. Escreva pequenas observações que definam o conteúdo de um artigo. Isto facilitará quando você desejar saber rapidamente do que trata tal artigo.

6. Organize os artigos por assunto, separando-os por pastas/diretórios. Facilita a busca de um artigo, diminuindo o tempo gasto na sua procura.

7. Grife todas as partes que considerar importantes nos artigos, fazendo observações quando forem necessárias. Grifar ajuda a destacar um trecho do artigo que você considera importante e isso irá facilitar quando desejar encontrar uma citação ou afirmação de alguma pesquisa relevante, sem ter que ler vários e vários artigos para encontrar o que procura.

8. Crie um blog para divulgar as atividades a fim de permitir que seus orientadores acompanhem melhor suas atividades. É uma opção fácil e organizada para possibilitar o acompanhamento das atividades de pesquisa. Porém, é vital que o blog seja mantido atualizado e que seu orientador esteja de acordo com esse procedimento.

9. Utilize algum programa para gerenciar a versão dos documentos escritos. Para evitar a confusão de ter mais de um documento, sem saber qual deles é o mais atual, utilize um programa de gerência. O Windows Live Sync permite esse sincronismo. E o melhor: é de graça.

10. Crie uma estrutura de tópicos dos temas centrais da dissertação. Com isso você conseguirá visualizar de maneira mais fácil os capítulos que irão compor a dissertação e a linha de raciocínio. É recomendável montar esta estrutura de tópicos em um arquivo de texto à parte da sua dissertação. Você deve ir modificando a estrutura de tópicos criada, a fim de se aperfeiçoar e se adequar melhor aos interesses da pesquisa. Contudo, não modifique a estrutura sem a aprovação de seu orientador.

11. Escreva pequenas introduções e conclusões para cada capítulo, de forma que eles se interliguem, mostrando de forma mais clara a linha de raciocínio. É importante que se possa visualizar com clareza os assuntos e a linha de raciocínio que está sendo seguida. No caso de haver assuntos importantes que tenham ficado fora desses, mini-resumos deverão os mesmos ser incluídos. Havendo assuntos inclusos na dissertação e que não estejam contidos nos mini-resumos, deve-se verificar se os mesmos são relevantes para continuar na dissertação. É comum que assuntos sejam retirados.

12. Possua um bom revisor gramatical e ortográfico. Seja ele professor de português ou de redação, esse profissional é de suma importância. Em qualquer trabalho científico ou acadêmico deve-se ter o maior cuidado e atenção para evitar erros graves de português. Geralmente a banca costuma ser rigorosa na avaliação deste aspecto.

13. Seja disciplinado e priorize as atividades da pesquisa/dissertação: Procure abdicar das coisas que possam lhe tirar o foco da dissertação. Mestrado Profissional é intenso e requer dedicação com afinco. Diminua as saídas para as “baladas”, as noitadas, os churrascos e o que mais consuma tempo em demasia e que possam afetar seu rendimento. Outra observação: estudar e pesquisar em local com muito barulho, como som de TV, de rádio ou outro ruído qualquer, não é apropriado para um profissional que deseja se tornar mestre. Manter o foco no que é importante para o desenvolvimento de sua pesquisa é indispensável. E lembre-se, todo o esforço ao final do curso é recompensado com o título de Mestre.

14. Respeite seu ritmo de trabalho e organize-se para cumpri-lo. Não cometa exageros! Faça sempre pausas durante o período de pesquisa. Recomenda-se uma pausa de 15 a 20 minutos a cada 2h. Defina um horário que seja mais adequado na sua agenda e cumpra-o. Dedique algumas horas todos os dias para as atividades da sua pesquisa. Se em algum dia você, por qualquer motivo, não cumprir a carga horária, compense durante os dias seguintes.

15. Evite citações literais. Procure produzir seu texto com base na leitura e observações que acabou de fazer. O seu trabalho de pesquisa ficará muito mais rico e melhor de ser lido se houver poucas ou nenhuma citação literal. Sendo assim, faça um esforço e tente escrever com suas palavras o que você entendeu de relevante na pesquisa que você leu.

16. Dê tempo para que o texto escrito possa amadurecer e faça as alterações que se fizerem necessárias. Os textos produzidos tendem a ser melhorados ao longo do tempo por diversos motivos, como a prática de escrever, o seu aumento de conhecimento sobre o assunto e as orientações de seu professor. Portanto, tudo o que for produzido deve ser revisto. E não jogue fora os textos produzidos, se achar logo de início que está ruim. É possível que sirva mais a frente.

17. Envolva as pessoas mais ligadas a você com o seu trabalho. Namorados (as), noivos (as) e esposos (as) podem e devem trabalhar juntos com a pessoa amada. Envolva-os nas atividades, seja dando uma opinião, separando textos, grifando partes de artigos ou digitando suas idéias. Isto os deixa próximos de nós, evitando problemas devido à dedicação dispensada à dissertação. Além disso, elas podem contribuir para nos dar uma visão mais abrangente, já que, na maioria das vezes, não se trata de uma pessoa ligada à área do tema do mestrado.

18. Utilize um caderno só para anotar as atividades pendentes e as novas idéias. Mantenha-o sempre junto com você. A mente de um pesquisador é como um caldeirão efervescente. Por isso, nunca se sabe quando teremos uma boa idéia para nossa pesquisa ou a descoberta da solução que tantos procuramos para os problemas tratados na dissertação. O caderno irá ajudar a organizar as atividades e registrar todas as nossas idéias, sem que corramos o risco de perdê-las. É comum recebermos em bate-papos, seja com professores, seja com colegas de mestrado ou através de amigos, sugestões de livros, artigos e sites. Para não perdermos essas sugestões, é sempre bom anotá-las.

19. Separe os capítulos de sua dissertação em arquivos, sendo um arquivo para casa capítulo. Fazendo isso você irá visualizar melhor cada capítulo, o que lhe permitirá saltar entre os mesmos, não havendo a necessidade de escrever os capítulos em sequência. É normal se confundir com a ordem dos capítulos no início da pesquisa. Com a orientação do professor, ajustes de ordenação dos capítulos são normais. E, com os capítulos escritos em arquivos individuais, é muito mais fácil de reordenar.

20. Escreva os seus textos de preferência já no padrão exigido pela instituição de ensino. Se deixar para formatar seu texto no final da pesquisa, com certeza terá mais trabalho. Melhor escrever já no padrão (modelo da dissertação) desde o seu início. O mesmo se aplica sobre a padronização das normas da ABNT ou IEEE. Crie os índices de figuras, tabelas e quadros desde o início.

21. Deixe para escrever o capítulo de introdução e resumo por último. Com toda a certeza (ou pelo menos é o esperado), no final do seu trabalho você terá uma visão muito mais clara sobre o que o seu trabalho representa. Com isso, ficará bem mais fácil de escrever estas duas partes.

22. A dissertação é sua, não de seu orientador. Nunca se esqueça disso. Sem dúvidas, se 10 pessoas se propuserem a escrever uma dissertação, cada uma delas fará de uma forma própria. Por isso mesmo, seu orientador sempre lhe dará sugestões, mas a decisão será sua. Afinal, será você que irá apresentar o trabalho para a banca.

23. Seja gentil e educado para com seu orientador. E vice-versa. Seu orientador não é seu empregado e nem você é empregado dele. A relação deve ser de, no mínimo, respeito de ambas as partes. Não deixe nunca de usar palavras como: por favor e obrigado.

24. Não deixe que seu orientador desmereça seu trabalho. Saiba ouvir e filtrar as críticas. Defenda seu trabalho quando necessário. Se discordar da opinião de seu orientador, busque uma segunda opinião de um profissional da área antes de desfazer ou descartar todo o texto que foi produzido, preferencialmente de um especialista na área específica de sua dissertação.

25. Peça ao seu orientador explicações sobre o porquê das correções/modificações/cortes que forem feitos no seu trabalho. Com certeza você irá aprender mais se souber em que você errou e, principalmente, por que está errado. Isso possibilitará que os mesmos erros sejam evitados.

26. Marque reuniões com seu orientador periodicamente. Seja por programas de troca de mensagens ou por telefone, é muito importante que haja reuniões de acompanhamento para manter o foco e verificar se sua dissertação continua no caminho certo. Tente fazer, pelo menos uma vez ao mês, uma reunião presencial. É importante que não passe muito tempo (meses) sem haver reuniões. As reuniões presenciais são boas para aparar as “arestas” ou elucidar dúvidas graves.

27. Combine com seu orientador quais serão os capítulos que deverão ser escritos, a fim de diminuir o tempo e o trabalho gasto com a produção desnecessária de conteúdo. Na definição da estrutura de tópicos da dissertação os capítulos já devem aparecer definidos ou ao menos bem indicados. Se tiver dúvidas na criação de algum capítulo, confirme antes com seu orientador. E, quando já tiver feito uma parte, envie para seu orientador, a fim de que possa verificar se o realizado corresponde aquilo que ele tem em mente.

28. Exija clareza de seu orientador quando o mesmo lhe solicitar alguma atividade. Se você ficar com dúvida, não hesite em perguntar. Se não concordar com a atividade, manifeste-se. Não deixe a dúvida passar. Evite retrabalho ou trabalho em vão. Dúvidas? Pergunte imediatamente. Não concordando com a solicitação de alguma atividade, diga ao seu orientador. Você pode também sugerir outra atividade ou a mesma, mas realizando-a de uma forma diferente.

29. Estabeleça prazos tanto para você quanto para seu orientador com relação à produção, revisão e correções a serem realizadas nos capítulos produzidos. Havendo atraso de alguma das partes, deve haver um comunicado com delimitação de novos prazos. Atrasos devem ser tratados com seriedade de ambos os lados. Ocorrendo atrasos, o mais importante é que as partes envolvidas se comuniquem replanejando-se o cronograma.

30. Anote as referências dos artigos que forem fazer parte de sua dissertação em um arquivo de texto separado. Isso irá ajudar muito na hora de criar a referência bibliográfica da sua pesquisa, evitando que você perca alguma referencia de qualquer artigo em uso ou, ainda, que se esqueça de incluí-lo. 31. Tenha sempre uma cópia de todo o material utilizado e produzido por você na sua pesquisa. Tenha backup ou prepare-se para fortes emoções! Sugiro que mantenha em mais de um computador pendrive, HD externo e mídias. Mas não se esqueça de usar um software de gerencia de versão como o já citado Windows Live Sync.

32. Assista filmes de comédia. Essa é uma ótima dica para desopilar. Por isso existe a expressão “rir é o melhor remédio para o estresse”. Então, se estiver estressado e não conseguir ler os artigos nem escrever um parágrafo da sua dissertação, pare e largue tudo que estiver fazendo. Alugue um filme ou vá ao cinema assistir uma comédia, qualquer comédia. O importante é que quando você ri, seu cérebro produz uma substância chamada endorfina, a qual ajuda e muito a aliviar o estresse.

Concluindo

Bem, espero que este artigo sirva como uma contribuição para auxiliar os alunos (os mestrandos) a enfrentar algumas das etapas do seu curso de mestrado. As boas práticas e as lições aprendidas aqui listadas são resultados de experiências vivenciadas por mim e foram todas testadas na prática. Fique à vontade para seguir as boas práticas e dicas que considerar úteis.

Sobre o autor

Gustavo Alexandre possui graduação em Ciência da Computação pela Universidade Católica de Pernambuco (2004), mestrado profissional (2008) em Engenharia de Software pelo C.E.S.A.R. É tutor a distância da disciplina de Educação a Distância do curso de Licenciatura em Matemática da UAB/IFPE e tutor do curso de Governança de TI do SENAC.


»Esta é uma publicação eletrônica da Sociedade Brasileira de Computação – SBC. Qualquer opinião pessoal não pode ser atribuída como da SBC. A responsabilidade sobre o seu conteúdo e a sua autoria é inteiramente dos autores de cada artigo.

v02n03/09.txt · Última modificação: 2020/09/22 02:31 (edição externa)

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