Traiu ou não traiu?

Traiu ou não traiu?

Acho que todo mundo conhece a história de Capitu e Bentinho. Mesmo quem não leu Dom Casmurro, de Machado de Assis, alguma vez na vida já ouviu falar deste famoso enrosco.

Uma pesquisa rápida na internet mostra o tamanho da curiosidade. São muitas teses e antíteses de vários tamanhos e formatos, tentando descobrir o que aconteceu. Penso que este é o caso de investigação mais famoso da literatura brasileira. São muitas pistas, mas nada de concreto foi revelado ainda.

Se na literatura o tema já gera uma grande confusão, imagina quando a gente mistura a vida real com a inteligência artificial. Uns diriam que aqui já começa a contradição – ou a confusão – porque a vida acontece nesse emaranhado entre o físico e o virtual. O nosso universo virou metaverso e, nessa embrulhada, tem muita IA que quer virar gente e tem muita gente que prefere se relacionar com uma entidade digital.

O filme Her nunca foi tão real. Ela, título em português, conta a história do relacionamento entre Theodore e Samantha. Ele, humano, é interpretado por Joaquin Phoenix. Ela, uma inteligência artificial, é interpretada pela voz da Scarlett Johansson.  O filme foi premiado com o Oscar de Melhor Roteiro em 2013. Alguns anos depois, a vida imita a arte. Vários casos de relacionamentos entre humanos e não-humanos deslizam pelo feed do meu Instagram.

“As mulheres que trocam homens reais por namorado perfeito criado pelo ChatGPT” (@bbcbrasil).

“Mulher vai casar com holograma de IA” (@marthagabriel).

“Homem fica viúvo de esposa-holograma após a empresa descontinuar o serviço” (@folhape).

Entre tantas novidades, descobri que Machado de Assis também virou um avatar. Foi criado à sua imagem e semelhança, acrescido de muita inteligência artificial, e está disponível para um bate-papo na sede da Academia Brasileira de Letras. É só agendar uma visita. Já imagino a cena:

– Traiu ou não traiu?

– As ocasiões fazem as revoluções, desconversou o autor.

–  Mas essa é outra história, retrucou o humano.

– Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui.

Arte: Niki (@jururuart)
Revisão: Tiago Bergenthal (@tiago_bergenthal)
Texto produzido durante o módulo Circuito Santa Sede (@oficinasantasede & @rubempenz).

Como citar esse artigo:

BASSANI, Patrícia Scherer. Traiu ou não traiu? SBC Horizontes, 03 nov. 2025. ISSN 2175-9235. Disponível em: < https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2025/11/traiu-ou-nao-traiu/gt;. Acesso em: DD mês. AAAA

Patrícia Scherer Bassani é doutora em Informática na Educação, professora titular do PPG em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias.

Currículo lattes e redes sociais

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