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EDIÇÃO Dezembro 2012

Redes da Liberdade

Os impactos do virtual no real

Com a evolução das redes sociais, ganhamos a facilidade de expor informações para todo o mundo com apenas um clique e em tempo real. Este artigo aborda a grande influência do meio virtual em diversos momentos da política moderna, seja como grandes investimentos em campanhas eleitorais ou como grandes revoltas feitas pela população que começaram a organizar-se através da grande rede.

Compartilhar, curtir, postar, tuitar, adicionar. Verbos que atualmente fazem parte do cotidiano de bilhões de pessoas no mundo. O crescimento vertiginoso das redes sociais (como o Facebook cujo número de usuários chegou a um bilhão [1]) tem mudado a forma como as pessoas expõem, revelam e principalmente compartilham suas opiniões e fatos acerca também da vida real. Um dos fatores que contribuíram para esse crescimento foi o aumento na compra de smartphones e tablets ou qualquer aparelho portável que se conecta com a internet [2]. Consequentemente as pessoas conseguem utilizar com mais facilidade as redes sociais. Com apenas poucos cliques ou toques na tela, o usuário pode mostrar como está o trânsito em determinada parte da cidade, por exemplo. Entretanto, o poder das mídias sociais não está apenas em usos tão simples assim. Dentre os mais diversos setores da sociedade, o poder das mídias repercutiu com maior intensidade no campo político. Este artigo, então, visa explorar a grande influência e impacto dos meios virtuais em diversos momentos importantes da política atual.

Primavera árabe

Tunísia, 18 de dezembro de 2010, iniciam-se os principais protestos de uma fase histórica do mundo oriental a “Primavera Árabe”; além desta, outras manifestações começaram a surgir nas nações que fazem parte do Mundo Árabe e em alguns lugares da África. As revoltas que mais se destacaram foram no Egito, Líbia e Iémen, cujos ditadores foram tirados do poder pelo povo. O que todas essas revoltas têm em comum? O uso das redes sociais e da internet para organizar manifestações, publicar fotos, vídeos, tuitar sobre a revolta e expor ao mundo a verdade e a realidade dos respectivos lugares [3].

É inegável, sem a internet e com a grande força do governo, a articulação dos protestos seriam quase impossíveis e, consequentemente, a vitória da população seria extremamente mais difícil de ser realizada. Em face dessa situação, o então presidente do Egito, Hosni Mubarak, ordenou que fosse bloqueado em nível DNS (Domain Name System) o acesso a todas as redes sociais e cancelou ferramentas midiáticas no Egito (ou seja, são todas as tecnologias de mídia usadas para comunicação em massa, incluindo jornais, TV e internet). Contudo, a população conseguiu burlar essa censura através do uso de conexões discadas e endereços IP (Internet Protocol). Após grandes revoltas populares, Mubarak renuncia a presidência, depois de 30 anos no poder, no dia 11 de março de 2011[4]. O povo da Tunísia obteve um apoio de extrema importância para sua luta. Os hacktivistas anonymous – hackers que são motivados por questões políticas - derrubaram sites do governo tunisino utilizando o método de ataque conhecido como Ddos (Distributed Denial of Service). Além disso, vídeos postados no youtube, fortaleceram ainda mais a luta contra a disposição de Ben Ali, na época presidente da Tunísia.

Campanhas Online

“Ir onde os eleitores estão”. Com essa ideia e com o maior número de usuários ativos na internet (aproximadamente cerca de 80% da população norte-americana [5]) o então candidato a presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, investiu rigorosamente em campanhas online. Não foi por acaso que sua campanha virtual conseguiu alcançar tanto sucesso, pois quem liderou a campanha online foi uns dos fundadores do Facebook, a maior rede social do mundo, Chris Hughes [6]. Foi criado um site para o candidato o qual continha informações sobre Obama, e o principal: doações para a campanha do candidato. Essa estratégia obteve enorme sucesso, foram arrecadados aproximadamente 500 milhões de dólares para a campanha [7]. Além do site criado (http://www.barackobama.com), a sua equipe criou perfis em 16 redes sociais, dentre delas Facebook, Youtube e Twitter, tudo isso para atingir várias pessoas de diversas áreas da sociedade. Esse investimento em redes sociais (no Facebook foi U$ 643 000[8]) aumentou a proximidade dos eleitores com o candidato, que podiam compartilhar suas propostas, ideias para o governo com milhões de outros eleitores, até eleitores que não eram tão ativos na rede podiam ser influenciados por aqueles eleitores que estavam conectados. O resultado de todo esse investimento: Barack Obama vence as eleições de 2008.

Nas eleições estadunidenses de 2012, o twitter lançou um aplicativo-“Twitter Political Index”- que mede o índice de aprovação dos candidatos à presidência (Obama e Rommey) entre os usuários da rede que alcança o número de 140 milhões [9]. O aplicativo analisa mensagens positivas ou negativas postadas pelos usuários sobre os candidatos e baseado nisso cria-se um gráfico que vai de 0 a 100 [9]. Esta ferramenta pode auxiliar aos candidatos em saber sobre a opinião dos eleitores sobre sua campanha e/ou sobre suas propostas de governo. Já é realidade, as mídias sociais não são apenas mais uma ferramenta de propaganda eleitoral, pois diferente da TV, a internet permite que o candidato veja o ponto de vista do eleitor em tempo real sobre sua campanha, situação do governo atual, sobre algum debate na própria TV e, principalmente, que o usuário compartilhe as propostas daquele candidato para outros usuários. Com isso atinge-se o objetivo de qualquer campanha eleitoral seja online ou off-line: ganhar votos.

Sendo o Brasil o 5º país mais conectado [5] não ficamos fora de tal revolução, pois, já na eleição presidencial de 2010, os então candidatos, Dilma Rouseff, José Serra e Marina Silva, usaram as mídias sociais como ferramentas para promover as suas candidaturas [10]. Marina Silva foi uma das maiores revelações para o cenário dessa eleição, sendo de um partido pequeno e que dispunha apenas de três minutos de horário político obrigatório na TV, que é a maior fonte de informação para os eleitores brasileiros [11], Marina procurou referenciar seu site em todos os programas, para que os eleitores pudessem ter maiores informações a respeito de suas propostas. Outra estratégia usada pela candidata foi usar, também, as redes para pedir doações, sendo ela a primeira candidata brasileira a realizar tal estratégia. Dos 24 milhões arrecadados na campanha, 170 mil vieram de doações pela internet [12]. Mesmo não tendo um mesmo impacto da campanha de Obama em 2008, Marina conquistou 20 milhões de votos, algo muito raro quando levamos em consideração o partido pelo qual ela se candidatou. Os outros candidatos não tiveram o mesmo sucesso. Dilma não se dedicou tanto ao seu perfil no twitter, foi usado pela candidata para desmentir acusações e reforçar seu laço com o então presidente Lula [10]. Já José Serra usou seu perfil para se aproximar mais do eleitorado e tentar tirar a ideia de ser tão formal segundo especulações [10].

O virtual brasileiro

Para alguns, é perceptível que a TV aberta não mostra todos ou a maioria dos fatos e notícias sobre a política no Brasil, ou seja, ela é bastante omissa em relação a esse tema, principalmente quando se trata de corrupção. Mesmo que a televisão seja a maior fonte de informação do brasileiro, a internet é, sem dúvida, a fonte mais rápida de propagação de informação, seja sobre política ou qualquer assunto. Utilizando dessa ferramenta assim como no caso do Egito, a população brasileira está se mobilizando através das redes sociais na luta contra a corrupção de várias formas possíveis e criativas.

Seja com a criação de grupos para organização de manifestações, compartilhamento de fotos explicando denúncias de corrupção, páginas criadas no Facebook e vídeos postados no youtube ironizando e/ou denunciando políticos corruptos. Enfim, as redes se tornaram um meio de articulação de protestos também no Brasil. Marchas contra a corrupção conseguem mobilizar diversas pessoas online, porém, na vida real nem sempre todas que confirmaram na internet marcam presença, exemplo disso foi a que aconteceu no Rio de Janeiro e foi organizada totalmente pelo Facebook, 35 mil pessoas confirmaram presença na página da manifestação, contudo apenas 2,5 mil compareceram ao local [13]. Outra marcha recente foi a que houve no dia 7 de setembro, ironicamente no Dia da Independência do Brasil, que também foi organizada pela rede, porém comparado com 2011 cuja manifestação teve presença de 25 mil pessoas, a marcha desse ano obteve a presença de 5 mil pessoas segundo a policia militar[14].

A comunidade de computação

Mesmo com o crescimento da internet e com o aumento do número de usuários, ainda faltam projetos que fortaleçam as mídias sociais como meio de impacto na política. Seria interessante a comunidade de computação realizar workshops e palestras, com acadêmicos, políticos, estudantes e empresários de computação, para ser discutido, a influência das redes sociais na sociedade e suas consequências. Nas Universidades, os professores de computação poderiam incentivar os alunos a terem uma visão mais crítica e ampla das diversas áreas da sociedade que o cerca, como educação, saúde e segurança, para consequentemente haver idealizações de projetos que tentem resolver problemas dessas e outras áreas da sociedade, para que a mesma se torne cada vez mais desenvolvida para a população.

Considerações Finais

Como vimos durante o artigo, já é realidade, a internet juntamente com as redes sociais chegou para realizar uma impactante mudança na maneira como a sociedade se comporta e pensa. Antes manifestações eram organizadas pelo famoso “boca-a-boca”, porém atualmente são organizadas através do compartilhar. Entretanto, ainda existe uma carência de ferramentas tecnológicas que facilitem a comunicação da população com o governo, de forma direta e em tempo real, para que consequentemente as pessoas sejam mais ouvidas e assim se construa uma sociedade cada vez mais democrática.

Recursos

Sobre os autores

Lucas Fernando Prazeres Amorim dos Santos é graduando do curso Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, IFPE. Possui interesses nas áreas de Análise de Mídias Sociais, Gestão em TI e TI Educacional.
Eduardo Santana do Amaral é graduando do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, IFPE. Possui interesses em Redes de Computadores, Desenvolvimento de Jogos, Ti Educacional e Administração de Servidores.


Esta é uma publicação eletrônica da Sociedade Brasileira de Computação – SBC. Qualquer opinião pessoal não pode ser atribuída como da SBC. A responsabilidade sobre o seu conteúdo e a sua autoria é inteiramente dos autores de cada artigo.
v05n03/07.txt · Última modificação: 2020/09/22 02:27 (edição externa)

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