“Infoquê”? Conhecendo o incompreendido curso de Informática Biomédica
Por Luana Müller
Em 2017, ingressei na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), como Professora Substituta, para lecionar diversas disciplinas relacionadas à informática para saúde, dentre elas, disciplinas para o curso de Informática Biomédica (InfoBio para os íntimos). Minha reação foi a mesma que, talvez, alguns de vocês estejam tendo neste momento: Infoquê? hein?
Apesar de pouco conhecido, o curso já existe no Brasil desde 2002, quando passou a ser ofertado pela Universidade de São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto. Em 2011, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) também passou a ofertar o curso e, em 2015, a UFCSPA se uniu ao time, passando a ser a terceira Universidade no Brasil a formar Informatas Biomédicos, ou Bacharéis em Informática Biomédica.
Confesso que, de imediato, não entendi. Então, quando vi meus alunos saindo das aulas de Estruturas de Dados e indo para as aulas de Anatomia ou de Parasitologia, fiquei ainda mais confusa. Mas, com o passar dos dias, as peças deste quebra-cabeça multidisciplinar foram se encaixando e comecei a compreender o curso e o quão relevante ele é para o futuro.
E, afinal, qual o objetivo do curso de Informática Biomédica?
“O curso de Informática Biomédica tem como objetivo formar profissionais com competências nas áreas de informática em saúde e bioinformática com um perfil crítico-reflexivo e pesquisador, apresentando habilidades interdisciplinares” [1].
Em outras palavras, o curso busca formar profissionais com conhecimentos nas áreas de Ciências de Computação e Ciências Biológicas, de forma que seus egressos sejam capazes de compreender as necessidades e problemas vividos pelos profissionais de saúde e propor soluções tecnológicas para a resolução destes problemas.
Dentre os cursos do Brasil, existem as seguintes áreas de atuação [2]:
- Bioinformática e Medicina Genômica: é uma subárea da Informática Biomédica voltada para o desenvolvimento de ferramentas de análise de grandes volumes de dados de transcriptomas, exomas, genomas completos, e proteomas, para identificação de genes e biomarcadores, análise de redes gênicas, análise de estrutura proteica (modelagem molecular), modelos biológicos, etc;
- Informática em Imagens Médicas: é uma subárea da Informática Biomédica voltada para o estudo e aplicação de processos que envolvam as tecnologias da informação e comunicação para aquisição, manipulação, análise e distribuição de imagens médicas e dados correlacionados. Seu foco de atuação está voltado para a pesquisa, modelagem, desenvolvimento, implantação e manutenção de aplicativos voltados ao apoio à decisão, por meio de técnicas que implementam a obtenção, otimização, tratamento e análise de sinais e imagens médicas contendo informações anatômicas e funcionais;
- Informática em Saúde: é uma subárea da Informática Biomédica voltada para o uso das tecnologias da informação e comunicação no contexto da saúde, abarcando: a) Saúde móvel; b) Telessaúde; c) Registros eletrônicos de saúde; d) Redes sociais; e) Big data; f) Plataformas de ensino em saúde à distância; g) Aspectos legais do uso de tecnologias da informação e comunicação no contexto da saúde; h) Padrões para interoperabilidade entre sistemas de registro eletrônico em saúde, entre outras áreas. Possui área de aplicação bastante ampla, abrangendo a organização, gerenciamento, representação e uso de dados e informações clínicas para apoio ao cuidado da saúde da população nos serviços de atenção primária, secundária e terciária.
- Informática em Biomecânica: é uma subárea da Informática Biomédica voltada para o desenvolvimento de aplicativos, soluções e sistemas aplicados ao corpo humano utilizando técnicas e equipamentos, como o método dos elementos finitos, Matlab, prototipagem, fotoelasticidade e microscopia eletrônica de varredura (OBS: Essa área de atuação hoje encontra-se disponível apenas na USP).
Acredito (e espero) que você ainda deva ter muitas perguntas sobre o curso. Onde o Informata Biomédico pode trabalhar? Como é um mercado de trabalho? É mais “Info” ou mais “Bio”?
Para ajudar a esclarecer tais questões, conversamos com algumas pessoas relacionadas à área. Vamos conhecê-los:
Prof. Dr. Wilson Araújo da Silva Jr. – Coordenador do curso de Informática Biomédica da USP
Geneticista, com experiência em Genética Humana e Médica, atuando principalmente nas áreas de Genética Molecular das doenças monogênicas e complexas, Genética do Câncer, Medicina Genômica e de Precisão. Possui graduação em Biologia, Modalidade Médica, pela Universidade Federal do Pará (1989), com título de mestrado (1993) e doutorado (1999) em Genética pelo Programa de Pós-Graduação do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FMRP/USP), e Pós-Doutorado no Memorial Sloan Kettering Cancer Center em Nova York (USA). Leciona no curso desde 2003.
Prof. Dr. Lucas Ferrari de Oliveira – Coordenador do curso de Informática Biomédica da UFPR
Possui graduação (1998) em Ciência da Computação pela Universidade de Marília (UNIMAR), mestrado em Engenharia Elétrica (2000) pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP), doutorado (2005) em Ciências Médicas (Clínica Médica – Investigação Biomédica) pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Leciona no curso desde 2014.
Prof. Dr. Filipe Santana da Silva – Professor do curso de Informática Biomédica da UFCSPA
Doutor (2016) com estágio sanduíche (Medzinische Universität Graz (Institut für Medizinische Informatik, Statistik und Dokumentation, Graz, Áustria) e mestre (2012) em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Pernambuco/Centro de Informática (CIn/UFPE). Bacharel em Ciências Biológicas com ênfase em Biologia Parasitária (2009) pela Universidade de Pernambuco/Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UPE). Tem experiência como líder de equipe de avaliação em telessaúde e telemedicina (Núcleo de Telessaúde, NUTES/HC/UFPE) e como Gerente de Tecnologia da Informação e Comunicação em da Secretaria Municipal de Saúde do Ipojuca (Pernambuco). Atualmente, desenvolve pesquisas nas seguintes áreas: Informática Biomédica, Representação do Conhecimento, Padrões de Interoperabilidade em Saúde, Sistemas de Registro Eletrônico em Saúde e Sistemas de Informação em Saúde. Leciona no curso desde 2018.
Clarissa Dreischerf Pereira – Egressa do curso de Informática Biomédica da UFPR
Graduada em Informática Biomédica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 2017/2. Participou do PET Computação e do C3SL. Atualmente trabalha na Philips Healthcare (Blumenau/SC) no projeto IntelliSpace Cardiovascular (ISCV) no departamento de Cardiologia para Informática (CI).
E com a palavra, os nossos entrevistados:
Coordenador do primeiro curso de Informática Biomédica do Brasil, Prof. Wilson nos conta que a criação do curso foi motivada por uma vivência dele: durante seu doutorado, ele observou a necessidade de equipes de Bioinformática para apoiar a atividade de processamento dos dados dos projetos que ele estava envolvido. Um deles foi o do Sequenciamento Genômico da Xylella fastidiosa, conhecida como amarelinho, que era a principal praga que afetava a produção de laranja do estado de São Paulo. Criar a equipe de Bioinformática foi uma decisão importante. Esta equipe era composta por Biólogos, Cientistas da Computação, Analistas de Sistemas, Matemáticos, Físicos e Engenheiros. A conversa entre esses profissionais era muito difícil. Os profissionais da Matemática e Ciência da Computação tinham as ferramentas, mas não sabiam como e de que forma aplicá-las na resolução de problemas biológicos. Por outro lado, os profissionais da Biologia, não conseguiam comunicar tais problemas para o pessoal da Computação. Após alguns anos, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP) e a Faculdade de Filosofia e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP/USP) decidiram então criar o curso de Informática Biomédica, com a ideia de oferecer ao mercado um profissional com formação multidisciplinar para atuar nas áreas da saúde humana. Ele vê essa decisão como uma das mais acertadas feitas pela Faculdade de Medicina, pois, hoje, o curso de Informática Biomédica é um curso estratégico para a Faculdade e o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, auxiliando também outros cursos da FMRP.
O profissional da área de Informática Biomédica é capaz de transitar com facilidade entre a Informática e as Ciências Biomédicas, não só trazendo soluções tecnológicas para problemas da saúde humana, mas também agregando melhorias em soluções já conhecidas. Prof. Lucas narra o caso de um aluno de mestrado, que otimizou um algoritmo voltado a processamento de dados biológicos que originalmente levava 20 minutos para ser executado, e, após a otimização, passou a executar em 11 segundos.
Além disso, imagine um bacharel egresso de cursos clássicos da área de Informática (tais como, Ciência da Computação ou Engenharia de Software) precisando lidar e compreender termos médicos e biomédicos, e, a partir disso, modelar e implementar sistemas e algoritmos que em muitos casos poderão impactar na saúde e bem-estar de outras pessoas. Um erro de software, principalmente nestes casos, pode ter consequências graves, comprometendo a saúde de muitos.
Organizamos as informações coletadas através das conversas com nossos entrevistados em algumas “perguntas-chave”, que podem ajudar você a conhecer mais sobre este curso e compreender como o cenário de Informática Biomédica vem se desenhando no Brasil.
Como vê a captação dos profissionais pelo mercado de trabalho? Onde estão os egressos?
O questionamento sobre o mercado de trabalho é frequente dentre os discentes. Prof. Wilson relata que, por ser um curso novo e não tradicional, como Direito ou Medicina, que ao encerrar o curso o aluno sabe exatamente onde vai trabalhar, o curso de Informática Biomédica ainda não tem essa perspectiva clara. Ele nos conta que a coordenação do curso mantém registro de todos os alunos formados no curso, e que todos os egressos estão bem posicionados no mercado, e em posições de liderança, apoiando na resolução dos problemas através de projeto de soluções. Além disso, o novo Projeto Pedagógico do curso visa motivar o empreendedorismo e disciplinas sobre o assunto foram incluídas, pois diversos egressos demonstraram interesse e se tornarem empreendedores, e hoje há muitas empresas de ex-alunos incubadas no SUPERA Parque (Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto), e outras empresas que não precisaram ser incubadas.
Para o Prof. Lucas, as empresas da área da saúde ainda não perceberam que é necessário ter um profissional mais qualificado, por exemplo, dentro de hospitais. O mesmo ponto é apresentado por Prof. Filipe, que diz que “há uma dicotomia entre a importância que é dada pelas organizações de saúde (hospitais, clínicas, serviços de saúde em geral) aos dados, padronização de sistemas, processamento de sinais biológicos, imagens biomédicas, modelagem molecular, análises genômicas, filogenéticas, entre outras quando comparado com organizações de setores em que o uso da tecnologia é mais consolidado e massificado”.
Prof. Lucas ainda relata sobre o desconhecimento por parte de alguns nichos de mercado sobre a existência de profissionais formados neste curso (e a existência do curso em si), e, em alguns casos, questões burocráticas afetam a contratação de egressos do curso. No entanto, mesmo em se tratando de um curso que busca explorar a área de Informática aplicada à Ciências Biomédicas, a base sólida em Computação permite que os egressos do curso sejam absorvidos pelo mercado tradicional de Tecnologia da Informação.
Um exemplo de potencial nicho de mercado para tais profissionais é retratado por Clarissa, que atua no departamento de Informática para Cardiologia (Cardiology Informatics – CI), no projeto IntelliSpace CardioVascular (o projeto trata de uma solução multimodal para gerenciamento de imagens e informações relacionadas ao atendimento cardiovascular). Clarissa nos conta que este é um projeto em constante desenvolvimento e evolução, cujo foco é integrar todos os processos e exames do paciente, de forma cronológica, permitindo análises, medições e relatórios. Ela nos conta que, a formação mista oferecida pelo curso de Informática Biomédica permitiu entender certos processos e demandas mais facilmente. Além disso, ela conta: “me abriu oportunidades de participar de determinadas reuniões, pois meus chefes sabiam do meu interesse e histórico. Me deu mais embasamento para tomadas de decisão no produto, já que sentia mais confiança em alguns pontos que talvez não tivesse se não tivesse feito Informática Biomédica”.
É possível observar que alguma das áreas seja de maior interesse dos alunos?
Para o Prof. Lucas, a área na qual o aluno irá atuar varia de acordo com o perfil do próprio aluno. Porém, ele observa que a maioria dos alunos estão aplicando seus trabalhos de conclusão de curso (TCC) à área de processamento de imagens médicas. O cenário não é muito diferente na USP, onde Prof. Wilson relata que a área de imagens médicas vem atraindo os alunos, assim como a área de genômica. Para Prof. Filipe, a área da informática em saúde tende a crescer juntamente com a demanda, enquanto a maturidade acadêmica da área de Bioinformática já vem ganhando espaço, dentro e fora do Brasil.
Vê espaço para inovação nesta área?
Prof. Wilson diz que “o curso de Informática Biomédica, para a área da saúde, é o curso que vai ser o tempo todo inovador, porque ele vai estar atento para as demandas de mercado e tem a capacidade de absorver rapidamente as novas tecnologias que aparecerem.” Para preparar os alunos na criação de projetos inovadores, ele cita que a USP, em parceria com a SUPERA Parque, irão promover o Hacking Health, com a intenção de trazer especialistas para exporem problemas encontrados nas mais diversas áreas da saúde, e os alunos do curso de Informática Biomédica serão motivados a trabalharem na resolução destes problemas durante seus trabalhos de conclusão de curso.
Prof. Lucas menciona que, com o cenário atual causado pela COVID-19, houve um avanço na área de telessaúde, que vinha se “arrastando” a anos. Para ele, haverá muita inovação na área relacionada à aplicativos para gestão e teleatendimento.
Para o Prof. Filipe, “a Informática Biomédica é a personificação da inovação e há muita margem para isso”. Ele ressalta que muitas empresas vêm surgindo deste cenário interdisciplinar, visando tratar desde problemas mais simples, como estabelecimento de serviços de telessaúde até questões altamente especializadas que exigem uso de inteligência artificial, por exemplo. Ele acredita, baseado na necessidade das principais áreas da Informática Biomédica, que esta área estará sempre em ascensão com as demandas crescentes por conhecimentos especializados e a aplicação de tecnologias da informação e comunicação para a saúde.
Clarissa cita que, como inovação aplicável, ela acredita que em breve haverá um crescimento de aplicativos e meios voltados ao autocuidado. Devido a facilidade de acesso à smartphones e wearables, e juntamente a este período de isolamento, ela vê a crescente demanda de tecnologias que permitam ao usuário cuidar de sua própria saúde. Ela vê esse cenário como um exemplo de inovação mais imediatista, capaz de fluir mais facilmente, que consegue mais aceitação e consegue ser utilizada na prática mais rapidamente, e que, um erro de software dificilmente irá levar o usuário à óbito. Além disso, ela cita que a pandemia de COVID-19 possibilitou abertura para questões de cuidado em massa da população, monitoramento de saúde, localização dos focos e monitoramento de distanciamento social.
Porém, Clarissa se mostra um pouco mais pragmática sobre o assunto, levantando questionamentos importantes sobre tipos de inovação e barreiras em sua implantação na área da saúde. Ela diferencia o que é possível trazer como inovação do que é possível aplicar: “Neste sentido, a gente acaba dependendo sempre da situação atual, do país em que a gente está localizado, da política, do que as empresas ou o governo está disposto a arcar, a investir. Dentro da Universidade eu via muitos estudos interessantes, mas não conseguia ver esse tipo de coisa ser aplicada no mundo real, digamos assim”.
Ela conta que, durante a graduação, viu diversas pessoas trabalhando com o tema Machine Learning, desde estudante de Iniciação Científica, até alunos do Programa de Pós Graduação. No entanto, ao ingressar na Philips, conheceu um pouco mais da Philips Research, divisão responsável não só por pesquisas voltadas à inovação, mas também por conduzir estudos de viabilidade de novas tecnologias no mercado. Descobriu que tecnologias que usam Machine Learning ainda tinham pouca aceitação no mercado e que profissionais de saúde são resistentes a este tipo de tecnologia. No entanto, para Prof. Filipe, essa resistência quanto ao uso de determinadas tecnologias “vem mudando, paulatinamente, com a incorporação de tecnologias por instituições de saúde. Hospitais digitais e regulamentações vêm surgindo e alterando como o setor da saúde encara o uso da tecnologia”.
E apesar de todo o potencial desta área, ainda há poucos profissionais capacitados a trabalhar com Informática Biomédica… Por quê?
Um dos motivos para a pouca oferta de profissionais pode estar relacionada a baixa procura pelo curso. Prof. Lucas ressalta que a procura pelo curso sempre foi baixa na UFPR, com uma média de 3 candidatos por vaga, e, essa também é a realidade do curso oferecido pela USP. Para Prof. Wilson isso se deve ao fato de que provavelmente as pessoas não sabem da existência do curso e o seu foco. Segundo ele, a média atual é de 4 candidatos por vaga, e a instituição oferece 20 vagas por ano.
Além disso, a evasão é alta. Prof. Lucas menciona que a UFPR possui o PROVAR (Programa de Ocupação de Vagas Remanescentes), e isso colabora muito com a troca de curso dentro da própria Universidade, sendo comum alunos da Informática Biomédica cursarem 6 meses à 1 ano e após, migrarem para cursos como Biologia ou Química, pois muito ingressam no curso mais pela Biomédica do que pela Informática: “A gente brinca que a Informática vem primeiro e a Biomédica vem depois. É informática biomédica e não biomédica computacional”. Para Clarissa, essa mistura de áreas foi o que mais lhe atraiu e que, ao ver a grade curricular, a única disciplina que lhe causou receio foi Anatomia, receio esse, superado tranquilamente. No entanto, ela conta que a surpresa veio em disciplinas de matemática e cálculo, que se mostraram muito diferentes do que era esperado (o que ela havia visto durante o Ensino Fundamental e Médio), gerando uma certa frustração com a graduação. Mas ela ressalta que essa frustração não está diretamente relacionada ao curso de Informática Biomédica, e sim, a essas disciplinas, especificamente, e a transição entre o ensino básico público para o ensino superior.
Um ponto interessante, é que Prof. Wilson compartilha que, na USP, a evasão muitas vezes está relacionada às disciplinas da área de exatas. Para ele, a computação é extremamente importante para a formação dos alunos de Informática Biomédica, porém, não se deve atribuir a algumas disciplinas a mesma exigência que seria dada em um curso de Ciência da Computação.
Para Prof. Lucas, a área deverá amadurecer nos próximos anos, à medida que egressos do curso comecem a assumir posições no mercado de trabalho, apresentando perspectivas em relação ao que Informatas Biomédicos podem fazer. Além disso, por ser um curso pouco conhecido, ele não conta com o “apoio da família”, que normalmente incentiva a escolha de cursos mais tradicionais, tais como Engenharias ou Medicina, que são muito mais consolidados no mercado de trabalho.
Buscando melhorias no curso de forma a aumentar a procura e reduzir a evasão, mudanças foram feitas na USP. Prof. Wilson conta que houve alguns anos de ajustes no curso, além de mudanças de gestão (da Faculdade de Filosofia para a Faculdade de Medicina), até que o curso chegasse nos moldes atuais. Hoje, estando sob gestão da Faculdade de Medicina, o foco é formar profissionais para resolver problemas da área médica/saúde. No novo Projeto Pedagógico do curso, para os próximos 5 anos, inclui-se divulgar mais o curso. Além disso, foi criado o Centro de Desenvolvimento e Formação Continuada em Informática Biomédica (CDFC-IBm), que visa desenvolver atividades que apoiem a formação dos alunos nas 4 áreas (citadas no início deste texto). Também, está em tramitação a criação do Mestrado Profissional em Informática Biomédica, e o aluno do curso de graduação em Informática Biomédica, poderá iniciar o mestrado enquanto discente da graduação. Se você tem curiosidade para saber mais sobre as iniciativas propostas pela USP, além de outras informações interessantes sobre a área, conheça a página do Facebook do curso: https://www.facebook.com/ibmfmrp.
Por fim, eu, Luana, como profissional da área de Computação e professora, ouvi por muitos anos sobre a questão de sermos profissionais formados para atender a demanda de outras áreas, das quais, nem sempre temos preparo para atender. Principalmente quando se trata de saúde, esse despreparo pode causar danos irreparáveis, afetando indivíduos e a sociedade. Cada vez mais, vemos a necessidade de profissionais de formação mista, capazes tanto de compreender os problemas quanto de propor e desenvolver as soluções. Hoje, para mim, este curso não é mais um incompreendido. Ele é o futuro. E encerro, com as palavras do Prof. Lucas, que, expressa com maestria o que este curso e essa profissão representam:
“Eu acho que é uma profissão do futuro, porque é uma área que vai unir conhecimentos. Nós temos conhecimentos distintos, os quais precisamos colocar para trabalhar juntos, então, acho que essa profissão faz a ponte entre esses conhecimentos”.
Referências
[1] https://www.ufcspa.edu.br/vida-academica/graduacao/cursos/informatica-biomedica
[2] http://ibm.fmrp.usp.br/; https://cg.fmrp.usp.br/pb/cursos/informatica-biomedica/
Como citar esse artigo:
Müller, L., 2020. “Infoquê”? Conhecendo o incompreendido curso de Informática Biomédica. SBC Horizontes. ISSN: 2175-9235. Disponível em: http://horizontes.sbc.org.br/index.php/2020/12/“infoque”?-conhecendo-o-incompreendido-curso-de-informatica-biomedica/