>

Doutorado Sanduíche nos Estados Unidos sem bolsa e levando a família… E porquê não?!?!

Doutorado Sanduíche nos Estados Unidos sem bolsa e levando a família… E porquê não?!?!

Por Robison Cris Brito

Você está cursando mestrado/doutorado e (ainda não) tem ideia sobre ter uma experiência no exterior? Então, esse texto é para você!

Nessa conversa, vou compartilhar minha experiência em um doutorado sanduíche nos Estados Unidos levando minha família e, detalhe, sem bolsa, contando apenas com o meu salário de professor e uma pequena reserva financeira que eu tinha.  

Assim, vou compartilhar algumas dicas sobre:

  1. Escolha do momento certo
  2. Escolha a universidade
  3. É possível sem TOEFL? 
  4. Visto Americano
  5. Ir e Vir
  6. Finanças
  7. Escola para as filhas
  8. Conferências
  9. Burocracia da universidade
  10. Pesquise e Viva!
  11. Cursos

Trabalho como professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, onde ministro aulas na área da computação. O intercâmbio aconteceu com a Universidade do Sul da Flórida – EUA e durou um ano.  Tive a oportunidade de ficar seis meses com minha família nos Estados Unidos e seis meses sozinho, focando mais na pesquisa do doutorado.

Quando iniciei meu doutorado eu não almejava a experiência de um sanduíche no exterior, ainda mais pelas limitações financeiras e o fato de ter que levar minha família. Meu maior receio era traumatizar minhas filhas com o processo, mas o que aconteceu foi exatamente o contrário! Seguem algumas dicas importantes para fazer você refletir sobre a busca da sua experiência internacional.

Escolha o momento certo

Entrei como aluno regular do programa de doutorado da UFPR em julho de 2016. Mesmo sendo professor de uma universidade federal, optei em cursar o doutorado sem afastamento e fiquei nessa situação até início de 2019. 

Cronologicamente falando, utilizei o segundo semestre de 2016 para cursar duas disciplinas presenciais do programa, no primeiro semestre de 2017 cursei uma disciplina remota, e também, iniciei a revisão sistemática de literatura sobre a problemática da minha tese. No primeiro semestre de 2018 cursei a última disciplina obrigatória que o programa exigia, e no segundo semestre de 2018 defendi minha qualificação. Na época não tinha pretensão de sair do país, e segui a rotina do desenvolvimento das atividades do doutorado em paralelo às atividades profissionais na UTFPR.

A dica aqui é clara: tente cumprir os requisitos obrigatórios do programa o mais rápido possível, isso permitirá que você foque na sua pesquisa e possibilitará que você faça intercâmbios (muitos programas de pós-graduação e órgãos de fomento apenas autorizam o intercâmbio após a qualificação).

Em abril de 2019 resolvi encontrar uma maneira de ter uma experiência internacional no doutorado, em um país de língua inglesa, para  enriquecer minha tese com contribuições de professores de outras universidades, e também aprimorar meu conhecimento no idioma e investir nas experiências das minhas filhas, na época, com 4 e 6 anos.

Entre a minha decisão de ir para os EUA e de fato ir, houve muito pouco tempo (resolvi que iria tentar uma oportunidade em abril de 2019, com o objetivo de iniciar o segundo semestre de 2019 lá), com isso, todo o processo teve que ocorrer muito rápido, o que não permitiu que eu tentasse submeter projetos para programas de fomento e bolsa, que estavam e ainda estão com oferta bem reduzida.

Então, acabei me programando para custear as despesas de viagem com alguma economia que eu tinha, assim como utilizar meu salário de professor para pagar as despesas do dia a dia nos Estados Unidos.

Então, é certo que a escolha do momento tem relação direta com as suas possibilidades financeiras. Fique de olho em editais de fomento e tente fazer um pé de meia, pois mesmo com algum financiamento externo, nem sempre isso será suficiente para custear sua estadia lá fora (ainda mais com altas variações no câmbio).

Escolha a universidade

Como o objetivo principal era ingressar em uma universidade americana, o primeiro passo foi identificar as potenciais instituições que poderiam me aceitar em um programa de intercâmbio.

Entrei em contato com o meu orientador, o qual me passou o e-mail de um professor da Universidade do Sul da Flórida. Para aumentar minhas chances, também entrei em contato com professores da Universidade de Ohio, Universidade do Arizona e Universidade de Nova Jersey. Entrei no site das universidades, estudei o currículo dos professores a fim de encontrar um professor da minha área, que pudesse contribuir significativamente com minha pesquisa. Após identificar tais professores, enviei um e-mail para todos, com o meu currículo traduzido, meu histórico escolar, assim como um resumo da minha pesquisa. Informei que eu precisaria apenas de uma mesa em algum laboratório para realizar as pesquisas e que não seria necessário bolsa.

Então veio o período de maior angústia: o aguardo das respostas, pois, sem isso, apesar do pouco tempo, eu não poderia adiantar muitas questões, já que não sabia se seria aceito e ainda, em qual universidade seria. Em duas semanas, o professor que contatei na Universidade do Sul da Flórida me respondeu positivamente. Então pude encaminhar as questões burocráticas para o meu afastamento do país junto ao governo federal, uma vez que sou funcionário público. Na sequência, as outras universidades também responderam positivamente ao meu pedido, mas acabei optando pela Universidade do Sul da Flórida, uma vez que o orientador de lá já conhecia meu orientador, e a área de atuação da pesquisa era muito próxima da minha.

Neste tópico, a dica de ouro é crie e invista no networking, com o seu orientador, colegas de laboratório, outros professores do seu departamento e pessoas conhecidas em congressos. Seja proativo e mantenha um contato próximo do seu orientador. Existe grandes chances de ele perceber que você está se esforçando muito, ele também não medirá esforços para te ajudar.

Como não solicitei bolsa americana, a aceitação pela universidade foi mais simples, uma vez que a universidade não precisaria desembolsar recurso financeiro para minha estadia lá. O fato de não ter solicitado bolsa no Brasil fez com que eu conseguisse o afastamento necessário em menos de três meses, uma vez que a burocracia é menor se comparada ao trâmite que ocorre quando se tem bolsa. Em contrapartida, é claro, tive que ver meu salário ser dividido por cinco, uma vez que o câmbio ficou em média 5 reais para cada dólar durante todo o período que morei nos EUA. Desta forma, tive que ter um planejamento financeiro muito rigoroso para que tanto eu, como minha família, não passássemos nenhum tipo de necessidade enquanto estávamos nos Estados Unidos.

Mesmo sem bolsa, todo o processo da Universidade americana demorou alguns meses e fez com que a documentação chegasse no Brasil dias antes da minha entrevista no consulado americano onde eu iria solicitar os vistos. Arrisquei comprando as passagens aéreas com antecedência, uma vez que a medida que se aproxima o dia da viagem, os preços geralmente aumentam. Desta forma, procure se programar com a maior a antecedência possível, pois, tudo costuma ser mais barato quando programado: passagens aéreas, hotéis, aluguel de carro, entre outras despesas de viagem.

É possível sem TOEFL?

O idioma sempre foi uma grande limitação para mim. Brinco que gostaria que a comunicação fosse por equações, gráficos ou algoritmos. 🙂

Assim, para escrever e ler, eu conseguia me virar tranquilo, porém, conversar, trocar ideias ou mesmo me comunicar oralmente, isto sempre foi um grande desafio.

A Universidade solicitou o preenchimento de alguns formulários, o meu currículo em inglês, um plano de projeto com cronograma para o tempo que eu passaria na universidade e uma prova de suficiência em inglês, e tudo isso foi tranquilo.

Porém, para provar a proficiência em inglês, como eu não tinha o TOEFL, precisei realizar duas entrevistas com dois professores da universidade, e com a agenda limitada dos professores americanos, este processo levou algumas semanas, e sem falar que a pressão psicológica antes de cada entrevista era muito grande. Assim, uma dica importante que dou é, tenha sempre um TOEFL ou outra forma de provar sua proficiência em inglês pronto contigo.

Além da interação na entrevista e no preenchimento dos projetos, tive que mandar vários e-mails e mensagens para resolver e preparar minha viagem, todas em inglês, mas mesmo com um inglês muito limitado, sempre consegui me virar e me fazer entender.

Visto Americano

Após todos os requisitos atendidos, a universidade me enviou um documento chamado DS-2019, o qual utilizei para a solicitação do visto J1 para mim, e J2 para a minha família. O visto J-1 é utilizado para programas de intercâmbio com universidades americanas, permitindo que o candidato trabalhe dentro da universidade de forma remunerada (não foi minha situação, mas tinha esta opção). Já o J-2 é fornecido para os membros da família que acompanham o estudante/pesquisador, e para os maiores de idade, permite o trabalho nos Estados Unidos enquanto durar o visto.

Para a entrevista no consulado americano foi a família inteira, apresentamos basicamente a documentação enviada pela Universidade, a entrevista foi em inglês e, em minutos, tínhamos o visto J-1/J-2 aprovado. Também aproveitamos a oportunidade e pedimos o visto de turista (B-1/B-2) para minhas filhas, os quais também foram concedidos. Eu já tinha o visto de turista válido, por este motivo, não foi necessário solicitar o meu.

É importante você ir para os Estados Unidos também com um visto de turista válido, pois oportunidades de viagens poderão aparecer após o intercâmbio, e a única forma de continuar visitando os Estados Unidos nesta situação, é com o visto de turista.

Ir e Vir

Com menos de 10 dias para a viagem, tivemos que organizar as questões para a mudança de país, o que não é muito simples, dada a quantidade de tarefa que tivemos que realizar em tempo recorde:

  • Contratamos um seguro de saúde, obrigatório para este tipo de intercâmbio, de uma empresa americana, uma vez que a maioria das universidades lá não aceitam seguro prestado por de seguradoras estrangeiras;
  • Providenciamos a compra de alguns dólares em espécie para ficarmos os primeiros dias lá, assim como fizemos um Travel Card para eventuais emergências (lembrando que o dólar do Travel Card é mais caro que o dólar em espécie);
  • Acordamos com a universidade americana que o primeiro mês ficaríamos no alojamento da própria universidade, já que aqui do Brasil era difícil encontrar uma casa ou apartamento fora da universidade, porém, o grande problema foi o custo nos alojamentos da universidade, que é praticamente o dobro do preço de um aluguel regular, porém, não tivemos outra opção;
  • Como não chegaríamos diretamente na cidade de Tampa, tivemos que providenciar a logística de hotéis, transporte público e aluguel de carro, onde tivemos a opção de alugar o carro em uma cidade e entregá-lo em outra, com um custo adicional relativamente baixo. Para este tipo de serviço, sugiro o site da Orbits (orbits.com) ou Expedia (www.expedia.com).

Neste tópico, a grande dica é manter o diálogo próximo com o seu orientador nos Estados Unidos. No meu caso, ele sugeriu e me encaminhou o contato do setor da universidade que cuidava das acomodações de alunos, pediu para agilizar o processo interno do intercâmbio, uma vez que tínhamos um prazo bem curto e também passou o contato de outros alunos que deram dicas sobre a cidade e a universidade.

Nos Estados Unidos é muito importante ter um carro para poder ir aos locais, uma vez que tudo é muito longe e o transporte público é bem limitado em algumas cidades. Na região da Flórida, os carros são baratos, comprei um Ford Focus 2014 por apenas $ 5.000,00. Poderíamos ter alugado um carro, mas a compra é sempre mais vantajosa, uma vez que no retorno ao Brasil o carro pode ser vendido.

Registrar um carro nos Estados Unidos é simples, sendo exigido apenas o passaporte, o visto e um comprovante de residência do proprietário. Vale mencionar que é uma exigência de muitos estados, incluindo a Flórida, que todo carro tenha um seguro veicular, que por sinal tem um custo bem mais acessível se comparado aos valores praticados no Brasil.

Uma dica importante: para evitar andar com o passaporte o tempo todo, faça sua carteira de motorista, ou tire uma identidade americana. Para a carteira de motorista, paguei apenas $ 50.00, em uma manhã fiz a prova teórica e a prova prática, e já estava com a carteira de motorista em mãos. Para quem for menor de idade e não puder tirar a carteira de motorista, uma dica é tirar a identidade americana, desta forma, até mesmo voos domésticos dispensam o passaporte, bastando apresentar a carteira de motorista e/ou a identidade americana.

Finanças

Uma grande dica para economizar dinheiro na transferência de valores do Brasil para os Estados Unidos é abrir uma conta em um banco americano.

Logo na chegada do país eu fui em uma agência do Bank of America. Para abrir uma conta, são solicitados o passaporte, o visto, um comprovante de residência e um depósito inicial de $ 200.00.  Abrindo uma conta bancária, você recebe um cartão de débito, o qual é aceito nas compras presenciais e em alguns sites, porém, o ideal, além do cartão de débito é ter também um cartão de crédito.

Assim, como eu não tinha comprovante de rendimento americano, para ter um cartão de crédito, precisei fazer um depósito na agência do valor correspondente ao meu limite de crédito, sendo que este valor foi devolvido um ano após a abertura da conta.

Desta forma, com um cartão de crédito americano é possível fazer compras sem pagar impostos, como IOF, assim como transferir dinheiro para os Estados Unidos utilizando o câmbio comercial, que é menor do que o câmbio paralelo.

Uma dica é tentar não pegar cheque nos bancos americanos, eles são muito caros, e a relação custo benefício é pequena, uma vez que praticamente todos os lugares aceitam cartões.

Porém, para o pagamento do aluguel de imóvel, por exemplo, ou inscrição em alguns cursos, o pagamento deve ser feito com cheques ou a partir de money orders, que são documentos semelhantes a cheques que podem ser feitos em empresas como Walmart ou Publix.

Em relação aos custos mensais, gastávamos em média $1.700 dólares de aluguel, $ 100 dólares de luz, $ 500 dólares com supermercado, $ 50 dólares de Internet, $ 45 dólares de um plano de celular e $ 150 dólares com combustível, isso nos seis primeiros meses. Já na segunda etapa, onde fiquei 6 meses sozinho nos Estados Unidos, eu dividi um apartamento com um colega, e nesta situação, eu gastava $ 600 dólares de aluguel, $75 dólares de luz e $300 dólares de supermercado. Internet, plano de celular e combustível permaneceram os mesmos valores.

Escola para as Filhas

Outro passo muito importante foi encontrar uma escola para as crianças. Como conhecíamos o processo, levamos um histórico das vacinas já traduzido para o inglês. Uma dica é, a partir da web, identificar as vacinas obrigatórias na cidade da viagem, aplicando-as aqui no Brasil, já que lá a vacina é paga (e ainda, em dólar).

Também providenciamos junto às escolas do Brasil um histórico escolar traduzido, o que facilitou o ingresso das crianças ao ensino público americano.

Procure chegar nos Estados Unidos um mês antes do início do semestre letivo, para ter um tempo de adaptação. Desta forma, pudemos providenciar a documentação necessária para a escola, fomos ao posto de saúde e fizemos uma carteirinha de vacinação americana para as meninas, fomos na escola do Bairro e verificamos se as meninas poderiam estudar lá (uma vez que nos Estados Unidos é a secretaria de educação que define em qual escola uma criança vai estudar). Nesse período também conseguimos fazer alguns poucos amigos, fomos em parques, isso com a intenção de preparar as meninas para o novo ambiente, onde tudo era novo, desde o idioma até os hábitos alimentares.

Meu inglês era muito limitado, e o inglês das minhas filhas era praticamente inexistente. Elas choraram muito nos primeiros dias de aula, mas em uma semana já estavam habituadas e, com um mês, começaram a aparecer os primeiros diálogos em inglês. Foi emocionante!

Confesso que nas primeiras semanas o maior objetivo era a adaptação e a pesquisa acabou ficando um pouco de lado. A ordem das prioridades foi: conseguir uma acomodação, comprar um carro, abrir uma conta bancária americana, colocar as filhas na escola, para só então iniciar os trabalhos de pesquisa.

Conferências

Uma dica aqui, aproveite, já que está em solo americano, para submeter artigos em conferências internacionais, as quais costumam ter um peso maior nas instituições de pesquisa. Além das publicações, também procurei participar de conferências. Fiz muitos contatos e foram muitas contribuições para minha tese, pois, mesmo com o inglês limitado, eu procurava conversar muito com os conferencistas, apresentava meu problema de pesquisa, explicava como estava propondo resolver, e aí, muitas ideias apareciam! Acredito eu que as contribuições das conferências foram mais significativas que as contribuições que recebi na própria universidade americana.

Fotos do arquivo pessoal do autor: A esquerda, participação no ICIT, que aconteceu no Vale do Silício e onde foram apresentados 3 artigos, a direita a apresentação de dois artigos no INTESA, que aconteceu em Nova Iorque.

 

Burocracias da universidade

Na universidade, precisei me cadastrar no programa de estudantes internacional, fazer a carteirinha da biblioteca, ver o funcionamento do transporte público, providenciar a permissão para estacionar dentro da universidade (o que é muito caro), assim como as chaves e acessos aos meus laboratórios de pesquisa.

Outra questão importante é a cultura americana, lá todos são muito corretos, assim, se você ainda não tem crachá ou não tem permissão, não será possível utilizar os laboratórios específicos para pesquisa. O mesmo acontece para uso da biblioteca e impressoras compartilhadas.

Todas estas regras foram apresentadas em uma reunião de ambientação, onde foram entregues muitos documentos descrevendo regras e deveres, os quais deveriam ser respeitados. Em um país estrangeiro, é muito importante conhecermos todas as regras e deveres, respeitando-os, afinal, muitas coisas podem ser diferentes do que estamos acostumados no Brasil.

Nos Estados Unidos existe uma política muito forte para uso de veículos elétricos e transporte público. O transporte público na minha universidade era gratuito, por este motivo, estacionar dentro da universidade era caro e burocrático, já que o objetivo era justamente incentivar o uso do transporte público ou de bicicletas.

Como a universidade é gigante, dentro dela há estradas com semáforos, faixas de pedestre, supermercados, farmácias e tudo que se precisa para viver. Há também vários policiais trabalhando por toda a universidade, então uma outra dica é tomar muito cuidado e dirigir com atenção, pois dentro da área da universidade, todas as multas custam o dobro, e com o valor em dólar, qualquer delito pode sair muito caro ao ser convertido para real.

Pesquise e Viva!

Um grande desafio, estando em solo americano, foi conciliar a vida pessoal com a vida de aluno de doutorado, pois, não queria privar minha família de ter experiências americanas, mas, ao mesmo tempo, não poderia deixar de fazer minha pesquisa. 

Então crie um cronograma semanal de atividades, onde você poderá organizar lacunas para passeio em parques, restaurantes, playgrounds, museus, enfim, tudo de melhor que os EUA pode oferecer. Eu acreditava que além da experiência profissional, eu e minha família deveríamos voltar com uma grande experiência cultural.

Estando fora do Brasil, fiz questão de levar meus pais e irmãos para me visitar, e solicitei à universidade uma carta convite, a qual foi enviada para o Brasil e facilitou (e muito) o processo de retirada do visto deles. Como eu tinha conta americana, a transferência de valores deles para a viagem, assim como a compra da passagem aérea foi mais barata, já que não precisava pagar impostos brasileiros, como IOF.

Depois de seis meses minha família teve que retornar ao Brasil, mas continuei com a pesquisa nos Estados Unidos, assim, foi neste período que a tese mais evoluiu, sendo que nos meus últimos seis meses em solo americano tive que conviver com o coronavírus, com isso, minha interação com a universidade e os pesquisadores passaram a acontecer somente por meio digital.

Mesmo em época de coronavírus, existiam também passeios e pude conviver com a cultura americana, porém de forma mais limitada, assim como continuei fazendo contato com universidades e professores americanos, porém, utilizando redes sociais e e-mails, desta forma, mesmo com as limitações impostas pelo período de isolamento, os resultados de estar em solo americano foram satisfatórios.

 

 

 

Cursos

Estando em solo americano, o objetivo foi otimizar o tempo e fazer o máximo possível de cursos, para enriquecer o currículo. Em relação ao idioma, encontrei um programa do governo que financiava o estudo de inglês para adultos estrangeiros nos Estados Unidos, e assim, eu fazia cursos todas as manhãs, enquanto minhas filhas estavam na escola. Foi uma grande experiência.

Outra dica importante foi realizar cursos, gratuitos ou não, em plataformas de ensino remoto, destacando-se a plataforma EDX (https://www.edx.org/), onde tive a oportunidade de fazer cursos com certificados de universidades renomadas internacionalmente, tais como MIT e Harvard.

Assim, a dica é, aproveite que esteja fora para se qualificar, seja profissionalmente, ou seja em seus hobbies (culinária, aeromodelismos, etc.)  Toda experiência internacional abre a mente não só para o conhecimento técnico, mas também para o entorno social e cultural.

O retorno

Em junho de 2020, após 4 voos cancelados, consegui retornar para o Brasil, apresentando minha tese em julho, a qual foi aprovada. Foram vários artigos publicados, conheci algumas das universidades mais importantes nos Estados Unidos, fui ao berço da tecnologia no Vale do Silício, conheci cidades incríveis, como Nova Iorque e Las Vegas, passeei muito com minhas filhas, fizemos vários cursos, minha filha mais velha voltou com dois prêmios de aluna revelação da turma de 2019/2. Vivemos, aproveitamos, enriquecemos intelectualmente, e voltamos com uma experiência que não tem dinheiro que pague.

Neste período, também, aprendemos muito do idioma e da cultura americana. Eles são primeiro mundo e não é por acaso, desta forma, esperamos utilizar a experiência adquirida lá fora para contribuirmos ainda mais com o nosso país.

O maior desafio foi, com certeza, o câmbio, uma vez que meu salário era em real e eu precisava enviar todo mês dinheiro para os Estados Unidos. Assim, meu salário convertido era muito baixo, então tínhamos que nos privar de algumas experiências por conta disso, porém, cada centavo foi muito bem investido, o que não nos faz arrepender das decisões tomadas.

Hoje, eu vejo o mundo de uma forma mais ampla, vejo que nossa pesquisa aqui no Brasil não está tão atrás das pesquisas realizadas em países de primeiro mundo, mesmo lá havendo muito mais incentivo. Percebo também que nossos pesquisadores têm mais garra, mais alma, vestem realmente a camisa. como profissional me sinto mais à vontade para falar de tecnologia para pesquisadores do mundo inteiro, mais à vontade em compartilhar minhas ideias e resultados em artigos. Como pai, vejo que a sementinha da internacionalização também foi plantada em minhas duas filhas, acredito que com base nesta experiência elas poderão ir muito além das nossas fronteiras.

Sobre o autor

Robison Brito

Doutor em Informática para Universidade Federal do Paraná, com doutorado sanduíche na Universidade do Sul da Flórida. Mestre pelo curso de Engenharia Elétrica e Informática Industrial pela UTFPR-Campus Curitiba (CPGEI), Especialista em Desenvolvimento WEB pela UTFPR-Campus Pato Branco, onde ministra aulas de computação móvel e Linguagem de programação orientada a objetos. Amante de novas tecnologias, procura compartilhar sua experiência ministrando palestras em universidades e eventos.

Como citar esse artigo:
Brito, R. C., 2020. Doutorado Sanduíche nos Estados Unidos sem Bolsa e levando a Família… E Porquê Não?!?! SBC Horizontes. ISSN: 2175-9235. Disponível em: http://horizontes.sbc.org.br/index.php/2020/09/doutorado-sanduiche-nos-estados-unidos-sem-bolsa-e-levando-a-familia-e-porque-nao/

Compartilhe: