Playlist a lápis

Playlist a lápis

Tudo começou com uma vitrolinha que era uma maleta. Fácil de carregar. Não sei como chamar aquele dispositivo: maleta-vitrolinha? Acho que deu pra entender, né? Dava para ouvir as histórias infantis que vinham nos discos coloridos. Acho que o nome era Disquinho. Também era possível gravar. Gostava de cantar e gravar algumas bobagens por diversão. E dançar.

Depois ganhei um radinho de pilha. Um presente de comunhão. Não lembro se foi da minha vó ou da madrinha. Gostava de tomar banho escutando música.

O equipamento foi atualizado com sucesso: um rádio-gravador. Lembro que era vermelho e preto. Acho que era da minha irmã, mas eu também usava. Hora do Brasil? Era só dar play na fita preferida. Lembro que eu ganhei a fita do Kid Abelha em um amigo-secreto. Por que não eu, a-ah, por que não eu? A adolescência e suas paixões.

Invadi o três-em-um da sala. O espaço, que antes era só para visitas, virou território habitável. O sofá foi liberado.

Fitas. Muitas. Sony e TDK do Paraguai. Música sob medida, ao gosto do cliente. Ganhei várias do namorado, que além de selecionar as músicas, ainda estilizava a capa. Não tenho mais. Falo das fitas. O namorado ainda é o mesmo.

Depois, os CDs. Muitos. Pirata? Que nada! Comprava no camelô. Depois aprendi a gravar CD. Uma caixa cheia de opções me acompanhava na viagem de carro. Do CD para o DVD foi só trocar o equipamento. Gostava de assistir shows durante as jantas com a turma. Dançar na sala também. Depois tudo foi parar no YouTube.

Quase esqueci o pendrive no computador. Mas nunca esqueço a senha do Spotify. Dizem que conhecemos muito de uma pessoa pela sua playlist. Conforme o algoritmo, rock, rock moderno e new romantic.

– Tem música boa depois das décadas de 1980 e 90, sabia mãe?

Conheci o indie. Mas The The é quem me salva do Vecna.

– De quem?

– Daquele monstro do Stranger Things.

OK Google. Aumentar volume.

Everybody knows what’s going wrong with the world
But I don’t even know what’s going on in myself
”.

Arte: Niki (@ jururuart)
Revisão: Tiago Bergenthal
Texto produzido durante o módulo Circuito Santa Sede (@oficinasantasede & @rubempenz).

Como citar esse artigo:

BASSANI, Patrícia Scherer. Playlist a lápis. SBC Horizontes, 30 set. 2024. ISSN 2175-9235. Disponível em: < https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2024/09/playlist-a-lapis/gt;. Acesso em: DD mês. AAAA

Patrícia Scherer Bassani é doutora em Informática na Educação, professora titular do PPG em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias.

Currículo lattes e redes sociais

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