Veja o que as estatísticas do CNPq mostram sobre as mulheres na Ciência
No final de 2011, o número de mulheres com a tão respeitada Bolsa de Produtividade 1A do CNPq triplicou, passando de 1 para 3. Aproveitando essa gloriosa conquista, este artigo apresenta algumas estatísticas sobre a participação feminina nas bolsas de produtividade do CNPq. Não se pretende esgotar o assunto, mas provocar a reflexão sobre os números atuais do CNPq em relação à participação feminina e ao seu reconhecimento na comunidade de pesquisa.
O CNPq instituiu, há mais de três décadas, a (então) chamada bolsa de pesquisa, que visava apoiar de modo desburocratizado pesquisadores de destaque da comunidade acadêmica, bem como incentivar o crescimento da área científica no Brasil. Atualmente, essas bolsas possuem novo nome, mas mantêm a essência da ideia inicial, sendo classificadas em duas grandes categorias: Produtividade em Pesquisa (PQ) e Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora (DT).
Como acontece com as demais modalidades de bolsas das agências de fomento, a concessão das bolsas PQ e DT passam por um processo competitivo que começa com a avaliação por pares (assessores ad hoc), que geram pareceres avaliando o desempenho acadêmico/técnico do candidato. Os pesquisadores brasileiros escolhem qual é sua área de atuação, em um conjunto que hoje conta com 48 áreas. A Ciência de Computação é uma dessas áreas. Baseado nos pareceres dos assessores ad-hoc, o Comitê de Área do CNPq avalia os inscritos daquele ano indicando se cada candidato atende ou não os requisitos, fazendo uma classificação dos aprovados. As listas de todos os comitês são então analisadas pela Comissão de Assessoramento Técnico-Científico (CATC), composta por cinco Diretores de vários setores do CNPq e três representantes da comunidade de cada grande área das Ciências Exatas, Humanas e Biológicas. O CATC define a distribuição dos recursos para todos os comitês. Usualmente, não existem recursos para todos os classificados, em geral nem para metade deles, o que torna o processo, além de exigente, também competitivo.
A bolsa PQ, como o próprio nome indica, incentiva e valoriza a produção científica de alta qualidade em veículos representativos e seletivos da área na qual o candidato se aplicou. A bolsa de DT é uma modalidade mais recente, cujo objetivo é apoiar a pesquisa inovadora aplicada e com vertentes de integração com a indústria. Essas bolsas são classificadas nos níveis 1 e 2, onde 2 é o nível inicial. As bolsas de nível 1 são categorizadas de A a D, sendo o nível 1A o mais alto (ver detalhes em http://www.cnpq.br/normas/rn_06_016_anexo1.htm).
O foco deste artigo é verificar como está a participação feminina neste universo de bolsistas de produtividade, com ênfase na área de Computação. Há uma preocupação nacional e internacional em atrair e fixar mulheres nas áreas tecnológicas. Inerentemente homens e mulheres possuem visões, habilidades e capacidades diferenciadas, e as áreas das ciências crescem de modo mais completo com a integração dessas diferenças. Porém, o número de alunas nos cursos de computação, engenharias e afins tem diminuído ao longo dos últimos anos. Este artigo busca então verificar como está a distribuição das mulheres em um estágio mais estável da vida acadêmica. Para isso coletamos e organizamos dados estatísticos disponibilizados pelo CNPq.
Inicialmente, vamos verificar como está a distribuição nacional das bolsas PQ em todas as áreas, de acordo com os dados provindos de http://www.cnpq.br/series-historicas. Para facilitar a apresentação das figuras e dos respectivos comentários, optou-se por apresentá-los lado a lado.
A Figura 1 ilustra a distribuição de todas as bolsas PQ por sexo. De 2001 a 2010, percebe-se que o percentual de bolsas PQ para mulheres tem aumentado de 32 para 35. É um crescimento muito modesto, mas mostra que tem sido relativamente constante.
A Figura 2 complementa esse resultado e mostra a distribuição das bolsas PQ de acordo com o nível e o sexo do bolsista. Esse gráfico mostra que a distribuição por nível tem oscilado nos níveis mais baixos (2 e 1D). Porém, nos níveis mais altos, pode-se afirmar que o crescimento das bolsas para mulheres parece se concentrar nos níveis 1A e 1C.
Outros gráficos estão disponíveis nas séries históricas do CNPq, incluindo Número de bolsas (país + exterior) - 1951-2010; Número de bolsas (país + exterior) por linhas de atuação - 1963 – 2010; e Número de bolsas de Produtividade em Pesquisa - 1976-2010. A próxima seção foca nas distribuições considerando as grandes áreas e a Computação.
Antes de discutir a distribuição de bolsas PQ na Computação, a Figura 3 mostra a distribuição do total de bolsas (incluindo todas as modalidades de bolsas no país) dividido por Grande Área no ano de 2010. Além disso, devido à grande variação na quantidade de bolsas, as figuras dessa seção mostram a quantidade real de bolsas distribuídas para o sexo feminino. A categoria Outras/Não info (1) inclui as bolsas de tecnologias e dos programas de capacitação institucional do MCT (PCI) e do CNPq. A categoria Total (2) não corresponde à totalidade das bolsas no país, pois não inclui aquelas sem informação do sexo do bolsista, como, por exemplo, as de ICJr.
A Figura 3 é muito interessante, pois mostra que em 2010:
Lembrando novamente que a quantidade real de bolsas é mostrada para as mulheres (ou seja, são 3 bolsas 1A, e não 3% de bolsas 1A), nota-se que existe uma variação considerável para os níveis mais altos (1A e 1B). Além disso, de modo geral, as mulheres possuem 26% das bolsas PQ da Computação, ou seja, menos do que o 1/3 visto nas Grandes Áreas.
Orgulhosamente, temos três pesquisadoras 1A na Computação: Cláudia Bauzer Medeiros, professora titular da UNICAMP; Yoshiko Wakabayashi professora titular da Universidade de São Paulo; e Celina Miraglia Herrera de Figueiredo professora titular do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da COPPE. A seguir, mostramos um pouquinho dos perfis que tanto nos orgulham.
Este artigo apresentou alguns gráficos interessantes sobre a participação feminina na pesquisa brasileira, principalmente na distribuição de bolsas de pesquisa do CNPq. Com esses dados, esperamos motivar as jovens pesquisadoras a participarem mais ativamente da pesquisa no Brasil. Além disso, fica claro que precisamos de mais mecanismos para aumentar a participação feminina na ciência e principalmente na Computação e demais carreiras tecnológicas. Afinal de contas, os dados mostram que o universo de bolsas de produtividade tem recebido muito bem as pesquisadoras, mas existe espaço para melhorias.
Ainda somos poucas quando comparadas à porção masculina de bolsistas, mas considerando que somos minoria entre os colegas, temos boa representatividade entre os pesquisadores da área. O segredo para chegar lá deve estar nas entrelinhas das palavras usadas por Cláudia Bauzer Medeiros certa vez: “O prazer no fazer garante um trabalho bem feito… e não se consegue fazer este trabalho sem a colaboração de colegas e, principalmente, alunos maravilhosos”.
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