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Meios de Paramentos no Metaverso: nova economia, tokens, criptomoedas, LGPD e cibersegurança

Meios de Paramentos no Metaverso: nova economia, tokens, criptomoedas, LGPD e cibersegurança

Por Carla Bolsoni Teramussi e Victor Hayashi

O metaverso é um ambiente virtual coletivo, imersivo e baseado na possibilidade de interação com a realidade aumentada por um avatar em 3D. Com o metaverso, novos serviços estão surgindo suportados por tecnologias como criptomoedas, carteiras virtuais e Blockchain. Mediante esse cenário as empresas, buscando assegurar seus lugares nesse novo mundo, anunciam sua entrada nessa realidade virtual, incentivando a adoção. Contudo, por mais que essa nova realidade já esteja trazendo muitos benefícios, há também grandes desafios como a cibersegurança e a conformidade à LGPD (Lei Geral de Proteção aos Dados). Cada vez mais as vivências poderão acontecer no mundo virtual e, por isso, as pessoas devem estar atentas com a proteção de dados sensíveis, como dados de cartão bancário, endereços e senhas. Este texto apresenta uma reflexão sobre as oportunidades e desafios sobre meios de segurança no metaverso.

O que é metaverso?

A origem da palavra Metaverso ocorreu em 1992 na obra Snow Crash, um romance cyberpunk, escrito por Neal Stephenson (STEPHENSON, 1992). Neste romance, o personagem Hiro, descendente de japonês, que vive nos Estados Unidos, é um hacker, porém trabalhava como um entregador de pizza no mundo real e se transformava em um príncipe guerreiro no metaverso.  “Meta” significa “além”, o que induz a pensar no futuro, algo a ser descoberto, e em novas possibilidades, muito além do que podemos enxergar. E “verso” vem do da palavra “universo”, portanto além do universo, ou seja, do espaço físico.

O conceito do metaverso (BALL, 2022) significa replicar sua vida, suas rotinas, seus interesses e suas relações no universo digital. Nesse universo, é possível construir casas, assistir shows com amigos, adquirir obras de artes. Grande parte das atividades que atualmente são realizadas na realidade poderão ser realizadas também no metaverso, por meio de dispositivos que proporcionam uma experiência muito mais imersiva. Com o metaverso e a Web3, a tendência é de descentralização, dando poder aos usuários para gerar e transacionar criptomoedas, NFTs (Non Fungible Tokens), jogar, socializar e comprar tudo o que for oferecido pelas plataformas (MAZIERI; SCAFUTO; COSTA, 2022).

Assim como o metaverso traz oportunidades, diversos desafios se mostram relevantes. Por se tratar de um universo digital, são os meios de pagamentos digitais que devem dominar o mercado, uma vez que facilitam a negociação dos ativos, incluindo NFTs (FIDELIS, 2022) e criptomoedas. Dessa forma, as carteiras digitais passam a representar uma conexão monetária entre o mundo físico e virtual. Com elas, os usuários podem adicionar suas formas de pagamento (e.g., criptomoedas), que serão usadas para adquirir mercadorias no metaverso. Este texto traz uma discussão sobre os meios de pagamento no metaverso e seus principais desafios dada sua importância para a criação da nova economia. 

A principal contribuição desta reflexão é a Figura 1, que ilustra oportunidades e desafios do metaverso, considerando a integração com meios de pagamento, e o seu detalhamento na Figura 2. Os pagamentos no metaverso já são uma realidade, e além de uma revolução tecnológica, trata-se também de uma transformação do setor financeiro, que rompe barreiras da economia tradicional.

Figura 1. Oportunidades e desafios no metaverso

Figura 2. Detalhes sobre as Oportunidades e desafios no metaverso

Oportunidades do Metaverso

Essa revolução da mídia chamada metaverso começou principalmente por conta da entrada de empresas como o Facebook nesta tendência. Em 28 de outubro de 2021, Mark Zuckerberg anunciou em vídeo de uma hora como o Facebook está mudando seu nome para “Meta” para se alinhar com sua visão de contribuir para a construção do metaverso. (ZUCKERBERG, 2021). A partir desse momento, várias empresas ligadas à tecnologia quiseram aderir a esta tendência relacionada com o metaverso. Por exemplo, no início de 2021, a empresa Epic Games anunciou ter concluído uma rodada de financiamento de 1 bilhão de dólares para apoiar o plano de longo prazo para o metaverso (EPIC, 2023).

Segundo Jon Radoff (2023), é possível dividir o metaverso em sete camadas, sendo que cada uma delas contempla diversas oportunidades de negócios:

Figura 3. Sete camadas estratégicas para o Metaverso

E a Privacidade no Metaverso, como fica?

Um dos pontos mais questionados dentro do metaverso está relacionado com as leis. Ainda que as operações e transações aconteçam num ambiente completamente virtual, com avatares e novos cenários, há obrigatoriedade de serem seguidas as legislações já existentes, como a Lei Geral de Proteção aos Dados (LGPD) (BRASIL, 2022/09). Além das empresas se atentarem às leis, é preciso que o próprio metaverso se adeque às mudanças, visto que é necessário utilizar dados pessoais para os cadastros de usuários.

Como o Metaverso ainda é uma novidade, provavelmente dependerá de novas regulamentações. De qualquer forma, a consciência sobre a segurança da informação, privacidade e proteção de dados, em atenção à legislação já existente da LGPD, é importante aliada nesse processo, que, inclusive, poderá contar com a atuação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados para orientar e fiscalizar os tratamentos de dados realizados pelos agentes no âmbito dessa nova realidade (CHAVES, 12-Dez-2022).

Podemos citar vários exemplos de fraudes no pix e de cartão de crédito. Enquanto na solução descentralizada não há um responsável, ou seja não tendo alternativas para ressarcimento, na solução centralizada há formas de provar mais facilmente a fraude e conseguir ressarcimento (FERNANDES, 2022).

Promover a conscientização e regulamentar condições que observem a efetiva segurança das informações, a proteção dos dados pessoais e que respeitem a privacidade do usuário são medidas imprescindíveis para mitigar os riscos do Metaverso. Esse espelho do mundo real precisa refletir valores éticos e, para isso, é necessário que o próprio mundo real tenha consolidado essas premissas.

Segurança no Metaverso: o que considerar?

Segurança digital envolve processos implantados para proteger redes, servidores, computadores, programas e dispositivos conectados à Internet contra os ataques cibernéticos. A segurança da informação está pautada em quatro pilares para proteger as informações e dados (SIMPLÍCIO JUNIOR et al., 2010):

  • Confidencialidade: é o que garante o acesso das informações apenas às pessoas autorizadas, ou seja, não disponibiliza esse acesso a indivíduos, entidades ou processos não autorizados;
  • Integridade: é o que garante a veracidade das informações, indicando que os dados não podem ser alterados sem autorização;
  • Disponibilidade: é o que garante que os dados e sistemas estejam disponíveis para pessoas autorizadas quando for necessário;
  • Autenticidade: é o que garante a verdadeira autoria da informação, ou seja, que os dados são de fato provenientes de determinada fonte.

Alguns ataques que podem prejudicar estes pilares são: chantagem por meio do uso das informações pessoais roubadas com uso de engenharia social (GONÇALVES et al., 2022), roubo de moedas virtuais associadas a carteiras digitais, uso de avatar para fraude, esquemas de falsa identidade em redes sociais (catfishing), perseguição e doxing (ação de revelar informações de identificação sobre alguém na internet).

Além disso, os dispositivos de realidade virtual são indispensáveis para gerar a experiência de imersão e interatividade para o usuário. O problema é que eles podem ser explorados em ciberataques se não tiverem a devida proteção. Os sistemas de realidade virtual funcionam capturando dados biológicos extensos sobre o corpo de um usuário, incluindo dilatação da pupila, movimento dos olhos, expressões faciais, temperatura da pele e respostas emocionais a estímulos. Carter & Egliston (2023) apontaram que vinte minutos em uma simulação de realidade virtual gera quase dois milhões de gravações únicas de linguagem corporal em uma coleta de dados involuntária e contínua. Assim, o hardware do metaverso aumenta essa dificuldade e proporciona para os cibercriminosos mais caminhos de exploração.

E, então?

O futuro do metaverso parece ser extraordinário, já que grandes empresas de tecnologia já estão nesse novo mercado conforme elencado nesse texto, com movimentos destas empresas em investimentos e aquisições, com algumas dessas empresas tendo a oportunidade de construir plataformas.

Os pagamentos no metaverso são uma nova tendência a ser explorada, e para obter bons resultados, os empresários precisam estar dispostos a mergulhar nesse universo, inserindo a sua marca e expandindo a produção além do mundo físico.

Porém, mesmo com todas as oportunidades, há ainda necessidade de levantar questionamentos sobre aspectos de privacidade e segurança neste contexto. Ao entrarem no metaverso, usuários utilizam dados sensíveis em procedimentos de cadastro, se autenticam para entrar no metaverso, e devem ter garantidos níveis aceitáveis de confidencialidade, integridade, disponibilidade e autenticidade. Com a integração de meios de pagamento com carteiras digitais, e vulnerabilidades em dispositivos de hardware utilizados para imersão no metaverso, as ameaças se tornam cada vez mais relevantes.

Referências

BALL, M. The Metaverse: and how it will revolutionize everything. [S.l.: s.n.], 2022.

BRASIL, L. Metaverso e a necessidade de aplicação da LGPD. 2022/09. Disponível em: https://www:lgpdbrasil:com:br/metaverso-e-a-necessidade-de-aplicacao-da-lgpd/. Acesso em: 31/01/2023.

CARTER, Marcus; EGLISTON, Ben. What are the risks of virtual reality data? Learning analytics, algorithmic bias and a fantasy of perfect data. New Media & Society, v. 25, n. 3, p. 485-504, 2023. 

CHAVES, M. E. de A. O vazamento de dados sob a perspectiva da LGPD e sua correlação com os crimes cibernéticos. 12–Dez–2022. Disponível em: https://repositorio:animaeducacao:com:br/handle/ANIMA/28226.

EPIC Games. Disponível em: https://store:epicgames:com/pt-BR/. Acesso em 07 de junho de 2023.

FERNANDES, M. P. Crimes digitais na era do metaverso no Brasil. 2022. Monografia (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PRO-REITORIA DE GRADUAÇÃO).

FIDELIS, M. A. Um estudo sobre Non-Fungible Token (NFT). 2022. 24 p. Monografia (CIÊNCIAS DA COMPUTAÇÃO) — PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA POLITÉCNICA. Disponível em: https://repositorio:pucgoias:edu:br/jspui/bitstream/123456789/4280/1/TCC2_Mateus_repositorio:pdf.

GONÇALVES, G. V. C.; OGAWA, K. R. L.; LIMA, M. A. de. Engenharia social e a segurança da informação. Agosto/2022. Monografia (Curso de Sistemas de Informação) — Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos -UNICEPLAC. Disponível em: https://dspace:uniceplac:edu:br/bitstream/123456789/2099/1/Gabriel%20V%C3%ADnicius%20Costa%20Gonçalves_Kenichi%20Lino%20Ogawa_Mateus%20Alves% 20de%20Lima:pdf:pdf.

MAZIERI, M. R.; SCAFUTO, I. C.; COSTA, P. R. da. A TOKENIZAÇÃO, BLOCKCHAIN E WEB 3.0 COMO OBJETOS DE PESQUISA EM INOVAÇÃO. 2022. 6 p. Monografia (Programa de Pós-Graduação em Gestão de Projetos e em Administração) — Universidade Nove de Julho. Disponível em: https://media:proquest:com/media/hms/PFT/1/NQJfM?_s=grslVkZtfxVY0RiJ8WaliHPD0mA%3D.

RADOFF, John. Disponível em: https://www:cbsnews:com/boston/news/metaverse-internetjon-radoff-beamable/. Acesso em 07 de junho de 2023.

SIMPLÍCIO JUNIOR, M. A. et al. Algoritmos de autenticação de mensagens para redes de sensores. 2010. Tese (Doutorado ) — Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www:teses:usp:br/teses/disponiveis/3/3141/tde-11082010-114456/.

STEPHENSON, N. Snow Crash. [S.l.]: Editora Aleph, 1992. 496 p.

ZUCKERBERG, M. The Metaverse and How We’ll Build It Together. Facebook Connect 2021, 2021. Disponível em: https://www:youtube:com/watch?v=Uvufun6xer8&t=273s. Acesso em: 10/Jan/2023.

Autoria

Carla Bolsoni Teramussi é Gerente de TI no Banco Bradesco. Realizou o MBA do Laboratório de Arquitetura e Redes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (LARC-USP) sobre o tema de segurança e privacidade em meios de pagamentos do Metaverso.

Victor Hayashi é Doutorando, Mestre e Engenheiro pela Escola Politécnica da USP e co-autor do livro nacional Segurança em Internet das Coisas (IoT). Atua como tutor de MBA e pesquisador no LARC-USP em projeto de Processamento de Linguagem Natural para o domínio bancário.

Como citar essa matéria:
TERAMUSSI, Carla Bolsoni & HAYASHI, Victor. Meios de Paramentos no Metaverso: nova economia, tokens, criptomoedas, LGPD e cibersegurança. SBC Horizontes. ISSN 2175-9235. outubro de 2023. Disponível em: https://horizontes.sbc.org.br/index.php/2023/10/meios-de-paramentos-no-metaverso-nova-economia-tokens-criptomoedas-lgpd-e-ciberseguranca/. Acesso em: dd mês aaaa.

 

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