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Lynn Ann Conway: Uma Pioneira em Segredo que TRANSformou sonhos em realidade

Lynn Ann Conway: Uma Pioneira em Segredo que TRANSformou sonhos em realidade

Por Camila Puchta Medina e Lucas Pujol de Souza

Revisão: Alane Marie de Lima, Heloise Acco Tives e Sílvia Amélia Bim
Edição: Heloise Acco Tives

Esse texto foi produzido no contexto da disciplina optativa Computação e Sociedade ofertada para estudantes de Sistemas de Informação e Engenharia da Computação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – campus Curitiba. A disciplina foi conduzida de forma remota no semestre 2021.2 e de forma presencial no semestre letivo 2022.1.

Lynn Conway é uma inspiração para qualquer mulher na área de tecnologia. Nascida em 1938, ela é referência na área de arquitetura de computadores com suas pesquisas sobre circuitos, sendo pioneira na pesquisa sobre sistemas VLSI (Very Large-Scale Integration), base dos microprocessadores e chips de memória que usamos hoje em dia.

O que ficou em segredo por muito tempo é que Lynn Conway é uma mulher transgênero, e que a transfobia que sofreu enterrou parte de suas contribuições à tecnologia por muito tempo.

O Início

 Nascida em 2 de janeiro de 1938, Lynn Ann Conway viveu sua infância em Nova York com seus pais. Seu sonho era poder usar um vestido que havia visto em uma loja, mas ao pedir a sua mãe foi muito repreendida. “Você NÃO é uma menina!”, foi uma frase que ela ouviu muito de sua família (CONWAY, 2004).

Lynn gostava de matemática e astronomia, o que a fez entrar no curso de Física no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde além de estudar e trabalhar, participou do clube de vela da universidade. No entanto, após uma tentativa sem sucesso de transição de gênero em 1958, decidiu abandonar o curso. Depois de um período de reflexão viajando pelos Estados Unidos, entrou na Universidade de Columbia, se graduou e fez mestrado em Engenharia Elétrica. Sua carreira profissional iniciou em 1964, quando foi contratada pela divisão  de arquitetura de computadores no IBM Research, em Nova York, em uma equipe formada inteiramente por homens, com exceção dela mesma. Lynn liderou pesquisas e foi a responsável por construir e implementar uma lógica utilizada em processadores de alto desempenho até hoje. Sem seu trabalho seria impossível a existência de computadores, celulares e tablets como conhecemos. Como ainda se apresentava com o gênero ao qual não se reconhecia, Lynn buscava formas de se adequar ao que acreditava ser ela mesma. Ao conhecer o Dr. Harry Benjamin, famoso médico e sexólogo alemão, descobriu que a cirurgia de readequação genital já era uma realidade e deu início a sua transição. Revelando suas intenções de transicionar, foi demitida da IBM apesar de todas suas contribuições (LOISELLE, 20??).

Recomeço

Na época da transição, Lynn era casada e tinha duas filhas. Ela foi impedida pela justiça de vê-las, mas retomaram o contato depois da maioridade. Com a conclusão de sua transição, um novo nome e identidade oficiais, e ignorando o currículo impressionante que já tinha, Lynn reiniciou sua carreira como uma mulher cisgenero ainda em 1968 (CONWAY, 2004).

Alguns anos depois ela se juntou à equipe da Xerox PARC e nessa empresa desenvolveu sua maior contribuição para Computação, o design de sistemas VLSI, que anos depois culminou no livro Introduction to VLSI Systems, utilizado como base em currículos de arquitetura de computadores por décadas.

 

Em 1985, Lynn se tornou professora de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação na Universidade de Michigan, onde deu diversos cursos baseados na sua pesquisa. Pouco tempo depois, em 1987, conheceu Charlie, um engenheiro que compartilhava não só sua paixão pela engenharia como também seu amor pelo ar livre e canoagem. Ela também foi consultora de instituições como o MIT e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Lynn reconstruiu uma sólida carreira, sendo inclusive agraciada com quatro doutorados honorários

A Revelação

No final da década de 90, pesquisadores encontraram a antiga pesquisa de Lynn na IBM. Sentindo-se mais confortável com a aceitação de transgêneros pela sociedade, ela aproveitou a oportunidade para compartilhar seu segredo com amigos próximos sobre seu passado e, depois, para a sociedade. 

Lynn passou então a atuar ativamente na luta dos direitos das pessoas transgênero, escrevendo em seu site pessoal sobre sua transição e carreira, trazendo os olhares para os problemas de aceitação na indústria da tecnologia. Em 2014, foi nomeada pela revista Times Magazine como uma das 21 pessoas transgênero que influenciaram a cultura estadunidense. 

Lynn deu várias entrevistas para revistas de Los Angeles, cidade onde morava, e decidiu que usaria a sua imagem para dar suporte para que outras mulheres e pessoas transgêneras tivessem oportunidade de crescer. Ela se mostrou uma ativista tão incrível quanto foi professora e arquiteta. Se hoje o código de ética da IEEE é inclusivo para pessoas transgêneras, é pelo trabalho de Lynn.

 

O Pedido de Desculpas

Em 2020, 52 anos após ter sido demitida, Lynn foi convidada pela IBM para receber o Lifetime Achievement Award (CRAMER, 2020). O que ninguém esperava é que no evento, a empresa oferecesse um pedido formal de desculpas pela demissão de Lynn na década de 60. Foi um marco não só para ela e para a IBM, mas para todas as pessoas transgêneras que já foram injustiçadas durante suas carreiras.

Um exemplo de luta, resiliência e com contribuições espetaculares para a área, Lynn nos mostra o quanto a diversidade e o respeito às pessoas transgênero traz benefícios para toda a humanidade. A presença LGBTQIAP+ dentro de todos os ambientes é cada vez mais aparente e importante, sendo que não há mais espaço para preconceito. Essa deve ser uma busca constante por todos nós.  

Referências:

CONWAY, Lynn. Lynn Conway‘s Webpage. [S. l.], [2004]. Disponível em: https://ai.eecs.umich.edu/people/conway/. Acesso em: 21 jul. 2021.

CRAMER, Maria. 52 Years Later, IBM Apologizes for Firing Transgender Woman. The New York Times. 21 nov. 2020. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/11/21/business/lynn-conway-ibm-transgender.html Acesso em: 12 abr. 2022.

LOISELLE, Mia. LGBTQ+ Tech Innovator: Lynn Conway. Dixa. 2022. Disponível em: https://www.dixa.com/blog/lgbtq-tech-innovator-lynn-conway/ Acesso em: 12 abr. 2022.

 

Sobre os autores: 

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é Camila-2.jpg Camila Puchta Medina. Apaixonada por livros, gatos, k-pop e vídeo games e sem parentesco com o surfista famoso com quem compartilha o sobrenome, Camila é graduanda em Sistemas de Informação pela UTFPR e também Analista de Qualidade há 4 anos.
O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é Lucas-1.jpg Lucas Pujol de Souza. Graduando em Sistemas de Informação pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, possui grande interesse na área de computação e sexualidade. Gosta de passar horas jogando conversa fora com os amigos e não imagina sua vida sem seus quatro gatos: Alice, Bianca, Filomena e Teobaldo.

Como citar este artigo 

MEDINA, Camila P., SOUZA, Lucas P. de. Lynn Ann Conway: Uma Pioneira em Segredo que TRANSformou sonhos em realidade. SBC Horizontes, julho de 2022. ISSN 2175-9235. Disponível em: http://horizontes.sbc.org.br/index.php/2022/06/lynn-ann-conway-uma-pioneira-em-segredo-que-transformou-sonhos-em-realidade/. Acesso em: DD mês AAAA.

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