Distúrbio dissocIAtivo

Distúrbio dissocIAtivo

Dupla identidade parece coisa de filme. Lembrei de alguns, mas pedi ajuda para o chatGPT. Ele é bem melhor do que eu para coisas de memória. Psicose, de Alfred Hitchcock, foi um dos primeiros a explorar o tema ainda em 1960. Lembra de Clube da luta? Esse filme de 1999 virou um clássico, né? Fragmentado é bem mais atual, foi lançado em 2016, e o personagem alterna entre mais de vinte personalidades. Claro que não dá para esquecer do famoso O Médico e o Monstro, ou do original, Dr. Jekyll and Mr. Hyde. A história foi escrita em 1886 e depois inspirou muitos filmes.

Fora do contexto ficcional, o nome correto, para o que chamamos incorretamente de dupla identidade, é Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI). É um transtorno mental caracterizado pela presença de duas ou mais identidades, chamadas de alters, que assumem o controle da pessoa em momentos diferentes. Algumas vezes de um jeito, outras vezes de outro.

O alter do TDI é muito diferente do que a gente chama de alter ego, embora ambos envolvam a ideia de múltiplas identidades. Esse outro eu é mais conceitual, não é uma condição clínica. Tem um quê de chique. David Bowie criou Ziggy Stardust, um alien andrógino e rockstar. Super cool, né?

Mas não precisa ser artista para criar um alter ego. Qualquer um de nós pode criar uma personalidade com poucos cliques e alguma imaginação. Fiz isso há alguns dias no Instagram – criei uma assistente de inteligência artificial para mim. Achei chique. Está lá no meu perfil.

Eu não sei com quem minha assistente conversa. Também não tenho acesso ao bate-papo. É tudo confidencial. Afinal, cada uma de nós é uma de nós, certo? Ela é ela e eu sou eu. Eu com as minhas coisas e ela com as dela. Por mim está tudo bem.

O problema é que nem todo mundo sabe disso. Tem gente que conversa com ela achando que está conversando comigo. Minha alter aceitou um convite para participar de uma banca de mestrado e eu recebi um whatsapp confirmando a data. Será que isso configura caso de invasão de identidade?

É tanta confusão que já nem sei se eu enlouqueci ou foi ela quem alucinou. Pensei em chamar o médico, mas nós somos doutoras.

Então, quem é o monstro?

Arte: Niki (@jururuart)
Revisão: Tiago Bergenthal (@tiago_bergenthal)
Texto produzido durante o módulo Circuito Santa Sede (@oficinasantasede & @rubempenz).

Como citar esse artigo:

BASSANI, Patrícia Scherer. Distúrbio dissocIAtivo SBC Horizontes, 01 set. 2025. ISSN 2175-9235. Disponível em: < https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2025/09/disturbio-dissociativo/gt;. Acesso em: DD mês. AAAA

Patrícia Scherer Bassani é doutora em Informática na Educação, professora titular do PPG em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias.

Currículo lattes e redes sociais

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