Dissonância
Dizem que os jovens sabem tudo de tecnologia. São nativos digitais. Mark Prensky cunhou esse termo em 2001. Para ele, os estudantes daquela época representavam a primeira geração que cresceu com computadores, videogames e internet. Eles entendiam das coisas. Os outros, aqueles mais velhos, são todos imigrantes digitais. Prensky foi ainda mais longe. Destacou que isso é um grande problema para a Educação. Os professores, todos imigrantes digitais, que falam uma linguagem desatualizada, são responsáveis pela educação dos nativos digitais, que falam uma linguagem completamente nova. E, assim, Prensky criou uma lenda.
Mas, na teoria, a prática é bem diferente. Um dia, na aula, um aluno falou:
– Professora, hashtag é uma coisa de sua geração. A minha geração não usa.
Fiquei surpresa e perguntei:
– Quando tu queres encontrar conteúdo sobre alguma coisa nas redes sociais, o que tu faz?
– Eu sigo a pessoa.
Achei estranho. Mas também acho muita coisa estranha hoje em dia.
Dias atrás uma aluna me perguntou o que eram aquelas figurinhas na tela do computador.
– São ícones, respondi. Tenho certeza que arregalei os olhos.
– Então, cada um abre um programa? – ela perguntou.
– Sim. – respondi. E perdi a fala.
Sei lá, achei tão estranho.
Outro dia, sugeri para uma turma usar a nuvem para arquivar os algoritmos desenvolvidos em aula. Quando vi, já estava explicando como criar uma pasta no Microsoft OneDrive.
Achou estranho? Eu também.
Dizem que os jovens sabem tudo de tecnologia. Mas, na frente de teclados e telas, a teoria é diferente. A dicotomia entre nativos e imigrantes parece simples demais para explicar tanta nuance.
Entre dividir o mundo entre os que sabem e os que nunca vão saber, acho que a Amy Webb pode ter uma solução. A futurista nos apresenta um conceito interessante. Nós somos a geração de transição – Gen T. Todo mundo junto vivendo esse período de incertezas.
Achei uma forma educada de dizer que, na verdade, ninguém sabe de mais nada.
Arte: Niki (@ jururuart)
Revisão: Tiago Bergenthal
Texto produzido durante o módulo Mosaico Santa Sede (@oficinasantasede & @rubempenz).
Como citar esse artigo:
BASSANI, Patrícia Scherer. Playlist a lápis. SBC Horizontes, 25 nov. 2024. ISSN 2175-9235. Disponível em: < https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2024/11/dissonancia/>. Acesso em: DD mês. AAAA
Patrícia Scherer Bassani é doutora em Informática na Educação, professora titular do PPG em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias.