IA e Cibersegurança: As Chaves para a Competitividade Global

Belo Horizonte-MG, 27 de Julho de 2025
Mais do que uma necessidade, uma questão de soberania nacional e vantagem competitiva para nossa indústria e para a construção da nossa sociedade!
Num mundo cada vez mais conectado e orientado por dados, a cibersegurança se tornou um dos pilares estratégicos da soberania nacional, das nossas instituições e das nossas empresas. Nos últimos tempos, o mundo e o Brasil tem enfrentado um aumento significativo de ciberataques, com diversos casos envolvendo vazamento de dados e ataques a sistemas de empresas e instituições governamentais. Apesar do Brasil ser posicionado pela ONU como um dos líderes globais em maturidade normativa e institucional em cibersegurança, o relatório de Cibersegurança publicado pela Brasscom em julho de 2025 mostra que nas empresas brasileiras o cenário é outro e aponta que existe um caminho a percorrer com urgência. Em geral, a cibersegurança continua tendo baixa prioridade estratégica, pautada por uma cultura reativa e apoiada por orçamentos fragmentados.
Em 2024, o país registrou um crescimento expressivo de ataques e tentativas de ataques cibernéticos, com destaque para os ataques de ransomware e phishing. O Brasil carrega o título de segundo país com mais ataques cibernéticos no mundo. Também em 2024, foram registrados mais de 700 milhões de ataques cibernéticos no país, totalizando 1.379 por minuto, segundo o Panorama de Ameaças para a América Latina 2024. Estima-se que entre 2025 e 2028, as empresas brasileiras invistam 104,6 bilhões de reais em cibersegurança. Alta de 43,8% em relação ao período anterior. Porém, apesar do número impressionar, ele esconde uma contradição. A maioria das organizações ainda reage aos incidentes em vez de se proteger antecipadamente. A segurança só é pautada depois do prejuízo, o que gera uma consciência momentânea, porém resulta em consequências, como a perda de credibilidade e de negócios.
Um dos maiores paradoxos da atualidade é que a própria tecnologia, impulsionadora de avanços em diversos setores, também tem se tornado um dos principais desafios para a segurança cibernética. A inteligência artificial (IA), por exemplo, apesar de ser uma ferramenta poderosa para defesa digital, também tem sido cada vez mais usada para potencializar ciberataques e cibercrimes de formas preocupantes. A IA amplifica significativamente o poder dos cibercriminosos. Ela automatiza ataques em grande escala, gera e-mails de phishing personalizados, cria deepfakes realistas para fraudes e auxilia em muitas outras atividades maliciosas. Esses avanços tornam os ataques mais rápidos, furtivos e eficazes, exigindo respostas igualmente avançadas por parte da cibersegurança.
As tecnologias são essenciais, mas a resiliência cibernética depende tanto das pessoas, quanto da criação e manutenção de uma cultura a ser consolidada numa sociedade. O foco excessivo em tecnologia acaba negligenciando a capacitação e a conscientização das pessoas. É importante a implementação de processos e campanhas que integrem a cibersegurança na vida cotidiana dos funcionários com treinamentos comportamentais e de atenção que os ajude a entender os objetivos dos atacantes e como evitar cair em armadilhas. É diante desse grande contexto e de seus desafios complexos que nasce o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Inteligência Artificial para Cibersegurança: Uma Abordagem Tecnológica e Social (INCT-IACiber), uma iniciativa inédita e necessária que une pesquisadores de excelência em uma abordagem transdisciplinar para conectar tecnologia, direito, sociedade e inovação.
O INCT-IACiber surge com a missão de avançar o conhecimento na interseção entre as áreas de Inteligência Artificial e Cibersegurança, capacitar profissionais de excelência, desenvolver soluções para IA seguras, éticas e resilientes capazes de proteger nossas infraestruturas críticas, garantir a privacidade dos cidadãos e apoiar políticas públicas de cibersegurança robustas e responsáveis.
Um ecossistema de excelência
Em consonância com o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024–2028, o INCT-IACiber tem como sede a UFMG, em parceria com várias outras universidades do Brasil, e está articulado com instituições internacionais, empresas e órgãos públicos. É mais do que um centro de pesquisa; é a construção de um ecossistema nacional de pesquisa científica de ponta, formação de recursos humanos e inovação em IA e cibersegurança. Com foco em ações de alto impacto, o instituto trabalhará na detecção e mitigação de ameaças em tempo real; IA explicável, ética e confiável; proteção de dados sensíveis e infraestruturas críticas; capacitação de profissionais em todos os níveis, conscientização sobre cibersegurança, apoio na formação de políticas públicas baseadas em evidências científicas O instituto tem um grande potencial para impactar setores como finanças, energia e saúde — todos vulneráveis digitalmente. Além de tecnologia, o projeto envolve pesquisadores e profissionais nas áreas do direito, sociologia e psicologia.
Vantagem Competitiva
Em abril de 2025, o estudo intitulado ‘Competitividade Brasil’ da Confederação Nacional das Indústrias classificou o nível de competitividade industrial brasileiro em última posição de um conjunto de 18 países tomando como referência indicadores econômicos. A posição alcançada pelo Brasil reflete problemas estruturais históricos do país, que ainda são preocupantes: alta complexidade tributária, poblemas na macroeconomia e investimentos. No entanto, com o novo cenário competitivo, também foi possível identificar novas oportunidades em fatores como, por exemplo, inovação e tecnologia. Investir em IA e cibersegurança não é mais uma opção. É o caminho fundamental para aumentamos a competitividade da nossa indústria por meio de inovação e tecnologia, para defendermos o ciberespaço, defendermos nossa economia e os direitos fundamentais. O INCT IACiber é uma peça chave neste processo, que tem como um dos objetivos principais conectar academia, governo, empresas e sociedade.
Mais do que uma rede de laboratórios, o INCT-IACiber é um chamado à ação. É o reconhecimento de que a tecnologia deve estar a serviço da sociedade – e que a proteção do ciberespaço também é responsabilidade de todos nós.
Esta matéria foi escrita por Michele Nogueira, Doutora em Ciência da Computação pela Sorbonne Université, realizou pós-doutorado na Carnegie Mellon University, professora do Departamento de Ciência da Computação da UFMG e pesquisadora CNPq nível 1D.
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Boas leituras!