Wearables: hardware também é área para Meninas Digitais!
As wearables ou tecnologias vestíveis estão se popularizando cada vez mais, principalmente via pulseiras (smartbands) e relógios (smartwatches) digitais. Entretanto, as tecnologias vestíveis não se resumem a estes dois dispositivos, elas englobam todo tipo de item que possa ser acoplado ao corpo, ou seja, qualquer item que seja vestível dos pés a cabeça!
Assim, a computação vestível e as tecnologias vestíveis abrem um vasto leque de possibilidades de atuação para quem estuda, trabalha ou tem interesse em Computação e tecnologias, não só na área de software, mas também na área de hardware, englobando a integração com outros setores como moda, saúde, transporte, segurança, etc.
A engenheira Gedeane Kenshima é referência no trabalho com circuitos vestíveis no Brasil, tendo vasta experiência com palestras, oficinas e cursos sobre wearables, Arduino, Movimento Maker e Internet das Coisas. Atualmente, Gedeane é mestranda em Automação e Controle de Processos pelo Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e lançou um livro esse ano sobre o assunto chamado “Nas Linhas do Arduíno” (Editora Novatec).
No bate-papo a seguir, Gedeane conta um pouco sobre a sua história e como as tecnologias vestíveis podem ser uma área próspera para meninas e mulheres interessadas em tecnologia.
Karen: Como você começou a trabalhar com Hardware e Arduino? Você sempre teve interesse em montar/desmontar coisas ou em invenções?
Gedeane: Ao contrário da maioria do pessoal, não tive nenhuma referência na infância para invenções ou desmontar coisas. Eu brincava de boneca mesmo (risos). Mas sempre gostei de computador, mesmo quando não tinha acesso a uma máquina. Às vezes, eu só queria apertar uma tecla qualquer de um computador na casa de alguém. Caí de paraquedas em um curso técnico em Automação Industrial, poucos anos após o término do ensino médio. Me apaixonei no primeiro dia, quando comecei a descobrir como funcionavam as coisas na área da Elétrica. Já o Arduino veio durante a graduação, estava no 7º semestre quando adquiri a primeira placa. Sempre que tinha um pouco de tempo estava mexendo.
Karen: E como surgiu a ideia de trabalhar com vestíveis?
Gedeane: Quando comecei a usar o Arduino, fiquei cerca de uns 2 anos só experimentando coisas. Muitos me cobravam o porquê de não fazer um projeto. Quando terminei a graduação, vi que uma vertente não muito explorada no Brasil eram os projetos com Lilypad Arduino. Curti muito fazer projetos com circuitos vestíveis e as palestras têm uma boa aceitação.
Karen: Você acredita que a área de Hardware é uma boa área de atuação para mulheres?
Gedeane: As mulheres podem atuar em qualquer área, inclusive na de hardware. A integração da programação com a parte física, ou seja, a computação física é muito legal. A gente não fica somente nas linhas de código, mas vê luzes acendendo, motores movendo e sensores lendo variáveis. E existem inúmeras áreas que elas podem integrar a computação gráfica: seja em um projeto de robótica, de moda, agrícola, design, games, educação e tantas outras.
Karen: Quais são os desafios que você enfrenta ou já enfrentou no seu trabalho com hardware/Arduino/vestíveis?
Gedeane: Como mulher, eu digo que a área de hardware é muito dominada por homens ainda. Iniciei em 2007, no curso técnico, e percebi um certo machismo quando fui procurar estágio. Perguntas do tipo: “Ah, mas como seria se você se envolvesse com alguém da empresa?” e feedback de “Essa vaga é masculina” foram algumas das muitas coisas que enfrentei. Infelizmente, a gente tem que ficar provando o que sabe para alguns caras.
Karen: Como você enxerga o futuro das tecnologias vestíveis? Você acha que esse tipo de tecnologia pode ajudar mulheres no cotidiano?
Gedeane: Tem muitas coisas em estudos ou já feitas em vestíveis. Para auxílio de mulheres, posso citar um comercial da Schweppes, onde são confeccionados três vestidos com sensores de toque e usados em baladas. O resultado é impressionante: https://exame.abril.com.br/marketing/schweppes-cria-vestido-que-grava-assedio-contra-mulheres-em-festas/
Karen: No seu livro você usa a programação Wiring. Quais os benefícios dessa tecnologia?
Gedeane: Wiring é uma linguagem de programação baseada em C/C++, porém conta com algumas particularidades para interação com o mundo físico, como configuração de pinos, etc. Possui a facilidade de ter muitos exemplos práticos no ambiente de programação (IDE Arduino) e ainda uma comunidade mundial divulgando seus projetos, montagens e códigos. E quem já programa em C ou C++ não vai encontrar dificuldades no Wiring.
Que tal explorar o mundo das tecnologias vestíveis? Além do livro da Gedeane Kenshima, que pode ser adquirido em formato físico ou digital na Amazon, no site da Novatec Editora e em plataformas como Google Play Livros e App Store, recomendamos também outras leituras:
- VEGA, Katia; FUKS, Hugo. Beauty Technology. Springer International Publishing, Cham, 2016.
- DE CARVALHO, Juliano Varella et al. DISPOSITIVOS VESTÍVEIS APLICADOS NO ENSINO. Revista Observatório, v. 4, n. 3, p. 509-539, 2018.
- CORREIA, Ricardo Toller; AYMONE, José Luís Farinatti. Fatores humanos no projeto de tecnologias vestíveis: análise das práticas de designers. Human Factors in Design, v. 8, n. 16, p. 138-150, 2019.
- MOREIRA, Eliana; BARANAUSKAS, M. Cecília. Tecnologias tangíveis e vestíveis como recursos para ambiente inclusivo: uma revisão sistemática. In: Brazilian Symposium on Computers in Education (Simpósio Brasileiro de Informática na Educação-SBIE). 2015. p. 842.
- PANISSON, Luciane Salete. Dos computadores vestíveis às roupas pensantes: os avanços tecnológicos a serviço da moda e da comunicação. In: III Simpósio Nacional da ABCiber. 2009.
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Como citar esse artigo:
Ribeiro, K. S. F. M. e Kenshima, G. G. S.. 2020. Wearables: hardware também é área para Meninas Digitais!. ISSN: 2175-9235. Disponível em: http://horizontes.sbc.org.br/index.php/2020/04/27/wearables-hardware-tambem-e-area-para-meninas-digitais/