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EDIÇÃO AGOSTO 2010

Que tal criar a sua própria empresa de tecnologia?

Desafio para muitos, oportunidade para outros, realidade apenas para os empreendedores

Esse artigo apresenta alguns dos principais desafios de criar e gerenciar uma pequena empresa de tecnologia. Esses desafios estão em um contexto multidisciplinar que envolve três pilares de sustentação: administração, negócios e tecnologia. A ausência ou má gestão de algum deles poderá colocar em risco todo o empreendimento. A ideia é que, ao empreender, o estudante ou recém-graduado possa levar em consideração (no seu planejamento empresarial) estratégias que permitam harmonizar os três pilares. Não adianta ter um produto tecnológico funcionando adequadamente se não conseguir vender. Da mesma forma, não adianta vender um produto ou comercializar um serviço que não funciona. Em ambos os casos, a empresa terá insucesso.

A decisão de abrir uma pequena empresa é um momento ímpar na carreira de um jovem profissional. Nas atividades diárias durante a fase inicial de uma empresa de base tecnológica, ocorrem situações que expõem a necessidade de um nível de maturidade organizacional alto. O que acaba ocorrendo é que, na maioria dos casos, uma estratégia intuitiva e pouco formalizada do modelo de negócio da empresa é aplicada. A tomada de decisão é baseada somente na experiência prévia do jovem empreendedor e isso é um problema quando o empreendedor não possui vivência empresarial. Somam-se ainda outros fatores como a falta de recursos financeiros, a inexistência de plano de negócios e a falta de atividades comerciais focadas, o que podem acelerar o insucesso de uma empresa.

Diante de uma competitividade crescente no mercado, as jovens empresas cada vez mais necessitam de destaque, algo que permita diferenciar de forma perceptível seus produtos e/ou serviços. A qualidade, os preços competitivos e o marketing inteligente deixam de ser diferenciais, pois ou a pequena empresa possui esses atributos ou está correndo o risco de não conquistar o seu mercado.

Diante disso, o empreendedor deve entender a importância da harmonização dos pilares que sustentam uma pequena empresa de sucesso. Uma administração adequada permitirá transparência e rigor na apuração dos custos fixos bem como proteção dos sócios contra possíveis entraves junto às leis tributárias e trabalhistas. Os pilares de negócio e tecnologia estão relacionados ao que vender, como vender, para quem vender e a que valor vender. Muitas vezes, um empreendedor de tecnologia busca criar um produto e/ou serviço com o conhecimento técnico que ele possui de forma isolada. Isto é, ele se preocupa com a parte tecnológica de como fazer funcionar; mas não se lembra de validar esse produto e/ou serviço junto ao mercado consumidor. É importante deixar claro, que se o produto ou serviço proposto não vende, isto é, não possui um cliente que queira pagar por ele, a jovem empresa não irá ter sucesso.

É importante que os jovens que desejam criar uma empresa de tecnologia se preparem adequadamente para não tomarem decisões incorretas. Os empreendedores despreparados quase sempre possuem miopia em negociação e não compreendem que o mercado tecnológico é muito competitivo e que histórias de antigos empreendedores que venceram no País sem planejamento e estratégia estão cada vez mais raras. Existe a necessidade de realmente entender o mercado em que se deseja atuar e ter conhecimento técnico necessário para desenvolver os produtos ou serviços que o cliente queira ou que no futuro ele possa desejar. Nunca se deve tomar uma decisão baseada no “achismo”.

Barreiras a serem superadas

De modo geral, as principais dificuldades e obstáculos que impedem as novas empresas de crescerem e se tornarem rentáveis são: informação financeira inadequada, gastos administrativos excessivos, falta de controle do inventário, volume de vendas insuficiente, problemas de marketing e vendas, política de preços inadequada ou defasada, falta de um sistema de custo, mão-de-obra nem sempre adequadamente qualificada, chefias e gerências sem o adequado treinamento, inexperiência no ramo de negócio, desconhecimento dos instrumentos de administração, falta de recursos financeiros, dificuldades para a obtenção de créditos e financiamentos, falta de resistência aos momentos de instabilidade econômica, concorrência, desentendimento entre sócios, e por fim a falta de disciplina, responsabilidade e organização. É possível verificar que a maioria das dificuldades apresentadas está relacionada com as competências das pessoas envolvidas no empreendimento. Caso a pequena empresa tenha um bom time de profissionais com capacidade intelectual adequada e uma boa organização entre eles, muitos desses problemas citados poderão ser minimizados.

Muitos fundadores não possuem experiência que os ajudem na administração da operação e dos negócios. Muitas vezes são excelentes técnicos em engenharia ou computação, porém com dificuldade em executar tarefas, ou mesmo, exercer liderança nas várias áreas que uma jovem empresa necessita para se consolidar (financeiro, marketing, jurídico, gestão de pessoas, negócios e inteligência de mercado). No cenário das empresas tecnológicas, a presença de pessoal técnico qualificado é crucial para seu sucesso. Porém, há uma dificuldade das jovens empresas de absorverem de forma satisfatória esse pessoal. Além disso, um aspecto importante está relacionado em como motivar os colaboradores para que se mantenham satisfeitos e produtivos. Para isto, é necessário que o empreendedor tenha conhecimento sobre ferramentas de gestão de pessoas para criar uma cultura organizacional que se adapte ao seu grupo.

No aspecto relacionado à liderança, o empreendedor deve entender que todos os colaboradores de alguma forma querem algo e que trabalham por diferentes objetivos, seja por cargo/status, sensação de fazer parte de um time, por promoção, reconhecimento, participar do desafio ou porque querem salário ou aumento desse salário. No mundo contemporâneo, existe uma frase bastante enraizada em nossa cultura ocidental, “faça aos outros o que você gostaria que fizessem a você”. Porém, isto não procede na relação líder e liderados, pois o correto é que o empreendedor faça aos outros, aquilo que eles gostariam que lhes fossem feito; isto é, é necessário entender o que os colaboradores querem para permitir maior produtividade no trabalho.

É importante que os jovens empreendedores se conscientizem da necessidade de um estudo mais aprofundado em áreas da administração e negócios e tenham acesso a pessoas com mais experiência ou grupos de pessoas que promovam o aprimoramento de uma cultura empresarial. Um exemplo é por meio da leitura de livros especializados e na participação em cursos de curta ou média duração oferecidos por entidades como, por exemplo, o SEBRAE; ou de longa duração como pós-graduação em áreas administrativas, marketing e de negócios (Especialização ou MBA). Com relação à convivência em um ambiente empresarial, uma possibilidade é a realização de estágios em empresas de pequeno e médio porte para adquirir experiência, compreender a estrutura organizacional e entender o que é trabalhar sob pressão de uma entrega técnica para um cliente. É importante salientar que é válida a experiência de ter sido liderado durante a carreira, pois pode ajudar no entendimento de como liderar corretamente no presente e futuro. Para ser um bom líder, necessariamente, o indivíduo deve entender aspectos psicológicos de seus liderados. Uma forma de possuir esta compreensão é ter sido um subordinado por um período.

A principal barreira para o crescimento de uma jovem empresa é a falta de habilidade, experiência e visão de seus proprietários. Um dos principais motivos para os insucessos de uma pequena empresa de tecnologia é a dificuldade de entender e atender às necessidades do mercado ou nicho de mercado. É comum, o empreendedor abraçar um produto antes de obter informações sólidas do mercado sobre o real valor desse produto e/ou serviço para o cliente. Deve-se atentar para que a motivação não esteja na realização pessoal do empreendedor e sim na necessidade do cliente.

Para um empreendedor é positivo que o mesmo goste do que faz para ser feliz em seu empreendimento, mas isto não significa que esse empreendimento possa ter sucesso. Muitos confundem e acreditam que uma boa idéia é o suficiente. A experiência empresarial denota que se trata de um equívoco; existe a necessidade de se utilizar ferramentas adequadas para mensurar se a partir dessa boa ideia, realmente é possível gerar um negócio sustentável e lucrativo. A ideia é apenas o primeiro passo de uma caminhada até a consolidação da jovem empresa no mercado. Devido à impaciência de muitos empreendedores, várias etapas para garantir o sucesso do empreendimento são descartadas em nome do imediatismo. É importante salientar que uma empresa de base tecnológica é um empreendimento no médio e longo prazo e possui características diferentes das empresas de setores tradicionais. Existem peculiaridades que o empreendedor deve observar e estar preparado para que a sua jovem empresa tenha sucesso.

Foco é fundamental para o sucesso

Quando se trabalha com tecnologia no Brasil é importante focar os esforços em resultados, isto é, uma jovem empresa para se manter no mercado competitivo deve inovar com o objetivo de vender seus produtos e/ou serviços. Muitas vezes, ocorre uma confusão do significado da palavra “inovação tecnológica” para o mercado. Em uma pequena empresa, o empreendedor deve rapidamente entender que necessita gerar soluções com custos e prazos economicamente viáveis para os seus clientes. Essas soluções devem permitir, por exemplo, economizar custos operacionais, agregar valor aos produtos e/ou serviços já existentes, melhorar competitividade da empresa cliente, etc.

É importante salientar que não existe espaço para uma inovação sem retorno financeiro, haja vista que o investimento realizado com a inovação deve ser recuperado (ROI - Return of Investiment) com a sua comercialização, e posteriormente, gerar lucros. Inovação é produzir dinheiro novo por meio de novas técnicas, sistemas, processos ou produtos que antes não eram utilizados para um determinado fim específico. Se não cria valor não é inovação, é apenas novidade, e novidade possui baixa relevância para os negócios.

Diante disto, é fundamental o foco nos negócios e não na inovação do produto ou na aplicação da tecnologia. É importante que o empreendedor inove para vender no mercado e não somente, por prestígio pessoal ou outra motivação que disperse o foco em questão. A inovação em si não gera o crescimento da empresa, a correta administração e negociação dessa inovação, sim. Por exemplo, entrar no mercado competitivo a tempo e com preço adequado é vital para o sucesso do empreendimento.

Em uma primeira abordagem pode ser complicado e arriscado criar e manter uma pequena empresa. Mas o fato é que o empreendedor busca estar sempre fora da sua zona de conforto. O que ele precisa fazer é se preparar e ter acesso as informações adequadas de mercado para realizar um bom planejamento estratégico. É importante salientar a eficácia do desenvolvimento de um Plano de Negócio (Business Plan) e de uma aproximação junto às incubadoras de empresas de base tecnológica, muitas delas presentes nos próprios campus das universidades, pois podem aumentar as chances de sucesso na implantação e viabilização no médio prazo da empresa, reduzindo as taxas de mortalidade.

O desafio está lançado, que tal criar a sua própria empresa de tecnologia?

Recursos

Artigo – “Pesquisa traduzida em negócios”: www.fapesp.br/publicacoes/fichas_inovacao_pt.pdf
Artigo – “Empresas de Informática que surgiram a partir do meio acadêmico”: www.icmc.usp.br/~empr_inf/relat_tec_ICMC.pdf
Artigo – “Gestão de pessoas altamente qualificadas em pequenas empresas de base tecnológica”: www3.mackenzie.br/editora/index.php/RAM/article/download/100/100
Livro – “99 Soluções inovadoras do Sebrae SP”: www.solucoesinovadoras.com.br/as99solucoes/empresa.aspx?conteudo=1473
Livro – “Estratégias Competitivas para Pequenas e Médias Empresas de Tecnologia”: www.qualitymark.com.br/product.aspx?product_id=9788573036947

Sobre os autores

Doutor em computação pelo ICMC/USP. Possui MBA em Marketing pela FUNDACE (FEARP/ USP). É técnico em informática industrial pela ETEP, Bacharel em computação pela UFSCar e mestre em engenharia pela USP. Em 2001 foi pesquisador visitante na Universidade de Indiana (EUA). Trabalhou cinco anos na área de P&D da Opto Eletrônica S.A. e, posteriormente, dois anos como consultor de novas tecnologias da Debis Humaitá do grupo DaimlerChrysler e um ano na T-Systems, empresa do grupo Deutsche Telekom. Em 2003, fundou a Cientistas Associados Desenvolvimento Tecnológico, empresa focada no desenvolvimento de produtos tecnológicos, da qual é seu principal dirigente. Em 2007, fundou a primeira empresa de robótica móvel inteligente do país, a XBot que em 2009, foi considerando, pelo Sebrae SP, uma das principais empresas inovadoras do Estado de SP. Também é fundador e atual coordenador titular do Núcleo de Jovens Empreendedores do CIESP/FIESP de São Carlos e região. Autor do primeiro livro de gestão de pequenas e médias empresas de base tecnológica do País em parceria com o Sebrae Nacional em 2006. Possui em torno de 75 publicações entre livros, capítulos de livros, revistas e congressos internacionais e nacionais nas áreas de computação e engenharia. Possui uma patente. Recebeu diversos prêmios e menções honrosas, como a do SAE Brasil 2001 e de melhor aluno do MBA em Marketing da FUNDACE em 2006. Em 2008, foi finalista do prêmio Empreendedor de Sucesso promovido pela revista PEGN/Globo e FGV.


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