Mulheres na Computação no Brasil: histórias e memórias de Maria Cecília Calani Baranauskas

Mulheres na Computação no Brasil: histórias e memórias de Maria Cecília Calani Baranauskas

Por Alice Fonseca Finger, Aline Vieira de Mello, Amanda Meincke Melo e Clevi Elena Rapkiewicz

Este texto traz histórias e memórias de Maria Cecília Calani Baranauskas, que recebeu o prêmio SIGCHI Social Impact pela Association for Computing Machinery (ACM), nos EUA, em 2021, e o ACM Rigo Award, em 2010, pelas suas contribuições científicas na área de Interação Humano-Computador (IHC). Nele são abordadas informações sobre sua família de origem, família constituída, formação escolar (desde a educação básica até a pós-graduação) e mercado de trabalho. Este texto faz parte do e-book Mulheres na Computação no Brasil: histórias e memórias que traz histórias de oito mulheres com contribuições significativas na área da Computação, com o intuito de servir de inspiração para as atuais e futuras gerações.

Maria Cecília Calani Baranauskas nasceu em Botucatu, cidade do interior do estado de São Paulo (SP), em família de origem italiana. Seus pais tiveram cinco filhos, dos quais ela foi a quarta. Foi casada com Vitor Baranauskas (in memorian), com quem teve dois filhos, Vitinho (in memorian) e Cibele. Viveu a maior parte da vida em Campinas (SP), onde cursou duas graduações, o mestrado e o doutorado.

Sua infância foi feliz e tranquila, com muitas brincadeiras. Na rua, entre meninos e meninas, brincava de cobra cega, pula-corda, queimada, esconde-esconde. Mesmo na brincadeira de casinha, considerada mais feminina, lembra-se de haver espaço para os meninos brincarem. Em casa, com o pai, gostava de jogar damas. Também jogava baralho e criava palavras cruzadas para outras pessoas resolverem. Desse período, Cecília também recorda dos pequenos livros, adquiridos no jornaleiro, que seu pai levava para casa – bem recortados, coloridos, com textos e lindas ilustrações.

Seus pais não tinham curso superior como a maioria dos filhos de imigrantes, no entanto possibilitaram a formação e o estudo a ela e a seus irmãos. Na escola, Cecília era uma aluna aplicada, que gostava bastante de Matemática, mas também de Português e Literatura. Embora, na infância, quando questionada por seu pai, pensasse em ser escritora, inspirada por seus irmãos mais velhos, seguiu carreira nas Ciências Exatas, tornando-se professora universitária na área. Sua irmã mais velha é pedagoga e seus três irmãos, engenheiros. Todos gostavam de Matemática.

Aos 17 anos, mudou-se para Campinas, onde, iniciou a graduação em Matemática na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e optou pela licenciatura. Curiosa pela área de Computação, com a qual tomou contato no ciclo básico da graduação em Matemática, decidiu também fazer o curso de Computação. Assim, em cinco anos, graduou-se em Licenciatura em Matemática e em Bacharelado em Computação.

Foi ainda no período da graduação que seus primeiros interesses em Informática na Educação foram despertados. Ao realizar a Iniciação Científica, curiosa pelo fenômeno da aprendizagem, conheceu a linguagem Logo. No mestrado, desenvolveu investigação na área, aliando Matemática, Computação e Educação, com trabalho pioneiro no país envolvendo Logo e crianças. Já no doutorado, iniciou estudos na área de Interfaces, trabalhando com Prolog e ambiente de interação para programação em lógica.

Como professora universitária, publicou vários livros, sendo o primeiro, em 1982, em coautoria com Heloisa Rocha e Sindo Vasquez Dias, intitulado “Introdução à Programação de Computadores” pela Editora Campus, o qual teve orgulho de mostrar a seu pai. No ano seguinte, em coautoria com Heloisa Rocha, publicou, pela editora CARTGRAF, o livro “O Computador: um novo super herói”, tendo crianças como público-alvo. Realizou, assim, seu desejo de criança de ser escritora.

Também nos anos 1980, em colaboração com o Ministério da Educação (MEC), contribuiu com a proposição de políticas públicas para a Informática na Educação no país e participou da fundação do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED) da Unicamp, um núcleo interdisciplinar de pesquisa pioneiro nessa área no Brasil.

Além da área de Informática na Educação, a professora Cecília Baranauskas apresenta contribuições na área de Interação Humano-Computador, destacando algumas aproximações entre áreas do conhecimento, de forma interdisciplinar, a relação humano-máquina, a necessidade de conhecer processos cognitivos e a relação social das pessoas com o ambiente e a tecnologia.

Na vida adulta em família, é importante destacar que Cecília e seu esposo, Vitor, trabalhavam em tempo integral. Em casa, portanto, de acordo com seus gostos, dividiam tarefas. Enquanto ela, muito impregnada da cultura italiana, cuidava das tarefas domésticas, ele fazia o mercado, a feira e levava as crianças ao parquinho. Já com as crianças, não havia divisão de tarefas, pois privilegiavam o tempo de qualidade com elas. Muitas vezes, não necessariamente por causa das tarefas domésticas, sentiu-se sobrecarregada. Afinal, na época em que realizou o doutorado, não podia se afastar das atividades docentes e de pesquisa em tempo integral. Assim, era preciso conciliar tudo, encontrando equilíbrio entre aquilo que gostava e o que devia fazer.

Em sua trajetória, muitas pessoas, dentre familiares, amigos e alunos a inspiraram. Na trajetória profissional, destaca seus orientadores  Fernando Curado e Armando Valente, e, na ciência, seu esposo Vitor Baranauskas (in memorian), além da educadora Edith Akerman (in memorian). Às meninas, recomenda paixão e coragem em tudo o que fizerem. Destaca a importância da pluralidade (de gêneros, de conteúdos, de acesso) no desenvolvimento de tecnologias. Ademais, chama atenção para a necessidade de entender a Computação como parte de um sistema social. Finalmente, sugere a leitura sobre paradigmas da ciência e sobre filosofia da tecnologia.

Para mais informações, acesse:

 


Acesse o e-book Mulheres na Computação no Brasil: histórias e memórias na íntegra: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/266567  


Acesse a transmissão online Mulheres na Computação no Brasil: Informática na Educação e IHC, disponível no canal YouTube do programa de extensão Programa C, em https://youtu.be/h6NWJFL6OVg

 

Acesse a página “Maria Cecilia C. Baranauskas”, do Projeto ENIGMA, em https://www.ufrgs.br/enigma/maria-cecilia-baranauskas/

 

Autoria

 

Alice Fonseca Finger. Professora adjunta na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), onde exerce a docência no Campus Alegrete desde 2014. É Bacharela em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Mestra e Doutora em Ciência da Computação pela mesma Universidade. Participa como equipe executora das ações de extensão do Gurias na Computação, projeto parceiro do Programa Meninas Digitais da Sociedade Brasileira de Computação. É líder do grupo de pesquisa Laboratory of Intelligent Software Engineering (LabISE). A Matemática sempre foi sua matéria preferida durante o ensino fundamental e médio. Na Computação, não foi diferente: é apaixonada pelas disciplinas matemáticas e teóricas. Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/2691501072064698

 

Aline Vieira de Mello. Professora adjunta na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), onde exerce a docência no Campus Alegrete desde 2011. É Bacharela e Mestra em Ciência da Computação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Doutora em Ciência da Computação pela Sorbonne Université. Coordenadora do programa de extensão Programa C e do projeto de extensão Motus – Movimento Literário Digital. Participou da concepção da ação de extensão Gurias na Computação, projeto parceiro do Programa Meninas Digitais da Sociedade Brasileira de Computação, na qual atua até hoje. Coordena o projeto de pesquisa Egress@s – coleta, disponibilização e visualização de dados. Desde pequena gostava de estudar e, mesmo sem saber ligar um computador, escolheu fazer o ensino médio técnico em informática. Teve um ótimo desempenho e se apaixonou. Considera que sua trajetória é fruto de bastante dedicação e uma dose de sorte. Optou pela docência porque queria que seu trabalho fizesse diferença na vida das pessoas. É casada e mãe da Maria Fernanda, do Henrique (in memorian) e da Elisa. Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/7822927936432169

 

Amanda Meincke Melo. Professora associada na Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), onde exerce a docência no Campus Alegrete desde 2009. É Bacharela em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Mestra e Doutora em Ciência da Computação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É também Licenciada em Letras-Português pela UNIPAMPA. Participou da concepção da ação de extensão Gurias na Computação, projeto parceiro do Programa Meninas Digitais da Sociedade Brasileira de Computação, na qual atua até hoje. É líder do grupo de pesquisa Grupo de Estudos em Informática na Educação (GEInfoEdu), coordenadora projeto de ensino GEIHC – Grupo de Estudos em Interação Humano-Computador e do programa de extensão TRAMAS, acrônimo para Tecnologia, Responsabilidade, Autoria, Movimento, Amorosidade e Sociedade. Desde muito pequena aprendeu a gostar de Matemática e de jogos de tabuleiro. Na pré-adolescência, foi apresentada ao mundo dos jogos digitais. Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/3659434826954635

 

Clevi Elena Rapkiewicz. Professora de Computação há mais de três décadas, em todos os níveis de ensino (educação básica, educação técnico-profissional, ensino superior e pós-graduação). Atuou em duas instituições públicas, a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Duplamente graduada (Tecnologia em Processamento de Dados pela UFRGS e Pedagogia pela UERJ), é mestra e doutora pela COPPE/UFRJ na linha de pesquisa Informática e Sociedade. Estruturou o projeto de extensão ENIGMA – Mulheres na Computação em 2014. Fundou, em 2022, o Espaço ENIGMA visando ações voltadas para visibilidade de mulheres na área de Computação. Seus pais não concluíram sequer o primário, mas sempre valorizaram o estudo. Egressa de escola pública estadual sempre viu na Educação uma forma de transformar a sociedade. Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/0588660330634011

 

Como citar este artigo

FINGER, Alice Fonseca; MELLO, Aline Vieira de; MELO, Amanda Meincke; RAPKIEWICZ, Clevi Elena. Mulheres na Computação no Brasil: histórias e memórias de Maria Cecília Calani Baranauskas. SBC Horizontes, março de 2024. ISSN 2175-9235. Disponível em:  https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2024/05/mulheres-na-computacao-no-brasil-historias-e-memorias-de-maria-cecilia-calani-baranauskas/ Acesso em: DD mês AAAA.

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