Empoderamento feminino, desenvolvimento sustentável e inteligência artificial

Empoderamento feminino, desenvolvimento sustentável e inteligência artificial

Por Raquel Moreira Machado Fernandes, Claudia Motta, Emanuelle Marques Pereira Simas, Marilia Campos Galvão, Leniah Lima Teixeira e Isabel Hortencia Garnica Perez Barros

No mês de outubro de 2020 foi realizada a 17ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), com o tema: “Inteligência Artificial: a nova fronteira da ciência brasileira”. Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a celebração tem o objetivo de mobilizar a população, em especial os jovens, para atividades científico-tecnológicas. E o projeto SuPyGirls não poderia ficar de fora!

O projeto SuPyGirls existe desde 2015 e dedica-se ao empoderamento feminino através das tecnologias com foco em escolas da educação básica em regiões de vulnerabilidade socioeconômica do Rio de Janeiro. É um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro e parceiro do Programa Meninas Digitais.

Para a SNCT, idealizamos em parceria com a Escola Sesc de Ensino Médio do Rio de Janeiro o “Desafio dos 7 mares”, uma maratona de ideação, formato inspirado na dinâmica dos hackathons. O objetivo do desafio foi incentivar jovens estudantes e conscientizá-los para a preservação ambiental, engajando-os na criação de soluções tecnológicas para o desenvolvimento sustentável. A tarefa era propor soluções com o uso de Inteligência Artificial (IA) para minimizar a poluição dos mares e oceanos, adotando critérios de avaliação como: criatividade, design, viabilidade e técnica de IA utilizada.

A maratona  vem ao encontro com a proposta da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030), promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para conscientizar a população global sobre a importância dos oceanos e mobilizar diversos atores para ações que favoreçam a saúde e a sustentabilidade dos mares. Iniciamos as divulgações através das redes sociais Facebook e Instagram (@SuPyGirls) com postagens de sensibilização para o problema da poluição dos mares e oceanos com dados sobre a poluição dos mares (Plastic Oceans International).

 

Figura 1. Sensibilização para o problema da poluição nos mares e oceanos. Imagens: br.freepik.com

Dos dias 26/10 a 29/10, além de uma abertura incrível com o Comandante da Marinha André Panno Beirão sobre o valor do mar para as futuras gerações, oferecemos palestras e workshops, de modo a preparar os estudantes para o desafio, que ocorreu no dia 30/10. As atividades da semana abrangeram os temas: Inteligência Artificial, Ética, Robótica e Design Thinking, abordagem que selecionamos para utilizar de forma adaptada durante a maratona. Cabe ressaltar que em decorrência da pandemia causada pelo Sars-Cov-2, todas as atividades foram realizadas online e de forma síncrona. 

Para divulgação, criamos um site no Google Sites e as inscrições foram realizadas através da ferramenta de Formulários Google. As palestras foram transmitidas pelo Youtube em formato de lives, com o uso da ferramenta StreamYard. Os workshops foram realizados em reuniões do Google Meet para os participantes inscritos previamente. O workshop com maior procura foi “Conhecendo o básico de Python através de um mini game”, oferecido por Leniah Teixeira e Emanuelle Simas, duas participantes do projeto SuPyGirls. Na figura abaixo, registramos a reação de alguns participantes no chat do Google Meet durante a oficina. Foi gratificante ver a alegria ao criar o primeiro código em Python!

Figura 2. Feedback dos participantes durante a oficina.

No desafio, os participantes podiam inscrever-se em grupo ou individualmente e foram alocados em grupos de cinco pessoas. Cada grupo recebeu o nome de um animal marinho ameaçado de extinção e contou com uma monitora do projeto SuPyGirls. Recebemos inscrições de estudantes de 8 a 60 anos de diferentes gêneros e diferentes Estados do Brasil. No dia 30, no início da maratona, todos os participantes foram convocados para uma reunião do Google Meet. Em seguida, cada grupo foi para uma reunião privada para realizar as atividades propostas na maratona. Ao término da maratona, todos retornaram para a reunião principal para as apresentações. Na figura abaixo, apresentamos alguns registros da divisão das salas.

Figura 3. Esquema de organização das salas virtuais.

Para a realização da maratona, adaptamos o modelo de Design Thinking da Universidade de Stanford (Hasso Plattner Institute of Design at Stanford) e consideramos o framework do Duplo Diamante da Design Council para o desenvolvimento de um processo criativo e colaborativo. As palestras que ocorreram durante a semana, bem como os exemplos de tecnologias apresentados na sessão de abertura da maratona contribuíram amplamente na etapa de pesquisa. Cabe ressaltar que o livro “O valor do mar” do Comandante André Panno Beirão, encontra-se disponível para download gratuitamente no link: https://www.marinha.mil.br/livro-o-valor-do-mar.

Ao término do desafio, os participantes apresentaram suas ideações e foram avaliados por uma banca composta por 3 jurados. O grupo Atum Rabilho foi o grande vencedor, com a proposta do Robô Acarix, um robô para auxiliar a coleta seletiva de materiais recicláveis em áreas de encostas do Rio Acari, um dos maiores cursos d’água do município do Rio de Janeiro. Cabe ressaltar que este é um rio macrobiologicamente morto e faz parte do espaço de vivência das estudantes vencedoras Ana Beatriz Martins Chrispim, Gabrielle Alves Bandeira, Letícia Maria da Costa Guimarães e Wesleyana Vitória Aquino de Souza, o que chamou atenção dos jurados, já que elas se preocuparam com algo que afeta diretamente a qualidade de vida delas e influencia também nos mares e oceanos. Os outros grupos participantes receberam menções honrosas em diferentes categorias, como criatividade, empreendedorismo e viabilidade técnica.

Para a realização do evento, tivemos o patrocínio da empresa @KanuEco, que forneceu os brindes que foram sorteados na maratona através de um programa feito em Python, criado pela nossa SuPyGirl Emanuelle Simas. Além disso, a @KanuEco também forneceu prêmios como copos e canudos sustentáveis para o grupo vencedor. Também contamos com o patrocínio do @LabInventa, que disponibilizou um curso como premiação. O grupo vencedor também ganhou do projeto @matematica_maker um kit de Arduíno para a aprendizagem de Robótica. O objetivo da premiação foi engajar os participantes na utilização de objetos sustentáveis e incentivar a continuidade do aprendizado de computação. 

O Desafio dos 7 mares teve um impacto positivo para as integrantes do projeto SuPyGirls, que além de planejarem e executarem oficinas para o público, vivenciaram a experiência de organizar um evento em formato totalmente remoto e puderam interagir com estudantes de todo o Brasil. A ação interdisciplinar também possibilitou que os participantes aprendessem sobre temas variados e tivessem acesso à ciência e tecnologia mesmo em tempos de pandemia. A ação, portanto, foi relevante científica, cultural e socialmente, possibilitando o empoderamento dos estudantes e o desenvolvimento de diferentes habilidades através da Computação. O desafio foi uma iniciativa para promover também a conscientização ambiental e estímulos à criatividade e colaboratividade. Tais competências podem ser consideradas fundamentais na atualidade. 

A inteligência artificial é uma possibilidade para promover o desenvolvimento sustentável, sobretudo em relação à preservação dos mares e oceanos. Destacamos, portanto, o papel da  Computação na construção de um futuro melhor e esperamos propor mais ações no formato de hackathon devido ao grande sucesso e repercussão.

Agradecemos aos nossos patrocinadores, parceiros, palestrantes e participantes, bem como à comissão organizadora composta pelas integrantes do projeto SuPyGirls. Quem quiser conferir mais informações e assistir as palestras salvas, basta acessar o link: http://bit.ly/desafio-dos-7-mares.

Referências

Hasso Plattner Institute of Design at Stanford. An Introduction to Design Thinking – Facilitator’s Guide. 2020. Disponível em <https://dschool.stanford.edu/resources/getting-started-with-design-thinking>. Acesso em: 07 nov. 2020.

Plastic Oceans International. A plastic ocean Education & Discussion Guide. 2018. Disponível em: <https://plasticoceans.org/wp-content/uploads/2018/11/PO_Educational_Sup_v16_NOV2018.pdf>. Acesso em: 15 out. 2020.

Como citar este artigo:

Fernandes, Raquel Moreira Machado; Motta, Claudia Lage Rebello; Simas, Emanuelle Marques Pereira; Galvão, Marilia Campos; Teixeira, Leniah Lima; Barros, Isabel Hortencia Garnica Perez. Empoderamento feminino, desenvolvimento sustentável e inteligência artificial. SBC Horizontes. ISSN: 2175-9235. Disponível em: https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2021/05/empoderamento-feminino-desenvolvimento-sustentavel-e-inteligencia-artificial/

Sobre as autoras:

Raquel Moreira Machado Fernandes

Doutoranda e Mestra (2019) pelo Programa de Pós Graduação em Informática (PPGI) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atua na linha de pesquisa de Informática, Educação e Sociedade. Possui certificação Google para implementação de ferramentas tecnológicas na prática educacional (Google Certified Educator level 1). É servidora da Superintendência de Tecnologia da Informação da Universidade Federal Fluminense. Interessa-se por Informática Educacional, Letramento digital, Educação em Computação, Ensino de Programação, Neuropedagogia Computacional e Linguística aplicada. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3338965476113146

Claudia Lage Rebello da Motta

Possui graduação em Informática (UFRJ- 1984), mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação (UFRJ – 1989) e doutorado em Engenharia de Sistemas e Computação, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1999). É analista de sistemas do Instituto Tércio Pacitti da Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz parte do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Informática (PPGI/UFRJ). Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Informática Aplicada à Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: Ambientes Educacionais Cooperativos, Inteligência Coletiva e Neuropedagogia Computacional . Lattes: http://lattes.cnpq.br/0774464575739440

Emanuelle Marques Pereira Simas

Graduação em Fonoaudiologia e pesquisa com ênfase em desenvolvimento da linguagem, fonoaudiologia educacional, neuropsicologia e desenvolvimento computacional. Atua, principalmente, nos seguintes temas: Epistemologia, linguística, comunicação, cognição, lógica e computação. Estudante de iniciação científica trabalhou, inicialmente, na pesquisa e desenvolvimento de soluções com foco no atendimento de indivíduos estudantes de escolas públicas de áreas conflagradas do Rio de Janeiro. Atualmente trabalha com estudo e sistematização do método e construção de materiais para fins de diagnóstico e intervenção dos desvios da aquisição do código de escrita. Em articulação com a iniciação científica, pesquisa a construção de um modelo computacional, aplicável em plataforma EAD e Game, Inteligente que permita o rastreio de processos pertinentes ao encontro de competências-alvo na amostra e grupo controle. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8649550477370940

Marilia Campos Galvão

Mestranda em Informática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, possui graduação sanduíche em Industrial Design – Arizona State University (2014) e graduação em Bacharelado em Design- Habilitação em Projeto do Produto pela Universidade do Estado do Pará (2016). Atualmente é designer voluntária na Associação Brasileira de Problemas de Aprendizagem. Tem experiência na área de Design, com ênfase em produtos, atuando principalmente nos seguintes temas: UX design, ergodesign, educação e design gráfico. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3183878890256714

Leniah Lima Teixeira

Estudante de graduação em Fonoaudiologia (UFRJ). Tem experiência na área de Fonoaudiologia educacional no âmbito computacional. Atualmente estuda neuropedagogia e informática, programação em Python, games inteligentes e Fonoaudiologia computacional para o desenvolvimento de funções executivas, lógica computacional e letramento digital. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4900341625656494

 

Isabel Hortencia Garnica Perez Barros

Mestra em Informática (PPGI-UFRJ) na área de informática Educação e Sociedade. Graduou-se em Informática na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-2017) e Desenho Industrial(1992). É Articuladora e Mediadora do Curso de Tecnologia em Sistemas de Computação CEDERJ/UAB- UFF. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em informática aplicada na educação e educação a distância. Trabalha atualmente estudando a Neuropedagogia e informática, bilinguismo computacional, linguística computacional, linguística, pensamento computacional e programação Python. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2327365626384469

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