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PERFIL

EDIÇÃO ABRIL 2010

Entrevista com o prof. Lucena

Uma visão geral sobre a área de informática biomédica e seu mercado de trabalho.

A coluna Perfil desta edição uma entrevista com o professor Carlos José Pereira de Lucena: professor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e um dos pioneiros da área de computação no Brasil. Ao longo de sua trajetória profissional, o professor Lucena tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento e consolidação das pesquisas em computação, tanto no cenário nacional como internacional. O reconhecimento à sua atuação marcante reflete-se, sobretudo, nos inúmeros prêmios, títulos e homenagens recebidas. Trata-se, sem dúvida, de um nome de destaque na área e motivo de muito orgulho a todos os pesquisadores brasileiros!!!

O professor Lucena fez seus estudos de graduação na PUC-Rio entre 1962 e 1965 nas áreas de Economia e Matemática. Desde 1962 e durante toda a graduação, foi estagiário do Centro de Computação da PUC-Rio, o primeiro do gênero no Brasil (criado em 1960). A partir de 1965 foi contratado pelo Departamento de Matemática da PUC-Rio para coordenar a área que na época era chamada de Matemática Computacional. Em 1968, junto com um pequeno grupo de colegas, fundou na PUC-Rio o primeiro departamento de Informática do país, desde 1977 o primeiro do ranking no Brasil segundo a CAPES - Ministério da Educação. Mais tarde, obteve o grau de mestrado na Universidade de Waterloo (1969), Canadá, e o doutorado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (1974), Estados Unidos.

Na PUC-Rio, a partir de 1965, foi o primeiro coordenador de pós-graduação e duas vezes diretor do Departamento de Informática, Decano do Centro Técnico e Científico e Vice-Reitor. É professor titular de Informática desde 1982 e participou de todos os colegiados da Universidade. No Computer Science Department da Universidade de Waterloo, no Canadá, que visita regularmente desde 1975, o professor Lucena é “Adjunct Professor” e “Senior Research Associate” do Computer Systems Group.

Seu serviço à comunidade acadêmica brasileira incluiu, dentre outras coisas, sua participação como membro do Comitê Assessor da área de Computação e do Conselho Deliberativo do CNPq (dois mandatos), como presidente da área de Computação na CAPES (dois mandatos: 1980 a 1984) e como coordenador brasileiro da cooperação científica em Informática com a Alemanha de 1972 a 1997 (convênio CNPq/GMD). Recentemente, no triênio 2005-2007, o professor Lucena foi novamente representante da área de computação na CAPES. A partir de 1995 e 1996, respectivamente, representou a comunidade acadêmica no Comitê Gestor do Projeto Internet no Brasil (até dezembro de 1996) e há 11 anos  representa a comunidade científica no Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) da Presidência da República.

A atividade de pesquisa do professor Lucena na área de Ciência da Computação, com ênfase em Métodos Formais, Engenharia de Software e Sistemas Multiagentes, está documentada em mais de 450 publicações arbitradas e 19 livros. Até 2009, o professor Lucena orientou 36 teses de doutorado e 97 dissertações de mestrado. Seus alunos de doutorado são professores em centros de pesquisa e universidades no país e no exterior (EEUU, Canadá e Inglaterra). Destaca-se também sua atuação em comitês de programa de dezenas de conferências nacionais e internacionais e em comissões editoriais de revistas centrais da sua área, tanto no Brasil como no exterior.

O professor recebeu, dentre outros, o Prêmio Almirante Álvaro Alberto de Ciências e Tecnologia, do Ministério de Ciência e Tecnologia, em 1987, o prêmio Nacional de Informática (duas vezes: 1988 e 1991) e a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, da Presidência da República do Brasil, em 1996. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências e membro da Academy of Sciences for the Developing World, desde novembro/2008.

Recentemente recebeu os seguintes prêmios e títulos: o Prêmio do Sexagésimo Aniversário da PUC-Rio e a medalha CAPES 50 anos, em 2001; o Prêmio de Mérito Científico da Sociedade Brasileira de Computação, em 2002; o Título de Research Fellow do Fraunhofer Institute for Computer Architecture and Software Technology (FIRST, Berlim), em 2003; IBM Faculty Award and IBM Eclipse Innovation Award, em 2004; a Medalha Carlos Chagas Filho de Mérito Científico (indicada pela Diretoria e pelo Conselho Superior da FAPERJ), em 2005; IBM Eclipse Innovation Award, em 2006; o Prêmio Personalidade Assespro 30 anos, também em 2006, e o reconhecimento como Distinguished Scientist da ACM, em 2009.

Nessa entrevista, o professor Lucena fala sobre carreira, premiações e sua visão a respeito do futuro da Computação. Agradecemos à disponibilidade em dividir com nossos leitores um pouco de sua história e experiências na área.

SBC Horizontes: Como você descreveria sua trajetória profissional? O que o fez se interessar pela Computação?

Prof. Lucena: Vou inverter a ordem das questões. No início dos anos 60 a PUC-Rio recebeu um sistema Burroughs (Datatron) que foi o primeiro grande computador instalado numa universidade da América Latina. Em torno de um único professor (Prof. Jacques Cohen) foi formado um grupo de 15 estagiários, estudantes de engenharia e matemática, selecionados dentre os que frequentaram, com destaque, os primeiros cursos ministrados pelo professor. Eu estava entre eles. Pouco depois o professor se transferiu para Brandeis, nos EEUU, e os estagiários se tornaram auto-didatas. O que me atraiu para a computação foi o meu gosto pela matemática numérica que passou a ganhar uma nova dimensão com o advento dos computadores.

Minha carreira envolveu a passagem para a recém-criada área de Ciência da Computação (meados dos anos 60) no mestrado e no doutorado. Ajudei a criar o primeiro programa de pós-graduação na área em 68 e posteriormente passei a me dedicar à pesquisa na nova área de Engenharia de Software com ênfase, inicialmente, em métodos formais. Dediquei toda a carreira à formação de alunos nessa área, a projetos de grande porte neste novo campo do conhecimento e ao serviço eventual, em cargos da universidade e em comissões de agências governamentais de Ciência e Tecnologia, atuando, neste caso, como conselheiro. Nos últimos vinte anos me dediquei à direção do Laboratório de Engenharia de Software (LES) que além da produção acadêmica clássica, dedicou-se também à inovação tecnológica e cooperação com o setor produtivo.

SBC Horizontes: Você é membro da Academia Brasileira de Ciências. Como você descreveria o papel de um “acadêmico de ciências” nos dias de hoje?

Prof. Lucena: Fui eleito em 1996 (há 13 anos) para a área de Ciências da Engenharia. A missão do acadêmico é divulgar a relevância da Ciência para a sociedade em geral e promover o diálogo interdisciplinar. Da interação entre as diferentes especialidades surgem os resultados científicos de maior impacto. Como membro do corpo editorial do Journal da Academia procuro divulgar a boa pesquisa na área de Ciências da Engenharia.

SBC Horizontes: Em sua carreira você recebeu inúmeros prêmios. Seria possível eleger um deles como o mais “marcante” ou com um significado especial?

Prof. Lucena: Dou um valor especial ao primeiro prêmio Álvaro Alberto dado para um especialista da área de Informática pela Presidência da República e para o recente prêmio de Distinguished Scientist da ACM, que é a mais antiga e maior sociedade científica da nossa área.

SBC Horizontes: Você acredita que houve mudanças notáveis na relevância internacional da pesquisa brasileira em computação quando comparada àquela que você ajudou a alavancar nos anos 70?

Prof. Lucena: O reconhecimento da existência de grupos de pesquisa de primeira linha em Ciência da Computação no Brasil é hoje fato bem conhecido pelos principais cientistas da nossa área em todo o mundo. O número de jovens pesquisadores brasileiros já reconhecidos internacionalmente por seus trabalhos mostra que a inserção da comunidade brasileira no panorama internacional tende a crescer muito nos próximos anos.

SBC Horizontes: Quais são seus interesses de pesquisa atuais? E quanto ao futuro da Computação... você arriscaria algum “palpite”?

Prof. Lucena: Minha grande área de interesse é a Engenharia de Software de Sistemas Multiagentes. Quanto ao futuro, arriscaria no impacto esperado da recém inaugurada Ciência da Web e em mobilidade.

SBC Horizontes: A revista SBC-Horizontes tem como público-alvo estudantes e jovens profissionais. Há algum conselho, dica sobre carreira que você gostaria de compartilhar com nossos leitores?

Prof. Lucena: Tecnologias mudam todos os dias. Bons fundamentos em teoria de algoritmos e métodos formais da computação, dentre outros conhecimentos básicos da área, permanecem e permitem a migração suave para novas tecnologias.

Recursos

Página do professor Lucena: http://www-di.inf.puc-rio.br/~lucena

Sobre os entrevistadores

Ellen Francine Barbosa é Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) em 1995. Mestre em Ciência da Computação e Matemática Computacional pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC/USP) em 1998. Doutora em Ciência da Computação e Matemática Computacional pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC/USP) em 2004. Realizou estágios na Georgia Institute of Technology (GATECH/USA), e na University of Florida (UFL/USA). É Professora Doutora do Departamento de Sistemas de Computação do ICMC/USP desde 2005 e coordenadora do Laboratório de Engenharia de Software (LABES-ICMC/USP). Entre seus interesses de pesquisa destacam-se temas relacionados a Teste de Software, Qualidade de Software, Ensino e Aprendizado, Objetos de Aprendizado e Ontologias.
Alessandro Garcia possui graduação em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Maringá (1998), mestrado em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (2000) e doutorado em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2004). Atuou como Professor Assistente da Universidade de Lancaster (Inglaterra) de Fevereiro 2005 a Janeiro 2009. Atualmente é Professor Assistente do Departamento de Informática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Engenharia de Software, atuando principalmente nos seguintes temas: Desenvolvimento de Software Orientado a Aspectos, Sistemas Multi-Agentes, Tratamento de Exceções, Métricas e Arquitetura de Software.

»Esta é uma publicação eletrônica da Sociedade Brasileira de Computação – SBC. Qualquer opinião pessoal não pode ser atribuída como da SBC. A responsabilidade sobre o seu conteúdo e a sua autoria é inteiramente dos autores de cada artigo.

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