Quarta matéria: motivação para que um evento ocorra em determinado local
Por Luiz Paulo Carvalho e Deógenes Silva Junior
Retornando à nossa viagem pelos eventos científicos brasileiros de Computação, passamos pelas localizações individuais, depois para as análises de localizações coletivas ou agregadas por Unidades Federativas (UF). E chegamos em uma das questões mais polêmicas e intrigantes dos eventos: o que faz um evento ser em determinado local (UF)? O que acontece se cruzarmos os dados, entre localizações e eventos? Assim chegamos à análise primária desta matéria— a justificativa moral por trás das localizações geográficas dos eventos.
Há um enorme significado moral em torno dos eventos científicos computacionais. Prestaremos atenção às localizações geográficas e à dinâmica prática em torno delas. Um evento é realizado em uma localização geográfica específica porque existe uma dinâmica particular em torno dele, que envolve uma perspectiva ética. Por exemplo, a razão para um evento ser realizado em MG não é “naturalmente ou por destino”. Como afirmado anteriormente, uma justificação natural ou de entropia está fora da justificação moral.
Portanto, estruturamos uma série de possíveis dados objetivos que poderiam ser justificativas ou motivações (componentes do ato moral) para a escolha geográfica. Reiterando o caráter interpretativo desta contribuição, escapamos de uma “imposição da verdade” para refletir sobre uma reflexão ética complexa, multifacetada e com significativo grau de subjetividade.
As categorias de informação são:
- (i) população (Tabela A);
- (ii) PIB (Tabela B);
- (iii) IES, considerando a quantidade única de Instituição de Ensino Superior (IES) em cada estado que oferecem cursos de informática (Tabela C);
- (iv) IES Pública, bem como o item (iii), considerando apenas a categoria pública (Tabela D);
- (v) Cursos Presenciais, todos os cursos de todas as IES, considerando apenas a modalidade presencial (Tabela E);
- (vi) Cursos de Informática, todos os cursos de informática de todas as IES (Tabela F);
- (vii) Cursos de Pós-Graduação (PG) em Computação (Tabela G);
- e (viii) Instituições com Pós-Graduação em Computação (Tabela H). Lembrando que uma instituição pode ter vários cursos de PG em Computação.
As tabelas estão localizadas ao final deste texto, com observações pertinentes abaixo de cada uma delas.
Estruturamos as informações secundárias como códigos de cores. Cada categoria de informação tem sua quantidade absoluta, proporção comparativa regional e proporção comparativa nacional. A âncora de análise é a quantidade de eventos no respectivo estado ou região. Os parâmetros variáveis são as categorias de informação selecionadas. Quando há vantagem comparada à âncora de análise, a cor tende a ser azul; quando há desvantagem, a cor tende a ser vermelha. Quanto mais forte for o tom de azul ou vermelho, maior será a discrepância. Considerando o alcance das comparações, consideramos que a variação regional é maior, e a variação nacional é menor. Portanto, a variação de cores para regional é de 10% e nacional é de 5%.
Para ilustrar melhor, detalhamos alguns comportamentos dos dados. Como o código de cores expõe comparações, nos deteremos apenas em comparações específicas baseadas em quantidades:
- Os eventos que ocorrem no Centro-Oeste (8,18%) são quase iguais à sua população (7,83%), portanto sua cor é quase branca.
- O RN leva vantagem em todas as comparações, ou seja, independente do parâmetro de comparação, o número de eventos foi maior.
- O comportamento dos dados no MA é o inverso do RN, todos em desvantagem.
- O MT apresenta desvantagem em todos os parâmetros, exceto aqueles relacionados ao PIB.
- Em alguns estados, os resultados regionais e nacionais podem diferir entre vantagem ou desvantagem, por exemplo, a população do PR, devido à proporção regional, está bastante desfavorecida; nacionalmente, com uma ligeira vantagem.
Algumas análises gerais são relevantes, considerando o contexto brasileiro. Há uma percepção cultural implícita de que “SP é o foco e o centro do Brasil” em vários aspectos, incluindo eventos científicos computacionais. SP lidera os números absolutos isolados. Porém, se compararmos os dados de SP com outros parâmetros proporcionais, regionais ou nacionais, o estado acaba ficando em desvantagem na maioria deles. Além das IES e das IES Públicas, os demais parâmetros indicam que SP deverá realizar muito mais eventos, o que desafia o senso comum.
Algumas regiões apresentam discrepâncias significativas. No GO e DF, há uma curta distância entre a capital de GO, Goiânia, e o DF. Portanto, este elemento geográfico de proximidade com a capital DF pode influenciar os resultados.
Analisando os comparativos, a região mais vantajosa é a Nordeste. À primeira vista, econômica e politicamente, pode parecer que a região mais vantajosa é o Sudeste. Os dados mostram que, tendo em conta os valores de referência, o Nordeste tem uma vantagem em ambas as regiões (regional e nacional). Por outro lado, alguns estados desta região estão em desvantagem significativa, especialmente PI e MA.
Analisando os dados comparativos nas tabelas abaixo e buscando uma aproximação entre os parâmetros regionais e os eventos, o que mais se aproxima são os quantitativos de PG por região. Isto é, o que mais se enquadra na explicação deste fenômeno.
Nenhuma destas oito categorias de informação é certa ou errada, boa ou ruim; na verdade. Por exemplo, a quantidade de eventos está muito discrepante da população da região, para mais ou para menos. São apenas parâmetros tradicionais e rotineiros associados a esta discussão: “por que os eventos são realizados em determinados estados?” que configuram um dilema ético e uma escolha política, ou seja, uma ética pública e coletiva. Tanto para onde foram, para onde vão, mas principalmente onde estarão.
Se quisermos analisar quais parâmetros podem ter levado à escolha da localização dos eventos, os cursos de PG são um parâmetro próximo. Isto é, locais onde figuram cursos de PG também apresentam eventos científicos em computação. E mesmo que para certas localidades haja discrepância, é a maior aproximação entre onde ocorreram eventos X categoria de informação comparativa.
Alguns estados, como SP, apresentam grandes discrepâncias (quase absurdas) em parâmetros específicos, como Produto Interno Bruto (PIB). AL é o que apresenta maior proximidade quantitativa com a âncora de análise — quantidade de eventos — em todos os parâmetros. Portanto, se o determinante for os cursos de PG, alguns estados estão em vantagem, como RJ, e outros em desvantagem, como SP. Em outra comparação, se determinante for a população, por exemplo, também teríamos a mesma condição de vantagens e desvantagens em relação a alguns estados/regiões.
Quanto mais completas as evidências, os dados e as informações sobre os possíveis parâmetros para a ocorrência de eventos, mais complexas as qualidades e propriedades que complicam proporcionalmente a tomada de decisões éticas sobre o local de ocorrência de um evento. Por exemplo, certo local deve ser priorizado porque é mais rico (tem maior PIB) ou maior população ou mais Instituições de Ensino Superiores? O preceito da ética define que uma decisão, mesmo coletiva, de calibre tão significativo e vital como a escolha dos locais dos eventos necessita de racionalidade. Além disso, seja racional quanto às suas consequências, especialmente no que diz respeito à justificação dialética.
Aqui vamos dar uma pequena pausa para tratar das justificações. Eticamente, nossas tomadas de decisão, e suas valorações respectivas, são guiadas por justificações, mesmo que inconscientes ou implícitas. E o mesmo vale para decisões coletivas, como nas escolhas dos locais onde são realizados eventos. Vásquez (2018) lista cinco critérios fundamentais de justificação das normas morais:
“I. A Justificação Social – Na medida em que a moral desempenha a função social de garantir o comportamento dos indivíduos de uma comunidade numa determinada direção, toda norma corresponde a interesses e necessidades sociais. […] Em conclusão, numa comunidade em que se verifica a necessidade x ou o interesse y, justifica-se a norma que exige o comportamento adequado.
II. A Justificação Prática – Toda norma implica uma exigência de realização; por isto, é o guia de uma ação, já que com ela se pretende regular o comportamento dos indivíduos ou de um grupo social de acordo com os interesses da comunidade. […] Logo, numa determinada comunidade na qual se verificam as condições necessárias, justifica-se a norma que corresponde a tais condições.
III. A Justificação Lógica – As normas não existem isoladas, mas formam parte de um conjunto articulado ou sistema, que constituem o que se chama de “código moral” da comunidade. […] Assim, portanto, uma norma se justifica logicamente se demonstra a sua coerência e não contraditoriedade com respeito às demais normas do código moral do qual faz parte.
IV. A Justificação Científica – Uma norma se justifica cientificamente quando não só se adapta à lógica, mas também aos conhecimentos científicos já estabelecidos, ou é compatível com leis científicas conhecidas (Bunge). […] Conclui-se que, dado o nível de conhecimento alcançado pela sociedade, uma norma moral se justifica cientificamente somente se for baseada nesses conhecimentos ou compatível com os mesmos.
V. A Justificação Dialética – Um código moral, com as normas que o integram, é um produto humano e, como tal, forma parte do processo prático histórico da humanidade, que abrange também um processo histórico moral. Dado que a história da moral tem um significado ascensional […], uma norma ou um código moral se justificam pelo lugar que ocupam dentro deste movimento progressivo. […] Logo, uma norma moral se justifica dialeticamente quando contém aspectos ou elementos que, no processo de ascensional moral, se integram em um novo nível numa moral superior.” (Vásquez, 2018, p. 253)
A seleção de um local geográfico para a realização de um evento exige justificação moral. Mesmo que haja um argumento de que a base é uma suposta “justificativa técnica”, a justificação moral persiste. Além disso, na justificação moral, há espaço e necessidade para tal “justificação técnica” quando se trata de justificação lógica e científica.
Pela justificação social um evento seguirá sua comunidade onde a disposição social estiver presente, ou seja, no que diz respeito à confiança, aceitação, debate e aprovação. No que diz respeito à confiança, o ato moral entra em jogo no que diz respeito à responsabilidade. Quando um coletivo aceita realizar um evento, ele assume a responsabilidade e há uma negociação de confiança através da justificativa social. Por exemplo, a nossa primeira matéria surgiu o episódio onde se debatia se realizar um evento em tal lugar resultaria em um quórum satisfatório, esta é uma justificação social. Nesta conjectura prévia, o evento seria socialmente prejudicado.
Pela justificação prática, suponhamos que não haja infraestrutura, meios de transporte, conhecimento prático mínimo de organização, recursos financeiros para realização e disposição da comunidade para ir até o local. A localização geográfica e infra-estruturas devem ter capacidade prática para sediar aquele evento e capacidade prática dos organizadores para organizar, entre outros. Nesse caso, é complexo justificar a escolha na prática.
A justificação lógica é bastante intuitiva para comunidades de computação. Mesmo assim, pode ser “manobrado”. Excede a lógica quando um evento decide não fazer duas edições seguidas no mesmo estado (mesmo em locais diferentes). Ilógico, por exemplo, seria realizar um evento brasileiro fora do Brasil. Entretanto, isso já aconteceu e é recorrente. Ou seja, o evento perde a imanência brasileira, como é o caso do SBAC-PAD. Este, por sua vez, repaginou sua identidade visando a internacionalização, embora ainda mantenha o acrônimo inicial que é derivado da Língua Portuguesa (Simpósio Brasileiro de Arquitetura de Computadores e Processamento de Alto Desempenho).
É difícil para um evento, ou grupo de eventos, seguir uma justificativa ilógica – principalmente porque são eventos organizados e pensados por membros de comunidades firmemente ancoradas no domínio da lógica e da computação.
“É ilógico, então está errado”. Para justificação moral, não. Isto considerando que a justificação moral apresenta outras justificações, não apenas a lógica. E que isolada e restrita a dados limitados, se torna simplória.
É ilógico considerar que “eventos brasileiros” que são anunciados como brasileiros; envolver os brasileiros; apresentar uma trajetória intermediada, apoiada e fortalecida pelos brasileiros; são do Brasil, de origem brasileira; são organizados principalmente por brasileiros e acontecem fora do Brasil.
Considerando a simetria, quantos eventos na Europa ou nos EUA são realizados no Brasil, periódica ou constantemente? Este fenômeno escapa à lógica. Mesmo assim, está longe de ser considerado imoral apenas com base neste aspecto. Mesmo se considerarmos eventos autoproclamados internacionais, qual a frequência de ocorrência no Brasil ou na América Latina?
Poderíamos deliberar sobre conflitos lógicos se existissem normas institucionais, coletivas ou legais sobre este assunto. Por exemplo, um evento brasileiro de informática não será realizado em uma reserva indígena isolada ou em uma caverna brasileira. A ética, quando foge ao domínio filosófico especulativo, rejeita tais absurdos. Podemos perceber outros problemas lógicos indiretamente relacionados à localização geográfica, como a escolha dos locais para sediar o evento.
Por exemplo, suponhamos que a comunidade tenha recursos financeiros limitados e pouco potencial para aumentar o montante atual. Nesse caso, não será realizado um evento em um resort paradisíaco ou hotel de luxo, por exemplo, no Copacabana Palace.
Além disso, é imperativo reiterar que se a comunidade tiver recursos financeiros suficientes para sediar um evento no Copacabana Palace e decidir coletivamente fazê-lo, esta escolha não será ilógica. A justificativa lógica pura e isolada abrange esta decisão. O problema desta escolha reside na justificação científica e dialética.
Neste ponto, chegamos às tais. As duas justificativas críticas, a científica e a dialética.
Os eventos computacionais acadêmico-científicos são eventos culturais. Como percebemos neste texto, posicionamos estes como objetos de produção cultural. Sobre sistemas culturais complexos e contemporâneos, Rubim (2005, p. 16) reforça as atividades e ações essenciais para a sua existência e desenvolvimento:
“[…] as seguintes práticas sociais: 1. Criação, inovação e invenção; 2. Transmissão e divulgação; 3. Preservação e manutenção; 4. Administração e gestão; 5. Organização; 6. Crítica, reflexão, estudo, pesquisa e investigação, e 7. Recepção e consumo. Todos estes momentos do sistema cultural devem ser diferenciados, diagnosticados, analisados e articulados em políticas culturais que compreendam o sistema na sua totalidade articulada, desigual e combinada e formulem propostas para cada um destes momentos e para o sistema cultural como um todo. As políticas culturais emergem, nesta perspectiva, como um conjunto de formulações e práticas que procuram pensar e implementar o sistema cultural como uma totalidade articulada.
[…]
Os pequenos eventos culturais também exigem o recurso à organização. Podemos dar apenas um exemplo próximo de realização de um mero seminário acadêmico sem que isso implique um esforço organizacional?
[…]
Esta atividade cultural procura, desta forma, – através da ativação de diversos recursos: financeiros, materiais, técnicos, tecnológicos, humanos, etc. – viabilizar e dar concretude a produtos e acontecimentos resultantes dos processos de imaginação e invenção desenvolvida por criadores culturais.”
A produção cultural de um evento acadêmico-científico envolve diversas práticas sociais associadas às áreas do conhecimento. Os seus respectivos corpos de conhecimento apoiam uma justificação científica. Por exemplo, ciências de gestão, administrativas ou organizacionais. Nas boas práticas e bases acadêmico-científicas destas áreas estão os conhecimentos necessários para aprimorar os simpósios. É possível estudá-los e analisá-los do ponto de vista da gestão de processos de negócios. Suponha que haja um alto grau de estruturação, repetição e rotina (que, por sua vez, forma um hábito) com alguma variação previsível. A disciplina de gestão de processos de negócios traria benefícios acadêmico-científicos aos eventos?
No que diz respeito à justificação dialética a questão central é: “como pode a organização de um simpósio mudar concretamente a realidade através de um ou uma série de eventos acadêmico-científicos?”
Deixemos o aspecto da geolocalização de lado por um momento para discutir exemplos de boas práticas de eventos para a mudança da realidade brasileira. O IHC 2022, por exemplo, determinou isenção de matrícula para pessoas com deficiência; diversos eventos têm preços diferenciados (mais baixos) para profissionais da educação básica; eventos que diluam o preço de publicação na inscrição para amortecer o ônus financeiro dos autores; ou o WebMedia 2022, que ofereceu auxílio estudantil (auxílio para despesas). Quando estes eventos promovem estas práticas, demonstram intenção dialética.
De maneira muito simplificada, a intenção dialética é a busca por um norte moralmente diferente do estado atual das coisas, onde forças interagem por um objetivo transformativo significativo e concreto, certas vezes entre partes conflitantes ou que buscam complementação. Por exemplo, isentar as pessoas com deficiência é conflitante com a receita do evento para seus custos e despesas, entretanto visa inclusão plural de uma parcela comumente marginalizada da sociedade. Essas iniciativas consideram a realidade socioeconômica do país e, por meio dessas ações, promovem maior acesso aos eventos, e por consequência, ao conhecimento produzido no país. Entretanto, as ações são pontuais e isoladas em edições específicas de simpósios, sem relações institucionais, sistemáticas ou estruturais.
A imparcialidade (visão de neutralidade, sem se comprometer com valores), a passividade e a indiferença de alguns quanto ao seu potencial e agência para influenciar a realidade e promover o avanço moral e a sustentabilidade científica brasileira é preocupante.
As mulheres são estruturalmente discriminadas na computação brasileira, e uma forma de melhorar esse cenário é envolver e engajar as mulheres. Uma proposta hipotética seria oferecer cotas para mulheres ou valores reduzidos de matrícula, ainda que orientados para dados demográficos específicos, por exemplo, estudantes do sexo feminino de graduação em computação em situação de vulnerabilidade financeira. Além do WIT e de iniciativas específicas, o que a computação brasileira está implementando em nível sistêmico ou estrutural como justificativa dialética?
Qual é o potencial de impacto ou influência concreta quando as partes interessadas realizam um simpósio numa localização geográfica específica? Por exemplo, a análise acima mostra que o Norte tem desvantagem em todos os parâmetros, isso se reflete no cenário acadêmico-científico? Caso as partes interessadas realizem o BRACIS no AM ou PA, isso impactará ou influenciará positivamente a dinâmica acadêmico-científica da inteligência artificial no Norte? Ou será simplesmente um fardo logístico para pessoas de outras regiões pagarem uma fortuna por viagens para conferências? Os simpósios deveriam ser realizados em locais com potencial além da zona de conforto da comunidade atual e estabelecida?
Há uma dinâmica hierárquica e organizacional entre as entidades envolvidas. Dizendo “eventos realizados pela SBC” existe uma relação de responsabilidade e negociação moral entre os simpósios e a SBC? Além de possíveis encaminhamentos morais, como indexação dos artigos publicados nos simpósios na SBC OpenLib (SOL) ou indicativo de associação com a SBC nas páginas de inscrição de eventos, a SBC também deveria se envolver em outros aspectos? Como indicar localizações geográficas, visando evitar a exclusão de espaços e promover a sustentabilidade científica?
Para concluir, mesmo que os dados de maior correlação sejam entre as geolocalizações e quantidade de cursos de PG em computação na região, este resultado tem sua parcela de previsibilidade e não é por conveniência, é ocasional. Quem concretamente, na prática, materializa os eventos são membros da comunidade. E a comunidade delega a realização de simpósios para membros bem-estabelecidos e socialmente bem avaliados, cabe lembrar que a justificação social é determinante nessa decisão.
Mesmo com a aproximação, alguns locais ainda estão em expressiva desvantagem. Principalmente ao considerarmos aqueles com menos ocorrências, como na região Norte, o que também enfraquece o valor comparativo. Simultaneamente, tentar adequar as localizações a critérios ou dados específicos pode gerar uma profecia auto-realizável, onde se estabelece um status quo e se reforça com o tempo. Neste caso, de fato, ocorre um bairrismo e engessamento. Então entre extremos de caos e ordem, poderia ser pensada uma estratégia com objetivos ou metas?
Tabela A: Comparativo de geolocalização dos eventos por população (2022)
Se compararmos as localizações pela população, PB (NE) é a que mais se aproxima do quantitativo de eventos. Curiosamente, PR (SU) tem uma população muito maior regionalmente, para poucos eventos; entretanto na comparação total, ocorreram mais eventos em comparação. SP (SE) tem os dois comparativos nas piores categorias possíveis de diferença. GO (CO) e DF (CO) apresentam situação inversa, o primeiro com maior população perde em ambas as comparações; e o segundo, com menor população, ganha.
Tabela B: Comparativo de geolocalização dos eventos por Produto Interno Bruto (PIB) (2022)
Comparado com a população, regionalmente NO e CO continuam similares. SP (NE) tem os comparativos ainda piores, i.e., se PIB fosse critério para alocação de evento, SP dominaria esta seleção. A região NE apresenta desvantagem alavancada por SP, pois pelos demais os resultados foram regionalmente positivos. Em âmbito de toda uma região, este critério foi o “menos pior” para o Norte como um todo.
Tabela C: Comparativo de geolocalização dos eventos por Instituição de Ensino Superior (IES) (2022)
Neste critério os resultados da região Norte, exceto AM e PA, são significativamente negativos. Neste critério a região Sudeste teve bom resultado, com maior prejuízo para MG e benefício para o RJ. RS (SU) tem vantagem quantitativa, com menos IES e mais eventos. O que mais se aproxima dos parâmetros é, novamente, PB (NE).
Tabela D: Comparativo de geolocalização dos eventos por IES Pública (2022)
Um dos resultados mais discrepantes ocorre nesta comparação, com a diferença de 40% no DF (CO), com expressivamente mais eventos se comparado regionalmente com a quantidade de IES pública; o inverso de GO (CO). Igualmente, SP (SE) tem um resultado muito positivo em ambas as categorias; o inverso de MG (SE). PR (SU) tem muitas IES públicas para menos eventos realizados lá.
Tabela E: Comparativo de geolocalização dos eventos por cursos presenciais em computação (2022)
O padrão de comportamento dos dados vai se repetindo conforme as comparações, com pequenas variações. Quando há uma variância na região Sudeste, costuma ser conduzida por SP (SE), que enviesa a região, como neste caso que este critério é bastante negativo para ele.
Tabela F: Comparativo de geolocalização dos eventos por cursos de computação (no geral) (2022)
Nota-se que MG (SE) é prejudicada nas comparações relacionadas a instituições e seus quantitativos, com uma quantidade expressiva desses elementos e correlatos.
Tabela G: Comparativo de geolocalização dos eventos por cursos de Pós-graduação (2022)
Após os demais critérios, o MS (CO) apresentou desvantagem neste. Na região Norte há uma mudança no comportamento dos dados, considerando o curso de PG do Acre (NO), até este momento sem nenhuma expressividade. MT (CO), por outro lado, teve seu resultado positivo, mesmo sem curso de PG sediou 7,5% dos eventos na região. Este foi o critério mais próximo de uma validação com a realidade, através dos dados. Lembrando que isso não é bom ou ruim, mesmo que alguns dados sejam inicialmente estranhos de se ver.
Tabela H: Comparativo de geolocalização dos eventos por instituição com Pós-graduação (2022)
Chegando nesta comparação final, percebemos que RJ (SE), DF (CO) e RN (NE) apresentaram vantagem em todos os critérios de comparação. Enquanto a maioria da região Norte, exceto AM e PA, apresentaram resultados categoricamente negativos. Fora deste eixo, MA (NE), PI (NE) e PR (SU) estiveram em desvantagem em todos os critérios, sendo o último um resultado inusitado. SP (SE) que se esperava dominar todas as análises, terminou como a localidade mais prejudicada pelos seus dados, figurando entre os maiores em diversos momentos, e mesmo assim em desvantagem comparativa.
Referências
Lakatos, E. M. and Marconi, M. (2019). Sociologia Geral. Atlas, 8th edition.
Casali, G. L., & Perano, M. (2021). Forty years of research on factors influencing ethical decision making: Establishing a future research agenda. Journal of Business Research, 132, 614-630.
Ferraz, C. A. (2014). Ética Elementos Básicos. NEPFIL online, Pelotas, RS.
Vázquez, A. S. (2018). Ética. Civilização Brasileira, 39th edition
Rubim, L. S. O. (2005). Organização e produção da cultura. EDUFBA.
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Autores
Luiz Paulo Carvalho. Professor substituto no IC/UFRJ. Bacharel em Sistemas de Informação (SI) pela UNIRIO. Mestre em Informática, com ênfase em SI, pelo PPGI/UNIRIO. Doutorando em Informática pelo PPGI/UFRJ, integrante do Laboratório CORES. Bolsista e pesquisador CAPES. Tópicos de interesse são, não limitados a, Ética Computacional, Discriminação e opressão social em SI, Transparência de SI, Modelagem e qualidade de processos de negócios, Privacidade e proteção de dados, CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade).
Deógenes Silva Junior. Bacharel em Ciência da Computação pela UFMT. Mestre em Informática pela UFPR. Doutorando em Ciência da Computação na UFPR, laboratório IHC-IE, colaborando com pesquisas em Interação Humano Computador, Design Socialmente Consciente, Jogos e Informática na Educação. Tem interesse em design de tecnologias de forma participativa e socialmente consciente, Computação Ubíqua e Socioenativa, Fenomenologia, Informática na Educação, Acessibilidade, Privacidade, Cultura e Valores Humanos em Sistemas de Informação. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0758437549881898
Como citar este artigo
Carvalho, Luiz Paulo; Silva Junior, Deógenes Pereira da. Quarta matéria: motivação para que um evento ocorra em determinado local. SBC Horizontes, março. 2024. ISSN 2175-9235. Disponível em: http://horizontes.sbc.org.br/. Acesso em: DD mês. AAAA.