O Cordel da Esse-Bê-Cê
Nesta matéria, o autor apresenta elementos-chave da Sociedade Brasileira de Computação, caracterizando-a por meio de elementos lúdicos e poéticos caros à linguagem do gênero cordel. Recomendamos a leitura!
Texto: Guilherme Esmeraldo
Revisão: Robson Gonçalves Fechine Feitosa
Paulo Ernesto Arrais do Nascimento
Apresentação
A Sociedade Brasileira de Computação (SBC) é uma das maiores sociedades científicas do mundo. No cenário atual, em que o domínio das tecnologias se torna fundamental para a evolução do conhecimento e, consequentemente, para o desenvolvimento socioeconômico global, a SBC assume a responsabilidade de fomentar, promover e solidificar a pesquisa científica, a educação e o desenvolvimento tecnológico na área de Computação.
Porém, apesar de ser uma organização brasileira, muitas pessoas desconhecem sua existência e as ações que a SBC vem desenvolvendo ao longo de décadas. Esta matéria traz uma homenagem à SBC, intitulada “Cordel da Esse-Bê-Cê”, originalmente publicada sob forma de cordel, em julho de 2022.
O texto apresenta a SBC e suas especificidades através de gênero literário-cultural típico do nordeste brasileiro, o cordel, de maneira poética e bem humorada.
Convido-os a ler o “Cordel da Esse-Bê-Cê” e espero que apreciem a leitura… E, se gostarem, compartilhem entre os pares! Vamos difundir a nossa cultura e a SBC!
Cordel da SBC
Olá, amigo leitor Em versos para você Direi um pouco o que é Essa tal de “Esse-Bê-Cê” Sociedade científica Que de tão magnífica Vale dizer o porquê. Surgiu em setenta e oito “Amontoa” professores, estudantes, “enxeridos”, E até espectadores, Profissionais de mercado, Que são os “cabra danado” E mestres pesquisadores. Lá promove e fomenta Cultura e informação Incentiva a todos nós A exercer inclusão Contribui para a pesquisa Sem intenção lucrativa Usando a computação. A “Esse-Bê-Cê” faz parte De um “mói” de instituições Com várias sociedades Mantendo cooperações Com a IEEE e ACM Aqui se tem um leme Pra tratar tantas questões. Mas a coisa não é mole Tem uma organização Por isso sua estrutura Sofreu uma divisão Em cima tem Presidente Que trabalha contundente Pra ter representação. Tem o Vice, Diretores, “Juntas” Institucionais Estes são as autarquias Pros trabalhos principais Mas não se pode esquecer Que quem faz acontecer: Comissões Especiais. Tem muita gente bacana Atuando em comissão O primeiro grupo delas Envolve computação Nos Sistemas, segurança No hardware não tem “lambança” Nem em redes de transmissão. No outro tem o Software, “Línguas” de programação Existe a engenharia Formalismos em porção Quem gosta de programar Aqui vai se deleitar Pois esse ramo é paixão. Técnicas e Tecnologias Tudo é bem natural Biologia e música, “Juízo” artificial Jogos e entretenimento Para o seu contentamento Com a vida virtual. Tem mais dois agrupamentos Aplicações e Gestão Envolvem diversas áreas Saúde e educação Também tem bancos de dados Todos estão convidados Pra dar contribuição. “Esse-Bê-Cê” ainda tem Em todas as regiões Secretarias, secretários Com muitas obrigações Pra descentrar os serviços E evitar os “rebuliços” Que dá nas populações. Cada instituição Deve ter representante O distinto “Erre-i” Se articula atuante Seu papel é difundir Com os pares discutir O que for mais importante. Junto com o “Erre-i” Há também o “Erre-é” Estudante engajado Que devemos botar fé Chama os colegas de curso Discutindo os percursos Pra tudo ficar de pé. A “Esse-Bê-Cê” atua Nestes quatro segmentos No Ensino e Pesquisa Os primeiros elementos Política e Sociedade Mais duas necessidades Que merecem engajamento. No ensino, os trabalhos Dão muitas publicações Tem muitos livros didáticos Que juntos são coleções Instruções curriculares São os maiores pilares Pra criar graduações. Falando sobre seus cursos Ciência da Computação Tem duas Engenharias Sistemas de Informação Licenciatura que é dura Precisa desenvoltura Força, fé, convicção! Ainda sobre estudo Lembrei da competição Maratona é um evento Que tem na programação Nela oportunidade De mostrar capacidade E encontrar solução. A Pesquisa é uma área De grande aplicação Tem eventos científicos E com qualificação O Poscomp é uma prova Cujo processo inova Pra subir a formação. Os eventos científicos Que no meio têm valor Quando aprovam artigo Sobe logo um calor Dá um baita desespero Quem sabe um destempero E na vista falta cor. Publicar em periódico Sonho de orientador Trabalho quando é bom Tem beleza, tem primor Tu vira filho do chefe Para de levar “tabefe” E passa qualquer rancor. “Esse-Bê-Cê” tem congresso No Brasil é grandioso Tem perto de trinta eventos Palestrante estudioso Não dá pra ficar cansado Tu fica muito “lesado” Com Coffee-break gostoso. Já nos âmbitos da Política Ao Governo se estendem Pro avanço da ciência, Tecnologias ascendem, Atuam os profissionais Nos programas federais Que aqui muito nos atendem. Em defesa dos direitos São muitas as discussões Com Ministro da CTI Diversas interações Tem “peleja” até com o MEC Se der nó, se vai de PEC Que resolve as prestações. Lá em outro segmento Há programas sociais Que através de uma Chancela Se tornam oficiais E está nesse trajeto Um belo de um projeto As Meninas Digitais. Há outros programas mais Que ajudam a sociedade Atuam em várias frentes Como acessibilidade Difundir conhecimento Promover o letramento E sustentabilidade. Nessa tal de “Esse-Bê-Cê” Tudo é bem organizado Tem conjunto de programas Bastante customizado É a Central de Sistemas Que resolve os problemas Do básico ao elevado. Essa Central de Sistemas Tem muitas utilidades Usa JEMS pra enviar Trabalhos das faculdades Na ECOS faz inscrição Além da divulgação De várias atividades. Tem ainda outros sistemas Mas é melhor conferir De uma coisa eu sei bem Cuidarei de resumir “Esse-Bê-Cê” é esperta Nunca foi “torneira aberta” Nós devemos aplaudir. Não podemos esquecer Por falar na evolução Do apoio às startups Com Selo de Inovação Pra você “cabra danado” Com projeto “arretado” Pensado na formação. O Selo é um concurso Que foca na exposição Onde os melhores projetos Recebem premiação Participam os mestrandos, Estudantes doutorandos Também de graduação. Então é isso, “cabra bom”, O que eu tinha pra dizer Descobriu como é grande Essa tal de “Esse-Bê-Cê”? Então não fique parado Torne logo associado Pra você também crescer. O futuro nos espera Vamos dar as nossas mãos Nestas rimas tão esmeras De quem deu uma lição Essa turma é de primeira Sociedade brasileira Que orgulha nossa nação.
Sobre a literatura de cordel
A literatura de cordel surgiu na Europa, no século XII, e foi trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses. O cordel se tornou popular, tanto na Europa quanto no Brasil, porque era publicado em formato de folhetos com brochura, com baixo custo de confecção e de comercialização, expostos em cordões (daí, o nome “Cordel”) e vendidos em mercados ou em feiras livres (DE SOUZA; PASSOS, 2018).
Com a chegada ao Brasil, durante o período colonial, o cordel se estabeleceu inicialmente em Salvador-BA e, posteriormente, foi difundido entre os demais estados do Nordeste (DE SOUZA; PASSOS, 2018). Ele se tornou rapidamente um símbolo de resistência frente aos processos de colonização e escravidão, sofrendo, assim, influência das etnias indígena e africana; considerando suas situações sociocomunicativas, tinha apelo à oralidade. Posteriormente, ainda fazendo o uso da tradição oral e eloquente, bem como da chegada da tipografia no Brasil, o cordel se popularizou ainda mais (DE SOUZA; DE MORAES LIMA; PENHA, 2017). Assim, surgiram os cantadores e repentistas, os poetas populares, os próprios cordelistas, entre outros, que deram “[..] toda uma roupagem rica, maravilhosa e diversificada no Nordeste brasileiro [..]” (MENESES, 2019, p. 229).
Ainda nos dias de hoje, o Cordel preserva suas características originais: é distribuído em folhetos impressos e de baixo custo; seu texto é disposto em estrofes, que possuem versos com rimas e métrica regular e possuem forte apelo à sonoridade (ou musicalidade); e seu conteúdo aborda temas regionais, tais como cultura e tradições, religiosidade, folclore e superstições, personagens populares, fatos do cotidiano, problemáticas sociais, entre outros (LIMA, 2013). Por sua importância histórica, cultural, comunitária e pedagógica, fatores que atuam conjuntamente para a preservação de identidades locais, tradições regionais e gênero literário, o cordel se tornou, em 2018, Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro
(MENESES, 2019).
Referências
DE SOUZA, M. das D. M.; DE MORAES LIMA, C. M. B.; PENHA, G. M. de L. B. A Literatura de Cordel e suas Contribuições para o Ensino da Leitura na Sala de Aula. Trops: Comunicação, Sociedade e Cultura, v. 6, n. 2, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufac.br/index.php/tropos/article/view/1221. Acesso em: 01 ago. 2022.
DE SOUZA, L. R. dos S.; PASSOS, V. de O. A. Literatura De Cordel: Um recurso pedagógico. Revista Rios, v. 12, n. 17, 2018. pp. 75-90. Disponível em: https://www.publicacoes.unirios.edu.br/index.php/revistarios/article/view/340. Acesso em: 01 ago. 2022.
LIMA, S. T. Os PCN e as potencialidades didático-pedagógicas do cordel. Acta Scientiarum. Education, v. 35, n. 1, 2013. pp. 133-139. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciEduc/article/view/16750. Acesso em: 01 ago. 2022.
MENESES, U. T. A literatura de cordel como patrimônio cultural. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 72, 2019. pp. 225-244. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/157058. Acesso em 01 ago. 2022.
Sobre o autor
Guilherme Esmeraldo é doutor com estágio pós-doutoral em Ciência da Computação, professor do Instituto Federal do Ceará campus Crato, autor do livro Fundamentos e Práticas em Arquitetura e Organização de Computadores (2021) e coordenador do projeto CompSim – The Computer Simulator. Realiza pesquisas em Engenharia da Computação, Educação em Computação, Inteligência Artificial e Estatística Computacional. Nas horas vagas, se dedica à família, artes plásticas, poesia e jiu-jítsu.
Como citar este artigo
ESMERALDO, Guilherme. O cordel da Esse-Bê-Cê. SBC Horizontes, ago. 2022. ISSN 2175-9235. Disponível em: <http://horizontes.sbc.org.br/index.php/2022/08/o-cordel-da-esse-be-ce/>. Acesso em: DD mês. AAAA.