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OPÇÕES E OBJETIVOS

EDIÇÃO DEZEMBRO 2009

O que faz o profissional de Computação Gráfica?

Computação Gráfica é mais do que você imagina

Este artigo apresenta algumas reflexões sobre o profissional de Computação Gráfica. O que faz este profissional? Em quais áreas atua? Quais os requisitos para uma sólida formação nessa área? E na hora de conseguir o primeiro emprego, qual escolher e por onde começar?

A maioria das pessoas associa computação gráfica (CG) a efeitos especiais em filmes, tais como Avatar, Children of Man, District 9, Terminator 2, etc. Alguns já ouviram falar da Industrial Light and Magic (ILM) e da Pixar Animation Studios e de várias animações famosas, geradas por computador, por exemplo, Up, Ratatouille, Toy Story, etc. Entretanto, efeitos especiais em filmes são somente uma das facetas da indústria por trás da computação gráfica. CG é amplamente usada na prototipação de objetos (automóveis, produtos de consumo em geral e industriais), no desenvolvimento de jogos digitais, na indústria de animação por computador, na área de realidade virtual, particularmente, com uma vasta aplicação nas áreas científica e médica. Ao se interessar por CG é importante compreender que há uma variedade muito grande de oportunidades de trabalho, em várias áreas distintas, seja na indústria ou na academia. Por ser uma área da computação com um apelo visual muito grande, difícil é escolher exatamente a área na qual atuar, respeitando, obviamente, a sua aptidão pessoal.

Áreas de Atuação

O importante é descobrir, o mais cedo possível, a área na qual você possui uma maior aptidão em CG. Quanto mais cedo você descobrir isso, melhor. Raros cursos em nível de graduação podem propiciar as condições suficientes e necessárias para uma sólida formação em CG. Por outro lado, cursos de pósgraduação oferecem ao aluno a possibilidade de aprofundar o seu conhecimento em determinado assunto de CG, gerando um conhecimento básico na área. Sim, básico. E isso será a ponta do iceberg. Pode ser que você tenha um maior interesse na modelagem de objetos geométricos; em animação; em iluminação; no mapeamento e criação de texturas; no desenvolvimento de sistemas de computação gráfica; ou tenha uma inclinação mais pelo lado artístico da CG. Cada uma dessas especialidades é diferente e demanda habilidades diferentes. Muitos profissionais de CG, inclusive, têm interesse em várias dessas áreas simultaneamente.

A Indústria por trás da CG

Como qualquer outro negócio, a indústria por trás da CG tem seus altos e baixos. Em geral, depende de um grupo de funcionários altamente capacitados e nem sempre gera lucros estrondosos (obviamente que há exceções). Médias e micro empresas costumam sobreviver da produção de comerciais e geração de efeitos especiais em filmes.

Um profissional que trabalha em uma empresa de CG tem geralmente o seu trabalho direcionado ao desenvolvimento de uma tarefa específica, dentro de um grupo, respeitando um cronograma préestabelecido. Tem-se observado que este tipo de indústria sobrevive muito bem em grandes áreas metropolitanas. Isto pode ser um indicativo de que, se você pretende construir uma carreira de peso na indústria de CG, o melhor é ir pensando desde já na possibilidade de um dia se mudar para um grande centro como, por exemplo, Nova Iorque, Los Angeles, ou mesmo, para começar, São Paulo e Rio de Janeiro (um aluno da UNIFOR, cearense, depois de formado, mudou-se para São Paulo para trabalhar com animação por computador, de lá foi para Vancouver-Canadá onde trabalhou como Senior Animator no filme District 9 e, mais recentemente, recebeu uma proposta de trabalho da BlueSky, nos EUA).

Trabalho em CG definitivamente não falta, porém, em algumas áreas como a de animação, a concorrência entre os profissionais é altíssima. Há muita gente talentosa, principalmente, em grandes agências internacionais, de alto nível de excelência. O pré-requisito para a contratação do profissional em algumas dessas empresas é ser primeiramente um artista, depois, ter conhecimento sólido em computação, com ênfase em CG (escovando bits mesmo). Ainda bem que essa não é uma verdade universal!

Requisitos necessários

Agora que você já está mais familiarizado com a área de CG, quais seriam então os requisitos para se preparar para um trabalho e uma carreira profissional nessa área? Como todo bom profissional, você tem que ter competência e talento. Claro que saber expor claramente as suas idéias (de forma impressa e verbal) também é um requisito fundamental para o seu sucesso. A competência na área é adquirida através de um investimento sólido nos estudos, com tempo especialmente dedicado para tal. Há muitos anos, Laplace mencionou: “That which we know is a little thing; that which we do not know is immense.” Em outras palavras, mesmo investindo fortemente em sua formação, já se começa no prejuízo. Então, melhor não se perder tempo! Já o talento vem com a prática e a experiência. Oportunidades de trabalho sempre aparecem. Um bom portfólio ajuda nessa hora.

Formação acadêmica Ao se escolher determinado curso de computação, é recomendado que alguns pontos importantes sejam observados em sua avaliação da disciplina de CG: O que você irá aprender? Qual o nível dos professores? A disciplina ofertada propicia um conhecimento mais em largura ou em profundidade? Os laboratórios são bem equipados e têm manutenção frequente?

Será que o curso escolhido para a sua formação irá ensinar você, por exemplo, a ser um animador, um programador, ou um usuário de ferramentas gráficas? Alguns cursos oferecem um conteúdo técnico mais limitado. Em geral, são cursos mais rápidos, com tempo menor para a formação do aluno. Apesar de prepará-lo para ser um usuário de ferramentas gráficas, talvez este conhecimento ainda seja pouco para os alunos que desejam vencer novos e grandes desafios em CG. Se este for o seu caso, estaria você preparado para investir em uma formação mais demorada, porém mais sólida?

É importante levar esses pontos em consideração antes de fazer a sua escolha. Qual seria a formação dos professores docentes do curso? Eles trabalham exclusivamente na academia? São mais teóricos ou mais aplicados? Quais são as suas linhas de pesquisa? Uma sugestão interessante é trocar idéias com outros estudantes que já tiveram oportunidade de fazer alguma disciplina com estes professores. Outra dica seria observar os estudantes que estão sendo formados e examinar a qualidade dos seus trabalhos.

Conversar com recém-formados que estão trabalhando em centros de excelência de CG (seja na indústria ou na academia) também é importante. Será que eles realmente conseguiram um bom emprego? Será que estão satisfeitos com a sua formação? E os gerentes destas companhias, estariam eles também satisfeitos com a capacitação destes alunos recém-formados?

No curso escolhido, quais seriam as outras disciplinas (sem ser de CG) oferecidas? Um conhecimento sólido na área de Computação/Informática é crucial para complementar os seus estudos. No caso da animação, por exemplo, uma formação além das tecnologias de computação também é importante. Você sabe criar uma estória e diferentes personagens? Sabe concatenar imagens-chave que ilustrem esta estória? Sabe controlar o movimento destes personagens em uma linha do tempo? Tem facilidade para visualizar objetos 3D em movimento, interagindo no espaço?

Finalmente, quais os recursos computacionais que existem no laboratório de CG? Um curso com alto nível de excelência geralmente oferece a seus alunos computadores de última geração, com placas gráficas aceleradoras, equipamentos de realidade virtual, etc. Agora, se há um laboratório como esse no curso escolhido, quão simples é o seu acesso? Será que é aberto à noite e aos finais de semana? A manutenção nos equipamentos é contínua? Há computadores e impressoras em número suficiente para satisfazer os interesses de todos os alunos? Por exemplo, um laboratório de CG, ainda que maravilhoso, tem pouco valor caso você tenha que esperar horas e horas para conseguir utilizar suas máquinas.

E se a idéia fosse estudar sozinho para se tornar um profissional de CG? Suponha agora que você tenha muito tempo disponível, muito dinheiro e tenha interesse em adquirir conhecimento na área de CG sem cursar uma disciplina específica na universidade. Seria isto possível? Bem, você teria que desvendar o rio das pedras sozinho. Alguns livros e softwares seriam valiosos para melhor direcioná-lo neste empreendimento. O grande problema dessa abordagem seria o limitado conhecimento adquirido, em geral, através do uso de ferramentas gráficas. Ou seja, muito provavelmente você não iria adquirir a competência necessária e suficiente para torná-lo um profissional mais completo. Você perderia, por exemplo, a oportunidade de adquirir conhecimento advindo diretamente da interação com professores que possuem expertise na área. De qualquer forma, não espere se tornar um profissional de CG altamente qualificado da noite para o dia. Levará mais ou menos de 3 a 4 anos para construir um sólido conhecimento na área. Depois, levará mais alguns anos para lapidar os seus talentos específicos.

A maioria dos profissionais mais antigos da área de CG, muitos deles ainda ativos, teve que aprender a desvendar os primeiros algoritmos praticamente sozinhos, porque havia, na época, pouquíssimas universidades com ênfase em CG e pouquíssimos profissionais formados nessa área. Na verdade, foram os grandes fundadores da CG. Hoje, existe um número consideravelmente muito maior de cursos de CG com alto nível de excelência (nacionais e internacionais). Em outras palavras, o conhecimento hoje está muito mais acessível. Mas de nada vale essa facilidade se não houver uma dedicação constante para aprimoramento pessoal na área.

Algumas Ferramentas de Software

Qualquer preparação para um emprego em CG poderia incluir como utilizar alguns pacotes de softwares bastante conhecidos na indústria: Alias PowerAnimator/Maya, Kinetix 3D Studio Max, SoftImage, Lightwave, Blender, etc. Todas essas ferramentas estão disponíveis para computadores pessoais, inclusive, algumas delas também executando em Unix e para computadores Mac.

Seu primeiro emprego em CG

Agora que você completou os seus estudos e está prestes a se formar, eis o momento de encontrar o primeiro emprego em CG. Você desenvolveu as suas habilidades particulares e talentos em CG e está, teoricamente, se sentindo preparado para pleitear o emprego desejado. Eis a primeira dúvida cruel: indústria ou academia?

A melhor forma de decidir é na prática, trabalhando em um emprego ou projeto de pesquisa (cuja remuneração nem sempre é muito boa, às vezes, nem há salário/bolsa de projeto, o trabalho é voluntário mesmo!). Contudo a experiência adquirida sempre compensa a baixa remuneração (ainda que por tempo limitado). Como todo emprego, é preciso aprender com as outras pessoas, vivenciando o dia-a-dia do grupo. E lembre-se: enfatize sempre as áreas nas quais você realmente é brilhante e não deixe a vaidade tomar conta do seu profissionalismo. Se a sua opção for a indústria, vale ressaltar que esta é muito competitiva e o diferencial está naquilo que você pode oferecer e naquilo que a indústria, coincidentemente, está procurando, formando um “casamento” perfeito. Por que a indústria gostaria de tê-lo como profissional? O que você estaria apto a oferecer que pudesse agregar valor ao trabalho desenvolvido pelo grupo de CG? Por que você mereceria um salário razoável para trabalhar para eles?

Participando da comunidade científica de CG

Lembre-se que trabalhar como membro de um time criativo em CG é muito importante. Seja na indústria ou na academia, o envolvimento como membro ativo, que tem boas idéias e que sabe pô-las em prática (respeitando cronogramas e tarefas) é esperado. A associação como membro da comunidade científica da qual você faz parte é uma iniciativa, portanto, indicada. Faz parte do crescimento pessoal e científico, estabelecer colaborações e trocar idéias com outras pessoas, particularmente, com as que possuem interesses comuns aos seus. Seja representando a academia ou a indústria, participe. Seja ativo. Contribua. O amadurecimento profissional é embasado também nesta sinergia entre as partes. Isso pode acontecer via Internet ou presencialmente, através da participação em conferências nacionais e internacionais (por exemplo, SIBGRAPI, Brazilian Symposium on Computer Graphics and Image Processing; e SIGGRAPH, the ACM Special Interest Group on Computer Graphics).

Concluindo

Portanto, após todas estas pequenas reflexões envolvendo as possibilidades de atuação do profissional de CG, mãos à obra! Ouso dizer que, uma vez experimentada, será um caminho sem volta. O desafio está lançado. Posicione-se e construa uma carreira de muito sucesso na área de CG. Como em qualquer outra profissão, o melhor que puder fazer, faça!

Recursos

Maiores informações sobre as conferências SIBGRAPI e SIGGRAPH podem ser obtidas em http://www.sbc.org.br e http://www.siggraph.org/, respectivamente.

Sobre os autores

Profª. Maria Andréia Formico Rodrigues concluiu o doutorado em Ciência da Computação, pelo Departamento de Computação do Imperial College, Londres, UK, em 1999. Desde 2002 é professora Titular do Centro de Ciências Tecnológicas da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), onde é responsável pela disciplina de Computação Gráfica nos cursos de Graduação em Informática e Mestrado em Informática Aplicada. Foi Co-Chair do Comitê de Programa do XVIII Brazilian Symposium on Computer Graphics and Image Processing (SIBGRAPI), da SBC. Atua nas áreas de Computação Gráfica, Realidade Virtual e Computação Móvel, com ênfase em Renderização Interativa, Visualização e Tratamento de Colisões.


Esta é uma publicação eletrônica da Sociedade Brasileira de Computação – SBC. Qualquer opinião pessoal não pode ser atribuída como da SBC. A responsabilidade sobre o seu conteúdo e a sua autoria é inteiramente dos autores de cada artigo.
v02n03/32.txt · Última modificação: 2020/09/22 02:31 (edição externa)

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