Que tal uma viagem pelo universo?
Por Rafael Francisco dos Santos
Quem não gostaria de fazer uma viagem pelo universo? E se eu lhe disser que é possível e sem gastar nenhum tostão? Mas já deixo uma dica, não se esqueça de levar a sua toalha. O livro que indico para leitura é o “Guia do Mochileiro das Galáxias” (ADAMS, 2009) que é um dos grandes clássicos da ficção científica. O livro conta a história de Arthur Dent e seu amigo Ford Prefect que, ao descobrir que a terra vai ser destruída para a construção de uma via espacial, revela a Arthur que é um alienígena e o chama para fugir da Terra de carona. Nesse momento eles iniciam uma aventura pela galáxia onde encontram uma humana Tricia McMillan, o presidente da galáxia Zaphod Beeblebrox, o robô depressivo Marvin e muita tecnologia avançada como, espaçonaves, supercomputadores e o gerador de improbabilidade infinita.
Além de ser um livro bem divertido, ele conta uma história interessante que envolve a computação. Cuidado… Spoiler a seguir.
“Uma espécie hiperinteligente quis tentar encontrar a resposta para a vida, o universo e tudo mais, para isso, eles construíram o maior supercomputador do universo chamado Pensador Profundo.”
Ao fazerem a pergunta sobre “a resposta para a vida, o universo e tudo mais” para o Pensador Profundo, ele disse que teria uma resposta simples, mas que precisaria pensar e que demoraria sete milhões e quinhentos mil anos. Após passar o tempo indicado pelo Pensador Profundo, os descendentes dos seres que construíram o supercomputador foram ouvir a resposta que foi o número 42. Perplexos com a resposta, os descendentes indagaram ao Pensador Profundo que afirmou que o problema é que eles jamais souberam qual é a pergunta e que só iriam compreender a resposta quando soubessem exatamente a pergunta. Questionado se poderia dizer qual é a pergunta, o Pensador Profundo informou que não, mas que poderia projetar para eles um computador mais poderoso que teria esta capacidade. Um computador de tamanha complexidade sutil e infinita que a própria vida orgânica faria parte de sua matriz operacional e que se chamaria “Terra”.
A frase “a resposta para a vida, o universo e tudo mais” ficou tão famosa que um dos easter eggs do Google pode ser visto ao digitar a pergunta no buscador, onde ele retorna uma calculadora com a resposta 42.
Mas falando de computação, a evolução nos últimos anos tem nos aproximado dos filmes de ficção cientifica, onde as tecnologias que pareciam distantes já fazem parte do nosso dia-dia. Robôs, carros autônomos, drones, aparelhos de realidade virtual, impressoras 3D, computadores quânticos já fazem parte da nossa realidade, isso sem falar na evolução dos softwares de inteligência artificial que já utilizamos no dia-dia como, reconhecimento facial, reconhecedores de voz, assistentes virtuais e sistemas de decisões baseados em grandes quantidades de dados. Mas, apesar das grandes evoluções da computação, tem problemas que o computador nunca resolverá. Não falo de problemas difíceis com alta complexidade como os problemas NP-completos que podem demorar séculos para serem resolvidos. Será que a “a resposta para a vida, o universo e tudo mais” pertence a esta classe? Mas falo de problemas que não são computáveis, como o famoso problema da parada. Interessante é que o autor do livro toca neste ponto de forma bem sutil quando o Pensador Profundo diz que irá projetar um computador onde a própria vida orgânica será parte da sua matriz operacional.
“Realmente existem muitas tarefas que podem ser realizadas utilizando a computação, mas algumas só podem ser tratadas por seres vivos, como os humanos, e neste ponto que o autor coloca a Terra como um computador que seria capaz de explicar qual seria realmente a pergunta que nem mesmo o computador mais poderoso do universo poderia.”
Ainda me pergunto se um dia algum computador conseguirá verificar se “a resposta para a vida, o universo e tudo mais” é realmente 42 e se algum ser humano conseguirá nos dizer qual é realmente a pergunta. Boa leitura.
O guia do mochileiro das galáxias (ADAMS, 2009).
Referências
ADAMS, Douglas. O guia do mochileiro das galáxias. Editora Sextante. 2009.
Sobre o autor
Rafael Francisco dos Santos é Professor/Pesquisador na Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) em Itabira – MG, e atua como docente colaborador no Programa de Mestrado em Ciência e Tecnologia da Computação (POSCOMP) da Universidade Federal de Itajubá. Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e graduado em Ciência da Computação pelas Faculdades Integradas de Caratinga. Rafael tem experiência na área de Ciência da Computação com ênfase em Otimização Combinatória, Aprendizado de Máquina e Robótica Móvel.
Como citar esse artigo:
SANTOS, Rafael Francisco dos. Que tal uma viagem pelo universo?. SBC Horizontes. 2020. ISSN: 2175-9235. Disponível em: https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2020/11/que-tal-uma-viagem-pelo-universo/ Acesso em: 1 novembro. 2020.