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Dados Abertos Conectados

Dados Abertos Conectados

Aproveitando o Reseracher Links Workshop: Higher Education for All em Maceió em que diversos pesquisadores da área de informática na educação estavam presentes, entrevistei dois pesquisadores, autores do livro Dados abertos conectados, Professores Seiji Isotani e Ig Ibert Bittencourt.

Isabela: Primeiramente, gostaria que vocês falassem um pouco da trajetória de vocês e das suas pesquisas com o intuito de ajudar quem está iniciando na área de computação na graduação.

Ig: Eu fiz mestrado em modelagem computacional do conhecimento, graduação em análise de sistemas e doutorado em informática na educação. No doutorado, iniciei o trabalho com Web Semântica e como utilizá-la para construir sistemas educacionais mais complexos e robustos, que possuam inteligência que permita personalização e adaptação de acordo com a necessidade dos estudantes.

À medida que fui pesquisando, avançando e aumentando a maturidade na pesquisa, comecei a perceber a importância não somente de construir modelos, mas de enriquecer esses modelos através da exploração de dados. Neste momento, percebi o movimento de dados abertos e a sua importância em conjunto com a área de geração de ontologia de Web Semântica, e aí naturalmente surgiu a área de dados abertos conectados (linked open data), criada por Tim Berners-Lee. A partir daí começamos a desenvolver pesquisa junto ao W3C, diante disso desenvolvemos um livro para disseminar a cultura de dados abertos conectados no Brasil, esse livro já tem sido adotado em algumas universidades, o que me deixa bastante feliz.

Seiji: Fiz graduação e mestrado em computação na USP. Em seguida viajei para o Japão para fazer doutorado em Engenharia da Informação, morei lá durante quatros anos e meio. Trabalhei com o professor Riichiro Mizoguchi na Universidade de Osaka, onde comecei a trabalhar com Ontologias e sua aplicação em ambientes educacionais. Toda minha carreira, desde a graduação até o mestrado e doutorado teve foco em desenvolver tecnologias inteligentes, utilizando modelagens ontológicas para fazer com que os computadores ajudassem as pessoas. Após o doutorado, passei dois anos dos Estados Unidos trabalhando na Universidade Carnegie Mellon com sistemas tutores inteligentes.

Em 2007, com o Ig, em uma conferência internacional, sentimos a necessidade de voltar para o Brasil e trabalhar em conjunto com o objetivo de ajudar a comunidade. Um desses projetos é na área de informática na educação, queremos contribuir com a sociedade e com a comunidade de pesquisa na área de Dados Abertos, e sua relação com a área de Web Semântica e Ontologias. A oportunidade de abrir os dados e fornecer transparência permite que tenhamos tanto melhores resultados sociais quanto científicos, a proposta do livro de dados abertos conectados foi justamente essa.

 

Isabela: Qual a importância dos dados abertos?

Ig: Podemos mais do que nunca perceber a importância de dados abertos quando vemos todo o cenário nacional sobre corrupção.  Quando paramos para pensar sobre isso, um dos caminhos que a tecnologia e a comunidade de computação podem apoiar é através da abertura de dados, promovendo transparência. Isso provoca impacto direto na sociedade através da melhoria dos serviços prestados e da redução da corrupção. Como exemplo, como dados do Senado foram abertos alguns anos atrás, alguns estudantes de computação desenvolveram um sistema capaz de auditar com relação às viagens de políticos, e isso fez com que a comunidade ficasse ciente dos gastos referentes a viagens que são pagam com dinheiro de impostos. Essa é uma das formas de vermos a importância de dados abertos.

 

Isabela: Quais as pessoas que mais poderiam usufruir do livro? Para quem você indicaria?

Seiji: Eu indicaria para todos que tem algum interesse de entender um pouco mais sobre o que são dados abertos, qual a sua contribuição em nível nacional e internacional. Também indicaria para profissionais que tenham vontade abrir os dados que possuem para a comunidade. Acredito que profissionais da área acadêmica, do governo, pessoas que querem publicar seus dados para gerar algum tipo de informação ou até mesmo alunos que querem aprender mais sobre a área de dados abertos conectados.

 

Isabela: Além do livro de vocês, que outras fontes e recursos essas pessoas podem aproveitar? Que indicações vocês dão para que as pessoas possam continuar suas pesquisas nessa área?

Ig: Considero o livro como sendo uma iniciação aos estudantes de computação, pessoas de governo interessadas em abrir dados e dos diferentes stakeholders do ecossistema de abertura de dados. Principalmente indicando para quem estuda computação eu indicaria portais de dados abertos, como por exemplo o dados.gov.br ou o data.gov.uk, que é um portal com muitos dados. Portais do Senado também podem ser consultados, até mesmo o portal da OKFN (Open Knowledge Foundation). Esses portais proporcionarão entendimento de como estão disponíveis e que tipos de dados estão disponíveis.

Por outro lado, para quem quer ir para a fronteira de pesquisa nessa área eu aconselho olhar os padrões que estão sendo desenvolvidos pelo W3C. Nele existem vários grupos como o Data Activity, liderado por Phil Archer, que praticamente advoga e está construindo uma comunidade para desenvolver padrões que permitam que aplicações mais ricas sejam construídas.

Eu aconselharia começar por esses dois caminhos, e após o conhecimento do que existe na área, olhar os artigos que estão sendo publicados no evento principal e nos workshops do WWW.

 

Isabela: Para finalizar, quais as dicas e sugestões que vocês podem dar para quem está começando na área e quer se aprofundar? Que sugestões de estudo e comportamento na universidade para entrar nesse caminho?

Ig: É uma pergunta bem complexa, quando você fala isso eu penso em “Hands On Heads In“, é necessário colocar a mão na massa, praticar e realmente aprender como se desenvolve. Não se pode deixar se desestimular pelo desafio ou pela complexidade do problema que se está enfrentando. É bom refletir sobre os caminhos, tirar lições aprendidas deles e traçar um plano para que esses estudantes atinjam seus sonhos. Falando de mim, meu sonho sempre foi buscar que as pesquisas que desenvolvo pudessem impactar a sociedade, que eu não parasse meramente em papers. Existem vários desafios que nos levaram a abrir empresas e a desenvolver tecnologias que são utilizadas por várias pessoas. Apesar dos desafios continuamos persistindo, esse é o caminho para que mudemos o cenário social desse país.

Isabela: Para finalizar gostaria de agradecer a participação de vocês! Agradeço aqui também ao aluno de graduação Mateus Bombassaro (UDESC) por me ajudar com a transcrição do áudio.

Um pouco mais sobre nossos entrevistados:

Seiji Isotani

Seiji Isotani é Professor Associado (Livre-Docente) e Vice-Chefe do Departamento de Sistemas de Computação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP). Possui Bacharelado e Mestrado em Ciência da Computação pelo IME-USP. Fez especialização em Aprendizagem Colaborativa e Engenharia de Ontologias. E concluiu seu doutorado em Engenharia da Informação na Osaka University (Japão). Realizou seu Pós-Doutorado em Ciência Cognitiva na Carnegie Mellon University (EUA) onde foi contratado e permaneceu no quadro docente (Faculty) até 2011. É fundador e atual co-coordenador do Laboratório de Computação Aplicada à Educação e Tecnologia Social Avançada (CAEd). É também co-fundador de duas empresas de base tecnológica (startups), sendo uma na área de tecnologias educacionais (MeuTutor) e outra na área de tecnologias semânticas (Linkn – Boa Moradia). Ambas premiadas em diferentes oportunidades pela produção e aplicação de inovações tecnológicas no setor. Tem realizado pesquisas sobre os seguintes temas: sistemas tutores inteligentes, CSCL, gamificação, engenharia de ontologias,dados abertos conectados (linked open data), web semântica e mineração de dados educacionais. Publicou mais de uma centena de artigos científicos, possui mais de 1000 citações e, de acordo com o Google Scholar, está na lista dos 40 pesquisadores mais citados em suas áreas de atuação. Recebeu diversos prêmios em sua carreira de entidades como a SBC, IBM, ACM, IEEE, dentre outras. Atua como Membro do Comitê de periódicos e eventos científicos nacionais e internacionais, além de ser sistematicamente convidado como palestrante (keynote speaker). Foi Editor Chefe da Revista Brasileira de Informática na Educação, Membro da Comissão Especial de Informática na Educação (CEIE-SBC), Representante Brasileiro no Technical Committee on Education (TC3) da IFIP e Membro do Conselho Municipal da Secretaria da Educação do Município de São Carlos. Atuou como Professor Visitante na Tokyo Institute of Technology, Japan Advanced Institute of Science and Technology, e Pompeu Fabra University. Atualmente, é ACM Distinguished Speaker, IEEE Senior Member, bolsista produtividade do CNPq e Editor Associado da IEEE Transactions on Learning Technologies.

Ig Ibert Bittencourt

Ig Ibert Bittencourt é Professor do Instituto de Computação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação e Matemática Computacional do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC/USP). Em 2009, recebeu o título de Doutor pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e em 2013 fez Pós-Doutorado na Universidade Estatual de Campinas (UNICAMP). Durante o Doutorado, propôs um modelo teórico e computacional para a construção de Sistemas Educacionais baseados na Web Semântica. Sua carreira de pesquisador tem sido dedicada à área de Inteligências Artificial na Educação, investigando a concepção, desenvolvimento e experimentação de tecnologias educacionais. Em particular, tem investigado Sistemas Tutores Inteligentes Gamificados, observando a construção (através de ontologias e sistemas de autoria), o uso (educação básica) e o impacto (mediadores psicológicos, experiência ótima, engajamento e aprendizagem). À medida que a pesquisa se tornou mais robusta, Ig Bittencourt percebeu a necessidade de aprofundamento nas teorias da psicologia, onde em 2017 iniciou o Curso de Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas. Ig Ibert Bittencourt tem como grande desafio de pesquisa: ‘Como o design e uso de Sistemas Educacionais Inteligentes podem levar a uma Experiência Ótima de Aprendizagem?’. Foi pesquisador visitante da Universidade de Mannheim (Alemanha – 2009), Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia do Japão – JAIST (Japão – 2015), Universidade de São Paulo (2015) e Universidade de Saskatchewan (Canadá – 2007 e 2016). Ig foi Co-Diretor do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (2011 – 2017), Vice-Presidente (2012 – 2015) e Presidente (2016 – 2017) da Comissão Especial de Informática na Educação, Representante Consultivo da UFAL no W3C (2013 -2017), Representante da SBC do TC on Education – TC 3 da International Federation For Information Processing – IFIP (2016 – 2017). Atualmente, é Membro do Comitê Gestor da Rede de Inovação para Educação Brasileira – Rede IEB (desde 2016), da Sociedade Brasileira de Computação (desde 2005), da Association for Computing Machinery – ACM (desde 2009), da Institute of Electrical and Electronics Engineers – IEEE (desde 2009) e da Sociedade de Inteligência Artificial na Educação (desde 2016). Além disso, já organizou mais de 20 eventos nacionais (e.g. Congresso Brasileiro de Informática na Educação e Workshop de Informática na Escola) e internacionais (e.g. Symposium On Applied Computing – Track on Intelligent and Interactive Learning Environments e Latinamerican Conference on Learning Objects), sendo um dos criadores do primeiro evento brasileiro de Web Semântica na Educação. Ig Ibert é revisor de diversos periódicos (e.g. Computers & Education, Computers and Human Behavior, Journal of Educational Technology & Society e Journal of Learning Analytics) e conferências (e.g. ITS, AIED, WWW@WebED, SPeL e SAC ACM), foi editor da Revista Brasileira de Informática na Educação (2009 – 2012) e atualmente é editor da Revista IEEE Transactions on Learning Technologies (considerada umas das 10 melhores revistas de Tecnologias Educacionais do mundo). Por fim, é co-fundador de duas spin-offs premiadas: i) MeuTutor, que é uma empresa do ramo de tecnologias educacionais (mais de 50 mil alunos já usaram) e foi considerada em 2015 como a empresa educacional mais inovadora no Brasil, pela RioInfo; ii) Linked Knowledge, empresa do ramo de tecnologias semânticas, premiada com uma das empresas mais inovadoras de Alagoas. Ig Ibert Bittencourt acredita no empreendedorismo social inovador como um modelo sustentável para promover o desenvolvimento social e econômico da humanidade.

 

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