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De que os humanos precisam?

De que os humanos precisam?

Salmo para um robô peregrino é o primeiro livro da série Monge e o robô, de Becky Chambers. A história se passa séculos depois da época em que os robôs ganharam autoconsciência e saíram das fábricas para viverem separados da humanidade – nunca mais humanos e robôs se encontraram. Até que isso acontece.

A história narra o encontro de um monge e de um robô. O monge é de um tipo especial – é um monge de chá. Ele conversa com as pessoas e prepara uma combinação personalizada da bebida para curar seus desconfortos. Todo mundo precisa de uma xícara de chá de vez em quando. O robô foi enviado em missão para descobrir “de que os humanos precisam?”. O monge, surpreso, responde: – Essa é uma pergunta com um milhão de respostas.

Pergunta de múltipla escolha. Oito bilhões de vontades e particularidades. Quem ousaria uma resposta final? Filosofia? Religião? Política? Diferentes perspectivas e expectativas. Teorias. Doutrinas. Esperança que vem de fora. E se fosse possível explicar a partir de dentro? Desvendar as nossas singularidades?

Quando pensamos em alguma coisa, um grupo de neurônios dispara. O mesmo acontece quando lembramos de algo. Mapear esse processo pode revelar nossos pensamentos. Desnudar nossa essência mais íntima. Nosso pensamento ainda é o último espaço de privacidade nesse mundo conectado, mas estudos na área de neurociência nos mostram que isso pode acabar.

Entender como o cérebro funciona pode nos ajudar a responder quem nós somos. Para isso, a neurotecnologia é fundamental – diferentes dispositivos para acessar, monitorar, decodificar, manipular a atividade cerebral. Decifrar nossos pensamentos é apenas uma das possibilidades.

Parece fantástica a ideia de materializar ações por meio do pensamento. Pensar e movimentar um objeto. Pensar e fazer o texto aparecer na tela como mágica. Pensar e visualizar as imagens, seja do look da próxima festa, seja da reforma da casa. Mas se nós somos os nossos pensamentos, a privacidade deve ser um direito fundamental. O conteúdo de nossa mente não pode ser decifrado sem o nosso consentimento. Sempre tem o risco de o sistema exteriorizar aquilo que a gente não quer mostrar. Já imagino a confusão.

Eu penso. O sistema decodifica. Penso, logo existo.

De que os humanos precisam, afinal? Eu, uma xícara de chá, por favor.

Arte: Joana Kuhn (@jururuart)
Revisão: Tiago Bergenthal

Como citar esse artigo:

BASSANI, Patrícia Scherer Assim caminha a humanidade. SBC Horizontes, 11 set. 2023. ISSN 2175-9235. Disponível em: <https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2023/09/de-que-os-humanos-precisam/>. Acesso em: DD mês. AAAA

Patrícia Scherer Bassani é doutora em Informática na Educação, professora titular do PPG em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias.

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