Deslocação

Se eu pudesse escolher um superpoder? Teletransporte, com certeza. Imagina poder sumir de um lugar e se materializar em outro, assim como o Noturno, um dos mutantes de X-Men?
Muito irreal? Então, quem sabe, uma tecnologia avançada como em Star Trek? Da Enterprise para outros mundos e depois retornar. Simples e rápido. Resolvi pesquisar um pouco sobre o funcionamento do teletransporte em Jornada nas Estrelas e fiquei surpresa com tanta teoria. Encontrei inúmeras discussões de fãs sobre o tema.
Por que existe uma sala específica de teletransporte, se a Enterprise pode teletransportar você de qualquer ponto da nave para qualquer outro ponto? Fiquei impressionada com a profundidade da discussão sobre consumo de energia.
Se a nave tem sistema de teletransporte, por que não teletransportar a nave toda? Aqui encontrei uma vasta discussão sobre a dificuldade de desmaterializar e materializar objetos grandes. Além disso, dizem que fica inviável em velocidade de dobra.
Mas a que eu mais gostei foi essa: se você se teletransportar para algum lugar, você é tecnicamente a mesma pessoa do outro lado? Discussão filosófica interessante, não?
Bom, do conjunto de coisas inventadas, ainda não inventaram teletransporte. Mas tem gente tentando. Vi uma notícia de que agora já é possível teletransportar um aroma.
Uma startup americana chamada Osmo conseguiu fazer isso com o aroma de uma ameixa. Utilizaram cromatografia gasosa, espectrometria de massa e muita inteligência artificial. Eles cortaram a fruta e colocaram em uma máquina, que capturou o perfume. Depois, digitalizaram esse perfume por meio de uma fórmula e enviaram os dados para outro lugar. Na verdade, eles fizeram uma impressão digital do aroma. Transformaram o ar em dados. Digitalizaram e (re)materializaram o aroma de uma ameixa em formato de essência destilada. Um perfume. Só uma imitação. Mas já fiquei feliz com as possibilidades de explorar um novo sentido à distância.
Tecnicamente falando, é o mesmo aroma. Mas, efetivamente, não é o mesmo. É a mesma coisa. Mas não é a mesma coisa, né?
Fechei os olhos e pensei nele. Lá longe. Do outro lado do mundo. Aqui ainda dia, lá já é noite. Eu queria ser o Noturno. Só hoje.
Arte: Niki (@ jururuart)
Revisão: Tiago Bergenthal
Texto produzido durante o módulo Mosaico Santa Sede (@oficinasantasede & @rubempenz).
Como citar esse artigo:
BASSANI, Patrícia Scherer. Deslocação. SBC Horizontes, 10 mar. 2025. ISSN 2175-9235. Disponível em: < https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2025/03/deslocacao/gt;. Acesso em: DD mês. AAAA

Patrícia Scherer Bassani é doutora em Informática na Educação, professora titular do PPG em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias.