Música das esferas
De forma geral, separamos as pessoas em duas áreas: algumas são de exatas e outras são de humanas. Gosta de escrever, desenhar, cantar? Humanas. Sabe a tabuada e gosta de lego? Exatas. Gosta de cuidar? Bom, aí tem a área da Saúde, que também tem a parte mais exata, envolvendo análise clínica a partir de resultados de exames, ou a parte mais humana, relacionada com o acolhimento. Mania de dividir o mundo em dois lados. Esquerda ou Direita. Bem ou mal. A gente esquece que tem uma parte que existe na mistura. Um pouco de cada, e a gente cria uma coisa nova.
Tem um documentário científico na Netflix chamado Uma viagem ao infinito. O filme aborda o infinito sob a perspectiva da matemática e da física teórica, com um pouco de filosofia no fim. Uma hora e dezenove minutos de pura poesia. Contradição? Espia só.
Descobri que o número de neurônios no nosso cérebro é compatível ao número de estrelas nas galáxias. É imenso. O que isso quer dizer? Que o espaço de pensamentos impensáveis é um número fantasticamente grande. Espaço de pensamentos impensáveis é poético, não?
O documentário explica o infinito com delicadeza. A luz viaja em uma velocidade finita, a idade do universo é finita, sempre haverá apenas uma parte do universo que podemos observar. Não conseguimos imaginar porque nosso tempo de vida é finito. Também não podemos sair do universo para olhar de cima – nunca. Como eu disse, é física, é matemática, é poesia. Se matemática é poesia, facilmente vira música.
Cinco planetas visíveis – Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno – mais o Sol e a Lua, é igual a sete. Sete notas musicais. Dó-ré-mi-fá-sol-lá-si. Quem lembra de Pitágoras quando escuta música? Mas foi ele, o sujeito do Teorema, que difundiu a ideia de que a música é arte. Vem do cosmos. Os corpos celestes produzem sons por meio de sua movimentação no espaço. A matemática divina inspirou a música das esferas. Poético, não? Mas parece que toda essa inspiração veio do martelo. Ou melhor, do som produzido pelo martelo de um ferreiro. Sei lá, achei que isso acabou com a poesia. Também é uma prova de que novas ideias vêm quando a gente olha para as coisas de uma forma diferente.
Fiquei aqui pensando: será que aquele espaço de pensamentos impensáveis seria o espaço da criatividade humana?
Na dúvida, Pet Shop Boys.
Arte: Niki (@ jururuart)
Revisão: Tiago Bergenthal
Texto produzido durante o módulo Circuito Santa Sede (@oficinasantasede & @rubempenz).
Como citar esse artigo:
BASSANI, Patrícia Scherer. Música das esferas. SBC Horizontes, 24 jun. 2024. ISSN 2175-9235. Disponível em: < https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2024/06/musica-das-esferas/>. Acesso em: DD mês. AAAA
Patrícia Scherer Bassani é doutora em Informática na Educação, professora titular do PPG em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias.