Síndrome da Impostora

Síndrome da Impostora

 

por

Carolina S.E. Gruenberg

Alguma vez você já sentiu que alguém estava exagerando ao elogiar seu trabalho? Ou um sentimento de fraude, como se alguém fosse descobrir que você não merecia tanto reconhecimento?

A síndrome do impostor é uma experiência psicológica representada por uma sensação de incapacidade ou dificuldade em reconhecer suas capacidades, associando suas conquistas à sorte ou engano.

Essa experiência não é restrita a um grupo de pessoas em específico, porém se manifesta com mais frequência em mulheres, jovens e minorias, principalmente no ambiente profissional (Personnel Today, 2022). Mas será que esses sentimentos começam quando iniciamos alguma extensão acadêmica ou ingressamos no mercado de trabalho?

Na perspectiva do Behaviorismo, a consequência para um comportamento é o que condicionará a pessoa a repeti-lo ou não. Dito isso, desde cedo, nós mulheres somos constantemente elogiadas por beleza ou comportamentos ligados a cuidado, enquanto menos valorizadas pelos seus esforços, determinação, resiliência, entre outras habilidades que mais tarde serão exploradas na área profissional. Na hora de entrar no mercado de trabalho, o repertório de comportamentos que teria construído uma certa autoconfiança nas habilidades sociais que usamos profissionalmente aparece fragilizado. Além de ter sido pouco reforçado socialmente, agora compete com uma classe de gênero com confiança reforçada por privilégios de oportunidade e apoio social de leito.

Se você questiona suas habilidades e conquistas com frequência, credita seus sucessos a fatores externos, o primeiro passo é reconhecer a possibilidade de estar enfrentando a síndrome do impostor. Fique atento a sintomas como:

  • Perfeccionismo incansável
  • Necessidade constante de se esforçar mais
  • Dúvida constante e exagerada de si
  • Procrastinação
  • Autoisolamento
  • Autossabotagem
  • Ver auto expectativa alheia com descrença
  • Depósito de altas expectativas em aceitação social
  • Autovigilância constante

Não se assuste se encontrar familiaridade nos sintomas acima. Uma pesquisa feita em Londres com 4,000 pessoas pontua que 72% das mulheres se sentem impostoras no mercado de trabalho, 29% durante o período de educação, e 29% quando estão a lazer com amigos. Segundo um estudo feito pela KPMG, 75% das mulheres ocupando cargos executivos de todos os setores ja experienciaram síndrome do impostor em suas carreiras (Forbes, 2023). Você não está sozinha. É importante entender que a síndrome do impostor é formada por um ou mais aprendizados e pode sim ser desconstruída. Quanto mais contato tiver com os sintomas e emoções enquanto leigo da síndrome, mais oportunidades terá para desconstruir essa conexão neural que o seu cérebro formou na sua autoconfiança.

Se você tem algum/a psicólogo/a te acompanhando, é importante trazer a questão à tona. Tocar nos passos de aprendizados onde perdemos algo tão importante como a confiança em si pode ser uma trajetória sensível, porém importante, que requer assistência profissional.

Levando em consideração que a terapia infelizmente ainda é um privilégio no Brasil, procure trabalhar na aceitação dos seus limites, das suas qualidades e defeitos na área em que sente mais sintomas da síndrome. Trabalhe em pontuar situações em que seus limites foram ultrapassados ou não foram explorados. Encontre momentos em que revelou suas qualidades e não havia parado para reconhecê-las. Volte nas ocasiões em que seus defeitos estiveram realçados e tente se familiarizar com os seus sentimentos em cada categoria. Devemos todas entender que temos falhas e criar o costume de voltar e aprender com elas, para que nossas falhas percam o poder de nos limitar e se tornem a forma que usaremos para crescer. Um trabalho de autoconhecimento como início da sua jornada na autoconfiança.

Além do processo interno, se possível, procure explorar exercícios físicos do seu gosto e disponibilidade, entre outras formas externas de autocuidado. Esses mecanismos são fortes em influenciar a autoestima, que se encaixa de forma adicional ao processo de autoconfiança.

Reconheça também seu sistema de apoio social que vai agregar para esse processo. Quem são aqueles que irão de escutar, validar seus sentimentos e te incentivar a alcançar seu objetivo? Lembrando que selecionar pessoas mais adequadas para a jornada não desclassifica outras/os de serem parte do seu apoio social ou importantes.

Essa jornada pelo autoconhecimento pode servir como uma forma de restaurar sua autoconfiança social, profissional ou nos estudos que têm te trazido dúvidas sobre sua capacidade. Vale sempre lembrar o seu objetivo, nesse caso, de combater a síndrome do impostor e encontrar a versão de si que enxerga com clareza seus objetivos como alcançáveis sem questionar suas habilidades e capacidade na área escolhida. Como mulheres, por mais que cada dias mais vemos avanços na educação e no mercado de trabalho, ainda lutamos contra uma sociedade que reforça constantemente homens na liderança e cargos de maior renome. Às vezes será desencorajador continuar. Não é necessário ofuscar tal realidade para entendermos e aprendermos a valorizar nossas capacidades. O combate pela síndrome do impostor é apenas um obstáculo inicial, que além de facilitar uma jornada um tanto turbulenta, te trará uma força emocional com efeitos positivos à sua saúde mental1.

Referências

Drauzio Varella. (n.d.). Síndrome do impostor: quem pode desenvolver, sintomas e tratamento. https://drauziovarella.uol.com.br/psiquiatria/sindrome-do-impostor-quem-pode-desenvolver-sintomas-e-tratamento/

Forbes. (2023). 75% das executivas passam por síndrome do impostor no local de trabalho. https://forbes.com.br/forbes-mulher/2023/03/75-das-executivas-passam-por-sindrome-do-impostor-no-local-de-trabalho/

Independent. (2023). Women and imposter syndrome: What is it and how to overcome it? https://www.independent.co.uk/life-style/women-imposter-syndrome-workplace-confidence-b2313770.html

Personnel Today. (2022). Imposter syndrome prevalence UK research. https://www.personneltoday.com/hr/imposter-syndrome-prevalence-uk-research/

Psychology Today. (n.d.). Imposter syndrome. https://www.psychologytoday.com/us/basics/imposter-syndrome

Tua Saúde. (n.d.). Síndrome do impostor. https://www.tuasaude.com/sindrome-do-impostor/

 

Sobre a autora:

Carolina S.E. Gruenberg

Carolina S.E. Gruenberg, MEd, GCABA, psicóloga formada pela Florida International University (FIU). Mestra em Aprendizagem, Ensino e Transformação Educacional (Learning, Teaching, and Educational Transformation (LTET)) com um certificado em Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis (ABA) pela University of Massachusetts Boston. Fundadora Instituto do Comportamento Aplicado (ICompA), trabalha com pesquisa em tratamentos comportamentais de intervenção precoce para crianças com distúrbios de comportamento há mais de 4 anos.

Atualmente, atende pais e cuidadores utilizando um currículo piloto de intervenção comportamental inclusivo para crianças com e sem transtornos comportamentais. Além disso, orienta um projeto de pesquisa piloto em Harvard University junto com o Professor Mayron Piccolo, PhD, sobre a perspectiva comportamental do sentimento de pertencimento com a influência da música comunal.

Foi convidada a escrever para a seção Meninas Digitais, revista SBC Horizontes, sobre a síndrome do impostor entre mulheres na ciência e tecnologia, explorando os desafios e propondo estratégias para superá-los.

Como citar este artigo:

GRUENBERG, Carolina S. E. Síndrome da Impostora. SBC Horizontes, maio. 2025. ISSN 2175-9235. Disponível em: <https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2025/05/sindrome-da-impostora>. Acesso em: DD mês. AAAA.

Nota de rodapé da editora1:

Este texto foca nas estratégias individuais para lidar com a síndrome da impostora. No entanto, é importante destacar que essa síndrome não se trata apenas de percepções pessoais, mas está profundamente enraizada em fatores estruturais e culturais. Mudanças reais e duradouras exigem também transformações nas organizações e na sociedade como um todo — incluindo ambientes mais inclusivos, reconhecimento equitativo de competências e a desconstrução de estereótipos de gênero.

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