Futuro do subjuntivo
Sempre fui feliz na praia. Passei a infância e a adolescência curtindo as férias de verão na frente do mar. Naquele vai e vem dos dias, com os pés na areia, não me preocupava muito o futuro. A vida pulsava no presente. Tudo era novidade – as festas, os amigos, os amores. E assim fui crescendo, entre castelos de areia e pranchas de surf.
Os adultos gostavam sempre de perguntar:
– O que você vai ser quando crescer?
Difícil saber. Um mundo de possibilidades pela frente.
O futuro não chega assim, totalmente formado, do dia para a noite. Ele vai se configurando passo a passo. É produto de um processo – um tornar-se. Não podemos prever. Ele é, por essência, desconhecido.
Georges Minois, no livro História do Futuro, nos lembra que muitos já tomaram para si o poder de fazer previsões, seja por meio de adivinhações, profecias, visões, sonhos, ou muitas outras práticas. Os adivinhos, os videntes, os leitores da sorte, os profetas, ou ainda os especialistas em sonhos, foram considerados, ao longo da nossa história, os intermediários. Aqueles que têm o poder de decifrar o que está por vir. Mas não podemos confiar tudo ao acaso de uma revelação. Nós criamos o futuro.
Existe uma área de pesquisa chamada Estudos de Futuro. Alguns chamam de futurismo ou futurologia. Não tem nada a ver com adivinhação – faz uso de metodologias para identificar e acompanhar tendências. Também não existe apenas um futuro possível, mas diferentes possibilidades, por isso falamos em futuros (no plural).
A Unesco enfatiza que o letramento de futuros ou futures literacy é uma competência essencial para o século XXI e envolve a imaginação humana – o amanhã só pode ser imaginado. Ao imaginar diferentes futuros podemos nos tornar conscientes de nossas capacidades de inventar e moldar o que vem pela frente. Antecipar é reconhecer esses possíveis futuros para tomar decisões e ações conscientes no presente.
Fecho os olhos para imaginar o que vem pela frente e sinto o cheiro do mar. O calor do sol e o sal na pele. Sempre fui feliz na praia. É pra lá que eu quero voltar.
Arte: Niki(@jururuart)
Revisão: Tiago Bergenthal
Texto produzido durante o módulo Mosaico Santa Sede (@oficinasantasede & @rubempenz).
Como citar esse artigo:
BASSANI, Patrícia Scherer Assim caminha a humanidade. SBC Horizontes, 18 dez. 2023. ISSN 2175-9235. Disponível em: < https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2023/12/futuro-do-subjuntivo/>. Acesso em: DD mês. AAAA
Patrícia Scherer Bassani é doutora em Informática na Educação, professora titular do PPG em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias.