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Educar para a diferença: conheça a história de Isadora, mulher preta lésbica pobre da periferia, mestra e doutoranda em Computação

Educar para a diferença: conheça a história de Isadora, mulher preta lésbica pobre da periferia, mestra e doutoranda em Computação

Isadora P. Paranhos, Renata Araujo e Mariano Pimentel (publicado em 16/6/2020)

Algumas visões atuais, em termos de políticas públicas educacionais, estão associadas à crença de que a “universidade para todos não existe” e de que “as universidades devem ficar reservadas para uma elite intelectual” (PASSARELLI, 2019). Contudo, a denúncia de que o sistema educacional está pensado-projetado para a elite já se encontra registrada no Brasil, há precisamente meio século, no livro A pedagogia do oprimido, de Paulo Freire (1970), que formulou as bases para as críticas marxistas no campo da educação brasileira. Na perspectiva freiriana, a sociedade se divide entre dominantes e dominados, e o sistema educacional é opressor porque valoriza o conhecimento da elite em detrimento da cultura dos grupos dominados.

Hoje reconhecemos que o preconceito de classes é um dos sistemas opressores de nossa sociedade, mas não o único. O gênero, a raça, a orientação sexual, o território, a religião, entre outros marcadores de diferença, são usados para a promoção de preconceitos que também atravessam o sistema educacional (SILVA, 2005). O preconceito estrutura nossa sociedade, está dentro de todos nós, em lugares que às vezes nem acessamos e que manifestamos de forma explícita ou sutil, podendo ser reproduzido em nossos currículos e práticas, mesmo que de forma inconsciente.


Nota de Repúdio (Porta dos Fundos) [7:28s]

Nosso sistema educacional hegemônico nos induz a um currículo e práticas massivas, que ignoram as singularidades (ARAUJO; PIMENTEL, 2020), ignoram as habilidades e potenciais, limitam as conquistas e o acesso aos espaços que deveriam ser de todos. Por exemplo, no Brasil, de acordo com o último censo do IBGE, feito em 2010, a maior parte de nossa população, 50,7%, se autodeclara negra ou parda (COMPOSIÇÃO, 2020), e foi somente em 2019, após muitos anos de ações afirmativas, que, “pela primeira vez, o índice de alunos pardos e negros matriculados em universidades públicas brasileiras superou a taxa de alunos brancos, alcançando 50,3%” (ILHÉU, 2019).

Desejamos (re)pensar nossos currículos e práticas para que as diferenças sejam valorizadas em vez de desconsideradas e até discriminadas, que possamos reconhecer que nossos alunos são diversos, há homens e também mulheres, há jovens e adultos de variadas etnias, de diferentes classes sociais e territórios, com diferentes orientações sexuais, que professam diferentes religiões, com culturas das mais diversas. Ainda não sabemos muito bem como educar para a diferença, mas acreditamos na importância do reconhecimento das diferenças, que nos possibilita refletir sobre quem somos (pois só nos compreendemos pela diferença em relação ao outro) e no que podemos fazer para nos tornarmos pessoas mais conscientes e, colateralmente, nos tornarmos melhores professores/as e gestores/as.

Nós, Renata e Pimentel, tivemos a oportunidade de aprender um pouco mais ao nos relacionarmos com Isadora Paranhos, que foi nossa aluna na graduação e pós-graduação na UNIRIO. Convidamos você também a conhecer a Isa (como a chamamos), sua realidade e sua experiência como estudante de Computação sendo uma mulher assumidamente preta, lésbica, pobre e da periferia do Rio de Janeiro. Esses marcadores sociais vêm sendo articulados para pensar-analisar experiências cotidianas marcadas por sistemas opressores, sendo a interseccionalidade uma “abordagem que afirma que os sistemas de raça, classe social, gênero, sexualidade, etnia, nação e idade são características mutuamente construtivas de organização social que moldam as experiências” (COLLINS, 2019, p. 460).

Entre as várias experiências que vivenciamos ao nos relacionarmos com a Isa, uma passagem nos marcou profundamente… No dia em que ela defendeu a dissertação de mestrado, publicou uma postagem no Facebook: “A casa-grande entra em colapso quando a senzala vira mestre!!!!” Ficamos intrigados com aquela declaração de Isa: o que a fez, num dia de grande alegria, também revelar aquela dor? Há um rancor? Que lições podemos aprender com essa e outras reflexões sobre a experiência de Isa enquanto estudante de Computação? Motivados por esses questionamentos, fizemos a entrevista que apresentamos a seguir.


Fonte: https://www.facebook.com/isa.priolli/posts/1294593597242193

 

Isa, o que a fez escrever a postagem (a da foto anterior)? O que ela representa para você?

Escrevi essa postagem para extravasar para o mundo a minha conquista, é muito difícil ser preto e conquistar algo de bom na vida. Então, quando se conquista, tem de contar para todo mundo, se orgulhar, “se exibir”. Infelizmente, na sociedade em que vivemos, ninguém espera nada do preto, raríssimos são aqueles que acreditam em nós. Meu caminho no mestrado foi muito árduo, e concluí-lo foi motivo de muito orgulho. Tudo o que eu mais queria no dia da defesa era contar para o mundo da minha conquista, para todo mundo saber que ainda existe uma pessoa preta lutando, na resistência. De certa forma foi um jeito que encontrei de exibir meu orgulho para o mundo e ao mesmo tempo falar “eu estou aqui, se eles estão vindo, eu estou correndo atrás, não cederei tão fácil”. É sempre a mesma coisa, o “branco” manda e ocupa posições importantes na sociedade, em sua casa-grande, enquanto o “preto” obedece e está sempre por baixo, na senzala. Mas, toda vez que a senzala entra em festa, a casa-grande fica com medo, eles sabem que se a gente resolver fazer de fato alguma coisa, todos juntos, a probabilidade de sucesso é grande, e essa postagem me remete a essa sensação de “cutucar” e estremecer quem me oprime.
 

Ser mestra, pra mim, é uma chance de me verem de forma distinta, agora eles sabem que existe uma preta que está conquistando seu lugar ao sol. Embora seja muito ruim ter o merecimento reconhecido de forma forçada, ainda é alguma coisa, deveria ser totalmente normal esse sentimento, mas infelizmente não é. Tenho um amigo que diz que fica feliz toda vez que recebe a notícia de que um amigo(a) preto(a) se formou, seja na graduação, na pós, ou afins… isso significa que é uma conquista rara, um fato muito triste, mas ainda parte da nossa realidade. A foto e o mestrado, e toda minha carreira acadêmica, me orgulham muito, sei que sou uma das poucas que chegaram tão longe, posso servir de exemplo para alguém. Tenho motivos de sobra para me orgulhar.

Orgulho

  

Por que você escolheu cursar graduação/mestrado/doutorado na área de Sistemas de Informação? Quais os seus objetivos?

Minha mãe sempre me dizia e ensinou: “Você tem que estudar pra ser alguém na vida, ganhar dinheiro, gente preta só estudando mesmo. Se está ruim para quem estudou, imagina se não estudar, sendo preto, só piora.” Estudei todo o ensino fundamental em escola pública com formação técnica no ensino médio, quando tive de optar por um tema e por acaso escolhi processamento de dados. Foi difícil no início, mas eu me adaptei e afinal tinha escolhido a carreira que gostaria de seguir para a vida. Na época do vestibular/Enem (ainda existiam os dois), me inscrevi em todas as universidades que ofereciam o curso da Informática, sem entender muito bem as diferenças, e das quatro que tentei, obtive êxito em três: Ciência da Computação na UFF, Matemática na UERJ (a ideia era pedir transferência para Informática depois) e Sistemas de Informação na UNIRIO. Só cursando é que entendi as diferenças entre os cursos e que, de fato, estava naquele que eu queria. A universidade é difícil, como ela tem de ser, mas entendo que é o lugar que nos dá formação para a vida, não dá para enrolar, senão você sai um profissional ruim e aí, quando chegar na indústria, a jornada vai ser muito mais difícil, isso não só na carreira de Sistemas de Informação/Tecnologia da Informação, mas em todas elas.
  

Eu não tinha pretensões acadêmicas quando entrei na faculdade, assim que me formei comecei a cursar um MBA em Engenharia de Software na UFRJ, com o intuito de me aprofundar em uma área que me interessou bastante na graduação, e lá me foi oferecida uma oportunidade com base acadêmica, e então entrei no mestrado. No início foi difícil, mas, como sempre gostei de estudar, fui percebendo o submundo da pesquisa e me apaixonei. Então resolvi seguir a carreira acadêmica também, além de estar na indústria, e atualmente estou cursando doutorado na UNIRIO. Eu amo a indústria, mas também amo a academia. Em algum momento da vida pretendo ser docente, para compartilhar o conhecimento de forma mais sistematizada do que faço agora. O mestrado não foi uma escolha planejada anteriormente, mas foi de suma importância e me despertou o interesse pela área acadêmica. Hoje em dia eu tenho a formação de que precisava para a minha vida, eu trabalho e estudo com o que me formei e amo fazer, é apaixonante sempre. Sobre planos futuros, ainda estão um pós-doutorado e ser poliglota, o francês e o alemão estão na fila, espanhol e inglês eu já tenho; morar/estudar fora do país também, me falta tempo para fazer tudo que desejo, rs.

 

Para você, o que significa/significou ser mulher nos cursos de Computação?

Ser mulher no curso de Sistemas de Informação eu considerei/considero uma pequena afronta a essa “padronização” de que mulher não tem lugar no mundo tecnológico. Mais afronta ainda era, na minha turma de 2008.2, sermos 11 mulheres, o que não chegava a ser metade da turma, mas já era bem acima da média. Até onde me lembro, não observei distinção entre homens/mulheres durante a graduação, mestrado e doutorado. Dentro do curso da graduação, não tive dificuldades por ser mulher, aliás, acho que, falando por todas, não tivemos dificuldades, só as relacionadas ao ensino superior, nada relacionado especificamente ao gênero. Nós éramos as melhores alunas, eu era uma delas. Existiam homens também que eram bons alunos, mas a maioria dos melhores alunos eram mulheres. Todas as mulheres da minha turma, todas as 11, se formaram e não abandonaram o curso; já com os homens…
 

Acho que o fato de haver poucas mulheres na graduação em área tecnológica decorre da falta de conhecimento; eu mesma, quando entrei no técnico de processamento de dados, não sabia bem o que era, eu aprendi “lá dentro”, gostei e resolvi seguir carreira em Computação. Acho que também há um distanciamento das mulheres por questão de criação, cultura, e aí vem um pouco de preconceito, as meninas quando crianças são incutidas logo a curtir as “brincadeiras de menina”, enquanto os meninos são apresentados ao videogame, ao computador etc. Então existe uma chance maior dos meninos tenderem mais para essa área tecnológica do que as meninas, mas, por formação educacional, e aí quando porventura uma menina se interessa, a sociedade já classifica como “errado, computador é de menino”, e aí muitas delas, na minha opinião, podem se ver repreendidas e desistirem. Foi muito tempo assim, hoje mudou um pouco, mas acho que continua na mesma se você olhar com mais afinco, apesar dos jovens (meninas e meninos) terem mais acesso a computadores/smartphones, ainda está incutida essa divisão “de menina” e “de menino”. Eu enxergo como um preconceito cultural que pode, ou não, influenciar na escolha profissional adulta.
 

Durante a minha graduação, o esporte uniu as mulheres no 1º período (depois não deu mais tempo, rs), apesar de não termos uma associação atlética, foi um jeito que encontramos de passar o tempo espairecendo e, por consequência, nos unimos. No mestrado era todo mundo bem unido, mulheres e homens, para estudar e conseguir fazer as coisas. Não me lembro de nenhuma ocasião de preconceito dentro da sala ou no território da faculdade, quando ocorria algo era “no mundo externo”, mas que tinha a ver com a faculdade. Sempre obtive reações adversas quando falava que estudava mestrado, tinha gente que me elogiava, tinha gente que dizia que eu estava estudando à toa, que não servia de nada; é ruim lidar com essa parte negativa e conciliar a motivação, às vezes desanima, mas sempre valeu a pena; no final, estudar nunca é à toa. No doutorado está sendo semelhante ao mestrado, a galera é muito focada, corrida, a maioria trabalha, é casada, e também a dedicação é outra, mas ser mulher não impacta nisso, não na parte do estudo, mas na parte de conciliar a vida acadêmica com o “mundo externo” de que falei antes. Tem que querer muito para dar certo.

 

 E sobre a questão de ser negra nos cursos de Computação?

Eu particularmente não gosto do termo “negro(a)”, eu prefiro ser chamada de preta. Tudo que é ruim é relacionado ao termo “negro(a)”, por exemplo: “o lado negro da força, todo mundo tem seu lado negro, você está na minha lista negra, a fome está negra, fulano tem um passado negro etc.” Nem eu nem meus irmãos de raça estamos relacionados a coisas ruins genuinamente, então somos todos pretas e pretos, EU prefiro assim, mas a sociedade entende que negro(a) é melhor, talvez mais respeitoso, mas eu não gosto.
 

Qualquer titulação que o preto(a) conquista depois do 2º grau, ou até mesmo do último ano do ensino fundamental, é motivo de festa e orgulho, infelizmente, porque deveria ser mais uma coisa na vida, normal. Mas a grande realidade é que a régua do preto é muito baixa, ninguém espera nada da gente, então quando a gente conquista algo, tem de comemorar, mesmo ficando triste por saber que não deveria ser nenhuma novidade ter um título acadêmico. Esse contraste machuca, deixa a gente marcada. Quando cheguei na graduação, no mestrado e no doutorado, claramente éramos minoria, mas existiam mais pretos além de mim. Esse fato me deixou muito feliz. Cada vitória do preto(a) importa e faz diferença para a comunidade preta. Não sofri preconceito por estar em nenhum desses três níveis acadêmicos, não dentro da universidade, mas o “mundo externo” é cruel, não deixa passar nada, e é isso que influencia na vida do preto, seja no estudo, seja no trabalho, lidar com isso para seguir é sempre muito difícil, é por isso que a gente desiste… Pegar um ônibus pra ir trabalhar e ouvir que você pode sentar no sol porque aguenta mais por ter pele preta acaba com o psicológico de qualquer um, como faz para seguir bem depois disso? Então são as situações que permeiam o preto, e não a faculdade em si. Tem de ser muito resiliente e insistente, acreditar em si.

 

E sobre a questão de ser lésbica?

Me assumi, pra mim mesma, um tempo depois que entrei na universidade. Contei com o apoio de uma amiga da turma, que era lésbica assumida, e só consegui depois de muitas conversas e dúvidas. Felizmente achei alguém que passou pelas mesmas dúvidas e questionamentos que eu e pôde me ajudar a entender o processo. A recepção com meus colegas de classe foi bem boa, alguns sabiam da minha sexualidade e outros não, e foi tudo muito ótimo, não houve interferência nenhuma, todos me aceitaram bem de boa.
 

Quanto ao mestrado também, eu já era assumida nessa época, mas a questão passou batida, fiz amizade com outros gays na minha turma e aí o que pude perceber era que a convivência era melhor, as conversas mais desprendidas sem receio de nenhum tipo de recriminação ou coisa parecida, estávamos “entre nós”, foi melhor assim, não que a gente não falasse com héteros ou que eles não falassem com a gente, mas acho que naturalmente “nos escolhemos” e ficamos bem assim. No doutorado não foi diferente.

 

E sobre a questão da classe social?

Ser pobre na universidade é difícil, sendo de Sistemas de Informação ou não, é indiferente, tem de querer muito, não é só passar, estudar e se formar, tem todo um ecossistema que não favorece o pobre lá dentro: passagem, lanche, trabalhos, impressão, livros, “viagens”, roupa… o pobre tem de se virar se ele quiser se formar e levar a universidade a sério. Passar na universidade sendo pobre é só a parte 1 do processo, se manter com sucesso lá dentro talvez seja mais difícil que entrar, e as situações que permeiam o pobre na universidade são complexas. Por exemplo, se você repete roupa para ir para faculdade, tem gente que fala, repara. Se você é preto, o desconforto fica pior.
 

Eu não sofri bullying, preconceito e afins sendo pobre na universidade, mas o sentimento de inferioridade quando sabemos que não temos grana para as coisas nos leva a crer que será mais uma etapa complicada a ser superada. Sem dúvida, em minha opinião, ser pobre na faculdade é a pior parte, ganha de ser mulher, preta, gay e da periferia, porque todo dia era pensar em passagem, alimentação, livros e uma série de outras coisas. Se manter na faculdade sendo pobre é difícil, tem de querer, mas está melhorando. Hoje em dia tem cota, bandejão, riocard estudantil. Existe pouco pobre na universidade, porque não temos acesso; agora é que está mudando, por conta das cotas. Mas outrora não tínhamos acesso a um ensino de qualidade, que nos preparasse para ingressar na faculdade. Mesmo com as cotas, continuo achando difícil, porque a quantidade fornecida não atende à demanda dos pobres que querem estudar. Comigo foi diferente, porque tive acesso a uma escola técnica com ensino diferenciado, sempre fui muito boa aluna, e minha mãe foi muito rígida na questão educação. Então o processo foi mais fácil, mas eu não sou parâmetro nesse caso, eu não represento a população preta que quer estudar, mas não consegue porque não tem grana para bancar o sonho. No mestrado e no doutorado, foi e está sendo diferente, porque possuí/possuo independência financeira, e isso fez/faz a maior diferença. Não teve bullying, preconceito ou qualquer coisa do gênero por ser pobre, mas também não houve nenhum grupo solidário para nada, era cada um por si e Oxalá por todos.

Isa DoutoradoFonte: https://www.facebook.com/isa.priolli/posts/2252953314739545

 

Que conselhos você daria para os(as) estudantes e para os(as) professores(as)? Que mudanças você gostaria de ver nos próximos anos?

Estudantes, não desistam da carreira que vocês escolheram. Todo caminho é difícil, pra uns mais que pra outros, mas a recompensa no final é muito boa. Ser motivo de orgulho para seus pais e para você mesmo compensa. Poder dizer “eu sou” não tem preço, ser espelho para alguém não tem preço. Ter gente que aposta em você, que acredita no seu potencial é maravilhoso, ainda mais sabendo de todas as barreiras que existem e que ultrapassamos. O preconceito, de todas as formas, ainda vai demorar muito para acabar, isso se acabar, mas somos fortes, sempre fomos, não desistam. Se cada um fizer sua parte, lá na frente a gente consegue fazer a diferença. Informação e conhecimento são as armas necessárias para combater a ignorância alheia.
 

Professores, não desistam de nós, não nos tratem como se fôssemos só mais uma turma, deem aula com vontade, com gosto, não descontem na gente o que seus professores fizeram vocês passarem, apostem na gente, reciclem suas aulas periodicamente. Não sejam apenas professores, sejam próximos de seus alunos, inovem, sejam dinâmicos. A gente dá duro para estar na aula todos os dias, sendo pobre, mulher, gay, da periferia ou morador de favela… a minoria é sempre deixada de lado, em qualquer cenário, mas dentro da sala de aula mostrem que somos importantes, façam da sala de aula o melhor lugar pra gente, que a gente facilmente devolve com gosto o investimento.
 

Sou preta, pobre, da periferia, gay e mulher, entrei na fila da minoria 5 vezes e cada dia é uma luta diferente, não posso negar. Se eu tivesse fraquejado na primeira, hoje em dia não poderia me orgulhar em dizer que sou engenheira de software sênior, especializada em engenharia de software, mestra em informática com foco em colaboração e gestão de processos de negócios e doutoranda em informática com foco em agilidade e gerência de portfólio de produto com foco na entrega de valor, fluente em inglês e espanhol e com 30 anos. Sei que ainda terei muita barreira pela frente, mas estou aqui, o importante é não desistir e ter amigos, pessoas de que você goste e que gostem de você, fraquejar faz parte, e essas pessoas colocam a gente pra cima de novo, desistir jamais. Uma pessoa instruída com conhecimento e informação torna-se o melhor soldado para qualquer guerra.

A universidade não é mais um espaço reservado da elite!Foto de um dos muros da UNIRIO, ao lado do portão por onde Isadora acessa a universidade

Referências

ARAUJO, Renata; PIMENTEL, Mariano. Educar (em Computação) para a Guerra ou para a Paz? SBC Horizontes, 1/5/2020. ISSN: 2175-9235. Disponível em: <http://horizontes.sbc.org.br/index.php/2020/05/01/educar-em-computacao-para-a-guerra-ou-para-a-paz>. Acesso em 15/6/2020.

COMPOSIÇÃO étnica do Brasil. Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Composi%C3%A7%C3%A3o_%C3%A9tnica_do_Brasil#Classifica%C3%A7%C3%A3o_do_IBGE>. Acesso em: 11/6/2020.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.

ILHÉU, Taís. Pela primeira vez, negros são maioria nas universidades públicas. Guia do Estudante, 2019. Disponível em: <https://guiadoestudante.abril.com.br/universidades/pela-primeira-vez-negros-sao-maioria-nas-universidades-publicas/>. Acesso em: 11/6/2020.

PASSARELLI, Hugo. ‘Ideia de universidade para todos não existe’, diz ministro da Educação. Valor, 28/1/2019. Disponível online: <https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/01/28/ideia-de-universidade-para-todos-nao-existe-diz-ministro-da-educacao.ghtml>. Acesso em 14/6/2020.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

Isadora P. Paranhos é doutoranda em Computação pela UNIRIO, Mestra em Informática pela UNIRIO, possui MBA em Engenharia de Software pela UFRJ e Engenheira de Software Sênior da Avanade.

Renata Araujo é professora na  Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Informação da EACH-USP e pesquisadora convidada no LUDES/COPPE. É coordenadora do Grupo de Pesquisa e Inovação em Ciberdemocracia, cujo principal objetivo é descobrir novas formas de diálogo com uso da tecnologia digital. CV Lattes

Mariano Pimentel

Mariano Pimentel é doutor em Informática, professor da UNIRIO, autor dos livros Sistemas Colaborativos (Prêmio Jabuti, 2011), Do email ao Facebook (2014), Metodologia de Informática na Educação (2020) e Informática na Educação (2020). Realiza pesquisas em Sistemas de Informação, Informática na Educação e Sistemas Colaborativos. Currículo Lattes

 

Como citar este artigo:

PARANHOS, Isadora; ARAUJO, Renata; PIMENTEL, Mariano; Educar para a diferença: conheça a história de Isadora, mulher preta lésbica pobre da periferia, mestra e doutoranda em Computação. SBC Horizontes, jun. 2020. ISSN 2175-9235. Disponível em: http://horizontes.sbc.org.br/?p=3078. Acesso em: DD mês. AAAA.

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