Sobre o tempo

Sobre o tempo

A maioria das pessoas sente o tempo de forma linear – início, meio e fim. O tempo de uma vida. Minutos. Horas. Dias. Meses. Anos. Crescimento linear e depois, fim. A gente não consegue pensar a vida de outra forma. Como era no passado, agora e sempre.

Mas “o futuro não é mais como era antigamente”, professou Renato Russo há anos. A tecnologia acelerou o tempo. Virou exponencial. Poucas vezes tivemos a oportunidade de vivenciar uma experiência assim. Aconteceu na pandemia. Aquela curva aumentando rapidamente e sem fim. Exponencial é viral. É explosivo. Não dá pra imaginar o futuro nessa velocidade. É difícil de acompanhar, porque não combina com a vida.

A cada doze meses a gente dá uma volta no sol e comemora mais um ano – ou seria menos um? Simples de viver, confuso de entender. Não é coisa de pensar. É coisa de aproveitar. E entre uma conversa e outra, saboreando a torta de chocolate, o mundo muda. Perdi alguma coisa? “As coisas mudam no devagar depressa dos tempos”, já anunciou Guimarães Rosa muito tempo atrás.

How soon is the future? O futuro é logo ali. Doze meses. Doze dias. Doze segundos. É tudo aquilo que ainda não aconteceu. São as possibilidades.

Amy Webb, futurista, nos alerta sobre o paradoxo do presente. É difícil pensar em possibilidades de futuro, porque não temos mais um ponto de referência compartilhado do presente. A vida segue em tempos diferentes. A água que sobra aqui, falta lá. É preciso ficar atento aos sinais. As tendências estão sempre em movimento e elas que nos permitem vislumbrar futuros.

Futuros, assim mesmo, no plural. Futuros prováveis, plausíveis ou possíveis. Provavelmente vai acontecer se tudo continuar assim. Mas as coisas se movimentam e o movimento é rápido. O ritmo aumenta com o tempo. Sempre tem alguma coisa nova surgindo nas bordas, lá onde pouca gente presta atenção. Nesse caso, é plausível. Será possível? A gente vai ter que esperar pra ver. Se perguntar pro Graciliano Ramos, ele vai dizer que “certeza, certeza de verdade, ninguém tem”.

Na incerteza do cotidiano, a vida segue de doze em doze. Horas. Meses. E nesse conjunto de cenários possíveis, nasci cedo demais pra ser imortal.

Arte: Niki (@ jururuart)
Revisão: Tiago Bergenthal
Texto produzido durante o módulo Circuito Santa Sede (@oficinasantasede & @rubempenz).

Como citar esse artigo:

BASSANI, Patrícia Scherer. Sobre o tempo. SBC Horizontes, 22 jul. 2024. ISSN 2175-9235. Disponível em: < https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2024/07/sobre-o-tempo/>. Acesso em: DD mês. AAAA

Patrícia Scherer Bassani é doutora em Informática na Educação, professora titular do PPG em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias.

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