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SOCIEDADE

EDIÇÃO Abril 2012

Tecnologia ao alcance de todos através da Empresa Junior

A influência das empresas juniores na formação profissional do aluno e os impactos positivos em comunidades com pouco acesso a recursos de tecnologia

Este artigo busca a disseminação de um conceito empreendedor para alunos da graduação: empresa júnior. O objetivo é apresentar as empresas juniores sob duas perspectivas: como apoio à formação técnica do aluno e ao desenvolvimento de suas habilidades em gestão empresarial, e como fornecedoras de produtos e serviços de qualidade, a custos acessíveis, para a sociedade. Ao final do texto, espera-se ter esclarecido diversos pontos: O que é empresa júnior? O que faz? Quem pode participar? Por que participar? De que forma a sociedade se beneficia com essa iniciativa? Também espera-se ter motivado os leitores a desenvolver iniciativas para criação de novas empresas juniores.

Em um contexto geral, empresas juniores são um meio para que alunos de graduação possam praticar os conhecimentos adquiridos cotidianamente em sala de aula. Segundo o DNA Júnior, elas são uma espécie de “laboratório prático do conhecimento técnico e em gestão empresarial”. Ou seja, a empresa júnior possibilita aos alunos a oportunidade tanto de vivenciar experiências de aplicabilidade no mercado dos conteúdos relacionados ao seu curso de graduação, como de ter experiências relacionadas à parte burocrática e administrativa de uma empresa real.

Apesar da sua filosofia e essência serem voltadas para o benefício dos acadêmicos, o fato de ser uma empresa júnior sugere que os produtos e serviços devem ser oferecidos à sociedade com custo abaixo daquele proposto pelo mercado. Diante disso, fica clara a importância desse tipo de empreendimento para a comunidade. Um bom exemplo são as empresas juniores da área de Ciências da Computação, especialmente aquelas inseridas em regiões tecnologicamente desfavorecidas.

Apesar de vivermos em uma época na qual informática move o mundo, ainda existem lugares onde esses recursos são escassos. Tal escassez acontece devido à inexistência de produtos de informática per se, ou aos preços elevados cobrados por eles, que muitas vezes estão fora dos padrões vividos pelas pessoas ou empresas que compõem um determinado cenário. Por ser projeto voluntário, a empresa júnior não busca a lucratividade, e sim, a arrecadação de conhecimento e a prestação de serviços à comunidade. O objetivo é que os alunos possam mudar esses cenários obsoletos, unidos pelo espírito empreendedor, pró-ativo e desbravador, por meio das empresas juniores de tecnologia, dando oportunidade à comunidade externa de consumir seus produtos e serviços, gerados com qualidade e a custos acessíveis.

Benefícios multilaterias advindos das empresas juniores

Uma empresa júnior pode ser descrita como um grupo formado e gerido por alunos de graduação, com o objetivo de por em prática conhecimentos técnicos e de gestão empresarial, realizando projetos e prestando serviços na área de atuação do(s) curso(s) de graduação ao(s) qual(is) a empresa júnior é vinculada. Dessa forma, pode-se dizer que a empresa júnior contribui para o desenvolvimento do país e para a formação de profissionais capacitados e comprometidos com a melhoria do cenário econômico-social da nação.

Como benefícios advindos da criação e do desenvolvimento de uma empresa júnior em uma Instituição de Ensino Superior (IES), citam-se:

  • Benefícios para os alunos:
    • A empresa júnior propicia o desenvolvimento técnico e interpessoal dos alunos, tais como capacidade de gerenciamento, oratória, liderança, empreendedorismo, pró-atividade, entre outros;
    • A Os alunos têm a possibilidade de colocar o conteúdo teórico em prática;
    • A Os alunos exercitam a ética no trabalho e nas relações interpessoais;
    • A Os alunos praticam a responsabilidade social corporativa, através do voluntariado;
  • Benefícios para o ambiente:
    • A A empresa júnior se mostra como elo entre a sociedade e o acadêmico, complementando a missão da IES, que é desenvolver benefícios para o ambiente no qual está inserida;
    • A A empresa júnior oferece projetos a custos inferiores, e com qualidade, o que possibilita, também, um desenvolvimento econômico local, graças à consultoria acessível inclusive para micro e pequenos empresários, e para a comunidade em geral;
  • Benefícios para a IES:
    • A A empresa júnior e sua participação no Movimento de Empresas Juniores (MEJ) dão publicidade à IES;
    • A A empresa júnior possibilita a melhor colocação da IES no ranking das melhores IES, feito pelo MEC.

Criação e desenvolvimento das empresas juniores

Para que seja criada uma empresa júnior, é necessário que existam alunos motivados, com espírito empreendedor, e que sejam seguidas as orientações contidas no site da Confederação Brasileira de Empresas Juniores, que apresenta passo a passo a execução das atividades burocráticas de criação da empresa júnior e sugestões em geral. Pode-se ainda contar com o apoio das Federações (por Estado – por exemplo, Federação Paraibana de Empresas Juniores), que por estarem fisicamente mais próximas dos alunos, podem atuar como consultores para apoiar tanto a criação quanto o desenvolvimento das empresas juniores.

Igualmente importante é o incentivo da IES à criação das empresas juniores. Uma forma de apoiar é ceder espaço físico e/ou material (como computadores, material de escritório, por exemplo) para que sejam viabilizados os primeiros projetos da empresa – até que entre capital para financiar a evolução do empreendimento. A IES ainda pode ajudar o desenvolvimento de empresas júnior através da promoção de eventos que as aproximem da comunidade. Além desses, é possível desenvolver iniciativas ligadas à inovação tecnológica, como feiras, simpósios, para que haja a troca de informações técnicas entre a IES, as empresas juniores e os profissionais da indústria. Para potencializar o sucesso dessas empresas, é imprescindível que existam professores consultores na área de atuação da empresa, acompanhando o planejamento e a execução dos seus projetos.

A importância das empresas juniores na criação de polos de tecnologias

É importante discutir a criação de empresas juniores, independentemente da área de atuação das mesmas. A justificativa para encarar este desafio vem das oportunidades advindas da parceria entre a IES, os seus alunos e a comunidade, especialmente em regiões que necessitam de produtos e serviços específicos que não são fornecidos pelas empresas locais.

Especificamente em Ciências da Computação e em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, a existência de empresas juniores pode originar a criação de polos de desenvolvimento de tecnologias. Tais polos podem ter como objetivo atender às demandas internas (da própria IES) e externas (da comunidade) de desenvolvimento e implantação de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Desse modo, contribuindo, especialmente, para a inclusão tecnológica de micro, pequenas e médias empresas, profissionais liberais do país, além de entidades e instituições que não dispõem de recursos suficientes para adquirir tecnologias caras.

Desbravadores na Paraíba

Agora, vamos exemplificar a importância da criação e desenvolvimento de empresas juniores de tecnologia, especialmente em localidades excluídas digitalmente e onde as tecnologias ainda são emergentes. Para constatar a viabilidade dessas empresas, nesses cenários, apresentamos um pouco da história da criação da empresa júnior do Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento (CSTADS), do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), Campus Cajazeiras.

Em 2010 foi criada a empresa júnior do CSTADS a partir dos anseios dos alunos e de uma professora do CSTADS por associar Ensino e Pesquisa e desenvolver e implantar sistemas de informação, na perspectiva da inclusão tecnológica da comunidade interna/externa ao IFPB e do desenvolvimento local/regional. Um dos grandes motivadores dessa iniciativa foi o fato de não existirem empresas na área de Análise e Desenvolvimento de Sistemas na cidade e na vizinhança, dificultando assim a busca dos alunos por realizar atividades de estágio.

De forma geral, a empresa júnior busca: trabalhar o conhecimento adquirido pelos alunos do CSTADS, utilizando melhores práticas em Análise e Desenvolvimento de Sistemas; apresentar à região as capacidades desses alunos, articulando ações que aproximem a empresa e seus potenciais clientes; incluir digitalmente a região, oferecendo-lhes soluções de tecnologia viáveis e acessíveis, através da geração de produtos e serviços da empresa júnior.

A empresa conta atualmente com doze alunos e três docentes consultores, todos com experiência na indústria. Para realizar atividades técnicas e desenvolver e implantar sistemas, a empresa segue um processo de desenvolvimento de software elaborado através de um projeto de pesquisa interno e de acordo com as particularidades da empresa (como forma de trazer eficiência às suas atividades).

A empresa oferece os seguintes produtos e serviços à comunidade: consultoria no processo de informatização de empresas públicas e/ou privadas; criação de websites; desenvolvimento de aplicações stand-alone (sistemas desktop); desenvolvimento de sistemas para dispositivos móveis; desenvolvimento de sistemas web; suporte e treinamento em tecnologia da informação. Em relação ao desenvolvimento de sistemas, a empresa se determina a trabalhar com tecnologias utilizadas na indústria (linguagens de programação, bibliotecas, API’s de desenvolvimento e frameworks), de acordo com as demandas dos seus clientes.

Além disso, como forma de preparação para o atendimento a clientes, a empresa desenvolveu projetos pilotos visando a demandas internas do Campus Cajazeiras, como forma de testar e afinar os seus recursos e diretrizes de trabalho. Esses projetos encontram-se implantados e em produção, com algumas demandas de manutenção, referentes à evolução natural dos sistemas.

A empresa também respondeu a pedidos de propostas para desenvolvimento de sistemas de gerenciamento de Faculdade, Escola de Informática, Escritório de Advocacia, Academia de Ginástica e Maçonaria. No momento, a empresa trabalha no desenvolvimento de seu primeiro projeto externo, que teve sua primeira versão entregue no mês de outubro.

Primeiros frutos

Uma empresa júnior é constituída exclusivamente por alunos de graduação, devidamente matriculados no curso. Percebe-se então uma grande rotatividade dos seus membros, que precisam se desligar da empresa no momento em que concluem o curso. O lado positivo dessa rotatividade é o fato de que a oportunidade de fazer parte da empresa pode ser compartilhada por um grande número de alunos, ao longo do tempo em que estão ligados ao curso.

Durante o seu primeiro ano, a empresa júnior do CSTADS proporcionou a oportunidade de integrar a indústria de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e de amadurecer o conhecimento adquirido em sala de aula a quase vinte alunos. Dentre esses alunos, alguns concluíram o curso e puderam comprovar experiência na área graças à atuação na empresa júnior, levando conhecimento para Programas de Pós-Graduação e para mercado de trabalho, obtendo valorização profissional através dessas experiências. Esses primeiros alunos, hoje, dão seu testemunho para os demais, com propriedade, sobre o quanto a participação na empresa júnior é essencial e reconhecida pela academia e indústria, referenciando o quanto essa experiência potencializou novas oportunidades acadêmicas e profissionais, após a sua formação superior.

A cidade, por sua vez, ganhou uma empresa especializada e capaz de atender a demandas de sistemas de informação e diversos outros serviços de TICs, todos produzidos com qualidade e a preços acessíveis para empresas e profissionais da região. A empresa júnior, nesse contexto, tem o intuito de promover e acelerar o processo de inserção destas empresas e profissionais, no mundo digital, e principalmente, no mundo contemporâneo, onde a tecnologia é vista não mais como um recurso de trabalho, e sim, como instrumento estratégico na busca de um melhor posicionamento no mercado cada vez mais competitivo.

Concluindo

Visando proporcionar benefícios para o ambiente em que estarão inseridas, novas empresas juniores em tecnologia devem ser criadas, abrindo suas portas à comunidade. Os benefícios dessas iniciativas serão percebidos a curto, médio e longo prazos, e se estenderão a todos os envolvidos: IES, alunos e comunidade. É importante também destacar que o Movimento de Empresas Juniores (MEJ) é um instrumento para a formação diferenciada dos graduandos. A experiência adquirida na empresa, como membro e estagiário, é extremamente considerável na conquista do primeiro emprego. Portanto, é fundamental que os alunos desenvolvam o interesse por essa causa, especialmente em regiões onde o desenvolvimento tecnológico é praticamente inexistente, impossibilitando-os de ter a oportunidade de estar em contato com o mercado que os espera e dificultando a aquisição de tecnologia na região. Através da empresa júnior, os alunos poderão lapidar seu desempenho profissional e desenvolver sua região, contribuindo para o crescimento econômico do país.

Finalmente, gostaríamos de chamar os universitários dos cursos da Área de Computação para que abracem essa ideia e não percam a chance de se qualificar para o mercado de trabalho. Apoiados nos valores promovidos pelo MEJ - comprometimento, ética, motivação, perseverança, profissionalismo, responsabilidade social, transparência e união -, venham fazer parte de uma juventude empreendedora e ousada, capaz de superar as adversidades e modificar o quadro econômico-social da sua região, bem como de todo o país. Venha ser gigante pela própria natureza você também!

Recursos

Blog da Federação Paraibana de Empresas Juniores: http://blog.pbjunior.org.br/

Site da Confederação Brasileira de Empresas Juniores: http://www.brasiljunior.com.br/

Site do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia: http://www.ifpb.edu.br/

Sobre as autoras

Nadja da Nobrega Rodrigues é mestre em Administração de Empresas (UFPB), especialista em Sistemas de Informação e Redes de Computadores (UFPB) e graduada em Ciência da Computação (UFPB). Trabalhou por 12 anos na indústria, em empresas como SERPRO e DATAPREV, e na iniciativa privada. Lecionou em faculdades e na UFPB. Atualmente é professora e pesquisadora no IFPB, na área de Engenharia de Software e Sistemas de Informação, além de coordenar o projeto de criação e desenvolvimento da Empresa Júnior do CSTADS.
Naylla Vieira de Almeida Estrela. Graduanda do Curso Superior de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistema (CSTADS) pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia, Campus Cajazeiras – PB. Diretora Presidente da Recursive Infinity Software Solutions – Empresa Júnior do CSTADS.


Esta é uma publicação eletrônica da Sociedade Brasileira de Computação – SBC. Qualquer opinião pessoal não pode ser atribuída como da SBC. A responsabilidade sobre o seu conteúdo e a sua autoria é inteiramente dos autores de cada artigo.
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