Cartografia do invisível

Cartografia do invisível

Ver espaço vazio. See-bare-space. Cyberspace. O ciberespaço está virando do avesso. De dentro para fora em um movimento de eversão. Está saindo do lugar e invadindo nosso mundo físico. Eversion, explica William Gibson, no livro Território Fantasma. A história envolve investigação, espionagem e muita tecnologia, claro.

Hollis Henry, jornalista, fotógrafa e ex-vocalista de uma banda de rock, vai a Los Angeles para escrever uma matéria sobre o cenário artístico para a revista Node. Esse trabalho leva Hollis ao submundo das tecnologias geoespaciais. Misturando GPS e arte digital, Gibson dá destaque para as tecnologias locativas, que são aquelas que permitem a interação entre o espaço e os dados, através do sistema de posicionamento global. “Mas não se pode simplesmente estar no locativo com o sistema nervoso”, nos avisa um dos personagens. Um dia será possível, ele conclui, pois “teremos internalizado a interface”. A ficção sempre antecipa a história, né?

Na trama, basta uma URL, as coordenadas de GPS e a interface adequada – um capacete, um laptop e wi-fi – para visualizar os atributos cartográficos do invisível. Achei uma forma poética para conceituar a tecnologia de realidade aumentada.

O mundo conheceu a realidade aumentada por meio daquela experiência coletiva do Pokémon Go, quem não lembra? Aumentar a realidade envolve incorporar elementos digitais no mundo físico. Mas também dá para diminuir ou misturar. O que é real hoje depende do ponto de vista e da tecnologia que a gente usa. Tem realidade de vários tipos e de muitos preços.

– O essencial é invisível aos olhos, disse a raposa ao Pequeno Príncipe.

– Quem me dera ao menos uma vez explicar o que ninguém consegue entender, respondeu o poeta.

Ver espaço vazio. See-bare-space. Cyberspace. De dentro para fora. De um mundo separado para uma parte do mundo. Gibson diz que habitamos um território fantasma.

“Existe o que está diante dos olhos.”

“Existe o que está oculto.”

“Esse é o outro lado da tela.”

Arte: Niki (@ jururuart)
Revisão: Tiago Bergenthal
Texto produzido durante o módulo Mosaico (@oficinasantasede & @rubempenz).

Como citar esse artigo:

BASSANI, Patrícia Scherer. Cartografia do invisível. SBC Horizontes, 09 dez. 2024. ISSN 2175-9235. Disponível em: < https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2024/12/cartografia-do-invisivel/gt;. Acesso em: DD mês. AAAA

Patrícia Scherer Bassani é doutora em Informática na Educação, professora titular do PPG em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias.

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