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INDUSTRIA

EDIÇÃO Abril 2012

Porto Digital do Recife

Contexto histórico de seu crescimento e sua importância no cenário tecnológico e socioeconômico pernambucano e brasileiro

Este artigo apresenta um relato sobre o crescimento e consolidação do Porto Digital, um dos mais inovadores e importantes parques tecnológico do país, situado na cidade do Recife. O objetivo é relatar um pouco do contexto socioeconômico em que foi idealizado, da história de seu crescimento, e mostrar a sua importância e relevância na economia nacional e estadual, bem como as expectativas de seu crescimento.

No início dos anos 90 o estado de Pernambuco, assim como todo o Brasil, atravessava uma fase bastante difícil: Um cenário de crise econômica e política era instaurado, chegando ao seu apogeu com o confisco do Plano Collor. Em época de crise econômica, as oportunidades começavam a ficar escassas, não sendo diferente para os profissionais de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), principalmente em uma região que até então não fomentava o setor. Esse cenário gerou uma grande evasão desses profissionais para outras regiões do país e do mundo.

Contemporâneo a este período, nasce no Recife um movimento musical e cultural intitulado de Manguebeat, que tem seu início com o Manifesto (O primeiro Caranguejo com cérebro) do então jornalista e músico Pernambucano Fred 04, vocalista da banda Mundo Livre S/A. Um dos objetivos do movimento era chamar a atenção da sociedade para o clima de “caos” que o Recife vivia, tentando estimular atitudes das autoridades e das próprias pessoas para mudar esse cenário. Muitas áreas passam a se identificar com o movimento, entre elas a área de tecnologia, tanto é que o nome do movimento também é grafado como MangueBit, que dá nome a uma das músicas de Fred 04, fazendo referência a unidade elementar da informação na computação.

No ritmo do MangueBit, nasce a primeira incubadora de talentos acadêmicos na área de TIC do estado, chamada Recife Beat. A Recife Beat nasceu no Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco – CIn/UFPE – com objetivo de estimular o espírito empreendedor nos alunos de informática, incitando a criação de novas soluções em informática focada no mercado. Para aumentar a retenção de novos talentos e resolver parcialmente a demanda do mercado na área de tecnologia da região, o professor Silvio Romero de Lemos Meira em conjunto com outros professores, também do CIn/UFPE, criam o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR).

Em 1997, o secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco, Luiz Cláudio Marinho, e o professor Silvio Meira começam a discutir a criação de uma política para incitar o aumento de produção tecnológica no estado. Assim, em 1999, o governo libera 33 milhões de reais para serem investidos na criação do Porto Digital, no bairro do Recife Antigo. Esse investimento foi empregado na revitalização de ruas e prédios, compra e instalação de equipamentos e várias outras obras e inovações necessárias para receber as empresas no Porto Digital. Em 2000 foi fundado o Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD), responsável por atrair novas empresas e gerenciar todo o Polo. Em 2002 a sede do CESAR é transferida para o bairro do Recife Antigo, onde já estava localizado o Porto Digital, se tornando a principal âncora do projeto. Depois de toda essa trajetória, após 12 anos de atuação o Porto Digital viria se tornar o mais importante polo tecnológico do Brasil.

Contribuição socioeconômica para Região Nordeste e para o País

Essa iniciativa empreendedora público-privada, que deu origem ao Porto Digital, começa a colher frutos. Nesse período o Porto Digital cresceu de uma forma impressionante e criou no Recife um gigantesco cluster no ramo de Tecnologia da Informação e Comunicação. Um cluster é caracterizado como um conjunto de empresas do mesmo setor produtivo reunidas em um mesmo espaço. Nesse sentido, o incentivo fiscal do governo, com redução de impostos para empresas de TIC instaladas na região, contribuiu bastante nesse processo, atraindo várias corporações para dentro do parque tecnológico e dando condições para várias startups (modelo de empresa jovem, recém-criada, ainda em fase embrionária) iniciarem seus empreendimentos. Atualmente o Porto Digital tem mais de 200 empresas reunidas, que possuem uma grande importância econômica para região, gerando um pouco mais de 6,5 mil empregos, faturando cerca de 1 bilhão de reais por ano e participando com cerca de 3,9% do PIB do estado de Pernambuco.

Ao se pensar nos principais empreendimentos do Porto Digital, com certeza lembra-se primeiramente de uma das empresas pioneiras a ingressar no projeto, que é hoje uma das principais âncoras do Polo: O CESAR. Hoje o empreendimento trata-se de um centro privado de inovação, que desenvolve solução em TIC para os mais diversos setores, como: Telecomunicação, Eletroeletrônicos, Automação Comercial, Energia, Saúde, Agronegócios e etc. O CESAR também contribui bastante para formação da cultura empreendedora, com seu próprio programa de incubação, que é chamado de “Fábrica de Empreendimentos”, oferecendo apoio gerencial e infraestrutura para empresas embrionárias.

Ao navegar um pouco mais no Porto Digital, encontramos outros grandes empreendimentos, como a D’Accord Music Software, que iniciou sua atividade ainda incubada na Recife Beat, no ano de 2000. A empresa oferece soluções em tecnologia musical para mais de 100 países, desenvolvendo ferramentas, aplicações, inovações e facilidades na área musical, principalmente no ensino e aprendizado de música. A empresa já foi bastante premiada, ganhando por três vezes seguidas o prêmio FINEP de inovação, na categoria pequenas empresas (2007-2009). Hoje a D’Accord já anda com as próprias pernas e em 2007, criou a MusiGames Studios, uma empresa responsável pelo desenvolvimento de jogos digitais musicais. Por falar em Jogos Digitais, os empreendimentos do setor no parque tecnológico do Recife contribuem significativamente para o mercado brasileiro de jogos, o qual segundo estimativas, 34% dos games brasileiros são provenientes do Porto Digital, participando com um pouco mais de 16% do PIB nacional no setor.

Os resultados obtidos pelas empresas que se instalaram e puderam usufruir dos recursos oferecidos pelo parque acabaram por atrair grandes companhias, mundialmente reconhecidas, para também instalarem unidades e escritórios no Porto Digital, como: IBM, Microsoft, Oracle, Borland, Motorola, Samsung, entre outras. Assim, o Porto Digital tem vários reconhecimentos em nível nacional, colecionando prêmios que demonstram isso, sendo alguns citados a seguir:

  • 2005 – Apontado pela AT Kearney como o maior parque tecnológico do país em número de empresas e faturamento;
  • 2007 – Melhor Parque Tecnológico/ Habitat de Inovação do Brasil pela Anprotec, reconhecido através do Prêmio Nacional de empreendedorismo Inovador de 2007, considerado o mais importante prêmio desta área concedido no país;
  • 2008 – Único parque brasileiro a integrar a primeira edição do Book Learning by Sharing, da International Association of Science Parks (IASP), compartilhando aquela edição com os parques de Manchester, Índia e Andaluzia.

No manifesto do MangueBit, há 20 anos, Fred 04 denunciou o estado de “caos” que o Recife vivia. Recentemente o manifesto foi revisitado pelo autor, mostrando, no seu ponto de vista, as mudanças que ocorreram no Recife nesse tempo. Segue um trecho do manifesto revisitado:

A vida é um game?
Hoje um dos mais bem-sucedidos setores de exportação do Recife, além da música e do carnaval, são os produtos gerados pelas centenas de micro e pequenas empresas de games e softwares instaladas ali perto, no Porto Digital.
(Autor: Fred 04. Título: Fred Zero Quatro revê “manifesto do mangue” 15 anos após a morte de Chico Science. Disponível em: musica.uol.com.br . Acessado em: 15/02/2012).

Nesse manifesto revisitado, Fred 04 confirma uma opinião que é de senso comum. O Recife realmente mudou bastante daquela época para cá, e nesse aspecto o Porto Digital contribui com uma parcela significativa, fazendo com que o estado passasse a ser referência em tecnologia, empregando profissionais da região, que veem oportunidades no Porto Digital, que fica logo ali perto.

Além da sua contribuição no setor econômico, o Porto Digital também vem contribuindo no processo de inclusão social e digital. Com seus programas nas comunidades que ficam próximas ao parque tecnológico, como a comunidade do Pilar e de Peixinhos. Nesse sentido, o Porto Digital mantém projetos de formação de moradores, na área de Tecnologia da Informação e Comunicação, promovendo a inclusão digital e promovendo o desenvolvimento das comunidades.

Expansão e Futuro do Porto Digital

Ratificando a grande importância do Porto Digital para a região, recentemente foi sancionada a Lei Municipal nº 17.762/2011, que reconhece a expansão física e estratégica do Polo. Assim, o Porto Digital ocupará uma área maior, que agora passará a ocupar também o bairro de Santo Amaro.

A lei incentiva também o desenvolvimento da Economia Criativa (EC) na região, ampliando os segmentos beneficiados com a redução do Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISSQN), agora não só os empreendimentos de TIC serão beneficiados, mas também os que exerçam as atividades relacionadas ao serviço de: produção e pós-produção cinematográfica, vídeos, programas de televisão, gravação de som, edição de música, design, fotografia, jogos digitais e multimídia.

Tudo isso faz parte da Política de Expansão do Porto Digital, que soma uma margem de crescimento de cerca de 30% nos últimos anos. Porém, para os gestores do Porto Digital, muito ainda deve ser feito para divulgar esse empreendimento e atrair mais empresas. Nesse sentido, o Núcleo de Gestão do Porto Digital deseja abrir um escritório em São Paulo até Abril de 2012 e estuda a possibilidade de abrir outros até no Vale do Silício, facilitando assim o contato com investidores e empresas.

Concluindo

Esse artigo discutiu a criação e a consolidação de um empreendimento público-privado que deu e continua dando certo: O Porto Digital do Recife – um Polo de excelência em TI que continua crescendo e gerando grande importância socioeconômica para a Região Nordeste e para o Brasil.

Recursos

Porto Digital: http://www.portodigital.org.br/

Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR): http://www.cesar.org.br/site/

Centro de Informática – UFPE: http://www2.cin.ufpe.br/site/index.php

Governo de Pernambuco: http://www.pe.gov.br/

Prefeitura do Recife: http://www2.recife.pe.gov.br/

Sobre os autores

Felipe Rafael Ferreira Marques é graduando do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e bolsista institucional de Iniciação Científica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, IFPE. Tem como principais interesses as áreas de Robótica, Sistemas Embarcados, Computação Natural, Informática Biomédica, Neurociência, Inteligência e Visão Computacional: Processamento e Análise de Imagens, Reconhecimento de Padrões, Aprendizagem de Máquina, Mineração de Dados, Redes Neurais Artificiais.
Jonathan Henrique de Araújo Silva é graduando do curso de Análise e desenvolvimento de sistemas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, IFPE. Possui interesse nas áreas de Desenvolvimento de Sistemas, Inteligência Computacional e Open Source.


Esta é uma publicação eletrônica da Sociedade Brasileira de Computação – SBC. Qualquer opinião pessoal não pode ser atribuída como da SBC. A responsabilidade sobre o seu conteúdo e a sua autoria é inteiramente dos autores de cada artigo.
v05n01/28.txt · Última modificação: 2020/09/22 02:27 (edição externa)

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