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Abertura: Sobre eventos científicos computacionais brasileiros, cultura científica e aspectos éticos ou morais

Abertura: Sobre eventos científicos computacionais brasileiros, cultura científica e aspectos éticos ou morais

Por Luiz Paulo Carvalho e Deógenes Silva Junior

Algumas premissas para leitura deste texto:

  1. Este é um texto colaborativo. Mesmo narrado por mim, sua construção foi coletiva, seja por pessoas que contribuíram com um ou dois dados por e-mail, com longas conversas ou enviando materiais. Outras pessoas revisaram, criticaram ou avaliaram este texto de outras formas.
  2. Este texto faz parte de uma coletânea de textos. Se parte da informação parece limitada ou algum dado parece faltante, recomendamos: 1) aguardar o lançamento dos demais; 2) consultar os demais materiais desta série; 3) procurar a mim ou a um dos co-autores; 4) complementar este texto com um material seu (preferencialmente aqui na SBC Horizontes).
  3. Este texto tem teor crítico e interpretativo e está ancorado em dados concretos, fatos ou elementos da materialidade. Nesta toada, há um esforço (quase) absurdo para que não sejam realizadas concatenações de dados/informações com teor moral, associado a valoração moral ou com juízo de moral.
  4. Esta não é uma comunicação científica. Apesar da roupagem acadêmico-científica deste texto, ele NÃO É um artigo científico, um TCC, uma monografia, um paper, ou uma comunicação formal e científica, nos termos tradicionais. Caso seja usado como base, referência ou fonte para uma comunicação formal e científica ou qualquer outro uso, não esqueça de nos citar ou explicitamente mencionar.
  5. Este texto pode conter erros, deslizes ou desfalques objetivos. Se qualquer dado concreto ou fato estiver objetivamente errado, ou algo esteja faltando, não hesite em nos avisar. O dado/informação será verificado, validado e avaliado; possivelmente integrado em uma nova versão. Um dos benefícios deste formato é que podemos fazer outras versões e ajustar com erratas.
  6. Por fim, sinta-se confortável para discutir, debater, discordar ou criticar construtivamente este texto. Principalmente se qualquer informação ou conhecimento aqui (além dos dados concretos ou fatos) lhe causar desconforto, conflito moral ou desagrado. Não somos os “donos” de todas as interpretações ou entendimentos sobre a realidade, mas somos capazes e permitidos da emissão das nossas. 🙂

Abertura. Sobre eventos científicos computacionais brasileiros, cultura científica e aspectos éticos ou morais

Ano passado eu estava em um evento, em São Paulo (SP). Antes de irmos para o jantar da conferência estávamos juntos em um grupinho, meio que destacado eu conversava com uma professora. Então iniciou-se uma conversa, que vou resgatar dois pontos.

O primeiro sobre onde seria o próximo evento, e cogitou-se realizá-lo no Pará (PA) ou em Minas Gerais (MG). Cada um indicado por motivos específicos, válidos. Como boa parte do levantamento de dados desta série já estava estruturado, comentei com ela: “sabia que se o evento for no Pará vai ser a primeira vez, no século vinte e um, que é realizado na região Norte como um todo? Não foi sediado na região Norte e nem no Centro-Oeste desde 2001? Só um de seus sub-eventos teve uma edição em Mato Grosso em 2011?”. Daí ela ficou bastante surpresa, e lançou o famoso: “Nenhum mesmo?”, e eu assenti. Nenhum.

O segundo sobre o preço, e isso ainda culminou em outra dificuldade, a prática. Após a localização, iniciou-se um debate que podemos resumir a “mas se sediarmos o evento no Pará, pessoas vão mesmo?”. E isso trouxe o aspecto prático à tona. No PA tem um grupo/comunidade bem forte, só que isso é “o bastante” para levar este evento para lá? E ainda no ensejo de preço do evento, conversamos sobre o preço da conferência em 2022, neste a inscrição foi de R$810,00, mas em outro evento (que calhou eu também ter ido) este valor foi de R$160, ambos no primeiro lote. E, novamente, a resposta foi uma expressão de surpresa pela diferença.

Estas duas dimensões, quanto custa e onde ocorre, são apenas a ponta de um iceberg bastante complexo que compõem os eventos da ciência + computação* brasileira. Só que esta complexidade não é apenas técnica ou prática (por exemplo, “fazer um evento é difícil”), ela tem profundas raízes sociais, políticas, materiais e, de nosso interesse principal, éticas.

Há alguns anos atrás eu estava em um evento da área de Interação Humano-Computador, chamado Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais (chamado carinhosamente de IHC) em Belém. Em determinado momento, sem nenhuma atração de meu interesse para assistir, entrei em uma sessão aleatória e revezei entre olhar o celular e observar a dinâmica. A certa altura, uma pessoa muito prestigiada e renomada iniciou um discurso que capturou meu interesse de tal forma que este episódio foi o gatilho e o principal motivador deste presente trabalho.

Essa pessoa de grande prestígio e renome expressou desagrado por ter que se locomover tão prontamente de um estado da região Sudeste para um estado da região Norte. Esse procedimento de viagem era bastante trabalhoso, a passagem era cara e o esforço era excessivo (hoje, em 2023, tudo isso se intensificou). Até aquele momento, eu simpatizava quase inteiramente com esse discurso. Quando o discurso termina, uma pessoa na platéia levanta a mão. Eu estava pronto para pegar meu celular novamente quando este questionador perguntou a esta pessoa renomada sobre o oposto: “E para quem NÃO mora na região Sudeste e tem que se deslocar para lá o tempo todo porque tudo que acontece como evento “importante” ou “relevante” na computação brasileira gira em torno das regiões Norte ou Sul?” Algumas pessoas ficaram confusas, atordoadas ou inflamadas com essa pergunta, mas a moderação abafou e amenizou a situação, a figura renomada não interagiu com essa pergunta e foi isso.

Em algum momento da minha trajetória acadêmico-científica, resolvi me posicionar sobre ética computacional e metaciência, com ênfase no contexto brasileiro. Após submeter diversas publicações analisando aspectos éticos presentes nas publicações de eventos científicos computacionais, aquela inquietação começou a germinar na minha cabeça, ali no recanto da minha memória. Em 2021, o IHC aconteceu na modalidade online, totalmente virtual. Houve uma palestra ministrada pela professora Milene Selbach Silveira, da PUCRS, intitulada “Anteriormente no IHC… seguindo a história da comunidade brasileira de IHC”. Ao apresentar a trajetória do IHC, ela divulgou os estados onde o evento ainda não havia sediado — se surpreendendo com o fato de nunca ter sido sediado no RJ e comentando que também nunca foi sediado no AC.

Além daquela quase inflamada discussão que aconteceu no IHC de Belém, surgiu outra motivação. Em diversas conversas e bate-papos informais com colegas pesquisadores iniciantes, desde alunos de graduação até doutorandos, e alguns doutores e professores; muitos desconhecem o cenário acadêmico-científico brasileiro da computação. Inclusive seus acontecimentos, assim como desconhecem muitas características, como cultura, moral, economia, organização, etc.

E eu passei a frequentar reuniões de comunidade e Comissões Especiais (CEs) nos eventos que fui, percebendo que a perspectiva de que a memória e os dados/informações históricos dos eventos podem melhorar muito. Há pouca gestão da memória sobre o que está acontecendo ou já aconteceu, e pouca gestão do conhecimento que estruture, organize ou sintetize estes dados/informações como conhecimentos de qualidade, por exemplo, em questão de utilidade ou acessibilidade. Isso não ocorre apenas nas próprias redes/comunidades, mas entre elas também.

Já antecipando uma das matérias finais desta série, de discussão e análise do cenário, é imprescindível esclarecer que esta análise, ou as críticas que estão por vir, NÃO SÃO direcionadas a pessoas específicas ou pequenos coletivos, sob vistas da ética ou moral. Há uma circunstância sistêmica, institucional ou estrutural por trás. Então quando você lê que a inscrição para um evento custou R$810 ou que ele nunca ocorreu em qualquer estado da região Norte, talvez isso tenha despertado um amargor moral de “pera, tem algo de errado aí…”. E eu vou te pedir para afivelar os cintos, se segurar no banco e se preparar, porque esta é apenas a ponta do iceberg. Mas, mais do que isso, nem tudo é eticamente o que parece, apenas baseado em dados brutos ou informações isoladas **.

Para onde vamos?

Nesta série vamos cobrir 28 simpósios realizados oficialmente pela SBC ***. E nas matérias posteriores trataremos, caso necessário, de cada um com mais detalhes. De início minha intenção principal era responder aquela curiosidade boba “tá, mas realmente acontece essa parada de ter mais evento na região Sudeste ou Sul do que na Centro-Oeste, Nordeste ou Norte?“. E o que parecia uma brincadeira informal de análise simples de dados alcançou uma complexidade enorme e expôs fenômenos nem um pouquinho triviais.

De início a premissa era bem boba, a ingenuidade do meu raciocínio: “são eventos da computação organizados pelas maiores pessoas especializadas em computação do Brasil, sobre computação e para computação, é só ir no Google e pesquisar o nome do evento e o ano e vai aparecer tudo“.

O resultado desviou bastante deste raciocínio, negativamente.

Quanto mais antigo o ano da edição do evento, pior para encontrar informações. Pior pra tudo, inclusive para encontrar os anais dos eventos! Alguns eventos simplesmente “não existem” no âmbito digital do ciberespaço desde 2013 ou anteriormente, isto é, há um apagão de informações. Nada, nada. Coloca no Google o nome do evento e o ano e nada. Mas até aí tudo bem, porque eu só queria encontrar as localizações dos eventos mesmo.

Cada evento tem o envolvimento de uma coletividade por trás, e institucionalmente os eventos da SBC tem CEs por trás deles. Os eventos, em última instância, são responsabilidades das CEs. E as CEs tem websites. Logo, como as CEs representam comunidades epistêmicas específicas e a responsabilidade pelos eventos é delas, nos websites delas terão os dados organizados e estruturados. De novo, nada.

Na verdade, para não ser cruel demais, pouquíssimos resultados retornaram esses dados, encontrando até websites não funcionais, significativamente desatualizados ou com muitíssimos links quebrados. Mas os websites também não seguem um padrão, então não foi muito fácil encontrar dados específicos em websites diferentes.

Para maior completude e preservação desta memória, me esforcei para cobrir todo o século XXI, então teremos dois momentos de análise. A maior e mais aprofundada análise cobre 2001 até 2019, até a pandemia de COVID-19 e uma parte sobre 2022 e 2023. Por exemplo, a análise de dados financeiros e similares cobre, principalmente, 2022 e 2023.

Neste sentido, o período de emergência da pandemia (e a própria pandemia), 2020 e 2021, está fora do escopo central da análise. Este é um período tão complexo, denso e diferente do resto que é necessário um estudo aprofundado apenas para ele. Se tiver algo, no máximo será uma matéria curta, porque fingir que a pandemia não existiu e não nos afetou seria até absurdo. Caso tal evento tenha sido realizado em tal lugar atípico em 2020 e 2021, vale lembrar que foi online e que a dinâmica de um evento online é diferente do presencial, por exemplo, em precificação e no tipo de presença.

Aqui teremos uma série de matérias, e esta será a embarcação que vai trazer uma perspectiva sobre diversos aspectos dos eventos científicos brasileiros da computação, no geral e sem aprofundar especificamente em algum, indo de tópico em tópico, análise em análise; com base em dados e informações, e fundamentações diversas que envolvam os fenômenos dos mesmos. Vamos passar pelas localizações pontuais, alocações e co-alocações, histórico geográfico, análise linguística, analisar o famoso questionamento “por que eventos acontecem onde acontecem?“, e finalizar discutindo o que tiver sido abordado e responder: “os eventos realmente estão predominantemente localizados e concentrados no eixo sul-sudeste?”  

Na primeira matéria desta série a nossa embarcação estará zarpando e vamos tratar de itens centrais e gerais de conceituação dos fenômenos da ciência + computação brasileira: cultura científica e aspectos éticos ou morais.  

Cultura científica

“A ciência é criada por humanos. As atividades científicas são atividades sociais, então a cultura científica é o produto das atividades humanas ou de grupos particulares de pessoas. Os padrões de pensamento, valores, normas de comportamento e tradições da Ciência formados em sua história refletem sua conotação cultural.” (Wang, 2018)

Se a Ciência é uma atividade humana, o pensar-fazer Ciência está intrinsecamente relacionado com ética. Embora alguns autores acreditem que, objetivamente, os métodos, normas e sistemas científicos norteiam a Ciência e não a integridade e a ética, há uma profusão de incertezas quando escapamos dos frágeis limites do senso comum sobre pensar-fazer ciência. Por exemplo, financiamento; relações interpessoais entre pares, como entre orientadores e orientados; discriminação social, como questões de gênero; fatores psicológicos e mentais como ansiedade e depressão; dentre outros.

A pesquisa acadêmico-científica precisa de rigor e relevância. Embora ambos apresentem definições e conceitos ambíguos e não consensuais na literatura, as pessoas acadêmicas-cientistas almejam essas qualidades visando esse ápice em suas pesquisas, ou seja, “ser” uma pessoa pesquisadora relevante e rigorosa, apresentando pesquisas com essas mesmas qualidades.

Essas ideias são da cultura científica tradicional dominante. Por exemplo, suponha que a quantificação moral determine que “ser relevante” significa “publicar em comunicações de alto QUALIS”. Nesse caso, quem escapar dessa dinâmica seguirá uma cultura científica marginal e desviante sem fugir dos princípios e preceitos morais. Este texto é um artefato discursivo que se desvia da norma moral tradicional da computação, ou seja, “você deve escrever toda e qualquer comunicação acadêmico-científica em estilo impessoal e em terceira pessoa”. Consequentemente e simultaneamente, pode resultar na percepção que esta é uma comunicação de qualidade diferenciada, negativamente.

Uma das práticas acadêmico-científicas mais tradicionais e antigas é a organização de eventos congregacionais por uma comunidade, ou comunidades, de domínios ou subdomínios da ciência, como a computação. A ideia de eventos acadêmicos como os pensamos e percebemos hoje foi concebida através da história, não necessariamente por pessoas acadêmicas-cientistas. Aqui analisamos a classe de eventos na instância de simpósio, bastante comum na cultura científica computacional brasileira. Vários fatores explícitos e implícitos estão relacionados a esses elementos da cultura científica. Os explícitos, como o coquetel de abertura, prática de apresentação oral, dinâmicas orientadas para ferramentas computacionais, apresentação de posters, inscrição no evento, prêmios, dentre outros. As implícitas, como apenas convidar doutores para revisar artigos, aglomerar-se em torno de pesquisadores renomados em eventos, momentos de fala e silêncio (por exemplo, não interromper abruptamente quem está apresentando e fazer um comentário), taxa de aceitação de trabalhos em congressos, questões de linguagem, etc.

Eventos científicos são objetos de diversas comunicações acadêmico-científicas, embora seja um tópico formalmente pouquíssimo abordado no contexto brasileiro. “Cientistas”, em sua maioria, ignoram ou tratam os aspectos culturais, sociais e históricos associados à sua própria práxis com mínimo valor ou significância, às vezes culminando na impressão de que o que está acontecendo, acontece ou vai acontecer é “natural” ou até acidental, sem influência intencional ou conveniência. Por exemplo, o fenômeno rotineiro de eventos computacionais e de rejeição de muitas submissões tem uma explicação social e cultural, longe de ser um fenômeno “natural”.

Aristóteles divide o conhecimento gerado pela práxis em ética, economia e política. Abordaremos, em diversos graus, vários aspectos da atividade acadêmico-científica ao longo deste trabalho, dando ênfase à ética e à moral. Por exemplo, as despesas de organização ou os custos de hospedagem e as taxas de inscrição, são exemplos de aspectos econômicos relacionados à práxis acadêmico-científica dos simpósios. As práticas originadas e construídas estão diretamente relacionadas à ética, sem se limitarem à ela.

Consideramos os simpósios realizados pela SBC, a mais significativa organização institucional e formal e agregadora da comunidade de computação no Brasil. Há uma relação de valores e interesses de apoio mútuo, por exemplo, SBC organiza o CSBC (Congresso da SBC) e o WIT (Women in Information Technology) como um de seus principais eventos e posiciona sua moralidade e julgamento de valor para combater a agenda de discriminação de gênero na cultura computacional. A SBC e a CSBC promovem essa postura e avanço moral.

Uma preocupação ética simbólica e ativa pode ser validada utilizando como exemplo uma análise da chamada de trabalhos do IHC 2023. Na chamada de artigos da edição de 2023 do evento IHC, quando trazem alertas sobre Ética em Pesquisa, Acessibilidade e a importância da revisão às cegas (blind review), reiteram diretamente valores morais destes respectivos campos. Ao reforçar esses elementos em sua chamada de trabalhos podemos levantar o questionamento: sua importância repercutiu efetivamente nas submissões e trabalhos aprovados, ou foi apenas ethics washing (lavagem ética)? Sem resposta material?

Um dos fenômenos significativos da ética computacional é a exclusão digital. No contexto da ocorrência dos eventos de computação, vislumbro um fenômeno semelhante, categorizando-o como exclusão, consciente ou não, da cultura científica computacional ao não envolver certas comunidades geográficas e culturais na ocorrência de eventos.

A maioria dos eventos científicos computacionais presenciais ocorre no eixo sul-sudeste? Se assim for, muitos interessados em participar da cultura científica computacional brasileira estão potencialmente excluídos delas. Por exemplo, Amazonas (AM). O preço da passagem aérea entre MG e AM é muito alto em relação ao trecho AM e PA, onde também há a opção de transporte fluvial, ou seja, de barco. Ainda assim, trata-se de uma relação simétrica. É financeiramente caro ir do MG para o AM e do AM para MG. Como anunciamos no início desta seção, este é um esquema com teor objetivo e subjetivo. Aqui gostaríamos de reforçar e reiterar a objetividade, trazendo luz ao tema.

Considerando fatores concretos e materiais do custo de vida e da prática acadêmico-científica, “ir a um simpósio” é mais do que apenas pagar a inscrição e valores isolados. Envolve o valor das passagens, hospedagem, alimentação, transporte da viagem e possíveis atividades turísticas. Os jantares de conferência são momentos famosos e prestigiados em eventos, muitas vezes caros. A inscrição no evento varia de evento para evento, assim como os possíveis custos de publicação que acompanham a aceitação de um artigo. Implicitamente, há outro tipo de arranjo implícito bem estabelecido, como a comunicação dos trabalhos e pesquisas baseada em uma linguagem formal e inorgânica, com pouca espontaneidade; código para vestimenta; desenvoltura social, para desenvolver conversação e relacionamento; alfabetização em inglês, para eventos onde as interações e dinâmicas envolvendo este idioma são obrigatórias.

A complexidade aumenta para profissionais acadêmico-cientistas, pois há um maior nível de exigência e responsabilidade. Estes profissionais também são incentivados a publicar e apresentar em eventos internacionais (e devem priorizar recursos), e suas instituições podem oferecer apoio e incentivo ou não. Profissionais pagam valores maiores para inscrições. A dinâmica de organização, considerando também os profissionais acadêmicos-cientistas como organizadores, é essencial e indispensável neste sistema cultural. Por exemplo, para realizar um simpósio na sua universidade ou na sua cidade, você precisa de toda uma estrutura complexa, não apenas física, para dar suporte a essa empreitada.

São pouquíssimos os resultados na busca de trabalhos relacionados à cultura científica, principalmente que abordem computação, em bases de dados como Google Acadêmico ou Portal de Periódicos da CAPES, nenhum especificamente relacionado à computação. Encontramos uma quantidade ínfima de trabalhos relacionados à cultura científica brasileira, expondo parte do vácuo sobre este tema. Por exemplo,sobre a espiral da cultura e do estado de bem-estar cultural:

“[…] há outro tipo de conforto que tem a ver com as relações da sociedade com as tecnociências, envolvendo valores e atitudes, hábitos e informações, e pressupondo uma participação ativamente crítica dessa sociedade na totalidade dessas relacionamentos” [tradução nossa] (Vogt, 2012)

A maioria dos trabalhos trata da relação entre a população e a ciência, uma cultura científica generalizada e não especificada relacionada a cientistas, pensar-fazer ciência, práticas científicas formais ou informais, dentre outros. Por exemplo:

“Para os cientistas, ‘cultura científica’ significa um estilo de vida no qual eles vivem e desfrutam. Para os leigos, proporciona uma brisa refrescante fluindo para a cultura social, orientando-os a buscar a verdade, inovar, respeitar o conhecimento e os talentos e apoiar o desenvolvimento saudável da ciência.” [tradução nossa] (Wang, 2018)

Ciência como cultura e a cultura científica pensando a cultura da ciência como instituição social são coisas diferentes em termos metacientíficos; posicionamos este material sobre os simpósios brasileiros de computação tratando da cultura científica pensando a cultura da ciência como instituição social. Alguns exemplos alinhados: Mendonça (2021) analisa o quão “aberta” é a comunidade do SBES, percebendo que é um evento de difícil acesso para novos pesquisadores; Carmo (2021) analisa profundamente a participação de autoras femininas nas publicações do IHC entre 2006 e 2019, e expõe discrepâncias de gênero; Mendonça (2022) aborda a internacionalização do SBES; Cerqueira (2022) aborda os aspectos humanos e sociotécnicos da comunicação acadêmico-científica no SBES. No WIT temos diversos exemplos de trabalhos, principalmente com viés crítico, sobre a cultura científica computacional brasileira, podendo citar Soares et al. (2023), Caseli et al. (2023), Tives e Pereira (2022) e Dal Pizzol et al. (2022), dentre outros.

Um diferencial da cultura da ciência + computação brasileira é a qualificação de congressos, como simpósios, no sistema QUALIS. Aumentar a importância e o envolvimento com a cultura científica nos eventos é também se qualificar como pesquisador através do sistema QUALIS, de forma quantitativa e objetiva – um diferencial entre a ciência + computação brasileira e a ciência + computação em geral.

Informalmente, as comunicações aparecem e muitas vezes se perdem na história, semelhante à palestra da professora Milene Selbach Silveira no IHC 2021. Referem-se aos acontecimentos e são registros essenciais da cultura e da memória de uma comunidade. Neste sentido, cabe uma crítica à falta de cuidado no registro e conservação da memória da ciência + computação brasileira.

Ética e moral

A Ética é o ramo da filosofia conhecido como Filosofia Moral, que analisa os hábitos, costumes e tradições associados às práticas humanas livres, conscientes, racionais e responsáveis. Um dos objetos de estudo da ética é a moral. A ética e a moral abrangem vários fenômenos e comportamentos morais em estudo. Por exemplo, enquanto a moral trata do que é “bom” ou “mau” e seus conceitos ou definições, a ética analisa, em alto nível, a “ideia” do bem, a metafísica do “bom”. Podemos agir seguindo a moral e seus preceitos e “fazer o bem” e pensar eticamente nessa respectiva ação. Aqui focamos principalmente a ética e a moral, posicionada como ética aplicada. Ou seja, o debate “bom” está além do nosso escopo.

A ética pode assumir tanto um caráter filosófico especulativo, foco deste trabalho, quanto um caráter acadêmico-científico, como ciência do comportamento moral. Como mencionado anteriormente, está além de nosso escopo apresentar contribuições ou conclusões morais, nem pretendemos alcançar, calcular, modelar ou convencer sobre “uma verdade”. No entanto, apresentamos dados estruturados e informações coletadas a partir de um método estruturado e organizado, detalhados nas próximas seções. Se o que é exposto aqui traz desconforto, aborrecimento ou constrangimento, trata-se de um fenômeno comportamental denominado conflito moral, que nada mais é do que a colisão do que é exposto aqui com valores morais ou crenças.

Conflitos morais são disputas vexatórias que o discurso ordinário não resolverá. Eles ocorrem na colisão de mundos sociais, e sua supressão pode causar mais danos do que lidar com eles. Pode inclusive levar à marginalização de grupos inteiros ou ao desconhecimento de sua situação. Destacamos diversos dados e informações pertinentes, até então desestruturados, desorganizados e inexplicados, gerando conhecimento e um conjunto de informações objetivas. Ou seja, empoderar com racionalidade informativa para um melhor escrutínio ético e decisões morais.

Vamos além da pura ética individual porque lidamos com coletivos políticos, CEs (Comissões Especiais), comunidades inteiras ou redes e suas partes, entidades políticas, instituições sociais bem estabelecidas, dentre outros. É um escopo de complexidade que ultrapassa o caso que exemplificamos sobre a definição de moralidade, ou ética, de “hacking”. Por exemplo, como escolher o local do simpósio? Como será composta sua coordenação? E o local? Quais são os preços das inscrições? Preços de publicação? Qual o repositório de publicações? O acesso será aberto ou fechado? Onde será o coquetel de abertura? Terão brindes ou kits para os participantes? Será online, presencial ou híbrido? Onde será o “jantar da conferência” e quanto custará? Vai deixar as atrações e atividades “menos interessantes” para o último dia para quem precisa viajar pode perder? Haverá espaço para bebês e crianças com cuidadores? Haverá intérprete de LIBRAS para as palestras?

Há um senso oculto de hábito dizendo “as coisas são assim. Está tudo bem para elas serem assim. Assim devem permanecer porque estão funcionando“. É o que uma maioria significativa de nós sente ao participar de nossos primeiros eventos. Do ponto de vista gerencial, administrativo ou organizacional eles poderiam ser melhores se pensarmos nisso acadêmica-cientificamente? Mais do que isso, algo foi feito para não piorar? Ainda que existam normas morais ou regras bem estabelecidas, a princípio.

Voltando à ética, estamos lidando com a relação ética — política no sentido aristotélico, clássico. A política é o domínio coletivo e amplo da ética. Ao lidar com política, lida-se com um escrutínio ético concentrado em larga escala. Nesse caso, são decisões coletivas, com teor ético, direcionadas a comunidades específicas. Estas decisões impactarão e influenciarão a vida de muitas pessoas, não são naturais, não são simples, e não são “automáticas”; e se são assim percebidos, não deveriam ser. É uma magnitude moral diferente de “Peter hackeou o computador de Maria”.

Quando, em 2020, foi declarada situação de emergência sanitária devido à pandemia de Covid-19, os simpósios moralmente, por ponderação ética, decidiram seguir uma modalidade online. Considerando as circunstâncias concretas das várias opções, vislumbramos duas como as mais prováveis: (i) não realização do simpósio; (ii) realização na modalidade online. A opção pela modalidade presencial seria considerada juridicamente questionável devido às restrições de deslocamento físico. Em 2022, a maioria dessas restrições acabou, e alguns eventos permaneceram na modalidade online. E, igualmente, esta foi uma decisão ética.

Panorama moral sobre os eventos

Talvez você analise as informações até este ponto e pense que isso nunca foi feito ou nunca será feito. Quando associamos ética e eventos científicos computacionais em diferentes aspectos, por exemplo, organizacionais, isso não significa que essas associações ou decisões sejam inéditas. A intenção é explicar que as práticas relacionadas a eventos científicos computacionais estão sujeitas a escrutínio ético e valores manifestos.

Vários aspectos dos eventos científicos computacionais atuais resultam de considerações e deliberações éticas, conflitos morais, disputas de valores, normas e institucionalização organizacional. Há uma complexa dinâmica social, cultural e histórica por trás dos eventos, resultante de dinâmicas tão complexas de coletivos e comunidades, por exemplo, envolvendo representantes ou coordenadores de CEs.

As reuniões dos CEs e dinâmicas de congregação ocorrem durante o CSBC, encontros comunitários em eventos científicos computacionais, os websites das CEs apresentam (ou deveriam apresentar) acervos de documentos expondo dados e informações sobre suas práticas, eventualmente há reuniões entre os membros das CEs e as CEs promovem plebiscitos comunitários e pedir opiniões, dentre outros. Há deliberação ética, e consolidação moral, a crítica aqui exposta transcende o fenômeno do que está sendo feito, abstraindo-o. Não é, por exemplo, “mas já existem critérios, normas e regras relacionadas à escolha de sedes para as próximas edições“, mas sim “a escolha de sedes para as próximas edições é uma decisão ética, com certo grau de influência e participação coletiva, e mesmo que haja uma moral consolidada (critérios, normas e regras), é pela ética que se dá a elevação, o progresso e a atualização moral“.

Dessa forma, considerando eventos realizados pela SBC, pelas respectivas CEs e por membros de determinadas CEs, há uma hierarquia de influência moral. O modelo de atuação política da SBC é majoritariamente democrático e colaborativo, onde a maioria das normas morais são definidas em plenário e deliberações participativas por adesão. Assim, deliberações éticas emergem dessas resoluções morais, conduzindo normas morais objetivas a partir de sua consubstanciação, por exemplo, regras, artefatos morais coercitivos, ou boas práticas, artefatos morais que apresentam recomendações de práticas. Por exemplo, a regra de que artefatos de conhecimento gerados nos eventos e explicitamente registrados devem ser indexados na SBC-OpenLib (SOL) (principalmente metadados), mesmo que sejam indexados e armazenados em outros repositórios.

Podemos perceber um esquema organizacional bem estruturado e objetivo através da SBC. As redes computacionais epistêmicas brasileiras organizadas e associadas a ela, deliberam e estipulam normas morais, por exemplo, coerções ou recomendações, que se aplicarão a todos os eventos realizados pela SBC. Desconsiderando raras exceções, o que é plausível e razoável em um cenário declarativo.

As redes seguem separadamente a mesma dinâmica da SBC, deliberam e estipulam normas morais, por exemplo, coerções ou recomendações, que serão válidas para todos os eventos realizados por meio dessa rede, por meio das CEs. As comissões organizadoras de eventos seguem separadamente a mesma dinâmica e deliberam e estipulam normas morais, por exemplo, coerções ou recomendações, que serão válidas para um evento específico, que substanciam esta rede. As comissões organizadoras de eventos seguem a moral das redes, que seguem a moral da SBC.

A SBC apresenta o Manual de eventos realizados e correalizados com diferentes normas para eventos realizados, correalizados, apoiados e parceiros. Neste presente trabalho, tratamos apenas da categoria de eventos realizados:

“Os eventos Realizados são aqueles criados pela SBC por meio da sua estrutura organizacional (Diretoria, Comissão de Educação, Comissões Especiais e Secretarias Regionais), sendo que estes devem usar a infraestrutura administrativa da SBC, incluindo o ECOS – Sistema de Inscrições e Coordenação de Eventos e o JEMS – Sistema de Gerenciamento de Periódicos e Evento.”

O documento apresenta normas coercitivas e recomendações, como:

“O JEMS – Sistema de Gerenciamento de Periódicos e Evento é um sistema de gerenciamento de submissões e avaliações de trabalhos para os eventos e seu uso é obrigatório a todos os eventos realizados e correalizados que tiverem submissão de artigos.

[…]

Sugerimos que os eventos realizados /correalizados, CEs e SRs [Secretarias Regionais] hospedem seus sites na SBC. O acesso é feito via ssh e a hospedagem em servidor Apache. O desenvolvimento e atualização da página fica sob a responsabilidade do coordenador geral do evento, CEs ou SRs.” [marcação forte como no original] [adições nossas]

Podemos perceber uma norma estritamente objetiva e reta, sem margens a qualquer grau de liberdade. Uma sugestão em outra parte do documento, com discurso recomendável, tem caráter moral facultativo. Ambos os casos se alinham com a perspectiva avaliativa de condutas éticas. Na primeira, apenas uma única opção é possível, descartando a consideração ética, ou seja, segue-se a determinação moral. A solução ética seria considerar essa norma e desobedecê-la, o que configura imoralidade. Na segunda, consideramos dezenas de condutas possíveis para casos semelhantes e a SBC, por meio do manual, superestima uma delas sem a restrição coercitiva das demais.

Considerando o caso SBC, entidade com o grau mais alto na hierarquia, passamos às redes epistêmicas. A CE de Engenharia de Software, representando a rede epistêmica, apresenta um manual para a realização de eventos orientados ao CBSOFT, o Manual de Organização do Congresso Brasileiro de Software (CBSoft). Adicionalmente, o regimento da CE de engenharia de software apresenta indiretamente notas aos eventos realizados. Focamos nos elementos diretos, ou seja, manual(is). Os regimentos de CEs têm um caráter mais abrangente e genérico, em que os eventos são tangenciais. No manual, também encontramos normas, respectivamente seguidas abaixo:

“O contato com a SBC é muito importante para o organizador adquirir materiais para o evento, tais como bloco de anotações, canetas, blocos de recibo, papéis de certificados etc. Sugere-se que esse pedido seja feito em Julho. Sugere-se, também, que o pedido sempre tenha uma boa sobra, deixando a organização preparada para impressões erradas de certificados, por exemplo. As sobras podem ser devolvidas à SBC sem custos adicionais.

[…]

Esse manual está em constante construção. Organizadores podem e devem atualizar este manual, desde que as modificações sejam aprovadas pela CEES e pela CELP.” (Nakagawa et al., 2022)

No manual da CEES predominam normas recomendáveis, com poucas notas coercitivas. Uma das pouquíssimas é a obrigatoriedade de modificar o manual apenas se aprovada pela CE, não havendo espaço para outras ações. Mesmo assim, é uma coerção que incentiva uma consequência positiva.

Normas relacionadas a eventos específicos são determinadas de forma menos estruturada e explícita e apresentam variação temporal mais significativa. Muitas vezes são definidas nas reuniões dos CEs por meio de eventos e registrados em atas.

A partir disso, encaminhamos três possíveis explicações. Primeiro, está além de nossa intenção criticar negativamente qualquer estrutura ou instituição simplesmente porque apresenta normas morais, sejam elas coercitivas ou recomendáveis. Essa crítica provavelmente é passível de reflexão adicional e além do nosso escopo, por exemplo, o SBC tem regras demais? Esses padrões são razoáveis? Algumas comunidades deveriam ter mais normas? Qual o grau de influência que deve ocorrer entre a SBC, as redes e os coletivos organizadores de eventos?

Segunda tensão, foge ao nosso intento avaliar se os referenciais morais normativos foram, objetivamente, fruto de deliberação ética da melhor qualidade possível de ser alcançada. Por exemplo, qual a justificativa para definir o JEMS como uma plataforma de uso exclusivo e envio obrigatório nos eventos? Quem participou desta deliberação? Como se chegou a esse padrão, racionalmente? Onde se encontra esta justificativa?

Terceira tensão, damos um passo acima das normas, abstraindo-as. Sem muito interesse pela norma em si, isolada, mas pela ideia de norma e, como comparação, um conjunto de normas diferentes. Por exemplo, no manual da SBC constam regras de precificação. O que se destaca neste trabalho é justamente a ideia dessa regra em alto nível e a comparação da aplicação material dessa regra. No primeiro caso, há uma interação dialética de regras, pois a ética promove a reflexão, a perturbação, a reavaliação e a modificação das normas. O segundo caso é comparativamente crítico; por que a inscrição para alunos no evento X é gratuita e no evento Y muito mais cara (por exemplo, R$120)? Por que em alguns eventos a diferença entre os preços de graduação e pós-graduação é de R$100, e em outros é de R$10?

Várias moralidades objetivas bem estabelecidas em eventos científicos computacionais brasileiros envolvem diferentes práticas e níveis. A realidade atual, em 2023, é diferente do caos, da anarquia, da “ética” ou da “amoralidade”. A complexidade do presente trabalho está na dualidade percebida, pois uma breve experiência entre CEs e dinâmicas sociais de redes expõe uma coexistência de caos e ordem, subjetividade(s) e objetividade(s). Em suma, o cenário se aproxima daquele em que as pessoas sabem muito sobre o que fazem. No entanto, em muitos aspectos, as pessoas não têm ideia do (por quê) que estão fazendo ou mesmo do que estão fazendo no sentido ético ou reflexivo. Esse cenário compõe a cultura científica computacional brasileira, que analisamos parcialmente pelas lentes da ética e da moral.

Para aumentar a complexidade, as pessoas não têm absolutamente nenhuma ideia do que não sabem que poderiam ou deveriam estar fazendo, e esta é a observação mais valiosa aqui. Está fora de nossa intenção condenar qualquer pessoa, coletivo, comunidade, rede ou instituição por isso. É preciso apelar para uma maior valorização e crítica ética. Está fora do nosso escopo: 1) defender “mais ordem”, por exemplo, mais regras, mecanismos de coerção, burocracia e hierarquia; 2) defender “mais caos”, por exemplo, menos co-dependências entre CEs, enfraquecimento das relações entre as entidades, facilitando a hierarquia percebida, abolição de regras. A pretensão está na exposição, análise e crítica de aspectos éticos ou morais do cenário atual.

Eventos científicos e sua hierarquização

van de Venter (2019) analisa eventos acadêmico-científicos organizados e sediados pela Society of Radiographers of South Africa, totalizando aproximadamente 1500 ocorrências, divididos em categorias semelhantes às presentes nos eventos realizados pela SBC. Apresenta as definições de congresso, simpósio e workshop:

Congresso e conferência. Uma congregação científica formal onde profissionais no mesmo campo de estudo ou interesse, similares ou afins, concordam em discutir e compartilhar seus pontos de vista sobre tópicos específicos. Essa atividade geralmente dura alguns dias com sessões paralelas.

Simpósio. O simpósio é considerado um encontro científico menor que um congresso/conferência. Pode se concentrar em um debate/tópico específico. Os tópicos são geralmente apresentados por indivíduos que trabalham extensivamente no campo específico. Essa definição, portanto, poderia ser usada para cobrir um tema amplo como assunto de interesse. […]

[…]

Workshop. Workshops são atividades nas quais os participantes se envolvem e discutem um tópico específico ou tema para debate de forma robusta e intensiva. Os participantes compartilham suas experiências ou conhecimentos em relação ao tópico ou tema que está sendo abordado e discutido. Eles também podem incluir atividades práticas, por exemplo, uma sessão de treinamento sobre como executar uma nova técnica. Os workshops podem, portanto, ser atividades pontuais ou atividades contínuas quando fazem parte de um congresso/conferência.” [tradução nossa] (van de Venter, 2019)

Brasileiro (2021) define estes eventos como:

Simpósio

É uma reunião acadêmica derivada da mesa-redonda, que visa ao intercâmbio de informações científicas. Os apresentadores têm renome no âmbito do tema e não têm o interesse de definir conclusões sobre ele. É considerado um evento de alto nível, no qual seus membros não debatem entre si, como na mesa-redonda, apenas respondem a perguntas da plateia nominalmente direcionadas. É também mediado por um coordenador.

Workshop

É um evento em formato de oficinas de trabalho, direcionadas de um especialista para um público aprendiz. Nele, alguém que detenha o conhecimento ou certa técnica ou atividade ensina-as ao público, daí o caráter de treinamento. O condutor do processo apresenta casos práticos, promove a intensa participação do público e, dentro das condições, estimula a prática. Normalmente, após a exposição da prática, abre-se um momento para debate e, posteriormente, faz-se a conclusão. O workshop pode ser um evento isolado, como também incluído em outro evento maior, como seminário ou congresso.” [marcação forte e itálico como no original] (Brasileiro, 2021)

Além desses conceitos, há um clamor pela “necessidade de definições” para agrupar e estruturar esses conceitos, destacando a importância da conformidade dos termos institucionais, melhorando o endereçamento e a categorização das atividades. Encontramos um problema semelhante, e não conseguimos encontrar uma resposta simples e objetiva para a pergunta, por exemplo, “o que é um simpósio?“. E até agora não sabemos, e objetivamente não podemos fornecer uma definição única.

Os eventos acadêmico-científicos têm nomes diferentes, mas essencialmente não podemos diferenciá-los concretamente. Por exemplo, o que diferencia uma escola regional de um encontro nacional? Além de nomes. A resposta parece óbvia: “o evento regional contempla uma região, e o encontro nacional contempla o Brasil“. Concretamente, qualquer um pode publicar pesquisas regionais em um encontro nacional e vice-versa.

O manual de eventos da SBC apresenta um conjunto de características diretamente associadas aos eventos. Como escolas regionais, sintetizando uma definição generativa não oficial. No site da SOL, encontramos três categorias, “Conferências, Congressos e Simpósios”, “Workshops, Encontros e Seminários” e “Escolas Regionais”. No entanto, essa diferenciação na arquitetura da informação não garante que esses eventos sejam substancialmente diferentes. Buscando essa diferenciação em ambiente online, encontramos duas percepções dominantes, uma discussão em fórum e outra cômica.

A discussão em fórum (https://4658.short.gy/cczVfF) reforçou o que esperávamos anteriormente, orientando eticamente a categorização, diferenciação e compartimentalização pela respectiva comunidade. Um trecho do que se encontra:

“Simpósio: Uma reunião sobre um interesse/tema específico. Devido ao campo focal, geralmente não são reuniões muito grandes. Freqüentemente, conferências ou congressos realizam simpósios sob eles (para ajudar as pessoas do mesmo campo a se encontrarem nessas grandes reuniões). Alguns simpósios são realizados anualmente no mesmo local, mas sobre um tópico diferente, e alguns são executados sobre o mesmo tópico em um intervalo de tempo fixo (anual, a cada dois anos, etc.).” [tradução nossa]

A resposta cômica veio em forma de história em quadrinhos, que estrutura informalmente a ideia geral de como classificar eventos como uma taxonomia.

Está além de nosso escopo definir ou conceituar eventos acadêmico-científicos, mas para a intenção principal deste trabalho, sua diferenciação é essencial. Popularmente, essa diferenciação é motivo de debate e rejeição por parte da comunidade, por exemplo, “diferenciar eventos por categorias é bobagem, é apenas um detalhe inútil, um saco” ou “ficar conjecturando se é um simpósio ou uma workshop é perda de tempo, precisamos pensar em como melhorar os eventos”. Embora sejam percepções válidas, por outro lado, trata-se de uma formalização breve e simples.

A categorização tem aspectos negativos e positivos. Eleva o nível de estruturação e reduz a flexibilidade operacional. Uma formalização permite um entendimento comum compartilhado, tanto para definições simbólicas quanto para diretrizes concretas entre comunidades. Por exemplo, definindo institucional e oficialmente um workshop como um “evento menor” comparado a um simpósio, podemos pensar formalmente no fenômeno da “evolução” de um workshop para um simpósio, o que resulta na possibilidade de eventos menores vinculados a um evento ou contexto maior.

Há uma “hierarquia” entre as diversas instituições sociais que compõem os eventos científicos computacionais brasileiros. Neste trabalho, analisamos os simpósios realizados pela SBC, considerando que os simpósios são eventos maduros o suficiente para apresentar discussões e apresentações de alto nível, não se limitando a contribuições estritamente técnicas. Por exemplo, no Simpósio Brasileiro de Computação Musical (SBCM), espera-se que haja contribuições relevantes, substanciais, conceituais ou contextuais para o domínio da computação musical, principalmente no/para o Brasil. Durante um workshop, espera-se contribuições técnicas ou estudos de contextos menores e limitados.

Eventos abarcam práticas coletivas que afetam a trajetória profissional e o cotidiano de milhares de pesquisadores brasileiros, direta ou indiretamente, ano após ano. Há um conjunto de comunidades atuando simultaneamente ou de forma colaborativa para avançar em suas áreas de conhecimento e pesquisa. No entanto, as operações e práticas que culminam nessa realidade concreta estão sujeitas a juízos de valor. Por exemplo, é um julgamento de fato que certos eventos optaram pela modalidade híbrida em 2022, com juízo moral complementar. Reiterando, principalmente porque impactam, influenciam e definem aspectos da vida de outras pessoas acadêmicas-cientistas.

Considerando essa “hierarquia” implícita, simbólica e vagamente perceptível, o SBC está na posição mais elevada. A SBC também é a organizadora do CSBC, “incubando” e alavancando vários simpósios brasileiros. Abaixo estão os CEs, responsáveis diretos pela realização concreta dos eventos; membros ativos, que participam diretamente da tomada de decisão nas CEs; membros passivos, que integram comunidades em uma determinada área de conhecimento ou tema e o fazem de forma passiva, seguindo as decisões dos membros ativos.

Por fora e como último elo desta cadeia, temos as pessoas não-membros sobre as quais incidirão as consequências, decisões e resultados acima. Suponha que uma comunidade decida que aceitará exclusivamente submissões de artigos em inglês no seu respectivo evento. Uma pessoa que não faz parte desta comunidade será impactada por esta decisão, indiretamente. No momento que iniciar sua interação como membro, esta determinação específica incidirá sobre si, seja esta proficiente em inglês ou não.

Apresentamos esta dinâmica como uma “hierarquia” (entre aspas, isso é importante) porque há uma dinâmica de privilégio de poder e ascendência. Mesmo hierárquica, está distante de uma autocracia ou ditadura. Por exemplo, se um simpósio realizado pela SBC envolver-se em uma prática considerada imoral, os membros ativos dessa comunidade pedirão à SBC que aja ou responda por sua conivência. Este cenário expõe um dos elementos essenciais da ética, a responsabilidade. As comunidades também votam e solicitam opiniões ou discussões, intencionando amplo envolvimento.

Cada uma das entidades desse esquema, desde a SBC e sua diretoria até os membros passivos que pagam suas inscrições e depois “desaparecem”, agem com base em preceitos éticos, ou seja, liberdade, consciência, racionalidade e responsabilidade. Constitui-se em uma conjuntura ideal para uma apreciação ética, principalmente porque o estabelecimento de uma congregação coletiva dedicada a uma área do conhecimento ou tema acadêmico-científico, institucionalmente endossado pela SBC, eleva a importância e relevância no cenário computacional brasileiro. Por exemplo, quando o Simpósio Brasileiro de Sistemas de Informação (SBSI) realizou sua primeira edição em 2004, lançou a pedra fundamental da comunidade de sistemas de informação oficial, organizada e estruturada no Brasil neste evento. O SBSI é simpósio oficial realizado, endossado e apoiado pela SBC. Esse é um marco para o coletivo de acadêmicos-cientistas de Sistemas de Informação no Brasil.

Por outro lado, por meio de seus valores, a SBC não aceitaria realizar, associar-se ou incentivar um workshop ou simpósio brasileiro sobre, por exemplo, “computação e eugenia”. Embora este seja um exemplo hipotético absurdo, ele expõe o fato de que um julgamento moral está envolvido. O IHC 2023 dedica uma seção de seu website aos “aspectos éticos” que uma submissão a este mesmo simpósio deve observar, posicionando-se ética e moralmente. Esta posição é ausente em outros simpósios analisados nesta pesquisa.

Conforme explicado acima, a partir de uma decisão livre, consciente e racional, alguns eventos decidem sobre as normas e qualidades morais desejadas, enquanto outros as omitem. Omitir dados ou informações como essa não é condição necessária ou suficiente para classificar eventos como “imorais”; por outro lado, expô-los abertamente indica uma preocupação ativa e objetiva com a promoção moral e seus valores. Além disso, este trabalho analisará nuances éticas e morais como esta.

Predação no âmbito de conferências

Encontramos poucos estudos sobre ética e eventos científicos, acompanhando o estudo e crítica a respeito da cultura da pesquisa. Periódicos (journals) predatórios e aspectos relacionados são tópicos bem estabelecidos de Ética em Pesquisa. Além disso, embora a computação brasileira abordada nesta pesquisa esteja distante desse fenômeno, estar atento a ela pode prevenir tendências, práticas ou valores que levem a comportamentos hostis ou predatórios.

As conferências predatórias ultrapassaram quantitativamente as conferências não predatórias ou respeitáveis. Ao atingirem um alto grau de relevância, encontramos estudos específicos sobre seus padrões, qualidades e valores, instruindo os stakeholders sobre como detectar esse fenômeno e evitá-lo.

Conferências predatórias estão além do nosso escopo neste trabalho. Inclusive está fora do escopo avaliar se algum dos simpósios aqui analisados são, de fato, predatórios ou apresentam seus respectivos padrões, qualidade ou valores. Mesmo assim, considerando uma régua moral, estes são o “extremo oposto moral” do que seria um simpósio respeitável, correto ou construtivo. É fundamental reconhecer os fenômenos imorais ou negativos para estudá-los eticamente, criticá-los e, assim, evitá-los e repudiá-los.

Kulczycki (2022) analisa duas conferências classificadas como predatórias por muitos autores, WASET e OMICS, de 2015 a 2017. Há uma quantidade expressiva de brasileiros engajados com ambas. Além disso, participam desses eventos pesquisadores de universidades consideradas de alto prestígio. Em relação às instituições, faltam regulamentações ou impedimentos sobre quais eventos acadêmico-científicos devem participar. Esses eventos apresentam sites sedutores e atraentes que criam uma impressão de alta qualidade e evocam sentimentos de vontade de participar ou de arrependimento por não ter participado.

Elliott (2022) analisa as percepções e possíveis envolvimentos com conferências ou dinâmicas predatórias de 1857 pesquisadores por meio de uma pesquisa. 80% percebem os fenômenos predatórios de pesquisa como um problema grave e correm o risco de se infiltrar e minar o empreendimento de pesquisa se não forem contestados. 24% estiveram envolvidos com jornais predatórios ou dinâmicas de conferências. A maioria o fez por ignorância desses fenômenos.

Os resultados indicam que os pesquisadores de países de renda média-baixa e média-alta eram mais propensos a indicar que haviam se envolvido em uma dinâmica com um fenômeno predatório, excluindo os EUA desta análise. Como o Brasil é um país que se enquadra nessa descrição, é preciso apreensão e redobrada instrução ética.

Os muitos “brasis”

Considerando a análise geográfica, principalmente física, o Brasil é um país de dimensões continentais, com regiões ou mesmo estados que excedem o tamanho físico de países inteiros. Em território, o estado do AM é medido em 1.571.000 km², maior que a área territorial do Peru. Porém, a população do AM é proporcionalmente pequena se comparada a outros estados bem menores, como o RJ.

Aspectos geográficos, físicos ou políticos influenciam no posicionamento dos simpósios ou mesmo das reuniões presenciais em geral. Mais meios, rotas e facilidades de transporte estão disponíveis para chegar e sair do RJ do que AM. Além do quantitativo, o qualitativo também segue, com passagens mais caras e menos voos no AM em comparação com o RJ. 

As características ou especificações, inusitadas ou não, sobre o Brasil e entrelaçadas neste presente trabalho formam uma longa e rica lista com profundidade. Simplificando brevemente: fisicamente, o Brasil é um país multifacetado, complexo, diverso e próspero, e dentro do Brasil, como o conhecemos tradicionalmente, institucionalmente e oficialmente, encontramos vários “Brasis”. Além das diferenças na geografia física, outras se destacam, como desigualdades, discrepâncias ou exclusões, nas dimensões social, econômica e cultural, ou seja, diferentes aspectos. A distância entre as capitais gera uma predileção por um espaço físico em detrimento de outro. Por exemplo, mais eventos no DF se comparado com GO.

Fora dos canais tradicionais e nos bastidores, nossas interações sociais e percepções apontam para uma indagação predominante que excede a pura objetividade: “as pessoas vão ou iriam para lá?”. Percebemos um fator decisivo de justificação social, implícito e transcendente aos demais, expondo uma carga de responsabilidade antecipada em nível de impedimentos potencialmente ocultos. Assim, se o antecipado “termômetro social” indicar adesão muito baixa, mesmo que apenas percebida, entender-se-á que a adesão à participação será muito baixa e o evento falhará. Por outro lado, algumas pessoas irão reforçar e encorajar a pluralidade regional, colocando esta ideia acima dos desafios e dificuldades acima mencionados.

Há uma discrepância significativa nas taxas de alfabetização e analfabetismo entre as regiões. As regiões Sudeste e Sul concentram os maiores índices de alfabetização; Centro-Oeste, Nordeste e Norte são os mais baixos. O que potencialmente reflete no ensino e aprendizagem de línguas, como letramento em inglês. A desigualdade escolar, relacionada aos perfis demográficos e identitários, é preocupante, por exemplo, além da discrepância geográfica. Os melhores índices de escolaridade são para brancos, homens e com melhor situação financeira.

As regiões Sul e Sudeste apresentam vantagens operacionais para a realização de simpósios, como proximidade com a maioria dos pesquisadores e suas residências, infraestrutura, empresas patrocinadoras e transporte, entre outros. Também são socialmente percebidas como as “melhores”, mais “avançadas”, “civilizadas” e “modernas” regiões, atribuindo estereótipos negativos a outras regiões. Nesse sentido, um argumento pela ótica da ética utilitarista apóia e reforça a concentração nessas regiões, pois ali encontramos a maioria dos interessados e elementos favoráveis.

Entre as desigualdades, o Brasil apresenta um fenômeno de divisão e exclusão digitais internas. Novamente, com vantagens para regiões Sudeste e Sul e desvantagens para as demais. Considerando vários aspectos demográficos e identitários, notamos que categorias específicas têm desvantagens e são objetivamente desprivilegiadas. Se analisarmos separadamente e depois somarmos os dados aos fenômenos, o cenário piora. Por exemplo, se pessoas negras e pobres são mais suscetíveis à exclusão digital e há uma quantidade maior de pessoas negras e pobres nas regiões Norte e Nordeste, assim podemos iniciar análises inferenciais.

Além disso, criticamente, pensamos em uma exclusão digital que inclui os setores e dinâmicas acadêmicas e científicas. A desigualdade tende a ser reforçada sem nenhum caráter acidental, natural ou automático. Esse comportamento parece um projeto sem líder, unidade ou organização formal, mas com direção e destino discerníveis:

“[…] embora critérios demográficos e econômicos tenham razoável poder para explicar a alocação regional de recursos destinados às atividades de C&T [Ciência e Tecnologia], é a base científica e tecnológica instalada nos estados o fator determinante de seus níveis de competitividade para captação de recursos. Essa constatação é corolário do modus operandi das instituições e órgãos de apoio às atividades de C&T no âmbito federal, cujos mecanismos de alocação de recursos, por meio de editais, têm critérios de eficiência privilegiados. A concentração dos gastos em instituições mais qualificadas em termos de recursos humanos e materiais tende a produzir, no curto prazo, resultados mais eficientes para o país. Essa afirmação pode ser considerada análoga à percepção de um Schumpeter maduro, que destaca que estruturas de mercado oligopolistas tendem a ser ambientes mais favoráveis à inovação. A preocupação com a eficiência na alocação de recursos também parece ser o motivo que leva Albuquerque […] a defender que os países envolvidos no catch up tecnológico devem, além de ampliar sua infraestrutura científica, ‘concentrar em disciplinas-chave, especialmente fontes de desenvolvimento industrial’ (Fagundes et al., 2005, p. 766).

Apesar de baseada em critérios de eficiência, a concentração de recursos em um número relativamente pequeno de instituições qualificadas tende a aprofundar as desigualdades inter-regionais na C&T do país. Não é difícil concluir, ao reconhecer a estreita associação entre o desenvolvimento económico e social e os níveis de desenvolvimento científico e tecnológico, que este modus operandi tende a aumentar as assimetrias entre as regiões mais ricas e mais pobres do país, limitando as possibilidades de inserção deste último em atividades com menor potencial de agregação de valor.

Este debate refere-se ao trade-off entre eficiência e justiça intrínseco às decisões econômicas. Com efeito, é habitual que as melhores decisões do ponto de vista da eficiência venham a comprometer a equidade, com resultados evidentemente negativos na distribuição. Como aponta Arrow, ‘uma alocação de recursos pode ser eficiente no sentido de Pareto, mas produzir uma riqueza enorme para alguns e uma pobreza terrível para outros’. Constituindo um debate que só pode ser equacionado na esfera política, pois envolve uma hierarquia de objetivos geralmente conflitantes.” [Itálicos do original] (Cavalcantei, 2011)

Reiterando, se as partes interessadas subestimam os aspectos econômicos e de equidade no nível político, o cenário tecnológico persistirá como uma profecia autorrealizável. Esses dados de desigualdade e exclusão estão além da subjetividade, preconceito ou visão de mundo, sendo dados ou informações objetivas. 

No cenário de desigualdade generalizada, em que as regiões estão em significativa desvantagem, a política dominante e implícita valoriza positivamente, até mesmo moralmente, os locais que já possuem vantagens em diversos critérios e parâmetros. Com mais pesquisadores, infraestrutura e transporte, ou seja, supostamente as regiões Sudeste ou Sul, as justificativas práticas e lógicas apontam para convergência para esses locais.

Hipoteticamente, a escolha do local implica o deslocamento de dezenas ou centenas de pesquisadores. Com a vantagem quantitativa de elementos concentrados nas regiões Sul e Sudeste, a realização de um evento em PA resultará em um deslocamento proporcionalmente muito maior dos interessados na dinâmica desse evento para PA do que se compararmos o inverso para um estado das regiões Sul e Sudeste, como MG. Nesse caso, uma maioria estará sujeita a dinâmicas, objetivas ou subjetivas, negativas.

A realização de um evento nas regiões Sul e Sudeste aumenta o potencial de participação e patrocínio, e os eventos dependem disso. Além disso, cabe questionar: os eventos científicos computacionais devem promover a justiça social, por exemplo, visando reduzir as desigualdades, ou devem valorizar a participação e o patrocínio mais significativos possíveis para melhorar esse evento específico? A comunidade deveria estar engajada nessa agenda de avanço dialético? Por outro lado, há potencial para a realização de mais eventos nas regiões Centro-Oeste ou Norte para amenizar as desigualdades e o fenômeno da divisão acadêmico-científica digital? O patrocínio e o engajamento vão crescer nesses locais?

O panorama brasileiro atual é complexo. De um lado, temos critérios utilitários e teleológicos, livres de má-fé na maioria das vezes, visando promover os melhores simpósios possíveis, ou seja, com mais inscrições, participantes, patrocínio, conforto e infraestrutura. De outro, panorama desigual e excludente, em dissonância com os valores essenciais e teleológicos da ciência engajada e politicamente consciente. Para a chamada essencialmente “ciência tradicional”, e respectivos valores, aspectos como localização geográfica, subjetividade, diálogo materialista, cenário sociotécnico ou inovação são de importância quase nula. Mas deve ocorrer “progresso científico” e respeito religioso aos ritos e costumes tradicionais, um evento pode ser realizado no mesmo local (estado, município e endereço), nos mesmos dias do ano, com a mesma programação, mesmos recursos humanos, infinitamente.

Deixando o porto

A partir deste momento a nossa embarcação segue para seu percurso, vamos navegar pelos mares da memória da ciência + computação brasileira e chegar no porto das localizações e posicionamentos geográficos de cada simpósio em sua trajetória durante o século XXI, de 2001 até 2019.

Aqui nós pensamos na cultura da ciência + computação brasileira, não enquanto uma cultura científica de saber científico, mas no estudo dos costumes, hábitos e tradições da instituição social que a compõe, as pessoas acadêmico-cientistas e suas práticas. Pensando desta forma, há respaldo de aspectos éticos ou morais nesta dinâmica, explícitos ou implícitos, o que nos abre a possibilidade de pensar no panorama moral atual.

Este panorama moral envolve uma série de associações e relações complexas, envolvendo pessoas e outros elementos simbólicos (como manuais ou costumes), pouco abordadas estruturada e formalmente pelas pessoas que compõem a ciência + computação brasileira. Deste contexto podem surgir fenômenos imorais ou eticamente podres, como a fertilização do terreno para culminar em práticas predatórias, como periódicos ou conferências.

O fenômeno se intensifica em complexidade ao pensarmos que vivemos em um país de dimensões continentais e multicultural, acima de tudo, desigual, plural e diverso.


*Utilizamos “ciência + computação brasileira” porque o termo “ciência da computação brasileira” faz parecer, mesmo que distante ou brevemente, que é sobre Ciência da Computação, enquanto a intenção é abraçar todo o contexto acadêmico do encontro entre ciência e computação. Computação aqui de maneira ampla, enfatizando, mas não limitado, os conjuntos oficiais estruturados e institucionalizados: Sistemas de Informação, Engenharia de Software, Engenharia de Computação, Licenciatura em Computação e, aí sim, Ciência da Computação.

** Para deixar objetivamente e explicitamente dito: não há juízo moral, ou de valor, explícito sobre os eventos, “o evento” não é mocinho ou vilão, certo ou errado, bom ou mau, justo ou injusto. E isso será aprofundado nas próximas matérias desta série. Muito mais irá surgir nesta caminhada. Estes são apenas dados concretos dos próprios eventos, representando dimensões que serão aprofundadas futuramente.

Como citar

CARVALHO, Luiz Paulo, SILVA JUNIOR, Deógenes. Abertura: Sobre eventos científicos computacionais brasileiros, cultura científica e aspectos éticos ou morais. SBC Horizontes. ISSN 2175-9235. setembro de 2023. Disponível em: https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2023/09/abertura-sobre-eventos-cientificos-computacionais-brasileiros-cultura-cientifica-e-aspectos-eticos-ou-morais/. Acesso em: dd mês aaaa.

Pessoas autoras

Foto do autor Luiz Paulo Carvalho

Luiz Paulo Carvalho. Professor substituto no IC/UFRJ. Bacharel em Sistemas de Informação (SI) pela UNIRIO. Mestre em Informática, com ênfase em SI, pelo PPGI/UNIRIO. Doutorando em Informática pelo PPGI/UFRJ, integrante do Laboratório CORES. Bolsista e pesquisador CAPES. Tópicos de interesse são, não limitados a, Ética Computacional, Discriminação e opressão social em SI, Transparência de SI, Modelagem e qualidade de processos de negócios, Privacidade e proteção de dados, CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade).

Foto do autor deógenes junior

Deógenes Silva Junior. Bacharel em Ciência da Computação pela UFMT. Mestre em Informática pela UFPR. Doutorando em Ciência da Computação na UFPR, laboratório IHC-IE, colaborando com pesquisas em Interação Humano Computador, Design Socialmente Consciente, Jogos e Informática na Educação. Deógenes tem interesse em design de tecnologias de forma participativa e socialmente consciente, Computação Ubíqua e Socioenativa, Informática na Educação, Acessibilidade, Privacidade, Cultura e Valores em Sistemas de Informação. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0758437549881898

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Imagem de Capa foi produzida na ferramenta MidJourney: https://www.midjourney.com/. Prompt: *Main Scenario:* A vast map of Brazil, highlighting the regions of Pará and Minas Gerais. The north of Brazil should have a bright light, symbolizing attention and the possibility of a scientific event. *Additional Elements:* 1. In the southeast, depict a modern and active urban center, with silhouettes of tall buildings and conference rooms. Use cooler and technological colors. 2. In the northern part (Pará), introduce a bright spot or a lighthouse, symbolizing hope or a fresh start. 3. Draw airplane lines or paths connecting different regions of Brazil, but many converging towards the southeast, indicating the current flow of conferences. 4. Introduce a scale or another symbol of balance close to the center of the map, representing the ethical and moral considerations at stake. 5. Include small silhouettes of researchers or scientists – some in the southeast region and some trying to reach this center, representing the struggle to access scientific events. *Color Palette:* Earthy and green tones for the map of Brazil. Shades of blue and silver to represent technology and the academic environment in the southeast. Warm and golden tones to represent hope and possibility in the north. *Text (optional):* In the bottom corner, insert: “The ethical and scientific complexity of Brazilian events.”

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