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História da Computação – Uma entrevista com o professor Raul Sidnei Wazlawick

História da Computação – Uma entrevista com o professor Raul Sidnei Wazlawick

Isa: Olá professor Raul, primeiramente gostaria de agradecer pela entrevista. Você poderia falar um pouquinho de sua trajetória acadêmica e profissional?
Raul:
Olá Isabela! Obrigado pela oportunidade. Fiz Graduação e Mestrado na década de 1980 e terminei meu doutorado em 1993. Sou professor da UFSC desde 1992, atualmente titular, e coordeno o Laboratório Bridge da UFSC que desenvolve projetos de software e modelos de informatização para o Ministério da Saúde e ANVISA.

Isa: Qual a importância de sabermos sobre a história da computação?
Raul:
Em primeiro lugar creio que esteja em entender os fundamentos da nossa área. Na medida que conhecemos as origens de cada uma das tecnologias que hoje utilizamos, poderemos compreender melhor como elas funcionam. Por exemplo, quando vou explicar o conceito de variáveis a iniciantes em programação gosto de usar como exemplo as torres de discos numéricas que Charles Babbage concebeu no Século XIX; com elas podemos literalmente ver o processo de computação acontecendo. Além disso, creio que existem muitas lendas ou histórias mal contadas por aí que precisam ser esclarecidas. Já vi muito pessoas falando sobre certos “fatos” históricos que ou são falsos ou são meias verdades.

Isa: Você lançou um livro recentemente, chamado História da Computação, da série da SBC/Elsevier. Qual o papel deste livro e sua contribuição para os estudantes de graduação?
Raul:
Além de ajudar a entender os fundamentos, como já mencionei, o livro apresenta ao estudante muitos fatos e processos importantes para a área. Não fico apenas listando datas e nomes, mas apresento histórias bastante ilustrativas sobre questões tecnológicas, éticas, mercadológicas, etc. Por exemplo, a discussão sobre o desemprego causado pela automatização já vem desde o início do Século XIX quando Jacquard quase foi morto pelos tecelões que temiam perder o emprego quando este industrializou a construção de teares automáticos. Por outro lado, no início da era da computação a IBM não queria chamar suas máquinas de “computadores” porque este era o nome de uma profissão. Outro exemplo é o mais recente “Efeito Osborne” da década de 1980, quando o presidente de uma empresa a levou à falência ao anunciar um produto melhor do que seu carro chefe antes de estar pronto a lançá-lo no mercado. Temos muitos exemplos ilustrativos da história sobre ideias que deram muito certo e revolucionaram o mundo, mas também de grandes fiascos; as grandes empresas de tecnologia de hoje colecionaram os seus. Podemos aprender muito com esses erros e acertos.

Isa: Que eventos da história você acredita sejam essenciais a serem estudados?
Raul:
Meu livro aborda mais de 300 tópicos. Mas acho importante entender a evolução das calculadoras mecânicas e do trabalho de Babbage e Lovelace, já que este concebeu o primeiro computador de propósito geral e ela criou muitos dos conceitos de linguagens de programação que usamos hoje. No início do Século XX há vários trabalhos importantes incluindo os de Turing, Shannon, von Neuman e Zuse. Visionários importantes como Vannevar Bush, Ivan Sutherland e Alan Kay conceberam tecnologias que na sua época eram ficção científica que que poucas décadas depois se tornaram realidade. A partir dos anos 1970 temos a história das primeiras empresas de tecnologia que começaram a trazer a computação para mais perto do cidadão comum. O importante é que o livro não se limita a falar apenas da história dessas empresas ou computadores; também abordamos a motivação e surgimento das linguagens de programação, sistemas operacionais, aplicações comerciais, entre muitos outros conceitos.

Isa: Que dicas você pode dar aos ingressantes em cursos de computação e áreas correlatas?
Raul:
Que gostem daquilo que estudam e se dediquem a isso. Cada vez menos pessoas escolhem a área de tecnologia quando o mundo precisa mais delas. Nós, os profissionais da computação, provocamos uma grande revolução neste planeta a qual está ainda no seu início. Quando olhamos para a história vemos o quanto essas contribuições foram determinantes para a construção do mundo atual. Porém, ainda há muita coisa a fazer, muitas revoluções ainda estão para acontecer na área tecnológica. O capítulo final do livro se dedica um pouco a essa futurologia. Assim, o profissional que hoje está iniciando seu caminho deve colocar seus olhos no futuro da tecnologia e nas novas possibilidades e não apenas no mercado atual, que está em constante mutação. A história mostra que aqueles que apostaram no futuro tiveram sucesso em muitas oportunidades enquanto que os que ficaram presos ao presente fracassaram.

Isa: Mais uma vez agradeço sua participação na coluna ‘A Hora do Chat’. Seu livro é uma contribuição importante para a comunidade!
Raul:
Eu que agradeço a oportunidade, Isabela. Foi um prazer colaborar e, para todos os leitores deste ou de outros livros meus, estou sempre à disposição para trocar ideias por e-mail ou redes sociais. Todos os meus livros contam com uma página oficial no Facebook.

Raul Sidnei Wazlawick é Professor Titular da USFC, onde trabalha desde 1992. Possui Bacharelado em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 1988), Mestrado em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 1990), Doutorado em Engenharia de Produção (UFSC, 1993) e Pós-Doutorado pela Universidade Nova de Lisboa (UNL, 1998). Ministra Engenharia de Software II e Informática e Sociedade no Bacharelado em Ciência da Computação e Modelagem Orientada a Objetos no Mestrado/Doutorado em Ciência da Computação. Na UFSC ocupou os seguintes cargos: Coordenador do Bacharelado em Ciência da Computação, Coordenador do Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Ciência da Computação, Conselheiro da Câmara de Pós-Graduação e Diretor Acadêmico do Campus de Araranguá. Na Sociedade Brasileira de Computação (SBC) foi Conselheiro Suplente por quatro mandatos e Conselheiro Titular por um mandato, além de Coordenador do Comitê Especial de Informática na Educação entre 1995 e 1997. Criou e foi editor da Revista Brasileira de Informática na Educação da SBC entre 1997 e 2001. Na International Federation for Information Processing (IFIP) foi representante do Brasil no Comitê Técnico de Educação (TC3) por 11 anos e Chair do Working Group on ICT and Higher Education (WG3.2) por 2 anos. Coordenou vários eventos nacionais e internacionais, incluindo o Congresso da SBC (2002), Simpósio Brasileiro de Engenharia de Software (SBES, 2006) e, juntamente com Rosa Maria Vicari, a IX IFIP World Conference on Computers in Education (2009). É autor dos seguintes livros: Análise e Design Orientados a Objetos para Sistemas de Informação: Modelagem com UML, OCL e IFML, (Elsevier, 2004; 3ª edição em 2015; Edição em inglês pela Morgan Kaufman em 2014), Metodologia de Pesquisa para Ciência da Computação (Elsevier, 2009; 2ª edição em 2014), Engenharia de Software: Conceitos e Práticas (Elsevier, 2012) e História da Computação (Elsevier, 2016). Tem experiência na área de Engenharia de Software, atuando principalmente em modelagem de sistemas orientados a objetos e melhoria do processo de desenvolvimento de software. No Ministério da Educação (MEC) foi membro do Comitê de Especialistas de Ensino em Ciência da Computação (CEEInf) por 4 anos e é atualmente membro da Comissão Assessora da Área de Sistemas de Informação para o ENADE. É Coordenador Geral do Laboratório Bridge, que entre outros projetos desenvolve o sistema e-SUS AB, parceria da UFSC com o Ministério da Saúde para a reestruturação do sistema de informação da atenção básica (Postos de Saúde) no Brasil. Recebeu, juntamente com sua orientanda Marília Guterres Ferreira, o prêmio Best Paper Award na Conferência Iberoamericana de Engenharia de Software em 2011. Em 2013 recebeu o título de Professor Honoris Causa pelo Centro de Instrução de Guerra Eletrônica do Exército Brasileiro.

Para saber mais sobre o professor também acesse seu Currículo Lattes e sua página na UFSC.

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