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A WFH (Work From Home) Tale

A WFH (Work From Home) Tale

Por Lara Piccolo (the Open University)

Nos últimos anos, aquela visão preconceituosa de “home office” em que a pessoa finge estar trabalhando em casa tem sido deixada de lado, e o conceito de home office real e verdadeiro tem entrado na rotina de muita gente ao redor do globo. E como bem sabem, o COVID-19 transformou esse conceito em palavra-chave.

Eu trabalho na The Open University no Reino Unido, berço da educação a distância, onde a distância está na filosofia de trabalho e na alma do negócio. Faço WFH (Work From Home) frequentemente, por opção.

Entretanto, nas circunstâncias atuais, meu home office virou espaço de co-working da família.  Além disso, super-heróis e Lego Minifiguras também disputam a alocação de sala, em tempo e espaço. E, de repente, em meio à essa crise, home office e produtividade viraram inimigos. Mas, agora não temos escolha senão a conciliação.

Assim como eu, tenho certeza de que muita gente ainda está aprendendo a lidar com a essa nova rotina (sugiro uma busca no Twitter pela hashtag #WFH se quiser de divertir um pouco com a desgraça alheia). Nova rotina que, na minha opinião, veio para ficar com ou sem pandemia.

Então, eu aproveito esse espaço para compartilhar com os leitores um pouco da minha experiência de WFH e o que tenho aprendido com os Staff Tutors, da Open University, pessoal que coordena times de professores geograficamente distribuídos pelo país afora, e que por muitos anos têm lidado com a rotina de trabalho de casa.

Cartaz na porta "Mamãe está em reunião das 09:30 às 11:00. Não entre. Contém também respostas as perguntas mais frequentes dos filhos para a mãe, como onde está tal coisa.."
Disclaimer: O autor original dessa imagem não foi identificado. Não por acaso, ela viralizou nas redes sociais nos últimos dias.

No seu blog, Chris Douce, staff tutor em Ciência da Computação se refere a Kossek (2016) [1] para sugerir que a gente estabeleça alguns limites para separar a rotina de trabalho em casa dos demais fatores da nossa vida em casa. Esses limites podem ser:

  • De espaço: definir locais físicos na casa para trabalhar.
  • De tempo: estabelecer uma rotina horária que faça melhor uso do seu nível de energia, de produtividade, e com tempo para viver sem estar trabalhando.
  • De tecnologia: usando certos dispositivos (laptops ou celulares, por exemplo) só para trabalhar, e outros para relaxar.
  • Psicológico: Roupas, acessórios e hábitos que te ajudam a diferenciar se você está em modo de trabalho ou não.

Um ponto que Chris Douce ressalta é que cada um tem que se conhecer, observar, e criar seus próprios limites, respeitando as circunstâncias pessoais.

Um grupo de staff tutors na área de Exatas também compilou uma série de sugestões que podem facilitar essa nova rotina que eu adaptei aqui:

Mexa-se
  • Se puder, faça uma caminhada mesmo que curta antes de começar o trabalho todos os dias.
  • Sem ver o movimento dos colegas ao redor, é fácil esquecer de fazer uma pausa. Defina um alarme para parar para um café, almoço e ao final do dia.
  • Tem que lavar roupa? Coloque a roupa na máquina antes de começar a trabalhar. Quando a lavagem terminar, serve como um alarme para uma parada de descanso. Um bolo no forno ou pão na máquina também são boas desculpas para uma pausa.
Um escritório pra chamar de seu
  • Se puder, crie um espaço confortável, que torne o trabalho agradável, que seja seu e você poderá sair dele no final do dia.
  • Invista (e é de fato investimento!) em um bom monitor externo, cadeira confortável e fone de ouvido de qualidade.
  • Se vista para ir trabalhar. Não trabalhe de pijama o dia todo.
Ah! As reuniões online
  • Use o mínimo possível do tempo dos participantes. Nossa atenção é limitada e facilmente nosso cérebro se desconecta muito antes do link da reunião. Nesse caso, reconsidere a agenda das reuniões e, se necessário, faça várias sessões curtas só com as pessoas que vão de fato se engajar na discussão.
  • Adicione uma foto ao seu perfil na plataforma usada, de modo que você pode alternar entre o vídeo e a imagem parada sem grandes dramas, se for necessário.
  • Não se esqueça das tradicionais regras de etiqueta: colocar o microfone no mudo sempre que não estiver falando, o celular e outras notificações em modo silencioso, e usar fone de ouvido.

E em tempos de crise…

Distância física, não social
  • Reserve um tempo para se comunicar para os colegas e verificar se eles (e você) estão bem.
  • Configure uma sala de café ou almoço virtual de vez em quando.
  • Seja parte de um grupo de chat onde você se sinta à vontade pra compartilhar fotos pessoais, do cachorro, piadinhas, etc. com os colegas (sim, isso pode ser útil para sua saúde mental!), mas use esse grupo em horários definidos, com cautela. Restringir o acesso a esses grupos em diferentes dispositivos pode ajudar a criar disciplina.
Crianças em casa

Se o seu home office também sofre invasões de crianças, bem-vindo ao time! 

  • Com as crianças, comece desde cedo estabelecendo regras de acesso e interrupção, por exemplo, porta fechada tem que ser respeitada em horário de trabalho. Mas não assuma que isso vá funcionar sempre! Por isso é importante seguir as regras de etiqueta para reuniões online.
  • Com ambos os pais trabalhando em casa, defina turnos de trabalho entre o casal.
  • Se tiver que adotar horários de trabalho fora do usual para acomodar as necessidades da família, compartilhe sua nova rotina com seus colegas.

A crise e a necessidade de distanciamento social colocaram muita gente, independente de gênero ou grupo social, na situação similar de ter que trabalhar em casa e se dedicar aos filhos em tempo integral. Use isso a seu favor, mas faça seu melhor no tempo limitado que você tem disponível para se dedicar ao trabalho. E, tenha empatia por colegas em situações mais complexas que a sua.

Foco no essencial

As prioridades são muitas, sempre, então trabalhe com elas uma vez que o tempo e nossa energia são recursos limitados. Não passe mais tempo olhando para a tela do computador do que você realmente precisa, e não espere isso das outras pessoas que trabalham com você.

Somos privilegiados por conseguir tocar nosso trabalho em frente de forma virtual. Mas lembre-se de que nem tudo pode (ou deve, ou merece) ser simplesmente convertido para o mundo online. Certas reuniões ou eventos vão funcionar melhor quanto estivermos presentes de alma e corpo. Assim como devemos fazer para superar essa crise em todos os aspectos da vida, faça online também só o que é essencial. O resto, pode esperar.

A crise vai passar, mas, enquanto isso, não tem mágica. Vamos respeitar nossos limites e dar nosso melhor, pois só assim podemos construir um bom legado para quando nossa rotina voltar ao novo normal.

[1] Kossek, E. E. (2016). Managing work-life boundaries in the digital age. Organizational Dynamics, 45, 258-270.

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