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COLUNA

EDIÇÃO ABRIL 2009

Mulheres em Computação: Iniciativas Internacionais

Veja como o mundo está mobilizado em trazer mais mulheres para a Computação

Este artigo descreve algumas das principais iniciativas internacionais para atrair, manter e apoiar mulheres na computação.

Inspirar, recrutar e manter mulheres em carreiras ligadas à computação é um desafio em todo o mundo. Infelizmente, preconceitos e estereótipos, muitas vezes inconscientes, têm limitado a diversidade de gênero nas áreas tecnológicas trazendo prejuízos para todos nós. Pesquisas [6] mostram que equipes compostas por homens e mulheres geralmente são mais criativas e mais eficientes na tomada de decisões e na execução das tarefas. Conscientes desse cenário, um número crescente de fundações sem fins lucrativos, instituições educacionais e governamentais têm apoiado iniciativas com a missão de aumentar a representatividade feminina na computação e nas engenharias bem como apoiar as mulheres que já estão nessas áreas.

Eventos e Comunidades

Você já se imaginou em um evento com mais de 1500 mulheres engenheiras e cientistas interessadas em tecnologia? O ambiente é cheio de energia e inspirador e você pode experimentá-lo no evento “Grace Hopper Celebration of Women in Computing” (GHC) [4]. Este evento voltado para mulheres na área de tecnologia é organizado anualmente pelo Instituto Anita Borg [6, 10] e um dos seus principais objetivos é prover um ambiente onde as mulheres possam fazer contatos que poderão resultar em cooperações, oportunidades de trabalho e, porque não, novas amizades. O sentimento de isolamento que nós, mulheres na área de computação, muitas vezes sentimos em nossos departamentos e eventos técnicos desaparece assim que você chega no GHC. Todas as participantes, sejam elas estudantes, professoras, ou mulheres com altos cargos em empresas de sucesso (como por exemplo, Google, Microsoft, Intel, Sun, Cisco, IBM, entre outras) são extremamente receptivas e abertas para compartilhar suas experiências. Outro foco deste evento é o recrutamento. Diversas empresas montam stands onde é possível obter informações sobre as oportunidades de trabalho e estágio, entregar o currículo em mãos para um recrutador e, claro, pegar vários suvenires especialmente produzidos para o público feminino. Além de sessões para apresentação de trabalhos técnicos, o evento oferece uma variedade de painéis e palestras sobre assuntos de interesse para mulheres na área de tecnologia, por exemplo, como melhorar o ambiente de trabalho em departamentos de computação, como usar seu conhecimento técnico em prol da sociedade, como desenvolver uma atitude de liderança, como manter o equilíbrio entre a vida pessoal e a carreira e como recrutar mais mulheres para os cursos de computação.

Outra iniciativa do Instituto Anita Borg é a lista de discussão Systers [12], criada em 1987. Esta comunidade, que é a maior do mundo para mulheres na computação, provê um espaço privado para as mulheres buscarem conselhos e discutirem os obstáculos que enfrentam em um ambiente predominantemente masculino. A lista também é uma ótima fonte de informações sobre diversas oportunidades (bolsas, eventos e outros projetos) voltadas para mulheres na computação.

Em 2006, durante um dos painéis no GHC e com o apoio do Instituto Anita Borg, foi criada a comunidade Latinas in Computing [7] voltada para mulheres latinas na computação. Além de oferecer um espaço de discussão, como na comunidade Systers, a Latinas in Computing mantém um programa chamado MentorNet [8] que liga estudantes de graduação, pós-graduação, pós-doutorado e professores de engenharia, matemática e tecnologia em início de carreira com profissionais da mesma área para uma relação mentor-pupilo. Desde 2007, a comunidate tem participado ativamente do GHC organizando painéis e encontros para as latinas presentes no evento.

Desfazendo estereótipos

A professora Karen Panneta, do curso de Engenharia Elétrica e Computação da Universidade de Tufts – Massachusetts – EUA, nunca aceitou o estereótipo criado para as engenheiras. Segundo ela, as estudantes de engenharia com quem ela convivia eram muito diferentes daquela imagem “de uma garota sentada em um porão com caixas de pizzas e focada apenas no trabalho”. Para ajudar a desfazer esse mito das engenheiras nerds, em 1996, Karen começou o programa Nerd Girls [9]. Este grupo – formado a cada ano por 14 alunas de graduação em engenharia – trabalha em projetos de consciência social tais como limpeza do meio-ambiente, energia verde ou mobilidade para pessoas com deficiências físicas.

Recentemente, o grupo expandiu suas fronteiras para fora da universidade de origem e em sua página na Internet formou-se uma comunidade que cresce a cada dia com a adesão de estudantes do mundo inteiro que contribuem com textos para o blog e também com idéias e questionamentos no fórum de discussões. O grupo também tem despertado a atenção da mídia e já recebeu uma proposta para estrear um reality show. Algumas das idéias pregadas pela comunidade são: Brains are beautiful, Geek is Chic e Smart is sexy.

Atraindo mais mulheres para Computação

Para que se tenha mais mulheres na computação, é importante que elas despertem o interesse por tecnologia desde cedo. Além disso, pais e professores devem estar informados sobre as carreiras em tecnologia para que, muitas vezes inconscientemente, não desencoragem suas filhas e alunas a optar por áreas relacionadas a computação com preconceitos do tipo “mulheres não são boas em Matemática” ou “Computação é coisa para homem”. Com essa visão, os programas Girls Go Tech [3] e Sally Ride Science [11] mantêm websites e atividades como acampamentos, festivais e conferências onde meninas, pais e professores têm contato com diferentes tecnologias e aprendem sobre as diversas carreiras tecnológicas.

Iniciativas da ACM e do IEEE

A ACM (Association for Computer Machinery), a associação americana de computação, possui um grupo especial, chamado ACM-W (ACM's Committee on Women in Computing) [1], para celebrar, informar e dar suporte às mulheres em computação bem como trabalhar com a comunidade de cientistas, empresários, educadores e políticos para melhorar o ambiente educacional e de trabalho para as mulheres. O ACM-W tem embaixadoras em várias partes do mundo que desenvolvem atividades relacionadas com os objetivos do grupo. No Brasil, a embaixadora é a Profa. Claudia Bauzer Medeiros do Instituto de Computação da UNICAMP.

O IEEE (Institute of Electrical and Electronic Engineers), uma associação profissional internacional para o avanço tecnológico, mantém o grupo WIE (IEEE Women in Engineering) [5] que tem a missão de inspirar, engajar e encorajar as mulheres afiliadas ao IEEE ao redor do mundo. O WIE organiza encontros dentro de conferências e simpósios para que as mulheres tenham oportunidade de se conhecer. Outra iniciativa do grupo é a revista “IEEE Women in Engineering Magazine” que publica artigos que mostram, em especial, a natureza interdisciplinar da engenharia.

Tanto o ACM-W como o WIE mantêm um informativo periódico que traz as notícias sobre suas atividades realizadas em todo o mundo.

Concluindo

Este artigo trouxe uma pequena amostra das iniciativas internacionais criadas para atrair, manter e apoiar as mulheres na computação. Muitos dos obstáculos que as mulheres enfrentam no Brasil estão presentes em outras partes do mundo e participar das iniciativas internacionais nos ajuda a entender melhor esses obstáculos e a encontrar soluções para derrubá-los.

Recursos

Sobre a autora

Juliana Freitag Borin é doutoranda no Instituto de Computação da UNICAMP, com mestrado em Ciência da Computação pela UNICAMP (2004) e bacharelado em Informática pela UNIOESTE (2002). Desenvolve pesquisas em redes Wi-fi (IEEE 802.11) e WiMAX (IEEE 802.16), investigando mecanismos para provisão de Qualidade de Serviço. Membro dos grupos Systers, Latinas in Computing e IEEE WIE e criadora do blog Brazilian Women in Information Technology (brazilianwomenit.blogspot.com).


Esta é uma publicação eletrônica da Sociedade Brasileira de Computação – SBC. Qualquer opinião pessoal não pode ser atribuída como da SBC. A responsabilidade sobre o seu conteúdo e a sua autoria é inteiramente dos autores de cada artigo.
v02n01/14.txt · Última modificação: 2020/09/22 02:31 (edição externa)

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