A tecnologia em prol do meio ambiente - o lixo de alguns é luxo para muitos
O avanço tecnológico e o aumento desordenado do consumo de materiais eletrônicos têm resultado em um grande acúmulo de lixo. Muitos desses materiais podem e devem ser reaproveitados. Este artigo discute a prática de projetos sociais visando à inclusão digital através da Logística Reversa.
O mundo tem caminhado para um avanço no que diz respeito à consciência ambiental. Os grandes líderes e os donos de importantes fábricas têm sentido o peso da cobrança dos ambientalistas e dos intelectuais. Defender a natureza virou “modismo”. Entretanto, os chamados resíduos eletrônicos continuam sendo pouco aproveitados, pois não há uma cultura arraigada de reuso no país e não seria diferente no que se refere à tecnologia.
O que percebemos é que tem havido um grande aumento da produção de lixo eletrônico em todo o mundo, haja vista o avanço tecnológico. A aquisição desses itens parece ter se tornado “necessidade básica”. Diariamente são lançados no mercado dezenas de dispositivos dotados de grandes inovações, que fomentam o desejo consumista de alguns e alimentam o vício por tecnologia de outros, mas o problema não está exatamente na aquisição, e sim, no descarte desses itens. Na grande maioria das vezes esses descartes são feitos de maneiras inapropriadas contribuindo assim para o aumento da poluição ambiental. Vale ressaltar que as questões ambientais estão sendo observadas, tanto por autoridades competentes, como pela população que gradualmente está se informando e cobrando uma postura responsável dos seus representantes e dos ditos “poluidores”.
Uma das soluções para a redução da poluição com materiais eletrônicos é a Logística Reversa, conforme ilustrado na figura a seguir. A Logística Reversa consiste em mudar a sequência do ciclo normal de consumo (fabricante- distribuidor-consumidor), de um determinado dispositivo. Quando esse dispositivo já não tem mais utilidade, é devolvido pelo consumidor ao fabricante, para que esse dê um destino final adequado ao produto. O destino final pode ser a reutilização do produto para alguma outra finalidade, a utilização para produzir algum outro produto, ou o descarte adequado propriamente dito de maneira a reduzir o impacto ambiental.
Materiais como computadores, que já não estão em estado produtivo, por exemplo, podem ser utilizados em projetos sociais, em ações de inclusão digital, (e.g., de jovens), de forma a estimular o desenvolvimento de pessoas carentes e promover a cidadania. Um exemplo de sucesso nesse sentido é o projeto desenvolvido pelo PROCON-Recife, que junto ao sindicato dos bancários e o Banco do Brasil, ensinam jovens de comunidades carentes a consertarem computadores. Esses, na maioria das vezes, são doados pelos bancos e seus funcionários, porém a população, assim como outras empresas, também pode fazê-lo.
Dentre outros projetos de inclusão digital, o Núcleo Ressocializador da Capital, promovido pelo Governo do Estado de Alagoas dentro dos presídios da capital alagoana, tem um grande destaque, pois tem dois objetivos importantes: reinserir internos do sistema prisional à sociedade e criar oportunidades para que esses possam ter opções de emprego ao saírem do sistema prisional, e assim não acabem se tornando reincidentes por falta de oportunidades.
Empresas como o CEMIG e Fleury Medicina e Saúde são exemplos de praticantes do que podemos chamar de TI Verde, que é a utilização de equipamentos de tecnologia que proporcionam um menor consumo de insumos, como toner de impressão, papel, dentre outros materiais. Além de praticar essa política de sustentabilidade, a CEMIG participa do programa do governo mineiro chamado SERVAS – Serviço de Voluntariado e Assistência Social – recondicionando computadores e impressoras, realizando a sua doação posteriormente. Já a Fleury Medicina e Saúde dá preferência a fornecedores que possuem um programa de retorno de materiais, mas como é raro de encontrar esse tipo de serviço, contratam empresas para executar a reciclagem dos equipamentos de TI. Como outro exemplo de empresa que pratica a Logística Reversa, temos o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – Campus Recife, que está elaborando um projeto de logística reversa aplicada à computação em seu Campus através do Departamento de Gestão da Tecnologia da Informação (DGTI).
Podemos citar também grandes empresas fabricantes de dispositivos de rede como a 3COM, que trás consigo a redução do custo total de propriedade fornecendo um custo-benefício mais atraente ao cliente. Dentro do custo total de propriedade, no plano da empresa, inclui-se uma manutenção menos frequente e mais fácil. Desse modo, o fabricante fornece produtos com uma economia de até 25% de energia elétrica.
Uma das concorrentes da 3COM, A Nortel também explora uma política de preservação ambiental e divulga como exemplo o caso de sucesso da Voxline, onde obteve sucesso com a implantação de soluções de convergência e telefonia. Após uma análise o período de um ano, foi constatado a economia de 123.617,8 quilowatts de energia que equivale a R$84.134,27 (65%) para manter a operação.
A forma com a qual a logística reversa vem sendo utilizada se dá a partir da necessidade de reciclar o lixo eletrônico que cresce numa escala proporcional à de aumento de equipamentos desse tipo no mercado. O intuito é de que o recolhimento desses materiais seja produtivo para a sociedade, ensinando uma profissão, estimulando a cidadania, tanto por parte de quem ajuda quanto por parte de quem é apoiado.
![]() | Siandro Rodrigo de Carvalho, pernambucano, está cursando Superior Tecnólogo em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo IFPE - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco. |
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