Aplicações para o Metaverso: Agentes de Mudança em Ação
Por Michele Marta Moraes Castro e Cristiano Maciel
Você já parou para refletir sobre o que acontece com os dados e informações pessoais on-line após o falecimento de alguém? O que fazer para gerenciar esse tesouro digital que carrega memórias, histórias de vida e um legado que pode ser inspirador? Como podemos criar soluções inovadoras para assegurar que esses acervos sejam preservados e compartilhados com uma finalidade social? Pensando nisso, lançamos um desafio entre estudantes de graduação de Sistemas de Informação, incentivando-os a refletir sobre o desenvolvimento de sistemas socialmente conscientes no metaverso. Os sistemas socialmente conscientes têm o intuito de levar em consideração os impactos sociais e éticos, contribuindo positivamente para a sociedade. Neste artigo, focaremos em sistemas, dentro do metaverso, que cuidam das informações digitais de pessoas falecidas, preservando e compartilhando seu legado de forma segura, reconhecendo como um tesouro digital, pois eles representam memórias que podem inspirar gerações futuras.
Agentes de mudança em ação
Desafiamos estudantes de graduação de Sistemas de Informação, da Universidade Federal de Mato Grosso, a mergulharem no universo do desenvolvimento de aplicações Web, no metaverso, com algum benefício para a sociedade. Dentro da disciplina de Tópicos Especiais em Engenharia de Software, executada de forma híbrida, eles se envolveram em projetos de desenvolvimento de soluções inovadoras tendo como domínio as soluções para o campo do legado digital pós-morte.
A frase que o título desse artigo carrega, “agentes de mudança em ação”, destaca a capacidade dos estudantes em se tornarem agentes ativos na transformação da sociedade em relação ao legado digital pós-morte. Ao serem educados e conscientizados sobre a importância de preservar e valorizar a memória e história das pessoas falecidas no contexto digital, os estudantes são capacitados a tomar a iniciativa de promover mudanças positivas nessa área. Eles são incentivados a se tornarem protagonistas na criação de um futuro em que o respeito e a valorização do legado digital sejam priorizados.
Dessa forma, ao formar os estudantes nessa temática, espera-se que eles sejam agentes ativos de mudança, impulsionando a conscientização e a adoção de práticas que preservem e valorizem o legado digital pós-morte, perpetuando experiências e conhecimentos para futuras gerações. Desenvolver aplicações Web com destino social proporcionou a eles a compreensão do valor e da importância de honrar a memória e celebrar o legado daqueles que contribuíram para a expansão do conhecimento.
Ao longo do desafio, é notável o impacto positivo que essa iniciativa teve na formação acadêmica e pessoal dos estudantes, preparando-os para enfrentar os desafios tecnológicos e éticos da sociedade atual.
Vamos saber como tudo aconteceu?
Para desenvolver o projeto, adotamos uma abordagem que incluiu o ensino de conceitos essenciais, tais como as etapas do desenvolvimento de uma aplicação Web, o legado digital pós-morte, o projeto Dados Além da Vida (DAVI) e o metaverso. Visando tornar o aprendizado mais interativo e participativo às aulas tradicionais.
Para começar, convidamos uma palestrante para compartilhar seus conhecimentos de forma presencial, oferecendo uma perspectiva especializada sobre o assunto. A palestra foi sobre LGPD: a proteção de dados by default e o princípio da transparência nas políticas de privacidade. A relevância dessa palestra está em suas diretrizes para a coleta, processamento e compartilhamento de dados pessoais, impactando diretamente o desenvolvimento de software. A proteção de dados por padrão enfatiza a segurança desde o início do projeto. Esses conceitos ajudaram os estudantes a pensar sistemas mais seguros e éticos, respeitando a privacidade dos usuários.
Logo em seguida, contamos com outra palestrante, de forma assíncrona. A palestra foi sobre projeto de sistemas Web com uso de técnicas de interação humano-computador. A palestra abordou a relevância prática do projeto de sistemas Web, com foco em experiência do usuário e usabilidade. Os alunos aprenderam técnicas para criar interfaces intuitivas e eficientes, garantindo a satisfação dos usuários e o sucesso do sistema. A palestra está disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=FMg7SBq14p4.
Complementando as palestras, realizamos uma dinâmica sobre legado digital pós-morte. Cada estudante recebeu um papel contendo frases e/ou perguntas para reflexão. A proposta era que cada estudante lesse em voz alta o conteúdo do papel e compartilhasse suas percepções com todos, o que gerou debates ricos após cada leitura. As questões abordadas estavam relacionadas à finitude da vida, imortalidade e tecnologias. Essa dinâmica proporcionou um espaço de troca de ideias e pensamentos, permitindo uma reflexão sobre temas importantes e atuais, além de promover uma maior interação entre os participantes, “quebrando o gelo” para a temática.
Nas aulas expositivas, foram explorados os fundamentos da engenharia de software para a Web, ressaltando o que muda no desenvolvimento de aplicações com este foco.
Explicamos a engenharia de software para Web
Durante as aulas presenciais, utilizamos slides para explicar o conceito de engenharia de software para a Web, com base no livro de Pressman e Lowe (2009). Abordamos as categorias de uma aplicação Web e o passo a passo necessário para o desenvolvimento de um projeto de aplicação Web, que incluiu os seguintes requisitos: nome da aplicação, identificação das necessidades do negócio, identificação dos usuários, descrição dos objetivos da WebApp.
Fonte: Elaborado pelo Canva, adaptado por Michele Moraes
Durante o projeto, foram abordados diversos temas relacionados ao desenvolvimento da aplicação Web, desde a identificação das necessidades do negócio até a definição do modelo de desenvolvimento ideal.
Trabalhamos na definição do modelo de desenvolvimento ideal, coleta de requisitos funcionais, não-funcionais e de conteúdo, utilização de técnicas de elicitação de requisitos, análise de mercado e grau de inovação, além do modelo de negócio. Também, exploramos o preparo e edição de conteúdo, soluções de comércio eletrônico, termos de uso e políticas de privacidade, definição das redes/mídias sociais, preparo da estrutura tecnológica e o acompanhamento da produção de um sistema Web. Outros temas incluíram sintaxe da navegação e descrição da semântica, mapa de navegação, comportamento do sistema para diferentes categorias de usuário, pesquisa de mercado e análise de viabilidade, especificação técnica do componentes, identificação e correção de problemas de usabilidade/comunicabilidade/acessibilidade, além dos métodos e técnicas de avaliação da Interação Humano-Computador.
Usamos o modelo de projeto proposto por Pressman e Lowe (2009) que seguem uma sequência de ações de projeto realizadas em diferentes níveis, representados por uma pirâmide. De acordo com Souza, Maciel e Moraes (2022) é preciso estabelecer uma integração entre todos esses níveis, levando em conta a Interação Humano-Computador (IHC). Com base nessa premissa, o modelo original da supracitada pirâmide foi reformulado, propondo um novo enfoque no qual o usuário do sistema é colocado no centro dos projetos. Essa nova abordagem foi debatida com os estudante porque possibilita que as ações do projeto sejam executadas de forma cíclica, dessa maneira:
Fonte: Souza, Maciel e Moraes (2022)
Como se percebe, durante as aulas, buscamos engajar os alunos por meio de exemplos práticos, estudos de caso e discussões interativas. Demos espaço para que os alunos pudessem fazer perguntas e compartilhar suas ideias, promovendo um ambiente de aprendizado colaborativo e incentivamos os alunos a realizar atividades práticas, como a criação de um projeto de aplicação Web fictício, aplicando os conceitos e as etapas aprendidas durante as aulas. O projeto tinha como objetivo o desenvolvimento Web no metaverso de uma aplicação que envolvesse as temáticas de legado digital pós-morte, com ênfase em rituais que envolvam a temática sobre a morte ou memorial digital.
Fonte: Elaborado no Canva, adaptado por Michele Moraes
Explicamos o que é o legado digital pós-morte
Na disciplina, os estudantes foram desafiados a desenvolver projetos de aplicações Web no metaverso, com foco em rituais relacionado à morte ou criar um memorial digital. O legado digital pós-morte tem se tornado um tema relevante no contexto da engenharia de software, especialmente na área da educação e no metaverso. Trevisan e Maciel (2023), fornecem um panorama de pesquisas e estudos sobre os aspectos educativos da morte no contexto da educação básica, mostra que o legado digital está diretamente relacionado a ensino e pesquisa, pois aborda a realização de estudos sobre a morte no âmbito educacional, destacando a importância de abordar esse tema sensível nas escolas e propondo discussões futuras para aprofundar o conhecimento nessa área específica.
Para Maciel e Pereira (2013), o legado digital pós-morte refere-se ao conjunto de informações, dados, contas on-line e outros elementos digitais que uma pessoa deixa para trás após seu falecimento. Isso inclui perfis de mídia social, contas de e-mail, arquivos pessoais armazenados na nuvem, registros de transações on-line e qualquer outra forma de presença digital que possa ter valor sentimental, histórico ou econômico.
No Brasil, destaca-se um projeto pioneiro que aborda essa temática e se preocupa com a preservação desses dados. Esse projeto é chamado de Dados Além da Vida, carinhosamente conhecido como DAVI.
Explicamos o projeto DAVI
O projeto DAVI “[…] se constitui como um dos maiores grupos no Brasil a tratar a temática da morte e tecnologias […]” (Trevisan; Maciel, 2020), atuando a mais de uma década na investigação da morte. legado e tecnologias, com o objetivo de conscientizar os usuários sobre a destinação adequada de bens digitais em suas várias formas.
Fonte: Logomarca criada por Maurício Mota, adaptada com balão no Canva por Michele Moraes
O Projeto DAVI busca educar os usuários sobre a importância de planejar e lidar com a herança digital de forma adequada. Bens digitais podem incluir informações pessoais, contas de mídia social, arquivos importantes, memórias digitais e muito mais. Sem um planejamento adequado, esses ativos podem se perder ou acabar em “mãos erradas”. Ao abordar esse assunto, o projeto procura conscientizar as pessoas sobre a necessidade de considerar a destinação de seus bens digitais, seja por meio de testamentos digitais, nomeando herdeiros digitais ou utilizando serviços especializados que lidam com a herança digital.
Os estudos incluem Sistemas Gerenciadores de Legado Digital, como memoriais digitais; automação de cemitérios; imortalidade digital ou recriação da vida por software; jogos empático; e educação para temática da morte e legado. No site do DAVI (https://lavi.ic.ufmt.br/davi/) é possível conhecer os trabalhos e publicações do projeto.
Fonte: Adaptado de Canva, por Michele Moraes
Explicamos o metaverso
Tavares e Longo (2022) abordam o conceito do metaverso como um espaço além do mundo físico, uma experiência avançada capaz de integrar diversos contextos de experimentação e convívio, gerando expectativas de revoluções tecnológicas e mudanças nos padrões de vivência e relacionamentos humanos. A obra enfatiza a importância de compreender as transformações trazidas pelo metaverso e estar preparado para adaptar-se a essa nova realidade digital. Acreditam que este é o momento de aprender sobre essa realidade, pois ela tem o potencial de transformar profundamente a forma como vivemos, estudamos, trabalhamos e nos relacionamos.
Uma das principais diferenças entre o metaverso e a forma como utilizamos a internet atualmente é a interação. Enquanto hoje usamos a internet para realizar atividades on-line, no metaverso será possível “entrar” na própria internet. As características de um metaverso incluem um ambiente virtual, coletivo, imersivo e persistente. Essas características são essenciais para criar uma experiência imersiva e contínua no metaverso.
O uso do metaverso na educação traz benefícios como experiências imersivas e interativas (Tavares e Longo, 2022), o que pode aumentar o engajamento dos alunos, proporciona acesso a recursos educacionais variados, como bibliotecas digitais e museus virtuais, enriquecendo o processo de ensino. O metaverso também promove a colaboração e a interação entre os alunos, permitindo a construção de conhecimento de forma participativa.
Para nossa experiência didática, criamos um acervo do projeto DAVI dentro do metaverso que pode ser acessado nesse link: https://www.spatial.io/s/Aula-Topicos-Especiais-de-Engenharia-de-Software-644e6e2dedd0279567ad87a3?share=5395376441551896657. Os estudantes tiveram a oportunidade de adentrar nesse espaço e conhecer as informações do DAVI, tais como seus objetivos, publicações, os vídeos, entrevistas e outras participações das redes sociais, além de banners informacionais extraídos das redes sociais do projeto DAVI (que pode ser acessado por esse link: www.instagram.com/dadosalemdavida).
Fonte: Adaptado de Canva, por Michele Moraes
Essa abordagem multidimensional foi adotada com o intuito de capacitá-los não apenas com conhecimentos teóricos, mas também com experiências práticas e imersivas, preparando-os para enfrentar os desafios e oportunidades do mundo digital e do futuro.
Fonte: aula prática com os estudantes de graduação, dentro do metaverso
Ao adotar essa abordagem inovadora e integradora, buscamos oferecer uma educação mais dinâmica e alinhada às necessidades e expectativas dos alunos, preparando-os para se tornarem profissionais e agentes de mudança capazes de enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades no campo da tecnologia e do legado digital pós-morte.
Adicionalmente, Öhman e Floridi (2017) definem uma indústria do pós-morte como Digital Afterlife Industry (DAI) que se refere ao conjunto de serviços, empresas e atividades relacionadas com a gestão e preservação dos dados e identidades digitais de pessoas após a sua morte. Nesse sentido, para a engenharia de software, a DAI representa oportunidades comerciais, como o desenvolvimento de aplicativos, segurança de dados e integração de plataformas digitais, além de modelos de negócios inovadores e análise de dados com inteligência artificial.
Convidamos o leitor para conhecer os projetos dos estudantes
Utilizando todos os conhecimentos, os alunos criaram projetos criativos e significativos, cada um com sua abordagem única para o memorial digital. Entre os projetos desenvolvidos, destacam-se: “I’m Human” (memorial digital desenvolvido por dois participantes), “Uma fogueira para a vida” (memorial digital desenvolvido por cinco participantes), “Womanac” (memorial digital desenvolvido por seis participantes) e “Made in Heaven” (memorial digital desenvolvido por um participante).
“Uma Fogueira para a Vida” foi um projeto de aplicação Web no metaverso, apresentado pelos estudantes, que busca eternizar memórias de entes queridos. Por meio de uma simulação de conversa em volta de uma fogueira, a ideia é que as pessoas possam compartilhar suas memórias usando áudio ou texto. O objetivo da aplicação é preservar a memória de pessoas homenageadas, proporcionando engajamento do público, promovendo turismo cultural, auxiliando na educação, facilitando pesquisas e oferecendo entretenimento. O público-alvo são pessoas que desejam eternizar e compartilhar momentos especiais, e a criação de contas pode ser limitada a maiores de idade. A aplicação busca criar um ambiente seguro e solidário para aqueles que estão passando por luto ou desejam se conectar com pessoas que compartilham experiências similares.
“I’m human” é um projeto de aplicação Web no metaverso que busca homenagear aqueles que já faleceram. O nome da ferramenta é inspirado nas músicas “Human” de Rag’n’Bone Man e “Human” de Sevdaliza, A aplicação tem como foco pessoas entre 16 e 40 anos.
O “Womanac” é um sistema Web no metaverso que tem como objetivo proporcionar interação com mulheres importantes na história da computação. O nome da ferramenta é uma combinação das palavras “Women” (mulheres) e “Almanac” (almanaque), representando a proposta de apresentar informações sobre essas mulheres de forma social, histórica e culturalmente valiosa. A ferramenta busca atender às necessidades de preservar o patrimônio cultural e histórico no mundo digital, oferecendo um ambiente imersivo e interativo para interagir com personalidades femininas históricas. O público-alvo são aqueles interessados na história da computação e em experiências em um metaverso. Os objetivos da WebApp incluem proporcionar conversas virtuais, permitir a criação de avatares, disponibilizar uma linha do tempo e uma árvore genealógica das mulheres para enriquecer a compreensão de suas histórias.
Fonte: Metaverso Womanac
“Made in Heaven” é um sistema inspirado no anime “JoJo’s Bizarre Adventure“, nas artes e na música. Seu nome é uma referência à música da banda Queen e é utilizado como título de um dos personagens da obra do mangaká Hirohiko Araki. O sistema busca criar um memorial virtual no metaverso e atende a diferentes formas de arte, como música, pintura, escultura, animação e cinema. O objetivo principal é conectar pessoas e proporcionar um ambiente adaptável às demandas dos usuários, permitindo que eles explorem e interajam com diversas formas de arte de pessoas falecidas.
De forma geral, os projetos apresentados pelos alunos demonstram a compreensão dos conceitos abordados nas aulas e o engajamento na proposta de criar soluções inovadoras para o legado digital pós-morte. As aplicações desenvolvidas proporcionam um espaço virtual para preservar e compartilhar memórias, honrando o legado das pessoas falecidas.
O trabalho realizado evidencia a relevância de integrar o tema do legado digital pós-morte no currículo de graduação, neste caso como um domínio no campo da engenharia de software, proporcionando aos alunos a oportunidade de aplicar seus conhecimentos técnicos em um contexto real e socialmente consciente. O envolvimento com o metaverso como plataforma de desenvolvimento permitiu aos estudantes explorar novas possibilidades e desafios, levando em consideração as peculiaridades desse ambiente virtual.
O desenvolvimento dos projetos de aplicação Web no metaverso com foco em memorial digital demonstrou a capacidade dos estudantes de aplicar os conhecimentos adquiridos em engenharia de software para a criação de soluções com necessidades sociais e éticas. Eles foram capazes de desenvolver aplicações que respeitam a privacidade dos indivíduos envolvidos, garantem a segurança das informações e possibilitam o compartilhamento seguro das memórias dos falecidos.
A associação do legado digital pós-morte com a engenharia de software, a educação e o metaverso representa uma área de estudo e pesquisa promissora. A ampliação de horizontes dos estudantes nesse campo contribui para o desenvolvimento de profissionais mais conscientes e preparados para lidar com os desafios do mundo digital, ao mesmo tempo em que valorizam e preservam a memória daqueles que partiram, deixando um legado duradouro para as gerações futuras.
Criando agentes de mudança
A educação é um processo contínuo de aprendizado e construção do conhecimento, e o legado digital pós-morte pode ser uma fonte de inspiração e aprendizado. Na nossa perspectiva, existem algumas razões pelas quais os estudantes devem entender esse assunto:
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Sensibilidade aos desafios tecnológicos e sociais: os estudantes precisam estar cientes dos aspectos técnicos, sociais e éticos relacionados à gestão de dados pessoais de pessoas falecidas, à privacidade e à segurança das informações, bem como às necessidades emocionais e sociais dos indivíduos que desejam preservar e compartilhar o legado digital de seus entes queridos.
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Desenvolvimento de soluções inovadoras: os estudantes de computação podem aplicar seus conhecimentos e habilidades para criar soluções inovadoras que abordem os desafios do legado digital pós-morte. Eles podem desenvolver aplicações Web que permitam a preservação e o gerenciamento seguro de dados digitais, facilitando o acesso e a interação com o legado de pessoas falecidas. Isso pode envolver a criação de plataformas de memória digital, sistemas de compartilhamento de histórias e experiências, ou ferramentas de curadoria para preservação de conteúdo.
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Experiência em desenvolvimento de software socialmente consciente: o legado digital pós-morte é um exemplo de como a Engenharia de Software pode ser aplicada de forma socialmente consciente. Os estudantes terão a oportunidade de desenvolver habilidades em projetar e implementar sistemas que considerem as necessidades e os valores das comunidades afetadas.
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Compreensão do impacto humano da tecnologia: ao se envolverem com o legado digital pós-morte, os estudantes de computação terão a oportunidade de refletir sobre o impacto humano da tecnologia e o papel que ela desempenha na preservação de memórias e histórias de vida. Eles poderão desenvolver uma perspectiva mais ampla sobre as implicações sociais e emocionais do uso da tecnologia em diferentes contextos, promovendo uma abordagem mais humanizada no desenvolvimento de aplicações Web.
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Refletir sobre a finitude da vida: viver bem é ter a certeza da finitude da vida. Assim, utilizando esse tema como domínio, os estudantes podem refletir sobre vida e morte.
O legado digital pós-morte oferece uma oportunidade de enriquecer a educação com temas do dia a dia dos estudantes e que não são comumente tratados na graduação. Ele contribui para a preservação da memória e para a transmissão de saberes, alertando os agentes de mudança sobre a importância dos bens digitais e da preservação (ou não) destes para além da vida dos usuários. Ainda, contribui para uma conscientização sobre o suporte ao luto que aplicações Web podem dar. A combinação do metaverso, da educação e das aplicações socialmente conscientes pode promover uma abordagem mais inclusiva e compassiva em relação à morte.
No entanto, é importante abordar essas aplicações com sensibilidade e ética. É importante ter em mente que pode ser necessário fornecer suporte emocional adequado aos usuários. Do ponto de vista ético, a privacidade e o consentimento dos envolvidos devem ser respeitados.
Alguns pontos a se observar
A utilização do metaverso na educação apresenta desafios relacionados à infraestrutura, acesso equitativo aos óculos para metaverso, barreiras tecnológicas como a necessidade de alta velocidade dos computadores, e em alguns casos, ausência de feedback de algumas plataformas.
Fonte: Canva
Em relação a criação de um memorial digital dentro de um metaverso alguns desafios apresentados precisam ser divulgados: 1) Limitações de customização, que restringem as opções de personalização da plataforma do metaverso, dificultando a adaptação e flexibilidade das soluções projetadas; 2) Integração com ferramentas externas, que se mostrou como um desafio se a plataforma não oferecer suporte nativo para determinadas tecnologias; 3) Aprendizado de uma nova plataforma, exigindo que os desenvolvedores se familiarizem com uma nova tecnologia; 4) O tempo para a execução do projeto foi curto em relação a entrega de um projeto complexo como esse; 5) Testes e depuração não foram possíveis pois são mais complexos devido ao acesso limitado à infraestrutura do metaverso.
Pensamos que para superar essas dificuldades, é necessário planejamento cuidadoso, pesquisa extensiva e colaboração entre engenheiros de software, empresas de metaverso e usuários.
Apontamentos finais
Esta matéria apresentou uma experiência enriquecedora de ampliar horizontes na educação dos estudantes.
Ao compartilhar essa experiência na Revista Horizontes, agradecidos, buscamos motivar outros educadores, pesquisadores e profissionais da área a adotarem abordagens similares em seus projetos educacionais. Ampliar horizontes é uma responsabilidade que todos temos como educadores, pois somente ao desafiar e expandir os limites do conhecimento poderemos preparar os estudantes para enfrentarem os desafios futuros como agentes de mudança.
Juntos, podemos impulsionar a educação para além dos limites conhecidos e criar um futuro promissor para nossos estudantes.
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Autoria
Michele Marta Moraes Castro é doutoranda e mestra em educação pela Universidade Federal de Mato Grosso, integrante do grupo de pesquisa Laboratório de Estudos sobre Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação (LêTECE). Como mulher, mãe, escritora e pesquisadora, dedica-se a fomentar o desenvolvimento de mulheres na área STEM. Seus interesses de estudo abrangem temas como interação humano-computador, legado digital pós-morte, tecnologias emergentes no contexto da cultura digital, inteligência artificial, ciberfeminismos plurais, tensões contemporâneas e o papel das mulheres na área STEM.
Cristiano Maciel é Professor Associado do Instituto de Computação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMT, pesquisador do Laboratório de Ambientes Virtuais Interativos (LAVI) e no Laboratório de Estudos sobre Tecnologias da Informação e Comunicação (LêTECE). É coordenador do Projeto Dados Além da Vida (DAVI). É da diretoria da SBC e Consultor do Programa Meninas Digitais. É Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Atua de forma interdisciplinar especialmente em áreas ligadas a Engenharia de Software, Tecnologia e Sociedade e Educação.
Como citar esta matéria:
CASTRO, Michele Marta Moraes; MACIEL, Cristiano. Aplicações para o Metaverso:
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